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Crítica: Creed – Nascido para lutar (2015)

Creed: Nascido para lutar pode ser visto como a continuação de Rocky com um ator mais novo. Assim como vimos acontecer em Karatê Kid com Jack Chan, vemos mais um herói virar o mentor do próximo que continuará a franquia. Em Creed, Rocky Balboa é procurado pelo filho de Apollo Creed, um antigo campeão mundial de boxe já morto, para que seja seu treinador e o ajude a seguir os passos do pai.

Adonis Johnson escolhe não carregar o sobrenome do pai para que não seja comparado com ele, mas seu maior desafio não será nos ringues, mas sim, em provar para Rocky que ele tem a determinação e paixão necessárias para ser um verdadeiro lutador. Paralelo com isso, temos a luta do próprio Rocky que foi diagnosticado com câncer e escolhe não fazer o tratamento.

Como o sétimo filme da série Rocky, Creed não deve em nada nas cenas de treinamento e superação e todo aquele drama característico do estilo “não é o quanto você bate, mas o quanto você aguenta apanhar e permanecer de pé”. Aos poucos, Rocky e Adonis se entendem e se ajudam, levando o filme até a também característica luta final, onde culmina no clímax da história.

Para quem curte filmes sobre o mundo do boxe e, principalmente, os filmes da série Rocky, não vai se decepcionar. Porém, para quem esperava uma novidade, sinto informar de que só há mais do mesmo. O mentor com seu pupilo, tentando ensinar tudo o que aprendeu em seus anos e anos de lutador, tentando até transferir um pouco a relação que gostaria de ter tido com o próprio filho. Várias cenas de desentendimentos que terminam em aprendizado e pérolas de sabedoria que só o Rocky tem. Muito sangue e suor em pró da vitória no dia da grande luta, da qual depende a carreira de Adonis.

Michael B. Jordam e Sylvester Stallone estão excelentes como sempre, a trilha sonora é vibrante e inspiradora e vemos algumas cenas que homenageiam os outros filmes da franquia, como a tradicional corrida da escadaria, já que o filme também se passa na tradicional cidade da Filadélfia, mas, claro, vemos um Rocky debilitado e cansado que, depois de tanto lutar e amparar, agora precisa ser amparado. Eles desenvolvem uma relação quase de pai e filho e, apesar do final clichê e já esperado, a emoção é inevitável.

Creed: Nascido para lutar chegou aos cinemas em 2015 e teve sua continuação em Creed II em 2018, dando continuidade a lendária série Rocky que iniciou em 1976.

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CRÍTICA: CORINGA (2019) – ANÁLISE COM SPOILERS

Duas semanas após sua estreia é inegável que Coringa se tornou um sucesso. Muitas expectativas foram criadas em torno do novo filme, embaladas pelos elogios recebidos em festivais e os trailers que entregavam pequenos vislumbres da atuação primorosa de Joaquin Phoenix. Com a estreia nas bilheterias, Coringa não tardou em ser o filme número um no mundo, eclipsando as outras produções em cartaz e arrecadando mais de 500 milhões em bilheterias. Diante de tanto sucesso, resolvemos trazer para vocês uma Análise com Spoilers.

Afinal, cheio de críticas sociais e carregado numa série de polêmicas, o filme de Todd Philips é ambíguo, fundado em bipolaridades e equilibra uma prosa dramática e grotesca ao mesmo tempo. Se você ainda não viu, mas não se aguenta de curiosidade, ou quer relembrar e entender melhor alguns temas que o longa aborda, essa resenha é perfeita para você!

Durante toda a minha vida, eu nem sabia se eu existia de verdade, mas eu existo e as pessoas estão começando a perceber

A CIDADE E O POVO DE GOTHAM

Gotham é um epicentro de problemas.

Sempre foi assim nas histórias do homem-morcego e aqui as coisas não são diferentes. Retratada no início dos anos 80, a cidade está imersa em pobreza e desigualdade, acentuada por uma enorme crise de desemprego. Abandonada pelo governo, nem mesmo o lixo é recolhido nas ruas, levando Gotham a uma infestação de ratos. Como se não bastasse, as diferenças sociais se condensam em uma enorme onda de tensão, colocando os ricos contra as classes mais empobrecidas num clima de desesperança e desespero.

Dentro desse contexto, Arthur Fleck é um homem que representa essa população desolada da cidade. Vive para sobreviver, tendo acompanhamento psicológico pago pelo governo, um emprego precário, fazendo bicos como palhaço, e uma mãe doente para cuidar. Sua única esperança, ou objetivo a longo prazo, parece ser sua espera por uma chance de se tornar comediante de Stand Up – e mesmo essa mínima fantasia do personagem soa como uma piada irônica e constrangedora.

Sua primeira cena, uma das mais icônicas, mostra o palhaço forçando um sorriso entre os lábios – enquanto uma única lágrima borra sua maquiagem. Na sequência seguinte, ele é roubado enquanto trabalha em frente a uma loja e, ao perseguir os ladrões, é espancado.

O filme tem um aspecto gélido, explorando com calma a situação agonizante de Arthur. As cenas em que volta pra casa são marcas do tom em que a história se passa – há uma frieza que ronda as ruas, uma sensação de vazio e tensão iminente.

Quando chega em casa, Arthur precisa cuidar de uma mãe raquítica e doente. É um ponto interessante na trama, já que é na relação entre os dois que o aspecto humano do personagem se revela mais forte.

Embora pareça senil, Penny Fleck tem uma enorme consciência da situação em que se encontram e das condições em que o filho vive. Sua única esperança, contudo, está depositada em enormes ilusões – cartas que escreve para o milionário e candidato a prefeito, Thomas Wayne, de quem fora funcionária 30 anos antes.

Faça uma cara feliz!

Como uma cereja no topo desse bolo de desgraças, Arthur ainda sofre de uma condição rara, que o faz gargalhar em situações inoportunas, sem ter qualquer controle. Nesses momentos o brilho de Joaquim Phoenix é inegável – seus lábios gargalham, mas seus olhos permanecem em uma profunda agonia, revelando todo o abismo que mora dentro da personagem.

Conforme Arthur escreve suas piadas, temos acesso a sua parte mais profunda e essencial – e não há dúvidas de que encontramos um homem à beira do colapso. Porém, o que mais chama atenção, são seus esforços para se adaptar e manter o controle da situação.

Querendo ou não, ele vai as consultas com a analista, ele toma seus remédios, ele tem um emprego… Arthur não é um monstro, a verdade é muito mais difícil, ele é só um homem comum – imerso até o pescoço em uma série de problemas.

OS ASSASSINATOS DO METRÔ

Uma série de incidentes compõe a base da transformação de Arthur.

Por conta da surra que levou de alguns moleques, enquanto trabalhava para divulgar uma queima de estoque, um de seus companheiros lhe oferece uma arma – para que pudesse se proteger. Arthur aceita, mesmo sabendo que não deveria.

Sem qualquer bom senso, Fleck leva a arma para um hospital cheio de crianças, onde está se apresentando. Acaba por se demitido, quando a arma escorrega por sua roupa e fica à vista de todo mundo. A cena é uma das primeiras que produzem aquela sensação de humor incomodo, como se ríssemos de nervosismo – coisa que o filme faz muito bem.

Voltando para casa, no metrô, Arthur fica no mesmo vagão em que três rapazes – depois ditos funcionários da Wayne Enterprises – importunam uma garota. A mulher saí do vagão, mas Arthur permanece, gargalhando. Fantasiado de palhaço, solitário e preso em seu acesso de risos, é uma presa fácil.

Os três homens o espancam, mas diferente da última vez, Arthur revida. Tudo é rápido. Tiros e tiros, o sangue jorra, um dos homens caí. Mais tiros, e o segundo segue o companheiro. O terceiro consegue fugir, assim que o metrô para. Arthur o persegue e fuzila seu corpo, descarregando todas as balas que tinha em seu revólver.

“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você aja como se não a tivesse

Desesperado, o assassino foge e se tranca em um banheiro público e, então… dança. Dança como se seu corpo fosse guiado por uma música suave e inaudível. A polícia começa a investigar o caso e testemunhas relatam ter visto um homem vestido de palhaço saindo da cena do crime. Thomas Wayne dá uma entrevista, lamentando a morte de seus três funcionários e, sem qualquer tato, chama a população de baixa renda de palhaços e os critica pelo suposto ódio que propagam contra os ricos.

Algumas cenas antes de tudo isso ocorrer, é mostrado que Arthur passa a se relacionar com uma de suas vizinhas, Sophie, que sendo jovem e mãe solteira, parece ser um par improvável para Fleck. Ainda assim, após cometer os crimes, o relacionamento deles parece alavancar. Juntos eles vão a um show de stand up, onde Arthur finalmente se apresenta. Tudo começa mal, mas a impressão é que ele passa a fazer as piadas certas em algum momento.

Nesse passeio, discutem sobre os recentes assassinatos e sobre como as pessoas passaram a usar uma máscara de palhaço como símbolo dos manifestantes contra o governo e a elite da cidade. A garota parece acreditar que o suposto palhaço assassino é um herói para Gotham – e Arthur sorri. E até mais do que isso, ele começa e encontrar uma identidade para si.

AS CARTAS PARA O PASSADO

Apesar do filme dar sinais de que as coisas se alinharam para Arthur, não demora para que sua vida desande mais uma vez.

Sua assistência vinda do governo é cortada, como parte de uma proposta de redução de verba pública, já que a cidade vai de mal a pior. É interessante notar como Gotham parece mais uma cidade-estado nessa mitologia, do que um município comum. Como se não bastasse, ele finalmente vai de encontro com uma verdade avassaladora – ao abrir uma das cartas que sua mãe envia frequentemente para Thomas Wayne, descobre que ele pode ser seu pai.

A mera suposição do Coringa ser irmão do Batman faz os nervos dos fãs entrarem em colapso – para o bem ou para o mal. Mas, mesmo após discutir com sua mãe e ela admitir ter tido um caso com o Wayne, a possibilidade disso ser verdade parece bastante remota.

Contudo, Arthur se anima. Vai até a mansão Wayne e encontra, mesmo separados por um portão, o jovem Bruce. Sua cena fazendo um sorriso falso em seus lábios vai habitar a imaginação dos fãs por um bom tempo. Finalmente, ele é expulso de lá, ouvindo pela primeira vez a afirmação de que sua mãe seria uma lunática.

É impressão minha ou o mundo está ficando mais doido?

Enquanto volta para casa, descobre que a polícia o procurou para falar sobre os assassinatos do metrô. Sua mãe entra em pânico ao ser interrogada por um dos oficiais e acaba passando mal. Arthur fica com ela no hospital e Sophie o acompanha também. É ali que, assistindo ao show de Murray Franklin, um comediante e apresentador por quem tem uma enorme fascinação, vê sua apresentação de Stand Up sendo transmitida. A princípio, sente que seu sonho está se realizando, mas caí em desilusão quando percebe que estão apenas gozando dele.

Se apegando as esperanças que ainda restam para ele, Fleck vai até um evento onde o próprio Thomas Wayne está presente. Ao interceptar o homem no banheiro, Arthur basicamente se declara, exigindo a atenção e o carinho de seu suposto pai. Contudo, recebe apenas um soco de partir o nariz e uma história intragável: sua mãe seria uma ex-funcionária mentalmente instável, que teria inventado a história sobre seu caso com Wayne, após adotar Arthur.

Incrédulo, Arthur vai até o Sanatório Arkham, onde vemos algumas referências a outros vilões do Batman, como o Charada. Ali ele consegue ver os relatórios psiquiátricos sobre sua mãe e os rouba. Finalmente a verdade vêm à tona: Penny o adotou, mas deixava-o totalmente alheio de qualquer cuidado. Mais do que isso, ela teria permitido que seu namorado da época tivesse torturado tanto ela quanto a criança. Arthur teria ficado acorrentado por dias, sem comida ou bebida.

Inconsolado, sem rumo ou propósito, Arthur vai até o apartamento de Sophie. Plot twist: descobrimos que todas os momentos que eles teriam passado juntos, foram criados pela própria mente psicótica de Fleck. A cena é breve, mas agoniante. Quando Arthur saí, sem deixar claro o que realmente teria acontecido, só podemos supor o pior.

ABREM-SE AS CORTINAS: COM VOCÊS, O HOMEM QUE RI!

Já sem qualquer limite exterior imposto, o homem vai até o hospital, onde finalmente confronta sua mãe e assume saber a verdade sobre seu passado. Sem dar tempo para que Penny absorvesse suas palavras, ele a sufoca com seu próprio travesseiro.

É então que ele finalmente recebe uma chamada para participar do programa de Murray. Após aceitar, ele começa a ensaiar para o programa e descobrimos que seu plano é cometer suicídio ao vivo – num último e grande ato.

Quando pinta o cabelo de verde, Arthur já não é mais Arthur. A máscara finalmente caí e o interior se liberta. Vemos o eclodir de uma nova persona – Coringa. Enquanto se produz vemos a construção de seu verdadeiro rosto – decidido, frio e violento.

Dois de seus antigos colegas vão ao seu apartamento, prestar condolências pela morte de sua mãe, e então temos a cena mais gráfica do filme. Coringa mata brutalmente o colega que lhe deu a arma, num ímpeto de fúria e frieza. O outro, um anão que já era alvo de sátiras durante o filme, fica encurralado, totalmente sem reação.

“Só espero que minha morte valha mais centavos do que minha vida”

Coringa permite que ele parta, pois admite que o homem nunca o tratara mal. O anão não consegue abrir a porta por causa do seu tamanho, fazendo com que Coringa o assuste antes de deixa-lo sair, dando-lhe um beijo em sua testa. Mas a cena em si causa uma reação confusa nos espectadores – nesse momento, o cômico e o grotesco se misturam como nunca. Alguns riem, enquanto outros se encaram, atônitos.

Totalmente trajado, já assumindo sua nova identidade, Coringa dança por uma escadaria de seu bairro. É encontrado pelos policiais que o procuravam e decide fugir deles. Para esse dia, uma manifestação está marcada para o centro da cidade. Coringa entra no metrô, onde um enorme grupo de manifestantes está usando máscaras de palhaço. Ele consegue se camuflar no meio da multidão e uma confusão começa com a entrada dos policias que, pressionados, acabam por atirar em um homem. Coringa saí na estação, eufórico, enquanto um dos policiais é linchado.

Nos camarins do show de Murray, um dos produtores não quer permitir sua presença, já que seu visual pode ser associado aos movimentos políticos. O próprio apresentador questiona seu convidado, que garante não ter qualquer vínculo com os manifestantes. Após entrarem em um acordo, ele pede para que Murray o apresente como Coringa.

Aqui vale uma nota, já que talvez nada seja mais impactante em todo o longa do que a cena de Coringa coreografando sua dança macabra atrás das coxias. Ele está, enfim, pronto para o que tem de fazer.

A conversa com Murray, contudo, não poderia ser pior. É até difícil perceber o momento em que começa a desandar – simplesmente, parece destinado ao fracasso desde o princípio. Em determinado momento, Coringa admite a responsabilidade pelos assassinados do metrô. “Estou cansado de fingir que não foi engraçado”, é o que ele diz. A sensação do espectador é que cada frase a mais nessa conversa é um erro.

Tensão, tensão e um novo plot twist – Coringa dispara contra Murray. Correria, gritos, desespero… p agente do caos se revela. Ele encara uma das câmeras, antes que a transmissão seja interrompida: “And remeber ‘That’s’… ”, tenta dizer, quando as imagens são cortadas.

ENFIM, OS APLAUSOS!

Coringa é preso, levado em um carro de polícia enquanto contempla a cidade ser consumida pela fúria dos manifestantes, que encaram seu ato de assassinato como um gesto de rebeldia e afronta contra as instituições que eles combatem.

De repente, um caminhão acerta o carro de polícia, e Coringa é liberto pelos manifestantes. Nesse mesmo momento, ao saírem de um cinema que exibia a Máscara de Zorro, fugindo para um beco ao tentarem sair do epicentro do tumulto, os Thomas e Marta Wayne encontram seu fim trágico e reimaginado, diante do pequeno Bruce.

Coringa, por outro lado, se vê rodeado por homens e mulheres mascarados que bradam o seu nome. Usando seu próprio sangue, ele desenha um sorriso distorcido em sua face. É seu momento de glória. O caos domina a cidade, Thomas Wayne está morto, Penny Fleck, Murray Franklin e o próprio Arthur também, mas o palhaço vive.

É uma noite sombria para Gotham City.

A tela, enfim, escurece e ouvimos o som de sua risada rouca e involuntária. Há mais um trecho para a conclusão do filme, uma conversa entre Coringa e sua psiquiatria, provavelmente preso no Asilum Arkham.

– Qual é a graça? – A mulher pergunta para ele.

– Eu pensei numa piada – Coringa responde antes de cair na gargalhada.

– Quer me contar?

– Você não vai entender – Ele responde e traga seu cigarro.

A música “That’s Life” de Frank Sinatra inicia. Coringa a canta em conjunto com o fundo. Então, ele aparece correndo pelos corredores, sendo perseguido por funcionários numa cena que remete aos filmes pastelões.

Seus passos deixam marcas de sangue pelo corredor.

Disseram que eu não sou engraçado o suficiente, dá pra acreditar?

Qual a conclusão que podemos chegar?

Nenhum filme de super-herói, talvez em todos os anos de existência do cinema, tem metade da profundidade que Coringa. A proposta do longa, somados a sua execução por parte de uma direção impecável e uma atuação de tirar o fôlego de Phoenix, criaram uma obra digna de tanta repercussão.

Há muitas polêmicas envoltas ao filme, certamente. Contudo, parece bastante claro que Arthur Fleck não se tornou Coringa porque teve um dia ruim, nem mesmo porque tinha uma condição psiquiátrica, ou porque era socialmente isolado. Mas sua transformação foi uma fusão de todos esses fatores, ainda mais intensificados pela situação política e precariedade social de Gotham.

Arthur era um homem que queria ter uma vida normal. Mas foi sendo tragado por circunstâncias que o levaram a um ponto de ruptura. Nesse estágio, sem ter qualquer suporte, optou pela via mais agressiva – escolheu parar de tentar conter seu lado mais sombrio e usou-o como ferramenta para se libertar.

Coringa é um vilão. Mas é muito mais complexo do que um vilão que nasce assim, como os da Disney, ou daqueles que se tornam antagonistas por terem algum objetivo controverso e impopular, como Thanos. Arthur Fleck foi sendo minado pela doença, pela sociedade e por pessoas a sua volta, e esse homem sucumbiu ao Coringa, que assumindo no controle da situação, optou por virar o mundo de cabeça para baixo.

Sim, essa perspectiva é assustadora. Não porque o filme é puramente polêmico, mas porque ele reflete a nossa realidade. Dessa forma, não é o filme que deve ser combatido, mas sim os nossos próprios valores sociais – que acabam por permitir que um filme de ficção seja tão próximo da realidade.

Angry Birds 2
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Crítica de Cinema: Angry Birds 2 – O Filme (2019)

Angry Birds 2 – O Filme estreia no próximo dia 03 e nós do Beco Literário assistimos ao filme a convite da própria Sony Pictures, só para contar pra vocês o que achamos em primeira mão.

Sinopse: Os raivosos pássaros que não voam e os engenhosos porquinhos verdes levam sua briga para o próximo nível em Angry Birds 2 – O Filme! Quando surge uma nova ameaça que coloca as ilhas dos Pássaros e dos Porcos em perigo, Red, Chuck, Bomba e Mega Águia recrutam a irmã de Chuck, Silver, e se unem aos porcos Leonard, sua assistente Courtney e o técnico Garry para juntos estabelecerem uma trégua instável para formar uma improvável superliga que irá salvar suas casas.

CONTÉM SPOILERS A PARTIR DESTE PONTO

O filme começa recordando o enredo principal do filme anterior, que era a guerra entre a Ilha dos Pássaros e a Ilha dos Porcos, com muita animação e diversão. Até que, de repente, a Ilha dos Porcos é atingida por um objeto misterioso até então. Com isso, o líder Leonard pede uma trégua para a Ilha dos Pássaros, ação que deixa Red desolado, porque seu maior passatempo era proteger a sua ilha e, com a trégua determinada, isso não vai mais acontecer por enquanto.

Trégua decretada, os amigos Red, Chuck e Bomba saem para se divertir, até que Red conhece uma garota pela qual não se dá bem de imediato. Ele sai um pouco triste, até que Leonard o procura para que combatam os ataques da Ilha das Águias, que havia sido descoberta pelos drones das Ilhas dos Pássaros.

Juntos, precisam arquitetar um bom plano a fim de chegar na tal ilha misteriosa e para isso, o grupo precisa encontrar alguém realmente bom. Chuck pensa em sua irmã Silver, engenheira e vão ao seu encontro. Quando ele acontece, plau! É a garota que Red havia conhecido e não se dado bem de primeira. A história deles começa nesse ponto, em que ele começa a se gabar por ser o líder do planejamento, mas não tem ideias muito boas durante o plano em si.

Quando chegam a Ilha das Águias, Red e Silver vão para um lado, e o restante da turma, fantasiados de outra ave, entram pela porta principal. Rola todo aquele esquema de invasão e todos são pegos lá dentro, no flagra, só que o inesperado acontece: Zeta, a águia que comanda a Ilha das Águias é “ex-peguete” do Mega Águia.

Conforme a trama vai se afunilando para o final, ele aparece na ilha e tenta contornar toda a situação, sem obter sucesso. Zeta continua com seu plano para destruir as duas outras ilhas a fim de se apropriar delas, já que prefere o clima tropical delas ao clima frio de sua ilha. Porém, a ideia de Silver e Red, aliadas com a corda de engenharia de Silver de retardar as bombas funciona e destrói a máquina der bombas de Zeta.

Depois de tudo, Zeta revela ao Mega Águia que tem uma filha com ele, e acabam se casando. A Ilha dos Pássaros ficam eternamente agradecidos a Red pela salvação, mas ele diz que a vitória também deve ser de Silver.

FIM DOS SPOILERS

O filme tem uma pegada bem divertida que vai bem para qualquer idade, principalmente crianças pelas cores, diálogos engraçados e todo o enredo lúdico. Aborda muitos temas cotidianos que valem a pena serem colocados em pauta e é um filme que com certeza deve ser visto em família, superando o primeiro da série, lançado em 2016.

O filme original apresenta um elenco de vozes estrelares que também inclui Leslie Jones, Eugenio Derbez, Pete Davidson, Zach Woods, Dove Cameron, Lil Rel Howery, Tony Hale, Beck Bennett, Nicki Minaj, Brooklynn Prince e JoJo Siwa. No Brasil, Marcelo Adnet empresta sua voz para Red, Fábio Porchat dubla Chuck e Dani Calabresa dubla Matilda. Além deles, o filme também conta com participações especiais de influenciadores na dublagem: Thomaz Costa é Bubba, Mileninha é Lola, Luluca é Beatrice e Authentic Games é o Authêntico.

Uma apresentação da Sony Pictures Animation em associação com Rovio Entertainment, dirigido por Thurop Van Orman e produzido por John Cohen. O roteiro é de Peter Ackerman e Eyal Podell & Jonathon E. Stewart.

Angry Birds 2, assim como em seu precursor, é baseado na franquia de grande sucesso para Android e iOS de mesmo nome, que foi por diversos anos um dos jogos mais baixados e sempre em relevância. Na Play Store, por exemplo, com aplicativos de redes sociais, jogos de franquias famosas, de saúde, de apostas esportivas (agora que tais apostas estão legalizadas no país), Andry Birds sempre manteve grande relevância e ainda mantém. Angry Birds 2, jogo relativamente recente da franquia, detém a faixa de mais de 100 milhões de downloads.

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Crítica: Abigail e a cidade proibida (2019)

Abigail e a cidade proibida é um filme russo que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (12) e surpreende em vários aspectos. Primeiro, é um filme russo, e, vivendo em um mundo dominado pelo cinema hollywoodiano, é surpreendente quando somos expostos a um filme russo. Segundo, ele ressuscita o gênero steampunk tão popular nos anos 80 e 90. Porém, as surpresas não são suficientes para amenizarem os furos no roteiro e a fraqueza da história.

Para quem não conhece, steampunk é o termo usado para uma ficção científica que fala sobre avanços tecnológicos em uma história que se passa mais no passado. Confuso? Deixe-me explicar. Júlio Verne descreve uma máquina parecida com um submarino no início do século 20, assim como também fala sobre uma viagem ao redor do mundo em um balão de ar quente. Submarinos e balões são coisas totalmente comuns para nós, mas não são na época em que a história passa.

Agora, voltando à história da Abigail, temos um mundo onde há pessoas capazes de produzir magia que pode ser canalizada em armas futurísticas que lançam raios. A tal cidade proibida é o local onde eles moram, uma cidade totalmente cercada onde ninguém entra e ninguém sai. O motivo dado à população é que há uma doença mortal que se espalhou pelo mundo e eles só estão vivos por causa da muralha que cerca a cidade.

Ninguém sabe o que há lá fora ou se ainda há algo lá fora, porém, já se passaram tantos anos que ninguém mais pergunta, só aceita. Homens mascarados patrulham as ruas o tempo todo, colocando luzes nos olhos das pessoas para testar se a tal “doença” se manifestou. Aqueles que têm um diagnóstico positivo são levados para fora da cidade.

Dentro desse mundo pós-apocaliptico meio futurista e mágico, temos a nossa mocinha, a Abigail, cuja o pai trabalhava para o governo e foi levado quando ela tinha 8 anos. A história se passa quando ela já está com 18, mas temos vários flashbacks ao longo do filme, onde Abigail se lembra das lições que seu pai a ensinou e segue em uma busca implacável de seu paradeiro.

Abigail e a cidade proibida tinha tudo para dar certo, porém, a fórmula não funcionou tão bem quanto esperado. Apesar do roteiro diferente, essa aposta arrojada no steampunk em contrapartida da ficção científica tradicional que está tão em alta e toda aura de magia e ótimos efeitos especiais, o filme peca na execução em falar muito em tão pouco tempo e forçar um romance entre Abigail e o líder da resistência que se consolidou em menos de dez minutos.

Temos magia, um mundo pós-apocalíptico, uma trama cheia de conspiração, várias intrigas e muitos personagens com histórias mal acabadas no mesmo filme. Levando em conta o público-alvo que eu não julgaria ser mais do que infanto-juvenil, a confusão é muito grande e, ao final do filme, saímos com aquela sensação de que não foi tudo entendido de verdade. Até agora eu não entendi como se consegue trancar uma população inteira dentro de uma cidade por mais de 100 anos sem ninguém desconfiar de nada. Quem era o líder dessa coisa toda? Porque temos um líder na época da Abigail, mas é impossível que seja o mesmo desde o início. Ou ele tem o poder da imortalidade? Isso não é explicado na história.

Como todo o restante do filme, o clímax é rápido e confuso demais, com mais enfoque nas lutas e efeitos especiais do que em amarrar as pontas soltas. O tal shipp dos mocinhos não tem química nenhuma, e ninguém parece se importar muito com os mortos durante o processo. Talvez, se eles tivessem diminuído um pouco a quantidade de informações e investido mais em solidificar o roteiro, dando realmente um princípio, meio e fim para tudo, Abigail e a cidade proibida teria tudo para ser um sucesso. Infelizmente, não é esse o caso.

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“Era uma vez em… Hollywood” e o fascínio de Tarantino pelo universo cinematográfico

Tarantino ama cinema – você sabe disso e eu também. O diretor já trabalhou como balconista de uma rede de locadora de filmes e pouco depois escreveu o roteiro de Cães de Aluguel (1992), filme que definiu o tom dos que viriam a seguir, nos deixando sedentos pelas cenas de sangue e roteiros com diálogos afiados, cheios de referência ao universo pop.

Grande fã de “western spaghetti” (sub gênero do western das décadas de 60 e 70, estrelados por astros – já em decadência – que tentavam alavancar suas carreiras internacionais com os filmes), não é coincidência que Tarantino tenha escolhido como título de seu novo filme “Era uma vez em… Hollywood”, prestando homenagem e declarando sua admiração ao diretor Sergio Leone, de “Era uma vez no Oeste” (1968) e “Era uma vez na América” (1984).

Na trama, temos a dupla de personagens principais Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) – ator de uma série de caubóis, já em decadência – e seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt), amigos que vivem uma espécie de bromance em Los Angeles. Na outra ponta da história temos os novos vizinhos de Dalton – e desta vez personagens que representam pessoas reais e conhecidas na indústria do cinema -, o casal formado pela atriz Sharon Tate (Margot Robbie atuando com incrível leveza) e o diretor polaco Roman Polanski (Rafal Zawierucha), que na época já vivia o prestígio pelo filme  “O bebê de Rosemary” (1968).

E como estamos falando em Los Angeles nestes anos, a história dos nossos personagens principais e da própria cidade se misturam com a figura e influência de Charles Manson . Se nomes como Charles Manson, Sharon Tate e Polanski são estranhos para você, vale dar um google antes de ver um filme. A história do filme também se mistura a do diretor, que adiciona elementos da sua infância, comos os cinemas que frequentou (Cinerama e Bruin), o carro que Cliff dirige é um Karmann Ghia, assim como o de seu pai e alguns elementos da casa de Rick são itens pessoais do Tarantino.

Temos belos enquadramentos e movimentos de câmera que ajudam a trazer ritmo para o longa – e marcam a longa parceria do diretor com Robert Richardson, diretor de fotografia que já trabalhou com Tarantino em filmes como Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre. Os últimos dois filmes citados, inclusive, aparecem reverenciados diversas vezes em “Era uma vez em… Hollywood”. A playlist também não deixa a desejar, com clássicos como “Mrs. Robinson” e “California Dreamin’”.

Entretanto, é notável a discrepância entre o número de falas da atriz Margot Robbie em relação aos seus colegas de cena Pitt e DiCaprio. Tanto que o assunto foi abordado durante sua exibição em Cannes, na qual Tarantino se irritou com o questionamento e declarou, “Não concordo”. Nada novo sob o sol quando se trata de Tarantino e as atrizes com quem trabalha.

Quem tem sede pelo “sangue tarantino” vai ter que ser paciente. As famosas cenas sanguinárias só aparecem lá pelo final do filme, quando já começa a se arrastar – e mesmo assim pode não satisfazer a tal sede do filme menos violento do diretor. Mas a tal grande cena mostra um Brad Pitt energético em suas cenas de ação. Já quem gosta dos diálogos característicos do diretor vai se satisfazer ao longo do filme.

No final de “Era uma vez em… Hollywood”, Tarantino dobra a realidade oferecendo uma alternativa mais otimista de um fato que realmente aconteceu – e aqui “traio” Tarantino que antes da exibição do filme deixou uma carta assinada pedindo que os jornalistas e críticos não dessem spoilers do filme. Sorry, Tarantino). Na vida real, a seita “La Familia”, liderada por Charles Manson foi a responsável por um massacre na residência Polanski-Tate, em 1969. Os membros mataram Tate – que estava grávida de oito meses, esperando o primeiro filho do casal – e mais quatro amigos da atriz. No filme, o grupo resolve invadir a casa de Rick Dalton e acaba se dando mal. No final feliz de Tarantino, Dalton acaba sendo chamado para frequentar a casa de Polanski pela própria atriz, após a invasão de sua casa.

Mas afinal de contas, é bom? O filme é um jogo de acerto e erros de um Tarantino que sempre tem ânsia de declarar seu amor ao cinema, tipo aqueles jovens hipsters que enchem o corpo de tatuagem com os filmes cult que amam. Mas esse é um Tarantino maduro que sabe imprimir a sua marca em tudo que faz. Não me satisfez como Cães de Aluguel, mas é um ótimo filme.

 

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Crítica: O Rei Leão (2019)

Dia 18, chegou aos cinemas O Rei Leão em sua tão esperada versão live action. Sendo muito criticado pela falta de inovação nas cenas que podem ser comparadas quadro a quadro com sua versão animada de 1994, O Rei Leão chegou para mostrar que nostalgia vende.

Um live action sem humanos e feito totalmente de animação, com exceção de uma cena, pode ser considerado um live action? Essa é a pergunta que não quer calar ao assistirmos um filme estrelado totalmente por animais tão reais que nos deixa na dúvida, tirando um pequeno detalhe: animais não falam.

Jon Favreau, diretor do filme, revelou em seu Instagram que a única cena verdadeira presente n’O Rei Leão é o trecho de abertura com a música Circle of life, quando vemos a savana africana. Fora isso, há 1490 planos renderizados criados por animadores e artistas de efeitos visuais.

Relembrando um pouco a história, O Rei Leão conta a trajetória do príncipe Simba que, após a morte de seu pai, se atormenta com a culpa, foge e não assume o trono. Porém, após seu tio ser coroado e levar o reino à fome e destruição, Simba volta, enfrenta o tio e assume seu lugar de direito. Alguém mais notou algo familiar nesse enredo? Sua percepção está muito boa se a peça Hamlet, de Shakespeare, lhe veio à cabeça.

Para quem não conhece a peça, Hamlet conta a história do príncipe homônimo que tem seu pai assassinado pelo tio, Cláudio, que casa com a rainha e assume o trono. Atormentado pelo fantasma do pai que cobra vingança, Hamlet mata o tio, vira rei e recupera a honra da família. Idêntico, não é?

Podemos ver o tio invejoso, Scar, a rainha Sarabi que fica sob o poder dele, o príncipe Simba que perde o trono e fica ouvindo a voz de seu pai: “Lembre-se de quem você é”, e o gran finale que culmina na morte do tio e a retomada do trono. Claro que tudo muito bem atenuado com músicas e comédia como só a Disney sabe fazer. Afinal, quem pode me dizer uma história da Disney que não começa em uma verdadeira tragédia e termina no mais lindo e radiante felizes para sempre?

Apesar de a animação de 94 e a versão live action serem praticamente iguais, a diminuição do fator atenuante na segunda fez muita diferença. O filme está mais sombrio e deixou bem claro que não veio para atrair novos fãs, mas sim, para alimentar a nostalgia das crianças dos anos 90 que hoje já são adultos. Alguns detalhes que sequer são citados na animação, ficaram bem evidentes agora, como a cicatriz do Scar que é resultado de seu duelo com Mufasa pelo trono.

A rejeição de Sarabi ao não querer ser a rainha de Scar, o que faz as outras leoas o rejeitarem também, é algo que não foi abordado na animação, porém, nessa nova versão, deixa claro que a rejeição é de cunho sexual. Timão não interrompe mais Pumba quando este canta a música sobre suas flatulências e não temos mais a musiquinha alegre de armadilha para as hienas porque, convenhamos, elas não são animais que ficariam esperando o fim de uma música para atacar.

Alguns detalhes, porém, são observados pelo nosso amadurecimento em sermos mais céticos e críticos ao assistirmos um filme, do que provavelmente éramos há 25 anos. Se só há um leão vivendo na pedra do rei, ou seja, o próprio rei, então quem é o pai dos outros filhotes? Claro que sabemos que são do próprio Mufasa, então, por que só o Simba é o herdeiro do trono? E, ao se casar com Nala, ele se casa com a própria irmã? Claro que sabemos também que nada disso importa no reino animal, porém, ao humanizarmos os personagens, somos levados a esse tipo de questionamento.

Outra pergunta que não quer calar é: como sustentar um animal que está no topo da cadeia alimentar somente com insetos? E como ele conseguiu ficar tão gordo e saudável assim? Ao pensarmos por esse lado, seria impossível também aceitar que um leão seria amigo de um porco. Enfim, só nos resta render-nos à magia do faz de conta e nos entregarmos como fizemos há 25 anos, quando a nossa maior preocupação era aprender as letras das músicas, viver o Hakuna Matata e torcer pelo final feliz já tão esperado.

O Rei Leão faturou US$ 531 milhões em seu final de semana de estréia, o que ultrapassa mais da metade de todo o faturamento da primeira versão. Porém, como, na China, o filme foi lançado 1 semana antes, podemos dizer que O Rei Leão estava há 10 dias em cartaz. Como uma das histórias mais clássicas da Disney que inspirou peças e musicais por todo o mundo, inclusive na Broadway, vamos ver se o old ainda é gold e se a versão live action vai desbancar o primeiro lugar em bilheterias de animações da Disney, que continua intacto com Frozen desde 2013.

 

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Inocência Roubada (2019)

Chega hoje (11) aos cinemas o filme Inocência Roubada, de Andréa Bescond e Eric Métayer. Depois de ser exibido em Canes e no Festival Varillux do cinema francês, Inocência Roubada chega para contar a história da dançarina, atriz e diretora Andréa (sim, é uma história autobiográfica e estrelada por ela), chamada no filme como Odette. O tema é abuso infantil no âmbito familiar, mais precisamente, por um amigo da família. Usando o recurso de narrador em primeira pessoa junto com flashbacks do passado, Odette (Andréa Bescond) vai contando sua história para a terapeuta e, ao mesmo tempo, para os telespectadores do filme.

Originalmente lançado como uma peça de teatro estrelada por Andréa e dirigida por Eric, Inocência Roubada pode ser visto como uma catarse da dançarina que foi abusada na infância por um amigo próximo de seus pais. Durante o filme, vemos a pequena Odette, uma bailarina muito talentosa, sofrer calada e sozinha ao não conseguir ver nos pais uma fonte de confiança e proteção. Há um tato muito grande do filme em não mostrar as cenas explícitas, mas o desconforto é inevitável a cada porta que se fecha e silêncio que se instaura. Não há gritos, nem efeitos sonoros frequentemente usados para alertar o telespectador sobre uma cena mais forte, só o silêncio. Um silêncio incômodo, indigesto, perturbador.

Odette segue na carreira de bailarina, cresce e se torna uma usuária de drogas que não respeita seu próprio corpo nem a si mesma como pessoa. Sua família continua sendo amiga da família do molestador, a vida segue, mas a dor não passa. Até que, ao procurar uma terapeuta para falar sobre isso pela primeira vez, tudo começa a vir a tona. As cenas do passado vão passando misturadas com o presente e até com algumas fantasias da bailarina de como ela gostaria que sua vida tivesse sido. Vemos na tela a confusão que se passa dentro da cabeça de uma pessoa e que os acontecimentos não são tão lineares como os filmes gostam de nos fazer acreditar. O pensamento vem, vai, divaga… Anos se passam até que a coragem necessária seja reunida para finalmente expor o crime e começar a cura.

Infelizmente, o abuso infantil é uma realidade mundial que não é combatida com tanto esmero quanto deveria. As denúncias não são feitas e, quando são, a justiça não age como deveria. O peso do estigma ainda é mais pesado do que a dor que corrói e destrói toda uma vida, todo um futuro que aquela criança poderia ter. E, pasmem, ainda há muitos pais que não acreditam na palavra dos seus filhos. Vemos isso na história de Andréa.

Quando Odette finalmente teve coragem de contar para os pais o que havia acontecido durante toda a sua infância, sua mãe duvidou. Mesmo sendo uma mulher adulta contando, ainda houve dúvida. É interessante observar a atitude da mãe de Odette que, durante todo o tempo, mesmo depois que parece acreditar no acontecido, tenta diminuir a importância como se não tivesse sido algo tão ruim. Afinal, foram só alguns dedos. A mãe coloca como se Odette estivesse destruindo toda uma família, como se o ato de falar e contaminar a todos com sua desgraça fosse uma atitude egoísta. Ela deveria permanecer calada e sofrer seus problemas sozinha.

Não há um grande ápice ou um final realmente feliz, já que nada que fosse feito poderia apagar aquele passado terrível. Mas, testemunhamos o início da cura interior de Odette, sua reação em realmente querer viver e superar tudo aquilo. No final, ainda aparecem alguns dados sobre abuso infantil e um alerta sobre a importância de ouvir seus filhos, prestar atenção neles e denunciar qualquer ato suspeito. Inocência Roubada é um filme de utilidade pública porque mostra que ninguém está acima de qualquer suspeita e como é importante ser mais próximo dos filhos e ficar atento aos detalhes. Ouça seu filho, seu sobrinho, seu aluno. Ouça, acredite e ajude.

Atualizações, Críticas de Cinema

Crítica: Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)

Dando sequência aos acontecimentos presentes em Vingadores: Ultimato, o Universo Cinematográfico Marvel dá prosseguimento a sua linha do tempo em Homem-Aranha: Longe de Casa, dessa vez, levando Peter Parker (Tom Holland) bem longe de sua vizinhança. Lidando com o luto pela morte de Tony Stark, Peter lida com o peso de ser visto como substituto do Homem de Ferro e começa a sentir as dificuldades que a vida de um super-herói em tempo integral pode trazer. De forma leve – e cômica em alguns pontos – o filme demonstra como a população mundial reagiu após a volta daqueles que haviam sido apagados pelo “blip” de Thanos.

Em um contexto geral, Homem-Aranha: Longe de Casa consegue demonstrar muito bem a evolução e amadurecimento de Peter, porém, sem esquecer que até mesmo pela idade do personagem (16 anos), tais mudanças vêm acarretadas de negações, pontos altos e descidas. Veja bem, você pode evoluir o seu psicológico e achar que chegou ao patamar de adulto responsável, mas, eventualmente irá ser ingênuo e cair em alguma armadilha por não ter a bagagem que a “vida adulta” exige. E este é o ponto alto do filme, quando podemos notar claramente os dilemas que o amigo da vizinhança passa aqui. A negação em se tornar um super-herói e querer se manter como um adolescente comum, até o momento em que aceita sua função e em um momento de desespero, confia na pessoa errada.

A chegada de um novo super-herói, Quetin Beck/Mysterio (Jake Gyllenhaal) – diretamente dos quadrinhos – mexe diretamente com as expectativas de Peter, que imagina ter um novo amigo ou mentor. A falta de crença em si mesmo faz inclusive que Parker tenha a esperança de poder transferir toda a sua responsabilidade para o recém-chegado, que é o ato bem ingênuo que falamos anteriormente. Importante dizer aqui, que as cenas de lutas e combates que Mysterio e Homem-Aranha travam juntos, combatendo “novas ameaças” são bem surpreendentes – achei inclusive melhor que muitos outros filmes do Universo Marvel.

Enquanto isso, os avanços entre Peter e MJ (Zendaya) são muito bem trabalhados. A moça inclusive parece estar ainda mais ácida neste filme, o que é excelente pois parece se equilibrar com todo o lado “fofo” de seu parceiro.

Homem-Aranha: Longe de Casa se mostra muito superior e mais interessante que o seu antecessor, De Volta ao Lar. Mas, infelizmente, preciso dizer que as melhores cenas deste filme estão em suas duas cenas pós-créditos. Acredite, elas vão fazer que a gente aguarde ansiosamente pelo terceiro filme da franquia.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Turma da Mônica – Laços (2019)

A notícia que a Turma da Mônica ganharia um filme em live-action, divulgada em 2017, mexeu com o imaginário de milhares de pessoas, afinal, a galera do bairro do Limoeiro está presente na memória afetiva de diversas gerações. Adaptação da HQ “Laços”, publicado em 2013 pela Panini Comics, a história se deriva de um projeto da Maurício de Sousa produções que proporcionou releituras dos personagens sob a visão de diversos artistas brasileiros, neste caso, Vitor e Lu Casfaggi. Com direção de Daniel Rezende, que havia dirigido anteriormente Bingo: O Rei das Manhãs (2017), o filme Turma da Mônica – Laços cumpre bem o seu papel de apresentar o “Universo Turma da Mônica” nas telonas, sem precisar recorrer a técnicas caricatas ou que forçassem algum apego pelo peso nostálgico dos personagens principais.

É preciso, antes de tudo, reforçar que se trata de um filme infantil, logo, esperar grandes plow-twists e histórias complexas está completamente fora de cogitação. Mas desde seu começo, ao apresentar as características dos personagens, o filme demonstra que a escolha de elenco não se baseou em semelhanças físicas dos atores escolhidos aos personagens, mas também características próprias que reforçassem tal visão. Giulia Benite , Kevin Vechiatto, Laura Rauseo e Gabriel Moreira – Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão respectivamente – demonstram em tela um entrosamento e harmonia entre si que tornam a obra mais leve de acompanhar. Existiu ainda a preocupação de não apostar em violência física para definir Monica, uma vez que todas as cenas em que Sansão é usado para derrotar os seus inimigos nós não vemos a ação em si, nos restringido a ouvir sons e ver expressões daqueles que estão ao redor da cena. Com um visual colorido e despojado, a ambientação do filme grita “cidade do interior”, com seus coretos, cercas, pipoqueiros e vendedores de balões, nos levando para um universo onde crianças não ficam presas a gadgets o dia todo.

Se o entrosamento e desenvolvimento do elenco infantil ao decorrer do filme é boa, é preciso destacar dois personagens adultos que mandaram muito bem em seus papéis: Fafá Rennó ao dar vida a Dona Cebola chegou inclusive a chocar por sua semelhança com a mamãe que ficamos acostumados a acompanhar nas páginas de gibi – inclusive, aqui vem uma surpresa, pois em todas as divulgações realizadas, Monica Iozzi é destacada por dar vida a Dona Luísa, a mãe da dentuça “dona da rua”, porém, nos poucos momentos em que apareceu, foi engolida Fafá. Já Rodrigo Santoro ao viver o personagem Louco deu um banho, trazendo um alívio cômico (seria demais dizer que foi até mesmo filosófico?) necessário, uma vez que precisamos admitir que o filme fica bastante lento em determinado momentos.

Entrando neste aspecto sobre a lentidão apresentada no meio do filme, em que determinadas cenas até se assemelham a algumas barrigas para gerar tempo, é necessário nos lembrarmos sobre o público alvo que a história mira. Apesar de ter me incomodado, acompanhei uma sessão com diversas crianças e seus pais e as pude ouvir estar apreensiva e até mesmo com medo, especialmente em um momento em que a turma se adentra em um cemitério no meio da floresta – rendendo até cenas previsíveis como quando Cascão e Cebolinha se assustam consigo mesmos. Para um espectador mais adulto, tais momentos podem não ter sido o ápice do filme, mas, para as crianças que acompanhavam, com certeza, foi o clímax de tudo.

Por fim, podemos encorajar aqueles que são fãs da Turma da Monica a assistir ao filme, e o melhor, que assistam acompanhados de seus filhos, sobrinhos, primos ou irmãos. Será uma experiencia rica para ambos: aos mais velhos pelo fator nostálgico, que acaba sendo inevitável e alcançado de forma leve, e aos mais novos pela aventura e carisma que esbanja dos 4 personagens principais. Foi lindo ver a sensibilidade que a obra de Maurício de Sousa foi tratada – Ah! E claro, a breve participação do próprio cartunista, momento que deixa qualquer um com um sorriso de orelha a orelha.

 

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Aladdin, 2019

Quando as primeiras imagens do live-action de Aladdin foram divulgadas, muita gente ficou com o pé atrás: os efeitos de gênio em Will Smith não agradaram à primeira vista, os efeitos não traziam à tona a magia esperada e o casal principal não demonstrou ter muita química. Era a receita para um desastre. Mas eis que o filme chegou aos cinemas nesta semana e logo de cara foi possível relaxar. O resultado final foi muito melhor que o esperado.

Esta versão, dirigida por Guy Ritchie, é extremamente fiel ao longa-metragem de animado de 1992, porém, com atualizações pontuais que o tornam mais dinâmicos e condizentes com a nossa realidade. Logo de cara a trilha sonora mostra a que veio, e a história apresentada é sem surpresas: Aladdin (Mena Massoud) continua sendo um jovem que para não passar fome, aplica pequenos golpes ao lado de seu inseparável macaco Abu; Jasmine (Naomi Scott), uma princesa sem poder de fala e que por cuidados em excesso de seu pai não tem a permissão para andar livremente por seu reino; Jafar (Marwan Kenzari) e sua sede por poder; e o Gênio, que interpretado por Will Smith se tornou a mais grata surpresa do longa. Ah, importante lembrar, nunca tivemos tanta vontade de estrangular uma ave como tivemos com o papagaio Iago.

Por estarmos em 2019, e, a história necessitar de uma atualização por conta dos mais de 20 anos de diferença, o momento de empoderamento da princesa Jasmine era um dos momentos mais aguardados. E este momento veio de forma brilhante em uma música criada especialmente para esta versão, chamada de “Speechless”, onde a princesa diz que não irá se calar, embora queiram que ela seja apenas vista e não ouvida. Na versão dublada, a música mantém a sua postura girl-power, aqui chamada de “Ninguém Me Cala”.

No meio de tanta coisa, é uma pena o plot principal, que deveria ser o fio condutor perder a importância dentro de tanta coisa que até então estava sendo muito executado. O conselheiro do Sultão (Navid Negahban), vilão que deveria nos assustar ou nos deixar apreensivos por suas ações, Jafar, se mostrou fraco e em certos momentos até mesmo dispensáveis. A própria culpa de Aladdin em mentir para a amada se torna um obstáculo maior para o final feliz quando comparada as ações do grande antagonista do filme.

Will Smith rouba a cena em todos os momentos que aparece. Os efeitos especiais que tanto causaram estranhamento inicial se demonstram incríveis na telona. É realmente impressionante as diversas formas, figurinos, tamanhos e facetas do ator em todas as aparições do Gênio. O ator inclusive trouxe diversas novidades ao personagem, seja o rap em algumas músicas ou suas expressões que dão o tom em diversos números musicais. E seus flertes com a acompanhante da princesa, Dalila (Nasim Pedrad), são divertidos na medida certa.

A trilha-sonora e coreografias executadas ao longo do filme continuam sendo o ponto alto ao longo dos 128 minutos de obra. É notável logo nas primeiras execuções musicais as inspirações bollywoodianas presentes. As cores fortes e danças chamam a atenção, mas sem tirar o tom árabe que Aladdin pede.

No fim, é uma excelente pedida para o final de semana. Sem dúvidas, Aladdin irá agradar aos públicos de todas as idades e te fazer sair da sala de cinema já baixando sua trilha sonora original.