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Crítica: Ponte dos Espiões (2015)

Dirigido por: Steven Spielberg. Escrito por: Joel e Ethan Coen. Estrelado por: Tom Hanks , Alan Alda , Amy Ryan , Austin Stowell , Eve Hewson

Em 1957, auge da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética temem um mútuo ataque, ambos possuem um poderio militar assustador e qualquer desavença pode trazer consequências catastróficas. É nesse clima que se passa “Ponte dos Espiões”, um filme extraordinariamente inteligente e que provou que a dupla Tom Hanks e Steven Spielberg dá super certo.

Diferente dos outros filmes que se passam nos anos de Guerra Fria, não há um maniqueísmo forçado, os EUA do lado do bem, da liberdade, contra a malvada e temida URSS. Não, o longa mostra de maneira realista o que realmente foi a Guerra Fria, seus bastidores, o equilíbrio de poder entre as superpotências, a soberania entre os Estados, as negociações internacionais, o jogo diplomático e o uso da arma mais importante: a informação.

Bom, vamos ao enredo do filme. James Donovan (Tom Hanks) é um advogado comum, especialista em seguros, que trabalha para uma firma de advocacia. Ele é então, designado pelo seu chefe para trabalhar na área de direito penal e ser o advogado de defesa de um espião soviético capturado pelo FBI. James pensa a princípio em recusar a proposta, pois defender um soviético poderia trazer problemas para ele e sua família, mas é obrigado a aceitar, pois os EUA querem demonstrar que até um espião soviético pode ser julgado com igualdade pelas leis norte-americanas.

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É nesse momento que vemos uma oposição de valores e moral dentro do próprio território americano. James Donovam é um homem extremamente correto, cumpridor das leis e regras, como responsável pela defesa do espião, Rudolf Abel (Mark Rylance), vai até o fim para ajudá-lo, como ajudaria qualquer outra pessoa, independente de sua nacionalidade, sofrendo retaliações por parte dos próprios americanos, que o consideram um traidor.

Mas aí vemos o outro lado, a justiça de fachada, o juiz que irá julgar o caso já tem a intenção de condená-lo à cadeira elétrica, ter um julgamento “justo” é uma mera formalidade. Mas Donovan não se cansa, vai até o fim e consegue evitar a pena de morte de Abel, que é condenado a 30 anos de prisão, gerando fúria à opinião pública que queria vê-lo morto, afinal bandido bom é bandido morto, certo? Errado. O filme tem um ideal humanista muito forte, influência de Spielberg, toda vida é importante e valorizada pelo personagem de Hanks.

EUA e URSS, como eu disse no início estavam em equilíbrio o tempo todo. Nessa época, espiões soviéticos estavam em busca de informações nos Estados Unidos e espiões americanos em território soviético. E o tema central é exatamente esse. Um piloto norte-americano é mandado à URSS em uma aeronave espiã, capaz de tirar fotos em alta resolução e capturar informações, a nave é bombardeada e o piloto Gary Powers (Austin Stowell) capturado e condenado à prisão. Esse é o clímax da história, que foi baseada em fatos reais. A CIA pede a James Donovan que vá para Berlim Oriental, bem na fase de construção do muro de Berlim e troque Abel por Powers.

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Chegando lá, ele descobre que um estudante americano também foi preso, acusado de espionagem e resolve trocar os dois por Abel. Essa parte do filme requer muita atenção, é desenvolvido um jogo estratégico muito bem pensado por parte de James, que negocia de forma inteligente e arriscada com a URSS e a RDA (República Democrática da Alemanha), que até nos faz ficar apreensivos, é uma ótima aula de diplomacia e negociação internacional.

Spielberg, não usa de recursos visuais e sonoros para criar emoção, tira isso dos próprios personagens. Tom Hanks, ganhador de dois Oscars, mais uma vez foi brilhante. A temática é pesada, mas ele traz leveza e um toque sutil de humor, que não deixa o filme monótono, seu personagem é um exemplo de dignidade e ética, que hoje é tão difícil de achar.

Outra atuação incrível foi a de Mark Rylance, ele poderia ser odiado, simplesmente por ser soviético, como acontece frequentemente nos filmes de Hollywood. Mas muito pelo contrário, ele nos cativa com seu jeito misterioso e calmo, os diálogos entre o personagem de Tom Hanks e Rylance são cheios de emoção, mesmo representando lados e ideologias opostas, há uma relação de amizade e respeito entre eles que é muito bonita, e serve como exemplo em tempos de intolerância e xenofobia.

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A caracterização do elenco foi muito bem pensada, a fotografia é impecável, parece que mergulhamos no passado, com os carros antigos, móveis e arquitetura. Há o uso de raios que atravessam janelas e fendas em direção ao rosto dos atores, chuva na hora de perseguição, neve pesada, clima sombrio e gelado em Berlim Oriental, em referência à época turbulenta em que se encontrava.

Enfim, é um filme muito bem feito, merece fazer parte dos indicados ao prêmio de melhor filme. Além disso, é extremamente educativo, é como assistir a uma aula de História e aos bastidores da Guerra Fria. Traz uma visão humanista, em defesa dos direitos humanos e da superação dos preconceitos. Spielberg sabe da influência que seus filmes causam na imagem dos Estados Unidos, por isso age com extrema responsabilidade e inovação.

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Crítica de cinema: perdido em Marte (2015)

Você sabe o que faria se ficasse perdido, por tempo indeterminado, num planeta deserto, com seus suprimentos de água e comida limitados? A maioria responde que recorreria ao suicídio, para evitar maior sofrimento. Mas Mark Watney (Matt Damon) não se suicidou. Na verdade, ele fez exatamente o oposto: lutou pela própria sobrevivência. Ao começar a assistir ao filme “Perdido em Marte”, adaptação da obra de Andy Weir, é possível ter a certeza de que aquela pergunta passa pela cabeça de todo espectador: “O que você faria?”

O filme começa com um quê de “Gravidade”, com aquele toque especial de adrenalina e suspense durante a aventura espacial. Uma missão pioneira no famoso planeta vermelho é abortada devido a uma tempestade de areia, que conta com efeitos visuais assustadoramente realistas. Os integrantes da NASA correm para a nave para evacuação, e a personagem de Matt Damon é deixada para trás e dada por morta, após ser atingida por uma antena que estava instalando. A pior parte é que o astronauta estava VIVO e, literalmente, sozinho no mundo.

Cansado e ferido, Watney volta para a instalação da NASA e, na cena mais aflitiva do filme, retira de si mesmo um pedaço de antena e faz um curativo. Apesar de grotesca e esquisita, essa cena conquista qualquer um por sua realisticidade e pela determinação e equilíbrio mental da personagem, que poderia simplesmente ter gritado, esperneado ou até arrancado a ferida de qualquer jeito.

A partir daí, a história se desenrola catarticamente, com direito a cenas de humor para quebrar um pouco a tensão e novos desafios enfrentados pelo engenheiro mecânico e botânico. Entre estes, há a missão de construir uma plantação de batatas em solo infértil, produzir água e tentar entrar em contato com a Terra.

A disputa com Mad Max está acirrada nas indicações ao Oscar. Além de “Melhor Filme”, o projeto recebeu créditos como “Melhor Ator” e “Melhores Efeitos Visuais”que, é claro, foram merecidos. O figurino, inspirado em reais trajes da NASA, em contraste com uma imitação ultrarrealista de Marte, cria uma perfeita atmosfera de solidão, inspirada também pela bela fotografia. A personagem principal é muito bem construída, esférica, mas o desenvolvimento das outras, por sua vez, deixa a desejar.

O ponto fraco é que o roteiro não deixa de ser previsível para qualquer um que já tenha assistido a outros longas do gênero “espaço”. É simplesmente muito fácil imaginar o que vai acontecer. Fora isso, o diretor Ridley Scott não se equivocou em nada, muito pelo contrário. Para quem procura uma versão menos dramática e complicada de “Interestelar”, “Perdido em Marte” é satisfação garantida.

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Crítica: Suffragette (2015)

O que você faria se te obrigassem a escolher entre a luta por um ideal ou sua família? Como você agiria após ser espancado e humilhado na frente de todos por conta de sua ideologia? O que você faz hoje, agora, para mudar o panorama preconceituoso e machista? Durante esta crítica preciso que você realiza todas essas perguntas, que se questione várias vezes e no fim de tudo, continue por se perguntar: Quem sou eu? É assim que “Suffragette” atua, é desse modo que o filme produzido por Alison Owen e Faye Ward ganha forma, como um questionador constante sobre a lei e suas artimanhas, sobre aqueles que a elaboram e com que interesses o fazem. É um filme de persistência, de sangue e luta. Não é um filme para acomodados ou para os “está tudo certo”, é um filme para aqueles que escolhem problematizar ao invés de dizer: Sim, senhor! Um espelho das lutas libertárias que atinge o realismo graças aos seus minuciosos detalhes . “Suffragette” é um grito ensurdecedor nutrido de carga histórica, sem anacronismos ou faz de conta, belo por nada menos que sua brutalidade.

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A história tem por foco a entrada da trabalhadora Maud Watts na luta das sufragistas, desde seus primeiros contatos com o movimento até sua atuação na luta. Muita gente acredita que por ser um drama histórico, tendo por base fatos reais, que Maud exista. Na verdade os únicos personagens que ocupam o quadro principal, que são inspirados em personalidades reais, são o ex-primeiro ministro Britânico, Conde Lloyd-George (Adrian Schiller), a líder do movimento,  Emmeline Pankhurs (Meryl Streep) e uma das adeptas, Emily Davison (Natalie Press). Fora estes três, personagens como a própria Maud e Edith Ellyn, interpretada por Helena Bonham Carter, foram criadas para intercalar o que tornou-se história com ficção. É um arranjo sensacional, pois a medida em que o filme passa somos levados a um lugar comum para todo aquele que estuda e/ou atua no movimento feminista, lugar este que não fora muito explorado ao decorrer das décadas, mas que é recorrente quando se fala de sufrágio universal.

Mas voltando para o enredo, lá está Maud, trabalhando em uma lavanderia desde seus seis anos de idade, nascida e criada no estabelecimento, abusada pelo dono, tratada como escória, assim como todas as outras mulheres que ali circulam, ou melhor, assim como toda mulher no Reino Unido. Maud consegue visualizar uma brecha do que pode ocorrer caso uma daquelas mulheres sai dos trilhos machistas destinados à elas desde nascidas, tem um vislumbre do que seja a luta pelo voto por meio de uma amiga da própria lavandeira. Esta amiga, Violet, a coloca em uma posição em que nunca estivera, em certa ocasião do longa, Maud tem voz. Isso provoca um choque de realidade na mulher, lhe deixa abobado com o que pode fazer, com o que deve fazer. E o faz, vai em busca do que sua mãe nunca sonhara em ter (Ou sonhara e nada dissera?), Maud torna-se uma sufragista, mesmo com toda a pressão sobre seus ombros, mesmo tendo que deixar filho e marido para trás, ela ergue a cabeça e vê um futuro desejável. É inspirador visualizar um ser humano descobrindo que pode ser tal coisa, que pode e deve correr atrás daquilo que lhe é de direito.

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A interpretação de Carey Mulligan no papel de Maud Watts é digna sim de Oscar (Academia, que vergonha hein…). Da atriz foi-se exigido muito, nas cenas aprisionadas principalmente, e ela conseguiu corresponder, fez de seu papel aquilo em que ele fora planejado inicialmente, um ponto de referência do movimento. Maud não surge só como mais uma mulher lutando pelo voto, ela é aquele que reúne todos os problemas enfrentados individualmente por mulheres e mulheres que aderiram a luta, a personagem é essa união de questionamentos e ao mesmo tempo a resposta para todos, sendo assim Mulligan conseguiu interpretar com maestria, sobressaindo-se frente à Helena Bonham Carter e Meryl Streep (mas disso não existe dúvida, pois Meryl Streep só nos dá o ar de sua graça durante dois minutos e meio, sim, DOIS MINUTOS DE MERYL STREEP é o que temos, mas vale a pena, e como vale). Meryl Streep faz uma aparição breve no longa, incorporada como Emmeline Pankhurs da cabeça aos pés, Streep faz um discurso apressado mas que rende durante todo o filme, a voz da três vezes ganhadora do Oscar é atemporal e te coloca ali, sob a varanda, louco para ouvir a Sra. Pankhurs falar. O interessante é que a própria Meryl interpretara em 2011 também uma das grandes mulheres da história mundial, mas que se compararmos com Emmeline apresenta opiniões que diferem em muito. Meryl Streep fora Margaret Thatcher em “The Iron Lady”, o que lhe rendera a terceira estatueta. Thatcher se posicionava contrariamente ao movimento feminista, declarando em um de seus pronunciamentos no parlamento que o feminismo “é puro veneno”. Mas vejamos que ironia, tanto no cinema quanto na política, Thatcher só conseguira ocupar o cargo de primeira ministra (COM LOUVOR) por conta da luta antepassada FEMINISTA, mesmo assim, graças à suas ideias neoliberais se colocava nem a favor, nem tão contra ao movimento, opinando só quando lhe cabia. Thatcher e Pankhurs acabaram por ter a mesma atriz lhes interpretando nos cinemas do mundo inteiro, acabaram por serem lembradas como ícones, no mais, temos três grandes lendas em um mesmo local, Meryl Streep é isso, em poucos minutos consegue fazer todo um rebuliço, causar arrepios no telespectador com poucas frases. Você, se não assistiu ainda o filme, vai ficar bestializado quando Streep olhar bem em seus olhos e disser: Nunca se renda.

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A adaptação do ambiente foi muito bem feita, a Londres do início do século XX foi captada de forma excelente, a fumaça como um prelúdio da batalha que se forma a medida que os dias passam, o modo como o interior da casa de Maud fora fabricada é impressionante, até um dos atos mais comuns como saldar o rei, a imagem do rei posta na parede, ganha destaque. O que faltou na adaptação do cenário político-social foi a presença das mulheres indianas, presentes em grande número na luta pelo sufrágio no Reino Unido. Podemos ver entre os atos alguns homens, mas nenhuma pessoa com nacionalidade indiana aparece no longa e isso podemos anotar como um erro, mesmo que não seja de grandes proporções, do filme. Se oculta a imagem de mulher que lutaram do mesmo modo pela causa. Ainda nesta caracterização do cenário vemos as cores usadas pelo movimento, os trajes idênticos aos mostrados em gravações da época, tudo em seus conformes no figurino (QUE FIGURINO). Agora eis um momento, logo no início do filme, em que o grupo que aguardava um anúncio em frente ao Parlamento entoa “The march of the Women”, e meu bom Deus, é de dar gargalhadas orgulhosas, de rir por pura felicidade de ver tudo aquilo, toda aquela beleza reunida em uma só cena. Junto a todo esse clima de guerra iminente, temos uma trilha sonora original que só deixa tudo mais tenso e heroico. Composta por Alexandre Desplat (autor de trilhas como a de “Harry Potter” e de “O jogo da Imitação) a trilha é encantadora, apresenta o clima necessário para o filme, introduz harmonia nas cenas e faz com que algumas situações se tornem bem mais graves do que já são. Se você é assim como eu, viciado em trilhas sonoras, pode ouvir a de “Suffragette”no spotify.

No papel de Edith Ellyn temos dona Helena Bonham Carter, farmacêutica e protagonista do movimento. Edith como foi dito logo no começo dessa crítica, não chegou a existir, mas é de uma presença fora do normal. Carter como sempre empresta seu poderio frente às câmeras para fazer da personagem algo bem melhor do que a roteirista imaginava. E sobre a roteirista temos muito o que falar. Abi Morgan, roteirista de “The Iron Lady”, que já citamos e de “Shame”, filme onde Carey Mulligan também atuara, consegue criar uma rede de histórias transformar-se em uma imensa trama, que deve ser elogiada por todos aqueles que assistirem. Todas as falas estão ali porque são necessárias, só se fala o que é preciso, diferente do que ocorre comumente em alguns filmes, onde temos minutos e minutos da famosa enche-linguiça (Não é, “A 5º onda”…). Antes que encerremos os comentários sobre as atuações, devemos falar de Ben Whishaw que estava meio sumido desde seu filme de estreia, Perfume (2006). Depois daquela atuação muito se esperava de Whishaw, mas o jovem foi sumindo, sumindo… até que aparece como marido em segundo plano em “Suffragette”. Que bela interpretação de Ben Whishaw, conseguiu transparecer o que um homem da época sentiria ao ver a mulher agir de tal forma, o que um homem da época faria, inundado de machismo e conceitos arcaicos, pequena mas notória foi a interpretação de Ben.

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A fotografia de “Suffragette” utiliza alguns efeitos de desfoque, principalmente nas cenas de conflito, como se quisesse provocar um contraste entre o que deve ser exibido e o que está sendo colocado na tela. Tudo em seus conformes na fotografia, recheada de roxo, branco e verde. Cores de luta e empoderamento. O filme consegue se desprender da narrativa histórica convencional em alguns momentos, e isso é bom, não é um relato já conhecido e repetitivo, é uma mistura de tudo isso. São visões acerca do movimento, prós e contras se misturam no longa, vemos as tentativas de impedimento organizadas pelo governo, admiramos o modo como as mulheres de todos os lugares conseguiram burlar tais tentativas, somos telespectadores de uma luta vitoriosa onde sangue e sacrífico foram postos à mesa. Se assiste um tributo às milhares de mulheres que morreram e morrem pela causa, é um filme encorajador e brilhante. Uma produção que ressalta a necessidade do protagonismo feminino na luta, na busca, no ato de se fazer a lei e por ela dedicar esforços inimagináveis.

 

EQUALITY FOR WOMEN

 

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Crítica: Carol (2015)

Therese Belivet é o cumulo da normalidade. Trabalho, casa, namorado, trabalho, casa… e por ai vai. Ela convive assim dia após dia, da loja em que é empregada até o apartamento de pequeno porte em Nova York, mas uma de suas clientes aparenta ser diferente, aparenta ser “de outra galáxia”, por assim dizer. Therese conhece Carol.

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O longa dirigido por Tood Raynes foi indicado em seis categorias pela Academia (Melhor Atriz, Melhor Atriz coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Trilha ORIGINAL e Melhor Figurino), tem Cate Blanchet estrelando seu elenco e uma das mais belas canções compostas para o cinema ano passado. Falar sobre “Carol” é uma tarefa difícil, mas a faremos com todo o cuidado e zelo possível, pois assim fora produzido o filme, com todo esmero e calma necessária. Belo, do início ao fim em todos os sentidos imagináveis, a história de Carol e Therese é algo anormal no cenário cinematográfico atual.

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O filme é uma adaptação do livro “The Price of Salt” de Patricia Higsmith, publicado em 1953 (Na época a obra foi publicada sob o pseudônimo Claire Morgan). Você pode adquirir o romance aqui no Brasil pela editora L&PM, assim como outros livros da autora, entre eles um famoso intitulado de “O talentoso Ripley”.  Algumas coisas diferem do livro para o longa, mas a história preserva sua essência, colocando sob a luz dos holofotes Therese primeiramente e depois apresentando Carol para o público. A adaptação foi feita com uma excelência de se espantar, os diálogos encaixados de uma forma que deixa qualquer um boquiaberto, a força das palavras se enquadraram perfeitamente com a voz firme de Blanchet, graças a isso “Carol” concorre na categoria de roteiro adaptado (merecidamente), e não me espantaria se o mesmo levasse o prêmio, é um dos pontos fortes do filme e devemos ficar de olho nessa possibilidade.

A história como foi dito logo no inicio, transcorre ao redor de Carol Aird e Therese Belivet. Carol compra um presente para sua filha na loja em que Therese trabalha e esquece suas luvas no estabelecimento. Cria-se ai uma ponte entre a aspirante à fotografa profissional e a mulher em processo de divórcio. Do outro lado desta ponte temos Carol encarando a separação, com um marido que conhece sua bissexualidade mas se recusa a aceitar, mesmo estando prestes a se divorciar da mulher. No meio de tudo temos a pequena Rindy, filha do trágico casal. Também marcando presença na trama podemos ver Abby, interpretada por Sarah Pulson, está que tivera um caso com Carol, mas que no presente momento não passa de fiel amiga. O cenário está montado para uma apresentação de sensibilidade imensa.

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Cate Blanchet aparece com sua genialidade típica, seu dom se espalha, em certos momentos assusta a quem lhe assiste. Indicada na categoria de “Melhor Atriz”, Blanchet explode em cada cena, seu olhar conquistador, sua forma de deixar transparecer cada sentimento, ódio, raiva, amor, tristeza,  é encantador vê-la atuar. Do mesmo modo temos Rooney Mara no papel de Therese. A sutileza que era necessária para a performance de Therese, Rooney disponibilizou, o que era preciso para termos a Therese ideal foi feito, e muito mais que isso, Mara deu um toque extra na personagem, fez com que sua dúvida constante, sua descoberta da verdade que há tanto já estava presente se transforma-se em algo casual, de uma realismo tremendo, de como é e nada mais. Assim como a interpretação das atrizes principais é a trilha sonora, uma das mais belas que vi, cada música composta especialmente para aquela situação caiu como uma luva, desde a cena em que Therese se encanta com Carol até o fim do longa, as músicas entraram em harmonia com o visual e isso não pode passar despercebido, a Academia vai ter um certo trabalho para escolher quem leva a estatueta de melhor trilha ORIGINAL esse ano, e temos “Carol” como candidato fortíssimo para o prêmio. Antes que me esqueça, voltemos para as interpretações, quero dar uma atenção especial para a pequena Sadie Heim, que atuou no papel de Rindy. A desenvoltura da garota em todas as cenas é de uma naturalidade imensa e mesmo com poucas aparições faz um trabalho excepcional.

A fotografia de “Carol” surpreende, mas não chega a ser a melhor entre todos os indicados, é uma belíssima fotografia que capta todos os sentimentos necessários para o filme mas não se compara a de “O Regresso”, que utilizou de diversas técnicas para a produção. Um detalhe sobre a fotografia de “Carol” me deixou em êxtase, em uma das cenas, entre os minutos finais, esse ponto da adaptação explode e se mostra bem maior do que fora durante cem minutos, somos jogados para a visão de Therese, no mesmo momento vemos planos horizontais do acontecimento, inverte-se a tela, muda-se o panorama, é incrível como lidaram com a cena e isso agrada a qualquer admirador cinematográfico (E a trilha sonora marcando presença com sua beleza de outro planeta nesta cena). Um último quesito a levantarmos, que também fora destacado pela Academia é o figurino, uma das indicações do longa. Todo o poderia de Carol Aird, seu andar encantador, suas curvas destacadas por roupas e mais roupas feitas singularmente, o mesmo ocorre com todos os outros personagens, isso nos leva para a época de uma forma genial, nada se encontra fora de seu lugar, não se comete anacronismos na elaboração do figurino e temos que aplaudir de pé, pois a maioria dos filmes o faz nem que seja em um detalhe aqui ou acolá.

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“Carol” nos coloca em duas posições, na de telespectador e de responsável por tudo aquilo, é engraçado pois a história se passa há quase um século atrás e mesmo assim o enredo se repete atualmente. Somos telespectadores a medida em que a paixão de Carol se encontra com a de Therese, a indecisão e o medo de ser o que não é, isso tudo vemos de longe, apenas captando pontos específicos, mas chega o momento em que o filme nos obrigada a invadir a história, em se mover perante tudo aquilo. “Carol” é um alerta de que evolução não significa progredir, de que mesmo com o passar do tempo o preconceito, a intolerância e a ignorância prevalecem, mas Carol também é sinal verde para a busca por direitos, por lugar na sociedade e nela poder atuar. No ano em que temos temáticas LGBTs em foco esse é um daqueles filmes que marcam época, principalmente por conseguir captar a pressão e rejeição posta sobre as pessoas por conta de suas respectivas essências, rejeição por pessoas que nada mais são do que elas próprias. É um desmascaramento do pior que o ser humano possui, ao mesmo tempo que mostra o melhor que podemos oferecer. “Carol” é um filme de extremos e isso mexe com todo o público, não é algo sarcástico ou passageiro, é obra para se ver centenas de vezes e sempre que vista conseguir observar um novo tópico, uma nova visão, mas sempre, em qualquer situação, a mensagem principal do filme aparecerá como uma placa imensa piscando na beira da estrada, dizendo: Deixe-nos amar. Deixe-nos viver. Incrível, eletrizante e perfeccionista do começo ao fim, que leve a maior quantidade de estatuetas que conseguir entre as suas seis indicações, que faça o que de melhor sabe fazer: conquiste. Assim como conquistou um fã árduo e encantado por todo o enredo e produção.

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Crítica: A Garota Dinamarquesa (2015)

A inquietação é combustível primordial de “A Garota Dinamarquesa”. O longa estrelado por Eddie Redmayne e Alicia Vikander conta a história de Lili Elbe, que por início nos é apresentada como Einar Wegener. Uma cinebiografia que em muito se assemelha às outras, mas deixa sua marca em diversos momentos.  O eixo central da trama é a vida de Lili, primeira pessoa a se submeter à uma cirurgia de mudança de gênero, tendo como presença efetiva de sua esposa, Gerda Wegener. No decorrer do filme vemos os desafios, as fases e faces de Einar até se tornar por completo Lili Elbe. Pensamentos introspectivos são lançados durante o longa por meio de gestos e ações, a mente de Einar Wegener é colocada à exposição, assim como a situação que sua esposa compartilha. “The Danish Girl” provoca as mais submersas sensações, é um representante da classe dos filmes ocultos, daqueles que te jogam na trama e te questionam sobre diversos pontos, isto tudo com uma sutileza fora do normal. O drama vivido por Einar e Gerda é provocador, nem para todos, assim como representa muitos, difícil de se entender para aqueles que não desejam fazer isso.

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O longa é indicado em quatro categorias no Oscar 2016. Para melhor ator temos Eddie Redmayne, para melhor atriz coadjuvante, Alicia Vikander, e em categorias técnicas como Melhor figurino e Design de produção. Indicações estas mais que justas e que iremos falar um pouco mais a frente, por hora foquemos na trama. Einar Wegener consegue visualizar gradualmente que aquele corpo que reside não é o seu, não é o que realmente deseja, e isso provoca mudanças drásticas no comportamento do casal, na rotina de Gerda, na vida dos dois, fazendo com que uma avalanche de riscos decaia sobre esposa e marido. Einar é um famoso pintor na Dinamarca, retrata sua cidade natal em diversas pinturas, aparenta ser o que é e apenas isso. Mas ele e Gerda sabem que por trás da verdade alheia, a sua é totalmente diferente. Einar vive camuflado naquele perfil que o puseram, até que aos poucos, enquanto veste roupas femininas para auxiliar sua mulher como modelo para as pinturas da mesma, Einar entra em contato com seu eu. Com Lili. A partir dai o filme transcorre, com diversas forças conspirando contra Lili, com outras a favor do desaparecimento de Einar, com mudanças pequenas que significam muito para o desenvolvimento da história. O que surpreende em “A Garota Dinamarquesa” é a veracidade, tendo como grande responsável o roteiro e a atuação de Eddie Redmayne. A adaptação do livro biografia sobre Lili Elbe é eficaz, não escapa do que deve ser feito, é algo gigantesco em diversos quesitos, mas principalmente neste. Se fala não só de Lili, mas das várias Lilis que foram auxiliadas graças à pioneira. O longa consegue transmitir isso e vemos que a direção de Tom Hooper continua eficiente e ímpar.

Após “A Teoria de Tudo” todos apostavam que Redmayne não conseguiria realizar tal feito novamente. Não atuaria da mesma forma, pois isso se confirmou em “O Destino de Júpiter”, seria Redmayne apenas mais um a ganhar a tão desejada estatueta e não passaria disso? Só tenho algo a dizer: Não foi dessa vez, DiCaprio. Foi? Paira no ar a dúvida NOVAMENTE, pois depois do que vi em “A Garota Dinamarquesa”, caiu por terra toda a certeza que tinha sobre Leonardo DiCaprio levar o prêmio de melhor ator. Eddie Redmayne consegue ser bem melhor do que si, realiza uma atuação fora do normal. Em uma das cenas, das fantásticas cenas desse filme incrível, vemos Eddie Redmayne totalmente despido, em todos os sentidos, pois ali ele deixa de ser Redmayne, deixa de ser a pessoa que é para se transformar na Lili que deseja representar. A encarnação do ator é estupenda e em certos momentos bestializa aquele que o assiste. Fora do normal, repito, o que Eddie realiza em “The Danish Girl”, e isso deixa a corrida pela estatueta ainda mais imprecisa. Será mesmo que DiCaprio bate na trave novamente este ano? Será que a Academia concederá a segunda estatueta a Redmayne? Fincarei aqui por fim minha opinião sincera: O Oscar de melhor ator deste ano vai para Redmayne, e MAIS UMA VEZ,  DiCaprio sai da premiação de mãos abanando. Falaremos sobre a interpretação de Leonardo na crítica de “O Regresso”, não se preocupem, mas a forma que Redmayne incorporou o personagem, o modo como efetuara esta metamorfose que é “A Garota Dinamarquesa” com êxito… Bem, torço imensamente por DiCaprio, mas fica para Redmayne novamente, com um merecimento imenso assim como sua desenvoltura. Surreal fora o trabalho do ator, desde Einar até Lili. Seus movimentos, sua capacidade de transparecer a imperfeição humana é tremenda e digna de aplausos, milhões destes.

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Ainda sobre atuações, falemos de Alicia Vikander. Um casal de atores perfeito, digamos logo de início. A seleção fora eficiente (mesmo sabendo que Alicia entrou como uma espécie de terceira chamada, e agradecemos aos céus por isso) na escolha de Alicia e Eddie para o protagonismo em seus papéis. O desespero de Gerda, a mansidão, o sentimento a flor da pele, o medo, o amor de Gerda está em cada traço de Alicia, sua voz atinge o tom certo, seu olhar só deixa tudo mais convincente. Vikander concorre com Rooney Mara (Carol),  Rachel McAddams, (Spotlight), Kate Winslet (Steve Jobs) e Jennifer Jason Leigh (Os oito odiados). Esta é uma das categorias mais imprecisas do Oscar, pois ambas indicadas conseguiram atingir um nível invejável, e continuaremos na dúvida até o dia da cerimônia. Se for para arriscar, digo que Jennifer Leigh consegue tomar essa estatueta de Vikander, mas está difícil afirmar com toda certeza quem leva a premiação. O certo é que Alicia conseguiu cumprir com sua missão em “The Danish Girl”, a fez com sobras de acertos. Aguardemos para sabermos quem leva como melhor atriz coadjuvante.

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Como foi dito acima, o longa também é indicado em Melhor figurino e Design de produção. Em figurino os acertos são imensos, todas as roupas se adequam com a época, sabemos que a Academia valoriza até demais essa busca aprofundada para a construção do figurino, o história da premiação acusa isso e não seria uma surpresa que essa fosse a segunda estatueta de “A Garota Dinamarquesa, Paco Delgado chega forte na briga. Agora em Design de produção a história é outra, mas façamos duas observações, por lentes diferentes. A primeira só enxergamos a história de Lili, nesta vemos que todos os quesitos presentes na categoria são fortemente realizados, principalmente a maquiagem e a iluminação são acertos absurdos, assim como os cenários se entrelaçam com todo o enredo, sozinho é o filme é genial neste ponto, agora se comparado com os concorrentes nesta categoria “A Garota Dinamarquesa” recua na corrida pela estatueta. “Mad Max” e “O Regresso” se sobressaem frente ao longa.

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A trilha sonora do filme transmite cada sentimento em seu devido momento, até o silêncio de algumas cenas é revelador. A mixagem de som ganha destaque, desde o farfalhar do pincel ao tocar na tela até os sussurros de Lili. Poucas são as falhas. Os ângulos utilizados no filme são geniais, principalmente nas situações em que Lili aparece no canto da tela, deixando vago todo um cenário a ser observado e avaliado pelo telespectador. Solidão é a palavra-chave no filme e a fotografia conseguiu captar isso muito bem. Mesmo com a companhia de Gerda, Einar permanece só, mesmo com toda a ajuda oferecia pela mulher, ele é ela e ninguém consegue entender o que seja tudo aquilo. É um filme desafiador, que merece todos os elogios, todos os aplausos e as lágrimas de qualquer um que o assista.

 

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Nos últimos dias tiramos o site do ar para passar pela nossa maior e melhor reformulação até o momento. Instigamos vocês ao máximo pelas redes sociais e enfim chegou a hora de lhes apresentar o Beco Literário 4.0!

O Layout
Optamos por não fazer mudanças drásticas no layout, uma vez que elas já estariam presentes no conteúdo. Então, em uma reunião com toda a equipe, que conta com designers, jornalistas, publicitários e outras pessoas do ramo, mantemos o mesmo estilo, modificando apenas poucos detalhes. Foi o que chamamos de releitura da nossa versão 3.0, uma vez que melhoramos, consertamos erros e mantemos o mesmo formato que já era ótimo para todos nós.


Novas Seções
Talvez essa tenha sido a maior bomba da versão 4.0, mas o que seria do Beco só mudando o layout, não é mesmo? Mas Gabu, o site não chama Beco LITERÁRIO? Sim, precisamente. No entanto, sentimos a necessidade de expansão, assim como surgiu demanda do público e esperamos que tenha uma boa aceitação. Então agora, além de Literário, somos Lifestyle, Gourmet, Gossip…


O que esperar?
Bom, cada seção nova tem sua proposta única:

Literatura: A literatura sempre foi nosso carro-chefe e portanto, não mudaremos isso. O foco principal do Beco, continuará sendo nela, para sempre! Aqui você verá sempre as novidades sobre seus livros preferidos e claro, nossas resenhas, autorias e crônicas de sempre.

– Cinema e TV: Mantendo os padrões, continuaremos a informar vocês sobre tudo o que acontece no mundo do cinema e da televisão, incluindo seriados e Netflix! O que antes era exclusivo para adaptações literárias, agora se expande para novas vertentes.

– Música: Quem vive sem música? Ninguém! As boas e velhas notícias sobre o mundo musical, nossas indicações de playlist, e as opiniões no formato fucking de sempre.

– Colunas: Aqui nós falamos de tudo, sem tabus ou qualquer tipo de bloqueio. Opiniões sobre diretores, filmes, política, história… O que der na telha, tem coluna sobre!

– Eventos: Presente nas versões anteriores, apesar de inativa, a seção de eventos agora contará com coberturas mais periódicas de tudo o que acontece na mídia, e claro, que o Beco participou!

– Lifestyle: Inspirações para fotografias, dicas de todos os tipos, coisas aleatórias… Nisso consiste o Beco Lifestyle. Tudo para os mais variados estilos de vida, num lugar só.

– Mundi: Quer viajar mas está com dúvidas? Você está no lugar certo. Dicas de viagens e o que fazer nelas, orçamentos, fotos, hotéis…

– Gourmet: Sábado a tarde, sozinho em casa. Nada melhor que preparar aquele brigadeiro. Mas que tal conhecer novas receitas tão simples e saborosas quanto? Além, é claro, de saber como se manter na dieta!

– Gossip: Tudo sobre o mundo dos famosos e seus bastidores! Porque no final das contas, todos nós queremos saber o que acontece quando as cortinas se fecham.

– Tech: Últimas novidades sobre tecnologia, reviews de aparelhos eletrônicos e a parte mais nerd do novo Beco!

– College: Dúvidas sobre o que fazer após o ensino médio? Quer saber como se portar na faculdade? Vem que nós ajudamos você, e compartilhamos experiências.


Esperamos que tenham gostado da nova apresentação do Beco Literário, e fiquem despreocupados: nosso foco jamais mudará, apenas se ampliará!

Sejam bem-vindos ao Beco Literário 4.0 e lembre-se: Qualquer coisa é possível se você tiver coragem!

Atualizações, Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: Han Gong Ju (2014)

“Han Gong-Ju é levada para uma casa em uma área desconhecida. A casa pertence à mãe do ex-professor de sua escola. A mãe quer saber por que seu filho está deixando Han Gong Ju lá, mesmo que ele promete que ela vai estar lá para apenas uma semana. Uma investigação está em curso de volta a cidade natal de Han Gong-Ju. Pode Han Gong-Ju escapar de seu passado?”

Não consigo falar sobre esse filme sem expressar um conflito entre êxtase e indignação. É incrível como essa obra independente sul-coreana conseguiu captar de forma singela, bela, triste e aterrorizante, o estupro de um vulnerável.

Sim, o filme se baseia em um dos casos que mais chocou a Coreia do Sul em 2004: Um estupro coletivo.

Quem é fã de trabalhos sul-coreanos dramáticos, ou de trabalhos asiáticos no geral, com certeza vai colocar Han Gong Ju como Number One na lista de filmes favoritos.

Com uma duração um tanto longa e um desenrolar lento e extremamente minucioso (coisa de asiático), pode ser que o filme se torne um pouco cansativo, no mais, continua maravilhoso.

Gong Ju, interpretada por Chun Woo Hee, conseguiu passar o sofrimento mais do que sufocante do dia-a-dia de uma jovem que além de conviver com o peso da auto depreciação, precisa se esquivar dos problemas acerca de uma família desestruturada, machismo, perseguição, conflito emocional, etc.

Os personagens coadjuvantes, como o ex-professor e a mãe dele (os quais deram guarita a Gong Ju), a melhor amiga Gong Ju, entre outros, fazem você parar para pensar: Temos dois caminhos para seguir, e quase sempre escolhemos os mais difíceis.

Temo dizer que os minutos finais são os mais belos. A trama, juntamente com a trilha sonora, conseguiu tornar o desfecho não apenas impactante como também emocionante.

Dirigido, produzido e escrito por Lee Su Jin, Han Gong Ju é um filme dramático indescritivelmente fascinante.

Só assistindo para entender.

Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: Para Sempre Alice (2015)

Quando um filme leva alguma estatueta do Oscar, geralmente me chama atenção. Para Sempre Alice rendeu à talentosíssima Julianne Moore a estatueta de melhor atriz. Eu já conhecia o potencial da artista de outros filmes, logo, fiquei bastante curioso para ver o motivo que lhe rendou um dos maiores prêmios do cinema.

Para Sempre Alice conta a história de Alice, uma renomada professora de linguística que aos poucos vai se esquecendo das coisas e consequentemente levando ao mal de Alzheimer. O filme retrata o desenvolvimento da doença na personagem e faz com o que telespectador entenda como funciona o problema.

São pouquíssimos os filmes em que tocam lá no fundo da minha alma. Para Sempre Alice foi um desses. O grande teor do filme é o drama em que a protagonista está vivendo, uma pessoa completamente independente e inteligente ir perdendo tanto a independência quanto a inteligência. Moore conseguiu representar com louvor as situações que pessoas que sofrem de Alzheimer passam. Com a direção de Richard Glatzer e Wash Westmoreland, que por sinal são muito bons, Para Sempre Alice não se destaca apenas pela magnífica Julianne. A obra é rica em diálogos bem elaborados e, que apesar de a história tratar da doença, a relação familiar tem um imenso papel nos sentimentos transpassados pelo filme. Além disto, a vastidão de cenas marcantes é imensa e com o decorrer dos minutos, Julianne Moore impressionava cada vez mais. Eu não canso de pensar o quanto a sua atuação foi esplendorosa. Até o seu modo de falar me deixava tocado. O Oscar que Moore ganhou pela atuação nesse filme foi mais do que merecido.

É difícil falar sobre um filme que gostei tanto. Eu só tenho os meus maiores elogios para Para Sempre Alice. É tocante, emocionante e profundo. Um filme que merece ser assistido não só pelo grande burburinho, mas sim pela as mensagens reflexivas e o seu grande teor emocional. Um filme para ficar para sempre, como Alice.

Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: What Happened, Miss Simone? (2015)

Não é só um documentário bibliográfico, é uma obra-prima. A desumanidade viva de Simone, o pulsar de seu timbre, sua performance infernal sobre o palco, tudo isso estampado a cada cena, a cada relato emocionado de sua filha, a cada soco no estômago que nos é dado. É uma armação direcionada ao psicológico, não é um relato histórico e musical e somente isso, o filme mexe com seus conceitos de liberdade e satisfação, é um embate filosófico do início ao fim.

O ser humano sempre fora uma controvérsia. Sempre desejou passar essa imagem de uma hora aqui, outra ali. Miss Simone não fizera diferente. A Netflix nos premei-a com um dos documentários mais realistas que já vi, nada daquela lenga-lenga saudosista, elevando o estudado em pedestais, nada disso. Nina Simone é adorada quando deve ser, expurgada quando necessário, é um misto de amor e ódio que ela mesmo sofrera, é um misto que fica evidente em cada minuto do filme. Posso assistir mais uma, duas ou três vezes, mas o furor de Simone ainda me atinge, a necessidade de ser por ser alcança níveis inimagináveis. Eternizaram a imortal loucura racional de Simone.

Imagens raras foram inclusas no filme, com a qualidade que só a Netflix consegue obter, não ficou nada fragmentado ou sem nexo, cada situação em seu tempo, sem adiantar algo porque deixaria a produção mais veloz ou coisa do tipo. E falando em ritmo, “What Happened, Miss Simone” chega a ser curto, você sentirá saudades do filme logo assim que este terminar, Simone nos aparece atual e natural demais. Um ponto que é fortemente destacado é sua face política, a face política necessária para tornar a produção algo gigantesco, não se trata só de Nina, se trata de toda uma causa, a luta conjunta de homens e mulheres por uma liberdade tão falada e repassada por entre as cenas. Sr. Martin Luther King e tantos outros figuram no plano de fundo. A marcha em Selma é eletrizante, arrepia qualquer um que se interessa e se importa com as formações sociais, que se deixa levar por mortes e vidas em prol de uma causa. Algumas partes nos remetem ao indicado ao Oscar, “Selma”, por conta é claro do tema, mas principalmente por toda a frieza e não piedade que nos é imposta.

Conseguiram dar uma roupagem totalmente nova para as músicas de Nina Simone, elas se entrelaçam criando uma linha emocional constante, onde somos arremessados para o íntimo e o externo de Simone, nos deixando fazer esse questionamento várias e várias vezes: “What happened?, porque ela não sustenta uma só personalidade, monstros e monstros devoram Nina e nos devoram, pois sofremos com as fases, assim como seus parentes sofreram, seus amigos sofreram, como Simone sofreu friamente. Perturbador, do inicio ao fim, inquietante, preciso, impiedoso, um dos melhores filme que assisti do gênero.

Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: Black Swan (2010)

Eis o nosso especial de Cinema. O Beco Literário começa, com Cisne Negro, uma sequência de críticas sobre filmes que já estrearam há alguns tempo. Traremos, durante Julho e Agosto, uma crítica por semana, filmes independentes ou não, aclamados pela crítica ou não, o que basta é ser enquadrado neste perfil, onde centenas de pessoas já assistiram e admiraram, ou não. Iniciaremos com uma produção atual comparada às que virão. O indicado ao Oscar em diversas categorias, Cisne Negro é avassalador. Você verá porque.

A história mira Nina Sayers (Natalie Portman) como alvo. Bailarina desde da infância, a garota enfrenta a crise dos vinte anos, ignorada por muitos, parabenizada por alguns, Nina vive nesta turbulência mental onde é preciso ser e apenas ser, independente do que ocorra. A companhia de dança em que Nina atua está para se despedir de sua maior estrela Beth MacIntyre (Brilhantemente interpretada por ninguém menos que Winona Ryder) e paira no ar a apreensão de quem será sua substituta. Junto à este anúncio, de que uma nova estrela surgiria, vem a declaração do presidente da Instituição, Thomas Leroy (Vincent Cassel), de que em alguns meses um dos espetáculos mais conhecidos do mundo ganharia remontagem na Academia. Assim, com a pressão colocada sobre si, e por si só, Nina visa ser a Rainha centenária em “O Lago dos Cisnes”.

O filme tem uma roupagem peculiar para a época, vemos diversos outros similares a esse agora, demonstrando assim que “O Lago dos Cisnes” abriu portas. Se formos comparar, não enredos, mas gêneros, teremos Birdman, ganhador do Oscar de melhor filme neste ano, como primo mais que próximo de Black Swan. Lá está o protagonista, hora homem, hora bicho indomesticável, hora razão, hora loucura. Você pode conferir nossa crítica sobre o filme clicando aqui. As semelhanças aparecem aos montes entre as duas produções, e tudo nos deixa entender que em 2010 Black Swan não levou seu Oscar de melhor filme pois não deixou sua face simpatizar com a Academia, pois os dois, em uma corrida, ficam emparelhados.

O filme engata a partir dos quarenta minutos, toda uma introdução é necessária para que o telespectador entre no clima do show, da coxia, do terror e da beleza que o Teatro pode oferecer. Nina sabe muito bem onde está, quando está e o que deve fazer, mas é provado que quem mais certeza tem, mais erros comete. A garota enfrenta em casa uma Mãe frustada e possessiva. A mulher não pudera ter o que sempre desejou, não pudera subir nos palcos e lá ficar, Nina era sua esperança de sucesso, de ser o que não fora. E ela caminhava para isso, caminhava para ser a estrela que ofuscaria Beth, a super nova incapaz de cessar.

Nina consegue o papel principal, atuará ao som de uma Orquestra faminta, aos olhares de centenas, ali, prestes a lhe apunhalar. A obsessão em ser tudo ao mesmo tempo toma conta da garota. Ela não era mais Nina, não, ela era um ideal. Ao seu redor, só se enxerga intrigas, é assim que ela convive, desconfiando de tudo e de todos. A atuação de Natalie é algo imprescindível, o rosto do Cisne está ali, nas expressões de Natalie, nas não expressões da mesma, é algo angustiante e ao mesmo tempo prazeroso, ver o talento, poder tocar naquela habilidade clara. Portman é o absurdo da beleza teatral, não fora atoa que levara uma estatueta para casa em 2011.

Tudo no filme funciona. A trilha sonora é ensurdecedor, a música medonha do Lago dos Cisnes invade nossas mentes, produz um efeito que poucas trilhas conseguem, assemelhando sua profundidade à uma Interestellar ou igualmente fantástica como a de Lord of the Rings. O pulsar de Nina é capturado em cada canção. A fotografia começa falha, mas se recupera com o passar das cenas, seu ápice é alcançado na dança final,quando o as mudanças de cenário, entre palco e bastidores, nos tira o fôlego. A direção de Darren Aronofsky assemelhasse ao que já foi falado sobre trilha e fotografia, seu talento para com o roteiro de Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin é eletrizante, cada cena, cada momento capturado, cada ânsia, tem as mãos de Darren.

Há mais de cinquenta anos um senhor chamado Alfred Hitchcock abalou o mundo com um filme chamado “Psycho”. A história não era dele, não, era inspirada em um livro que o mesmo retirou das livrarias assim que entro em contato, mas Hitchcock fez o que ninguém teve coragem alguma de fazer. Alfred nos presenteou com Norman e sua Mother. Anos depois um mistério bem mais inquietante surgiu, anos depois algo tão bom quanto Psicose brota do seio do cinema, desnorteante, é assim que podemos definir Black Swan. A verdade é muito curta para se contar, por isso, em quase duas horas de filme nos contentemos com as diversas manobras que uma mente, uma simples mente, pode provocar. Nos conduza, Nina, falamos ao começarmos à assistir. Ela nos leva para o mais profundo Hades, ela nos faz bailar sem nem levantar da cadeira, do inferno ao céu. Do breu à luz. Do início ao fim. Até a perfeição.

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