Categorias

Colunas

MONTGOMERY, AL – MARCH 25: Dr. Martin Luther King, Jr. speaking before crowd of 25,000 Selma To Montgomery, Alabama civil rights marchers, in front of Montgomery, Alabama state capital building. On March 25, 1965 in Montgomery, Alabama. (Photo by Stephen F. Somerstein/Getty Images)
Atualizações, Colunas

The Epic Battle: Diz que fui por aí (Deixa girar)

Então não pude seguir,

valente em lugar tenente
E dono de gado e gente,

porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata,

mas com gente é diferente

DISPARADA –  Geraldo Vandré e Théo de Barros

Vou lhe contar o que está ocorrendo com esta “sociedade cheia de mimimi”. Até algum tempo, sim, não percebíamos, mas ocorrera, há alguns meses tudo parecia normal. Ser revolto era de uma normalidade que espantava, era só mais um no meio de tantos, mas hoje as coisas mudaram, não foi? Pararam de te chamar de comunistazinho, de “gente de esquerda”, esses são apelidos extintos, hoje a coisa vai além. Chegou o dia em que ser mais que desprezado é eufemismo, hoje gente que defende bicha, negro, traveco, mãe solteira, prostituta, macumbeiro, gente como nós, bem, é apedrejada ainda com mais força porque virou a era do “não se pode fazer uma piada que mil cairão a tua esquerda”. Ao inferno seus acostumados com não retaliação, que queimem todos esses que passaram anos praticando todas as barbaridades possíveis e impossíveis sem ter alguém para dizer: Ei, boy, tá errado. Não chegamos na época do mimimi, muito menos na da falta de humor, claro que não, perceba, agora mesmo estou rindo desses que se dizem defensores da democracia enquanto desejam estabelecer uma vontade própria para todo um país, estou gargalhando daqueles que chamam candomblé de seita e não aceitam ocupar o mesmo espaço de um negro. Morro de rir e de ira, e minha raiva e minha felicidade se transformam em palavras e tome cuidado seu mísero autoritário, dono da verdade, tome bastante cuidado pois minhas palavras, a voz de meu povo, o clamor que surge entre os milhões de oprimidos, bem, ele é maior que a discórdia que você deseja causar. Já dizia a música: “Avante, xavante, cante”, e cantamos a mais bela música. Música de quem vai para guerra e sabe que não se aceita derrota.

 “O proletariado atravessa diversos estágios em seu desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência.” – Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engles, página 118.

Senhoras divulgando suas histórias, vi nesta madrugada em um dos filmes que estava em minha lista de “Preciso ver antes de morrer para ter opinião sobre”. Histórias Cruzadas é o título do longa, premiado em diversos festivais há alguns anos e com um elenco incrível. Provedor desta coluna (a última desse autor por essas terras) e inspirador para outros momentos. Fiquei atônito com algumas situações, pois já presenciei diversas daquelas (Não em outras vidas, não sei, vai saber…), mas nesta inútil existência e não me orgulho em nada. Presenciei e fiquei calado, não sei se por conta da idade (sete, oito na época) ou porque nasci para ser silenciado, mas lembro-me bem, vi senhoras de cor preta, com voz negra e orgulho contido, sendo humilhadas por puro luxo e prazer de suas patroas. Em pleno século XXI a história de Mississippi (Goddam) se repete e o tema é recorrente no cinema, tendo representando maior o longa “Que horas ela volta?” em território nosso. Obra incrível com Mardila e Casé, o filme é um aviso urgente aos brasileiros e para os de fora apenas mais um filme de comédia extravagante. Interessante não é, o tal ponto de vista? Como as coisas podem mudar de acordo com localidade, língua, ou cor. Hoje o seu ponto de vista é negro, pobre e escanteado. Hoje você é o X, e não, não morrerá por hora. Por hora.

“Se os tubarões fossem homens… Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos…” – Se os tubarões fossem Homens, Bertold Brecht.

Será fragmentado todo esse texto, tendo como valiosos faróis dizeres de mestres, ícones, senhores do conhecimento, homens e mulheres que garantiram sua parcela de bandeira na lua de nós todos, é necessário, por ser o encerramento de uma ciclo, ter tantos em um só lugar. Ainda sobre nossa condição, cá estamos em nosso bairro pobre, que tem como ponto de encontro uma igreja sem luxos e uma praça marcada por sangue de jovens assassinados em brigas de gangues. Isso não tem nada de cenário hollywoodiano, é imagem que se repete nas periferias de todo o país. Hoje é o grande dia, você sairá de sua casa com toda a ansiedade do mundo, suas inseguranças palpitando, sendo expostas ao mundo por conta de uma cor, elemento que lhe persegue desde o primeiro grito dado. Sua primeira entrevista de emprego, que chega a ser o ápice do estresse em qualquer adolescente ou adulto quando se apresenta como primeira experiência, independente de cor ou moradia, mas existem divisões, não existem? Claro que sim, é óbvio que entre um negro e um branco o dirigente de tal empresa, em sua grande maioria, vai optar por contratar aquele branco de “boa feição, de boa família, de boa persona”. Um muro mental corta seu cérebro, divide as pessoas. Se você vê um negro vindo em sua direção a noite, já começa a imaginar mil e uma coisas, se um garoto negro vai atravessar a rua bem em frente ao seu carro (que está parado na faixa) você já pensa que ele vai pedir esmola. Vamos fazer um jogo, coisa rápida. Eu falo uma profissão e você imagina o perfil do profissional, okay? Okay. É só imaginar de uma vez, sem pensar muito, começando: Um engenheiro. Um CEO de multinacional. Um escritor. Um jornalista. Um designer. Okay, pensou em todos? Quais eram negros? Precisa nem responder nos comentários pois eu sei que se você for sincero vai confirmar tudo falado até agora, infelizmente. É algo que está impregnado em qualquer um, negro, branco ou índio.

E existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…

Navio Negreiro – Castro Alves

 Por isso meu amigo: cota sim. Cota sim porque não se trata apenas de questão histórica, sim, é por conta desta que estamos assim hoje, com alerta para negro, para pobre, para gente diferente, mas só existe essa história engraçada de cota porque vocês que tanto ousam reclamar, tanto defendem a “não existência de um preconceito”, são os mesmos que negam educação a uma criança por ter determinada cor, que se recusam a empregar um homem ou uma mulher por não estarem tão bem vestidos. São vocês, percussores de preconceitos que são obrigados a aturar cotas, pois até que essa sociedade ofereça uma educação igualitária, elas existirão. Mas quero enviar uma mensagem direta não para preconceituosos ou racistas, quero falar com você, que aguenta toda essa pressão diariamente, que olha nos olhos do ofensor e sorri, que oferece educação e recebe maldade, é com você que desejo conversar. A cada ofensa, devolva com orgulho e luta, encorpore o sangue daqueles que morreram por serem iguais a você, aproveite os momentos preciosos de sua vida para fazer a mudança, para não ouvir e ficar calado, mas sim receber o que é seu por direito. Não existe ira maior do que a do oprimido, e que ela exista, que exploda, que leve consigo os preceitos, que mostre quem somos e para que viemos. Vai ter escritor negro e pobre, vai ter ator com cara de escravo, vai ter dono de empresa da cor de carvão, vai ter presidente escurinho, vai ter gente com dread sim. Se vai ter neguinho batendo tambor, louvando à Oxum e Iansã? Ah, meu bem, em todo lugar vai ter. Se negro vai entrar na igreja para rezar para Nossa Senhora e beijar os pés do menino Jesus? Vai sim. Vai ter negro de toda religiosidade, ou negro com religiosidade nenhuma. O que vai ter mesmo é negro participando de todos os lugares, exigindo seu espaço, mostrando que é dono de seu corpo e espírito. E no fim disso tudo, se alguém perguntar por mim, bem, “diz que fui por ai”.

Aqui jaz.

Atualizações, Colunas, Filmes

Coluna: Spotlight e sua denúncia sobre o silêncio

Fui ensinado de que existem três coisas que devem e merecem permanecer intocáveis: Política, futebol e religião. Você com toda certeza já recebeu esse conselho, não? Não mexe ai, isso é assunto seleto. Pois bem, eis aquele momento em que cai por terra todos esses costumes e bloqueios e você nota que política é assunto primordial para a vida de qualquer ser humano, futebol é facultativo e religião, bem, religião está por toda parte e a pessoa que se preze deve construir nem que seja um fragmento de opinião sobre isso. Já falamos por meses e meses sobre política aqui, debatemos sobre manobras, modos de se fazer política e sobre tudo o jeito como este país está sendo governado. Hoje não fugiremos da política, infelizmente (ou felizmente?), pois existem aqueles que desejam se apropriar da religião para se alavancar no meio citado. Hoje iremos nos aprofundar nos erros grotescos que ocorrem nas mais variadas religiões, falaremos sobre atos que nunca deveriam ter acontecido, e sobre os que acontecem e continuam por ser varridos para debaixo do tapete. Nossa inspiração? O longa “Spotlight”, indicado pela Academia em 6 categorias no Oscar 2016. Nosso embasamento? A falta de fé e palavra de alguns líderes.

O filme “Spotlight” trás para as telas uma investigação realizada por determinada equipe de uma jornal norte-americano sobre crimes sexuais cometidos por membros do clero da igreja católica de Boston. A partir de poucos casos descobertos de estupros e assédios cometidos por sacerdotes, os repórteres se aprofundam no caso, revelando um escândalo gigantesco, onde mais de cem vítimas foram totalizadas, isso repercutiu mundo a fora e todos nós sabemos a profundidade dos casos, até onde chegaram, como tais atos desumanos invadiram as paredes sagradas da cidade farol do catolicismo, como padres, bispos, cardeais estupraram crianças e passaram despercebidos, foram encobertos pela Igreja. Hoje temos em mente que a praça de São Pedro não só foi lavada por sangue das guerras santas, mas por lágrimas de crianças mundo a fora. O filme é de uma realidade que aterroriza, mas iremos nos conter por hora pois neste sábado uma crítica sobre o longa irá ao ar com detalhes cruciais do filme. Indicamos um outro filme com esta temática, e de certa forma avassalador assim como “Spotlight”. “O Clube” é o título do longa lançado também ano passado que conta como se dá “a punição” destes padres estupradores e criminosos perante a Igreja. Você confere o trailer abaixo:

Antes de nos aprofundarmos neste tema, é preciso dar destaque a algo: A religião é falha. Isto é fato. Não digo que suas escrituras são falhas, que pecam em cada frase, longe disso, ainda iremos falar sobre os livros sagrados pois é necessário de toda forma, mas o que desejamos passar é que a religião, por ser administrada por homens consequentemente encontra um caminho falho, já que homem nenhum é perfeito. No fim das contas, a religião é o reflexo de seus seguidores, e acima de tudo, daqueles que se dizem “Líderes” e comandantes de tal legião. Sobre os abusos sexuais até hoje são contabilizados mais e mais casos semelhantes aos descobertos em Boston, mas o ápice ocorrera durante o papado de Bento XVI. Fora lá que o mundo conseguiu encarar a face manipuladora da Igreja, novamente. O Papa sobre tal situação primeiramente proferiu declarações duvidosas, parecidíssimas com o que tanto fora repetido décadas após décadas sobre os crimes abafados. Após receber acusações de que estava por acobertar ainda mais os criminosos, o Papa remodelou seu discurso, o deixou apresentável ao público: Resumindo, falou o que os fieis e os não-fiéis desejavam ouvir, mas as ações que realmente deveriam ser tomadas só vieram emergir no papado seguinte, com o atual pontífice, Francisco, que por meio de mudanças drásticas na cúpula da religião está encaminhando uma onda de modificações no modo como a igreja reage frente a assuntos como esse. Que fique claro também outro quesito: Não se fala aqui da fé ou dos dogmas da religião, mas sim de seus representantes. Não é intensão nossa reivindicar mudanças nos dogmas religiosos, pois caso isso ocorresse deixariam de ser dogmas. Isto é assunto da Igreja para a Igreja, de determinada religião para esta e só, não cabe as pessoas que estão fora de tal âmbito querer interferir na fé alheia. Mas quando o assunto extrapola e atinge as áreas judiciais e cidadãs, bem, é dever de qualquer um, ateu, espírita, católico ou protestante, agir. Estupros que ocorrem sob o teto sacro não ficam apenas neste, eles em algum momento surgem para aqueles que procuram saber sobre e nenhuma proteção, nenhum abrigo deve ser dado para pessoas que cometem tão horrenda ação. Justiça, é a palavra-chave neste caso e nenhuma batina tem como serventia defender estrupidadores nos tribunais, pelo menos assim deveria ser.

A partir de agora colocaremos o assunto acima, que serviu como guia para onde acabamos de chegar, de lado. Spotlight é uma obra prima e nos apareceu como a ponta do iceberg. Se mergulharmos bem mais fundo veremos uma montanha grotesca de hipocrisias e atos que vão de contra ao que as seguintes religiões pregam. Sem querer, pois estava ouvindo música no youtube, deparei-me com um vídeo interessante e que me causou vergonha alheia de principio, mas após alguns segundos pude observar a gravidade de tudo aquilo. Lá está no vídeo o pastor Marco Feliciano, presidente da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, pregando em mais um dos rotineiros cultos da Igreja. Até ai, tudo bem, nada mais normal que isso, não? Um pastor pregando? Mas o tema até que é engraçado, aos poucos o pastor vai introduzindo uma narrativa cheia de entremeios, com algumas (várias) mentiras nas suas frases, até chegar no cantor e compositor Caetano Veloso. O pastor simplesmente acusa Caetano Veloso de ter recebido auxílio de satanás, o próprio, para a venda de um disco seu que continha a música “Sozinho” (as vezes no silêncio da noite... você conhece). Feliciano neste vídeo que é antigo (2013) mas que comprova a pessoa do pastor, usa dados que para ele e seus fiéis são verídicos para destinar todo o sucesso de Caetano a pactos realizados em terreiros de candomblé. Em uma das partes do vídeo ele faz uma interpretação digna de Oscar para revelar o segredo de Caetano Veloso ter conseguido vender um milhão de cópias, e por fim fala que a força do cantor vem de uma mãe de santo, nomeada Mãe Menininha do Patuá. É ai meus amigos que a coisa começa a virar uma piada completa (já era). Quem conhece o candomblé, ou ao menos um pouco sobre a religião, sabe que um dos expoentes da mesmo é Mãe Menininha do Gantois (que na pronúncia fica Gantuá), veja, Marco Feliciano só precisaria fazer uma simples pesquisa para deixar sua fantasia ainda mais convincente, mas não, é muito trabalho para enganar milhares de fiéis. Esse discurso de Feliciano, ao colocar a Iyálorixá como servidora do demônio, e transformar os Orixás em o próprio satanás adentra na mente das pessoas, chega no ouvido de crianças, pais e mães e as deixa completamente desnorteadas. Em uma sociedade onde o negro é associado a escravidão, e religião negra é associada ao submundo por questões históricas que se transvestem nos dias de hoje para reproduzir o maior nível de preconceito possível, tais palavras vindas de um líder só pode repercutir em algo maior. E infelizmente aconteceu isso. Além do preconceito habitual gerado pelas diversas religiões em relação as de matrizes africanas (que não deve existir), um caso chocou o país há algum tempo. Uma garota, vinda do culto de candomblé, foi apedrejada. Os presentes relataram que os agressores portavam bíblias. Perceba, todo o discurso de ódio reproduzido por Felicianos nas mais diversas igrejas, independente da religião, resultam em atos fanáticos que tiram vidas ou deixam pessoas gravemente feridas. É certo que, como falei, não devemos agir no que condiz a ações internas das religiões, mas é um erro grotesco ficar parado ao ver que os atos de tais religiões em seus templos resultam em uma guerra constante nutrida de palavras de ódio e violência. O amor ao próximo, o respeito, a fraternidade ensinada por Jesus transformou-se em “desrespeitai, odiai e matarás” o teu próximo. Atingimos um estágio de alienação popular que deixa qualquer um bestializado. Voltamos a época em que negros não podem cruzar pontes, em que qualquer cidade do interior ou da capital transformou-se na nova Selma. Sobre esse processo de uso da oratória para enganar milhares com tão pouco, indicamos o filme “A Onda”, que para muitos já é clichê, mas pode servir como um “alerta” sobre determinadas coisas. Confira o trailer abaixo:

Realizando uma quebra no assunto “Intolerância religiosa”, vamos para um tópico que se enquadra muito bem nesta questão de se contradizer. Em Uberaba, centro do Espiritismo no Brasil, ano passado, presenciei uma cena que deixaria qualquer um entendedor da Doutrina revoltado. Nos foi informado que nenhuma loja da cidade estava autorizada a vender material que estivesse estampado com qualquer que fosse a figura relacionada a Chico Xavier (Grande nome da religião não só no país, mas em todo o planeta), até ai tudo bem, os responsáveis estariam preservando a imagem do médium, mas o que ocorreu, neste mesmo dia fomos até o museu destinado a Francisco Cândido Xavier e encontramos de tudo. Bolsa, chaveiro, camisa, caneca, copo, tudo que um bom capitalista iria adorar ver se encontrava no local estampados com o rosto sorridente e sereno de Chico Xavier. O que aconteceu em Uberaba (e ainda deve está acontecendo, não sei, quem for de Uberaba ou passara por lá há pouco, conte-nos nos comentários, estamos curiosos) fora nada menos que um monopólio comercial; realizado por REPRESENTANTES, eu disse, do legado do médium. Homem que pregara o desprendimento das coisas materiais. Trabalhadores de uma religião que tem como eixo principal a caridade e valorização dos bons atos, doutrina que nada necessita materialmente, mas oferece espiritual e fisicamente. Também em Uberaba, nos foi informado que em alguns centro espíritas (entre os mais de sessenta da cidade) falsos médiuns fingiam incorporar o espírito de Chico Xavier, trazendo mensagens descaradamente comerciais, e os homens e mulheres, nauseados por uma fé cega, acreditavam e atendiam as exigências demandadas pelos charlatões. No distrito central da religião no país, atos como esses se repetem e nos perguntamos: O que a religião faz sobre isso? Vou melhor formular minha pergunta: O que os representantes da religião fazem sobre isso?

Recentemente presenciamos a festa de Iemanjá em Salvador e em outras cidades do país. Milhares de pessoas enviando suas oferendas à Dona Janaína. Junto a festa também surgiu um questionamento que há tempos se vem fazendo presente mas que desta vez ganhou maior evidência: Para onde vão esses barcos e oferendas maiores? Vão para o fundo do mar que acaba por ficar poluído com uma demanda gigantesca de material que não dissolve fácil, que vai passar anos vagando por ai ou regressar para a praia. O candomblé tem seu Deus maior, Olorum, criador de tudo e todos. Fora Olorum que criara os Orixás e esses se fazem presente como entidades ligadas à natureza, eles são a natureza. Sendo assim é necessário no candomblé todo um respeito imenso para com a natureza. “Kosi Ewé, Kosi Òrìsà”, em Iorubá significa “Sem folha não há Orixá”, ou seja, sem folha não há nada, sem natureza não existe candomblé, então porque, para o culto a determinado Orixá tanto dano se causa à natureza? Líderes da religião tentam ao passar dos anos transformar os rituais, adapta-lós para a atualidade. Um filme que pode ajudar a compreensão de tal tema é “Jardim das folhas sagradas”. Nele, além da questão já levantada anteriormente, vemos o debate religioso interno sobre o sacrifício de animais nos cultos, assunto esse que não adentraremos pois não nos cabe, como já deixamos claro diversas vezes nessa coluna, modificar dogmas que não afetam a sociedade como atos ilegais e/ou possam causar danos futuros por conta de discursos de ódio ou repressão. Para dar uma olhada rápida no trailer do filme citado acima, clique no vídeo:

Como foi demonstrado, a religião é falha, por ser guiada por homens que em sua plenitude não condizem com as escrituras que seguem, ou nem mesmo em poucas parcelas são o retrato daqueles ensinamentos. Não falamos da fé, pois isso é íntimo, mas é preciso que as pessoas “orem e vigiem”, notem o que está acontecendo de errado e falem, coloquem um basta em certas atitudes que só perpetuam o ódio e o preconceito. A constituição vigente permite o culto livre, então que se faça, sem precisar ser apedrejado por adorar seu Orixá, sem ser ridicularizado por acreditar em fenômenos mediúnicos ou ter como guia milagres relatados em escrituras que para aquela pessoa é sagrada. Não se pode julgar as pessoas por suas vestes ritualísticas ou por comemorarem natal ou Hanukkah. A fé, a crença ou a descrença são pertencentes aqueles que destinam suas energias para tais, não para pessoas que em nada pertencem aquilo, mas existe um limite que não deve nem ser extrapolado por quem está fora, nem por quem está agindo em determinada situação. Não podemos fechar os olhos para estupros só porque existe uma religião envolvida, é ai que todo cidadão deve reunir forças para combater atos criminosos. Ouvir discurso de ódio, na igreja ou fora dela e ficar calado é contribuir para a proliferação deste. Escutar pastor, sacerdote, palestrante ou rabino falar que gay, negro e mulher são seres inferiores e ficar calado é fazer parte do insulto, do preconceito e da monstruosidade nutrida por determinados representantes religiosos. O longa “Spotlight”, nosso amigo que nos fez chegar até aqui, também deixa explícito uma questão básica que muitos de nós temos em mente desde que eramos um feto, e é o seguinte: Não se aposta contra a Igreja. Essa frase é repetida mil vezes durante o filme. Não se aposta contra a Igreja. Não se aposta contra a religião. Bem, amigos, é onde chegamos e por aqui nos despedimos, mas quero dizer: Quando a religião, por meio de seus representantes se mostra errática, bem, se aposta contra sim. Quando se nota que em determinado momento estado e religião são a mesma coisa e que estamos em um labirinto que de “Laico” só tem a placa, é o momento de ir contra qualquer que seja o culpado por tal erro ocorrer.

Neste sábado (10/02) nossa crítica do filme “Spotlight” entrará no ar, enquanto isso você pode ver o trailer e dar aquela conferida no filme.

Colunas

Meus quase 20 anos

Se você está no final da adolescência e, principalmente, se já terminou o Ensino Médio, encontra-se na mesma fase difícil em que eu estou. Não somos considerados adolescentes e nem adultos, estamos nesse meio termo chato, que pelo menos eu, não gosto nem um pouco.

Vou te explicar o porquê de eu estar falando isso. Esses dias, minha mãe estava conversando com uma conhecida dela sobre a família, filhos e tudo mais e falou que além da minha irmã, ela tinha uma “bebê” de quase 20 anos (que no caso sou eu). E na hora eu entrei em choque, parece que ouvir isso de outra pessoa faz parecer que sou muito mais velha do que me sinto ser.

Muitos não veem a hora de completar 18 anos, como se por magia, tudo ficasse melhor, finalmente a tão esperada liberdade, não é mesmo? Bom, eu não acho lá aquelas coisas, não sinto que tenho quase 20 anos de jeito nenhum e não estou pronta para ser adulta.

Há um tempo, ter 20 anos para mim era algo extremamente distante, imaginava-me madura, esperta, responsável por todos os aspectos da minha vida, mais sociável e até com mais dinheiro. E adivinha? Não sou nada disso. Por dentro continuo aquela menina que gostaria de entrar na sala do médico acompanhada pela minha mãe e que ela falasse todos os meus sintomas e não eu, sozinha, perdida.

Não tenho a mínima ideia de como faz para pagar contas, INSS, não me imagino em filas de banco, fazendo transferências, não sei que rumo quero dar na minha vida, nem como estarei daqui a 5 anos. Mercado de trabalho é uma palavra que me dá arrepios. “Já escolheu uma profissão?”, “Isso não dá dinheiro!”, “Você precisa ter estabilidade”, “Você pensa em casar?” “Pensa em fazer pós, mestrado?”, “Nossa, você não vai crescer, não?”. CALMA! Muitas perguntas para respostas que eu não posso e não sei te dar. Pode ser que daqui um tempo eu saiba o que responder, pode ser que não. Mas pensar um dia de cada vez já alivia bastante.

Às vezes gostaria de voltar no tempo. Minha única preocupação na vida era com a escola, uma apresentação que se aproximava e me deixava ansiosa, uma prova difícil que me exigiria mais estudo, ou seja, olhando para trás, eram problemas muito simples de serem resolvidos.

Sinto falta de chegar da escola e assistir “O Pequeno Urso”, “Castelo Rá-tim-bum”, tomar um achocolatado de tarde e uma pipoquinha que minha mãe fazia com o maior carinho. Pensar em quem eu iria chamar para brincar na minha casa e qual seria a brincadeira. Até as brigas eram mais fáceis, no dia seguinte já estavam todos “de bem” novamente. Comprar material escolar e decidir qual seria a capa dos cadernos que usaria naquele ano. Não se preocupar com as responsabilidades do amanhã, porque sabia que seria mais um dia normal na escola e meus pais dariam um “jeitinho” para tudo. Quer segurança maior que essa?

Pois é, mas esses anos maravilhosos passaram e as responsabilidades chegaram, quer estejamos preparados ou não. Por mais que nossos pais tenham nos preparado para a vida adulta, sempre será difícil se virar sozinho, porque só aprenderemos de verdade com a prática e com os erros, que serão muitos, pode ter certeza. Mas aos poucos vamos nos adaptando e aprendendo a resolver os problemas sozinhos. E como tudo tem uma lado positivo, gosto de pensar que não sou a única que está meio perdida e que meus quase 20 anos irão me trazer experiências e lembranças incríveis.

Colunas

Poesia nossa de cada dia #1 – Cântico Negro

Cântico Negro

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!”

| José Régio

Colunas

Felicidade de “Facebook”

Você, como eu, já deve ter tido a experiência de entrar em uma rede social e ter a impressão de que todo mundo está fazendo coisas muito mais interessantes que você. As pessoas vão a lugares incríveis, acontecimentos impressionantes ocorrem, a vida social delas é muito mais agitada que a sua, a vida amorosa então…bom, não vou nem entrar nesse assunto.

Mas então, preciso de contar um segredo, a maioria é mentira. Sério mesmo. A vida de ninguém é tão perfeita assim, quer conhecer uma pessoa de verdade? O facebook dela não vai te ajudar com isso.

O que decidimos postar nas redes sociais é apenas um recorte do que a nossa vida é, um pequeno, “micro” momento do nosso dia-a-dia que resolvemos mostrar para os nossos amigos e conhecidos em busca de atenção. Um breve clique de uma câmera que não representa nem 1% do que somos. Tudo que publicamos sobre nós, todas as fotos que postamos, TUDO tem uma intenção, mesmo que não se tenha consciência disso.

Vou a um barzinho com meus amigos e publico a foto do encontro, qual foi minha intenção? Dizer: “Olha como estou me divertindo, veja só, como minha vida é interessante e quantos amigos eu tenho!”. Mas ninguém sabe e nem vai saber que no mesmo dia tive uma cólica horrível, briguei com meus pais, fui ao encontro em um ônibus lotado, os amigos só olhavam para a tela do celular e mal falaram comigo. Afinal, a parte importante foi registrada, não é mesmo?

O que resolvemos compartilhar com o mundo não é necessariamente, o que somos, mas como gostaríamos de ser vistos pelos outros, ou seja, a imagem na qual queremos que tenham de nós.

Tenho um exemplo verídico disso. Ano passado, eu costumava fazer caminhada em um parque perto de casa. Como sempre, ao final da caminhada eu parava na prancha de abdominal e como o próprio nome diz, fazia abdominais (sério?). Mas num certo dia, uma menina chegou antes de mim e foi usar o aparelho, ou pelo menos eu achava que ela iria. A digníssima sentou na prancha e começou a tirar uma série de selfies, nas mais variadas posições (fazendo eu dar duas voltas a mais, porque já que sou boazinha demais, não quis interrompê-la e falar que queria, de fato, usar a prancha) e para minha surpresa, depois de sua sessão particular de fotos, ela deu uma volta pelo parque e foi embora!

Supondo que ela tenha postado essas fotos em suas redes sociais (abusando de hashtags #fitness #nopainnogain #projetoverao), ela quis transmitir a imagem de uma pessoa super saudável e ativa, mesmo que na realidade não tenha feito sequer um abdominal e eu sou testemunha disso. Uma pessoa que não faz nenhuma atividade física e vê as imagens, vai se sentir mais sedentária ainda. E é tudo baseado numa mentira. Quem nunca viu a famosa foto em pose de yoga, quando você sabe que o indivíduo não fez uma aula de yoga na vida?

Todos temos momentos bons e ruins, dias de ficar de pijama o dia inteiro em casa e dias de sair com os amigos. A vida de ninguém é legal o tempo todo, as redes sociais insistem em mostrar apenas o melhor, porque gostamos de destacar apenas o lado positivo.

Portanto, não se sinta mal e nem pense que sua vida é uma droga se comparada a dos outros, todas as pessoas tem problemas, elas só não querem mostrar. Aquele belo sorriso na foto, pode esconder muito mais do que você imagina.

Claro, que se todos só postassem coisas tristes e melancólicas, compartilhassem todos seus problemas, as redes sociais seriam insuportáveis, mas é necessário ter um equilíbrio, ser autêntico. O narcisismo, a vontade inacabável de ser visto, de ser importante, essa carência por mais e mais curtidas talvez sejam uma evidência que a pessoa não é tão feliz assim. Aqui cabe uma boa reflexão, na próxima vez em que você for postar fotos ou alguma informação pessoal, analise qual a sua real intenção por trás delas e se é realmente importante para você.

Colunas

Obrigado, Pimentinha

Dezenove de janeiro tornou-se um dos dias mais chocantes e desafiadores para a música do Brasil. Os rádios noticiavam, a televisão parava para homenagear a interprete, a dona de diversas faces. Morria em um dezenove de janeiro, dona Elis Regina Carvalho Costa, gaúcha, dona de uma das maiores vozes do continente. Pimenta de corpo e alma, apelidada assim porque mereceu, porque era isso e tudo mais. Elis parou um país para dizer: Até logo. E se foi Elis. Mas hoje estamos aqui, trinta e quatro anos depois para, como diz uma amiga sua de música e poesia, louvar e agradecer tamanho talento, relembrar que de Elis se foi muito, mas muito ficou. Perdemos o que tinha para oferecer, o que tantos aguardavam, mas ficamos com seu grito de revolta, sua voz que cruzou cidades e aranhas-céus, que transformou o modo de cantar. Não se cantou apenas. Depois de Elis se canta, mas canta com bravura, com sangue nos olhos. Muito obrigado, Elis. Por ser a interprete que precisávamos, por falar de conversas de bares, de bailarinas, de meninos que vendem laranjas, por deitar e rolar nos palcos da vida. Muito obrigado por apresentar talento, coisa que hoje falta em quase tudo. Por ser música, por materializar a música. Desde seu arrastão até um redescobrir imenso, fora e continua sendo aquela que não grita, mas desabafa, que não dança, mas pousa calmamente entre piruetas e lágrimas. O que foi feito devera? Fora feito muito, diríamos para a cantora. Agora, o que foi feito de Vera pouco se sabe. O que temos em mente é que a menina que rebentara não fora a mesma sempre, e hoje ganha outros significados, a cada regravação, a cada descoberta, a cada novo jovem-velho lhe encontra no fundo de um baú qualquer. Ah, Cantador, canta como ela, duvido! Ofereço tudo que tenho em uma aposta, que não exista aquele que cante como ela. Nem melhor, nem pior, mas igual. Obrigado por ser singular e ao mesmo tempo plural. Plural de um povo que não tem imagem a ser seguida, mas segue, continua vagando por ai, nem que seja com versos no canto do ouvido. Mas fora essa mesma Elis que dissera: Deixa! Deixa quem quiser falar meu bem! E nós seguimos seu conselho, esse seu que fizera tanto sucesso com seu amigo  sambista, homem de fé e enviado para ter protagonismo parecido com o da companheira. Junto à Elis, obrigado também Jair, que neste momento estão fazendo a maior festa que qualquer um já viu. Samba é a palavra da vez. Morro é a palavra da vez, ou o morro não tem vez? Ah, na voz dela teve, e como teve. Mas meu mestre deu a partida, e vamos embora, vamos nos despedindo que a andança é grande, assim como a mulher. Novamente, com toda a admiração do mundo e alegria que esta nos ensinou: Obrigado, Elis. Estrela que ainda brilha, mostrando que música feita para emocionar persiste, poesia cantada com braços e pernas vigora. Canta, Pimenta, canta que a noite é longa e melhor companhia não existe.

 

Elis Regina

1945 – 1982

Colunas

Qual é a minha cultura?

Decidi falar sobre um tema que aprendi em uma das minhas aulas de história na faculdade. O chamado “soft power”, um termo muito utilizado na área de Relações Internacionais. Mas, pode ficar tranquilo, não vou me prolongar e escrever um texto teórico chato e maçante, não é essa a minha intenção, quero apenas mostrar a interferência direta desse poder no nosso cotidiano e como nem percebemos que ele nos influencia tanto.

Existem dois tipos de poder utilizado pelas nações, o “hard power” ou “poder duro”, que nada mais é do que a capacidade militar e econômica de um país como forma de persuadir e dominar outro, ou seja, com o uso da força e o já citado “ soft power” ou “poder brando”, que se refere a um poder indireto, extremamente eficaz e duradouro, através da cultura, da música, da arte, dos valores e ideais, que nos seduzem, nos fazem admirar o estilo de vida de tal país e querer viver como a população dele vive.

Pronto, já expliquei os conceitos e você já deve estar pensando em parar de ler esse texto chato, que mais parece um livro didático. Calma, deixe-me fazer algumas perguntas e responda com sinceridade, por favor.

Suas séries preferidas são americanas, não são? E os filmes? Pelo menos, metade da minha estante é composta por livros americanos e a sua? Não preciso nem falar das músicas, com certeza são. Acho que você já entendeu onde quero chegar. Desde pequenos fomos imersos na cultura norte-americana, fomos moldados por um estilo de vida que não é o nosso, queremos viver da mesma forma que nossos personagens preferidos vivem, quem nunca sonhou em passar um Natal com neve? Fazer parte do grupinho popular da escola ou até do grupo dos excluídos, que nos filmes parece ser tão divertido.

Quem não sonhou em ser um super herói, um mutante, ter poderes, quem não escolheu um dos lados entre “Team Iron Man” e “Team Captain America”? Quis fazer parte do coral da escola, como em Glee (eu, pelo menos), ir pra uma universidade americana e morar em uma fraternidade? Tomar um café com seus amigos no Central Perk, visitar a calçada da fama em Hollywood, ou mesmo ter seu nome escrito nela? Quem não quer ir para Nova York e assistir a uma peça na Broadway? Tenho certeza de que você se imaginou em um dos distritos de Panem ou se perguntou se fazia parte da Audácia, Abnegação, Erudição, Amizade ou Franqueza. Se você respondeu que não, parabéns, você é um divergente (mas se você entendeu essa referência, provavelmente mentiu às perguntas anteriores). As histórias presentes nos filmes, nas séries nos envolvem, nos levam a imaginar uma realidade diferente. É muito mais fácil ser dominado por uma país e uma ideologia que nos parece atrativa, que já nos conquistou e que se tornou parte da nossa identidade.

Mas aí vem a realidade, estamos no Brasil, não somos americanos. O ensino médio não é uma festa, não saímos cantando em uníssono pelos corredores da escola, não elegemos a rainha do baile. Temos que estudar duro para conseguir entrar em uma universidade federal, para tirar uma boa nota no Enem, ou senão trabalhar para pagar a faculdade, corremos atrás dos nossos sonhos e nos deparamos com a dificuldade na hora de fazer escolhas. Por que ninguém disse que a vida é tão difícil? A mocinha, o herói, sempre resolvem seus problemas, como faço para resolver os meus? Acho que esqueceram de dizer que a vida não é um filme hollywoodiano. E o que isso gera? Insatisfação, frustração, começamos a menosprezar nossa própria cultura, nossas raízes, achar tudo ao nosso redor chato, sem graça, não seria muito melhor se eu não tivesse nascido aqui?

Não estou dizendo que você deve parar de consumir os produtos culturais americanos. Longe de mim, eu mesma não consigo. Convenhamos que é muito divertido. Preciso da nova temporada de Orange is the new Black, Sense8, Orphan Black, preciso de mais episódios de Once Upon a Time, How to get away with murder.

Espero ansiosamente pela nova temporada, pelo próximo filme, por mais um livro, isso já faz parte de quem sou. Só te peço atenção, mantenha seus olhos abertos a interesses e ideologias que vem por trás de um inofensivo filme. Hollywood e a indústria cultural são as maiores fontes de poder dos Estados Unidos, então se atente a ela. Busque conhecer a cultura brasileira, que é linda e possui uma diversidade enorme, com certeza você vai achar algo que se identifique.

Claro que você não precisa ouvir funk e samba para valorizar nossa cultura (nem eu quero isso), não gostar de certos ritmos é normal, mas perceba se você não está sendo influenciado pelo que vê, assiste, lê. Nunca tenha vergonha e preconceito contra nossa cultura, até porque não existe uma cultura melhor que a outra, elas são apenas diferentes, e se por acaso exista algo em nossa sociedade na qual você não goste (e tenho certeza que há muitas coisas), não fique só na reclamação,  seja a mudança que você deseja e que o país precisa.

Atualizações, Colunas

Morre, aos 69 anos, “Severus Snape” Alan Rickman

Hoje o dia amanheceu triste para os fãs de Harry Potter, e amantes do cinema em geral. O ator Alan Rickman, famoso por interpretar Severus Snape em Harry Potter, faleceu aos 69 anos após uma luta contra o câncer.

Sua morte foi confirmada pela família ao jornal inglês “The Guardian”.

Nós do Beco Literário lamentamos sua morte. Definitivamente, 2016 não começou bem. 🙁

5b3a9-tumblr_mm5klasaky1rx2l55o1_500

Colunas

Quem é Jéssica?

Você sabe quem é Jéssica?

Jéssica é todo mundo que nasceu e cresceu num mundo feito para mostrar que a Jéssica não é gente e tem é que, como dizia Gonzaguinha, “aprender a abaixar a cabeça e dizer sempre ‘muito obrigado'”. Jéssica é todo mundo que nasceu e cresceu nesse mundo, mas, por um motivou ou por outro, acabou aprendendo que, na verdade, é gente, sim, e tem mais é que erguer a cabeça.

Jéssica é o pobre no avião, o negro na universidade, a mulher que não fica calada com o abuso, a pessoa trans que exige o uso de seu nome social, a lésbica que joga na nossa cara o problema do estupro corretivo, o gay afeminado que se recusa a ser alívio cômico, a gorda que usa biquíni, o cadeirante que exige rampas, o cego que exige cardápio em braile, os dois meninos que dão as mãos, as duas meninas que dão um beijo, o bissexual que manda à merda quem o chama de confuso, a praticante de religião de matriz africana que não tem vergonha de falar de sua fé, a feminista negra que se faz ser ouvida…

A Jéssica é toda essa gente e muito mais. E a Jéssica incomoda, sim. Ela entra na piscina e come o sorvete e não acha estranho quando a patroa bota a mesa para ela e ainda passa no vestibular quando o filho da patroa não passa. E a Jéssica vai passando e vai sendo uma sambada na cara a cada instante, um soco no estômago por minuto, um tapa na cara por milésimo de segundo.

E aí, pode ter até alguém que vire e fale assim: Já acabou, Jéssica?

Mas ah, meu bem, acabar? A Jéssica está só começando! Vai vendo!

Como dizem no futebol: Deixou chegar, agora aguenta!

Texto por Renan Wilbert.
Publicado originalmente no Facebook. Permissão concedida para postagem no Beco Literário pelo próprio autor.

Colunas

Finalmente e oficialmente lançado “O garoto que usava coroa na rua”!

MAS DEMOROU PARA CHEGAR DIA 4, HEIN? Pois é. Mas hoje foi oficialmente lançado o meu primeiro livro, O garoto que usava coroa na rua, pela Editora Perse!

Para quem estava vivendo no fundo de um poço, o livro estava em pré-venda pela Beco Literário Store desde meados de outubro, com frete grátis para todo o Brasil, conforme eu avisei aqui. E agora, a pré-venda se encerrou! (: Quem foi espertinho e já adquiriu sua cópia, pode ficar tranquilo que os livros começarão a ser entregues a partir de hoje, todos assinados e com dedicatória especial! E ah, não esquece de mandar sua foto com ele pra mim, viu?

A Beco Store, agora está fora do ar para as devidas reformas, porque 2016 promete muitas novidades! Então, caso você tenha alguma dúvida acerca da sua compra, pode chamar a equipe de atendimento na página do Facebook ou enviar um e-mail para [email protected]. A resposta vem rápido. Se não, dá um berro no meu Twitter que juro resolver seu problema na mesma hora.

As vendas de O garoto que usava coroa na rua agora estão por conta da própria editora, então os livros comprados a partir de agora, não vem com autógrafo e o frete será cobrado, também. ): Mas cuidei para que ele não fosse caro, ok? E caso você me veja algum dia por aí, a gente faz uns rabiscos e grava uns snaps bem legais pra compensar, juro. PARA ADQUIRIR O LIVRO, CLIQUE AQUI.

Mania engraçada essa que você tem de transformar sua vida em episódios de seriados, cenas de filmes ou páginas de livros. Mania engraçada essa sua de ligar a música no alto pra adequar a um momento da vida. Não vive em um seriado. Não vive dentro da ficção. A narração dentro da sua cabeça não importa a ninguém senão a você mesmo. Só você ouve a música. Só você se sente infinito. Dentro da sua cabeça, mil conflitos ocorrem, mil livros são escritos, mil amores são perdidos, mil enredos são criados, todos são esquecidos. O próximo sucesso editorial poderia ser um pensamento seu. É isso que O garoto que usava coroa na rua mostra. Memórias jamais perdidas, dentro do universo que é sua cabeça, com breves flashes e lembranças do seu próprio esquecimento – tudo é claro, pelo ponto de vista de um garoto que adorava ouvir a história dos outros e sair andando por aí com uma coroa na cabeça.

E ainda tem booktrailer!

E caso você ainda tenha alguma dúvida sobre o livro:

IMG_0774Sobre o autor: Gabu Camacho é blogueiro, escritor e fotógrafo. Nasceu em 1996, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, lê e escreve desde os quatro anos, quando aprendeu a inventar pequenas histórias esperando o próximo volume de Harry Potter. Estudante de Jornalismo, criou o Beco Literário em 2012, site sobre o universo jovem, que agora acumula leitores em todo o Brasil, das mais variadas idades. No tempo livre, grava vídeos aleatórios para o Youtube e sofre esperando a próxima visita do carteiro. @GabuCamacho no Twitter e Instagram.