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Mariana Goethel

Atualizações, Filmes

Assista o teaser de O Matador, o primeiro longa nacional da Netflix

Escrito e dirigido por Marcelo Galvão, O Matador (2017) é o primeiro longa-metragem brasileiro original da Netflix. Confira o teaser:

Um western do sertão, a história do longa gira em torno de Cabeleira (Diogo Morgado), criado por um cangaceiro local chamado Sete Orelhas (Deto Montenegro), que o encontrou abandonado quando bebê, cresce no sertão completamente isolado da civilização. Agora um adulto, ele finalmente vai à cidade para procurar o desaparecido Sete Orelhas e acaba encontrando uma cidade sem lei, governada pelo tirânico Monsieur Blanchard (Etienne Chicot), um francês que domina o mercado de pedras preciosas e anteriormente empregava Sete Orelhas como seu matador.

O diretor e roteirista carioca, Marcelo Galvão, é também conhecido pelos filmes Colegas (2012) e A Despedida (2015). No elenco também estão Nill Marcondes (O Homem do Ano), Maria de Medeiros (Pulp Fiction), Marat Descartes (2 Coelhos), Mel Lisboa, Thaís Cabral, Daniela Galli, Will Roberts, entre outros.

O Matador será exibido pela primeira vez no Festival de Gramado que acontece mês que vem na serra gaúcha. A estreia do filme no serviço de streaming está prevista para o final do ano.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: O Círculo (2017)

Baseado no livro homônimo de Dave Eggers (a resenha do livro já está disponível no Beco). Roteiro: James Ponsoldt e Dave Eggers. Direção: James Ponsoldt. Elenco: Emma Watson, Ellar Coltrane, Glenne Headly, Bill Paxton, Karen Gillan, Tom Hanks, John Boyega, Patton Oswalt e outros.

O Círculo (2017) tenta desenvolver uma reflexão importante a respeito da influência da tecnologia nas relações humanas, e como consequência interferindo nas condições de poder político e social, mas peca ao apresentar argumentos rasos e representar um mundo demasiadamente ingênuo. Mae (Emma Watson) é uma menina simples, trabalhadora e, aparentemente, sem grandes ambições além de conseguir dar suporte financeiro a sua família, já que seu pai (Bill Paxton) tem esclerose múltipla e os tratamentos são muito caros. A reviravolta na vida da personagem acontece quando ela consegue uma entrevista de emprego, através da amiga Annie (Karen Gillan), no Círculo, uma empresa de tecnologia aos moldes do Google e do Facebook que mascara jornadas de trabalhos exaustivas com um ambiente descontraído e divertido. Começando como uma simples atendente de telemarketing, logo que Mae começa a trabalhar no Círculo surge a necessidade de morar no campus para que ela possa aproveitar as atividades “extracurriculares” (outra estratégia para desconstruir a ideia moderna do trabalho, fazendo parecer que ali é uma espécie de universidade), há uma constante necessidade de compartilhar na rede tudo o que se está fazendo (“sharing is caring” é o lema da empresa), e se isso já não fosse controle o suficiente, o desempenho dos funcionários é medido através de notas dadas pelos usuários que buscam o atendimento da empresa.

O Círculo, como uma grande empresa de tecnologia, se estende em muitos segmentos da vida digital, isso inclui ter uma rede social própria, o TrueYou (parece algo que você conhece?), e criar hardwares de vigilância, como uma câmera do tamanho de uma bola de gude e totalmente transparente. Como parte da iniciativa chamada SeeChange, Bailey (Tom Hanks), o CEO do Círculo, dá um discurso apresentando a nova câmera e suas vantagens como instrumento de mobilização social, através dessa iniciativa seria possível mostrar o que verdadeiramente acontece em tempo real, em qualquer lugar. O primeiro uso da câmera foi para supervisionar uma política, tornando-a “transparente” e colocando em pauta a premissa de “quem não deve, não teme”. Você deve pensar, é nessa parte que alguém desconfia da violação do direito à privacidade, certo? Mais ou menos. Mae só vê as reais intenções da empresa quando conhece, sem saber, o programador/criador do TrueYou (John Boyega) e ele a alerta sobre os planos de Bailey em fazer disso uma realidade para todos os membros do governo. No entanto, mesmo sabendo dos planos da empresa, Mae acredita fortemente na legitimidade da atividade de vigilância proposta pelo Círculo.

É quando Mae invade o lugar que frequenta quase que diariamente para alugar um Caiaque, e se afoga no rio, que a trama começa apresentar seus argumentos sobre esta constante vigilância proposta pelo Círculo. O que Mae não sabia é que perto deste lugar havia uma das câmeras da iniciativa SeeChange, gravando a personagem se esgueirando para passar entre as grades fechadas do recinto, e Mae só é salva pois no momento de captura da infração pela câmera a polícia foi acionada. Após o incidente, a personagem é chamada pelo seu chefe, que a faz ver o “lado bom” da vigilância. Exercitando a lógica, Bailey mostra a Mae que ela cometeu um crime pois acreditava que ninguém estava olhando, logo, uma super vigilância faria com que as pessoas pensassem duas vezes antes de infringir a lei. Mae não só acredita no discurso de Bailey como decide, ela mesma, se tornar “transparente”, tendo a sua vida mostrada 24h por dia, destruindo totalmente a fronteira entre o público e o privado.

Os personagens tocam em assuntos delicados quando a trama parece apenas tratá-los de maneira superficial. Dessa forma, ao ouvir termos como “uma verdadeira democracia”, ou até mesmo o conceito de se tornar “transparente”, devem ser mencionados sempre com aspas pois o roteiro se quer tenta esclarecer as ideias por trás desses termos, quando não os trata de forma equivocada. Ser “transparente” em O Círculo não é ser “limpo” perante a sociedade e estar dentro da lei, mas fazer parte de uma massa homogênea sem identidade. O conceito de total vigilância apresentado no filme lembra o dispositivo panóptico de Foucault, “unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente”. Se tornando mais um instrumento de poder, Foucault coloca que esta prisão de vigilância permanente e onipresente torna tudo visível, desde que o próprio instrumento se torne invisível. É através do disfarce que se exerce o poder vigilante, como o questionamento do autor em Vigiar e Punir: “devemos ainda nos admirar que a prisão se pareça com as fábricas, com as escolas, com os quartéis, com os hospitais, e todos se pareçam com as prisões?”.

Além de trazer uma discussão rasa, as relações entre os personagens que participam de grandes arcos narrativos, como Mercer (Ellar Coltrane) e Annie, são fracas demais para desempenhar papéis tão decisivos na trama. A narrativa de O Círculo está longe de ser apenas ficcional, claro. Sabemos que nossos dados, nossa localização, o que fazemos, o que comemos, onde fomos ontem e onde estamos agora, tudo está na nuvem. Mas o filme, apesar de ter em mãos uma discussão importantíssima e que não é recente, tende para um lado argumentativo que corrobora com a ideia de que ser “transparente” é a solução de grande parte dos problemas da sociedade: a criminalidade, a corrupção, a violência, etc. A trama ignora totalmente o fato de que estes problemas são sintomáticos, isto é, por trás deles há uma série de outras mazelas sociais e políticas.

O Círculo pode até tentar trazer os dois lados da discussão, mas o seu final parece atestar que abrir mão da privacidade para sanar problemas sociais é uma ótima ideia, e parece não levar em conta que este é um dos primeiros passos para um regime totalitário, indo totalmente contra todo o conceito (equivocado) de “verdadeira democracia”. Deve-se assistir O Círculo tendo em mente a famosa frase de Foucault: “a visibilidade é uma armadilha”.

Atualizações, Filmes

Confira o trailer de Perdidos em Paris, último longa de Emmanuelle Riva

Perdidos em Paris, escrito, dirigido e estrelado por Fiona Gordon e Dominique Abel, é o último longa-metragem estrelado por Emmanuelle Riva, que faleceu em janeiro deste ano. Confira o trailer:

Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês, Perdidos em Paris conta a história de Fiona (Fiona Gordon), bibliotecária de uma pequena cidade canadense, que recebe uma aflita e angustiada carta de sua tia Martha (Emmanuelle Riva), uma senhora de 93 anos, que vive sozinha em Paris. Sem pestanejar, Fiona embarca no primeiro avião rumo à capital francesa apenas para descobrir que Martha desapareceu.

Fiona Gordon e Dominique Abel, casal conhecido também por dirigir e estrelar Rumba e La fée, estiveram na abertura do Festival Varilux em São Paulo e no Rio. Segundo o site do festival, Fiona e Dominique “colaboram dentro e fora das telas em seus filmes e espetáculos, buscando dar forma a um universo teatral atípico, em geral centrado no assunto predileto da dupla: a falta de jeito dos seres humanos. Desenvolvem para isso um visual cômico e burlesco muito corporal, no estilo de palhaços e atores do cinema mudo como Buster Keaton, Max Linder , Charlie Chaplin, ou ainda Jacques Tati e os Deschiens”.

Distribuído pela Pandora Filmes, o filme chega aos cinemas brasileiros amanhã, 06 de julho.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: War Machine (2017)

Baseado no livro The Operators: The Wild and Terrifying Inside Story of America’s War in Afghanistan de Michael Hastings. Direção e roteiro por David Michôd. Elenco: Brad Pitt, Anthony Hayes, John Magaro, Anthony Michael Hall, Emory Cohen, Topher Grace, Ben Kingsley, Scoot McNairy.

War Machine (2017), um filme original da Netflix, traz uma sátira a respeito das instituições norte-americanas envolvidas nos conflitos do oriente médio. Narrado por Sean (Scoot McNairy), um jornalista da revista Rolling Stones que mais tarde realiza um ponto-chave no desfecho da trama, o filme apresenta a história do General McMahon (Brad Pitt), um oficial do exército famoso por seu carisma, disciplina e pensamento estratégico, que substitui a liderança do combate no Afeganistão com uma equipe selecionada a dedo, contando com cargos específicos além dos tradicionais postos militares, como por exemplo um diretor operacional, um relações públicas, um publicitário e um especialista em tecnologia.

McMahon é um general, é autor de um livro (sim, ele também escreveu sobre suas experiências), é um líder, é um “herói”. Sua equipe o vê com profunda admiração e respeito, não somente por ele ser superior a eles, mas de uma maneira como se o general desse sentido a suas vidas. McMahon e sua equipe internalizam um discurso assistencialista, e formam uma operação que ultrapassa alguns limites para alcançar seus objetivos (o que acontece com mais frequência do que gostaríamos), provando que o próprio governo subestima o poder político do exército. Dessa forma, é natural que ao ter seu pedido negado para receber mais tropas, o general arquitete um plano que envolve vazar um relatório governamental da situação no oriente médio, participar de uma entrevista televisiva, e permitir que um jornalista da Rolling Stones acompanhe sua equipe durante alguns eventos na Europa.

David Michôd coloca em pauta na narrativa uma reflexão importante para uma sociedade como a nossa, apresentando as mazelas da interferência política, econômica e social norte-americana no território do oriente médio, o diretor e roteirista de War Machine expõe uma sociedade que vive de tensionamentos e da sua constante exploração midiática. Mantendo um olhar crítico, mas ao mesmo tempo delicado, sobre o tema, o filme respeita dualidades relevantes que são evidenciadas através de uma política alemã vivida por Tilda Swinton: o general McMahon realmente acredita que está ajudando o povo ou tudo isso se trata de uma realização pessoal? Se a operação liderada por ele no Afeganistão é assistencialista, por que ele vive repetindo que irá vencer a guerra?

Para justificar sua atividade McMahon tem na ponta da língua o velho discurso progressista de Tio Sam (que mais parece um disco quebrado): eliminar os rebeldes, estabelecer um governo democrático, ajudar na construção da infraestrutura local e desenvolver o mercado. A crítica feita em War Machine para discutir as incongruências dessa falatória é sutil e carregada de ironia, como na cena em que McMahon visita uma plantação – que supostamente seria para alavancar a agricultura local, dar empregos e etc – da planta que origina a heroína. Ele questiona o produtor (um norte-americano, por sinal) se não há outra planta possível de se cultivar ali, e a resposta é tão sincera que beira a comédia: sim, eles poderiam estar plantando algodão, mas isso prejudicaria o mercado norte-americano de algodão, então é melhor plantar heroína. A construção do personagem de McMahon também leva em conta essa carga satírica da trama, e Brad Pitt faz uma caricatura na medida certa para este papel, adicionando caras e bocas à interpretação do general, além de um estilo de corrida característica dos rangers do exército norte-americano.

O fio condutor de todas essas reflexões é a mídia. É através dela que McMahon chama a atenção do governo para atender sua demanda, e é através dela que sua carreira acaba. Através do artigo publicado por Sean na Rolling Stones, revela-se o caráter ambivalente da mídia, mostrando o seu poder e, sobretudo, seu potencial – muitas vezes ignorado ou usado erroneamente – para mudar o curso da história. Porém, ao mesmo tempo que McMahon é demitido de seu cargo, o diretor David Michôd realça que o general é substituível, como qualquer um no sistema capitalista. A cara da mudança é um novo general e uma nova equipe com, aparentemente, o mesmo sistema. Até que ponto há uma mudança?

Atualizações, Música

Ouça The Way You Used to Do, novo single do Queens of the Stone Age

Passados quase 4 anos desde o último álbum …Like a Clockwork, a banda Queens of the Stone Age retorna com um novo single e data de lançamento do novo álbum intitulado Villains. Ouça o single The Way You Used to Do:

Entre as divulgações de Villains, a banda postou um teaser e um vídeo bem engraçado com a banda, onde Josh Homme responde perguntas sobre o novo álbum através de um detector de mentiras. Não respondendo corretamente as perguntas, Homme conta o nome de uma das faixas, mostrando segundos de Feet Don’t Fail Me, e também que o produtor do álbum foi ninguém menos que Mark Ronson, conhecido por produzir artistas como Adele, Amy Winehouse, Lily Allen, Robbie Williams, entre outros.

Se mesmo depois de ouvir o single – com todo um ritmo que é a cara da banda e o inevitável sex appeal emanado da voz de Josh Homme – você ainda tem dúvidas do que realmente trata a canção, em entrevista para a NME Josh Homme coloca as cartas na mesa e afirma: a música é sobre sexo.

The Way You Used to Do foi um ótimo preview do que está por vir no novo álbum, além de servir para matar a saudade da banda. O lançamento de Villains será dia 25 de agosto.

Atualizações, Filmes

Breaking Bad ganhará experiência em realidade virtual

Quem estava com saudade de Breaking Bad pode começar a ficar animado que vem novidade da série por aí! Vince Gilligan, criador e diretor de alguns episódios de Breaking Bad, está trabalhando em uma experiência em realidade virtual para a série em parceria com a Sony PlayStation.

Enquanto a maioria das produções da Sony para o PlayStation VR são games, os únicos detalhes sobre a experiência de Breaking Bad para realidade virtual é que ela não será um jogo e não será lançada neste ano. Segundo Andrew House, chefe executivo da divisão de entretenimento interativo da Sony, a empresa estava esperançosa em ampliar o espaço da realidade virtual buscando os melhores criadores e produtores de séries televisivas. “Eu acho que esse pode ser um caminho interessante para ver como a realidade virtual pode se tornar mainstream”, disse House.

Breaking Bad teve suas 5 temporadas exibidas pela AMC, e levou um monte de Emmy pra casa – Melhor Drama duas vezes e os atores Bryan Cranton e Aaron Paul ganharam um total de sete prêmios entre eles. A série também tem um prequel, Better Call Saul, estrelando Bob Odenkirk, e está atualmente exibindo sua terceira temporada na mesma emissora.

Atualizações, Filmes

Veja o trailer de O Filme Da Minha Vida, dirigido por Selton Mello

O terceiro longa-metragem dirigido por Selton Mello, O Filme Da Minha Vida é baseado no livro Um Pai de Cinema do chileno Antonio Skármeta, que também participa do filme. Confira o trailer:

A história do filme ambienta-se na década de 1960 na serra gaúcha. Tony, interpretado por Johnny Massaro, é filho de um norte-americano com uma brasileira, e decide retornar a sua cidade natal apenas para descobrir que o seu pai, vivido pelo francês Vincent Cassel, o havia abandonado. A partir daí Tony começa uma busca, através de personagens locais, para saber mais sobre o motivo da partida de seu pai, apresentando um processo de amadurecimento do personagem ao conhecer sua própria história.

Segundo divulgação na própria página do Facebook do longa, O Filme Da Minha vida é uma “saborosa mistura de drama e comédia, com uma narrativa nostálgica que faz sonhar, uma grande homenagem ao próprio cinema”.

A adaptação do roteiro foi realizada por Selton Mello e Marcelo Vindicatto, que também escreveram os roteiros de O Palhaço (2011) e Feliz Natal (2008). No elenco do longa estão brilhantes atores como o próprio Selton Melo, Antonio Skármeta, Vicent Cassel, Johnny Massaro, Rolando Boldrin, Bruna Linzmeyer, Erika Januza, entre outros.

O Filme Da Minha Vida estreia dia 3 de agosto nos cinemas brasileiros.

Críticas de Cinema, Filmes, Reviews de Séries

Review: Twin Peaks 03×01 e 03×02

Os episódios 03×01 e 03×02 de Twin Peaks foram dirigidos por David Lynch. Criaçao da série/roteiro: David Lynch e Mark Frost. Elenco: Kyle MacLachlan, Sheryl Lee, Kimmy Robertson, Russ Tamblyn, Mädchen Amick, Dana Ashbrook, Ray Wise, Grace Zabriskie, Everett McGill, Michael Horse, Brent Briscoe, Harry Goaz, Al Strobel, Jane Adams, Chrysta Bell, Catherine E. Coulson, George Griffith, entre outros.

Cá estamos 25 anos depois com dois novos episódios de Twin Peaks recém saídos do forno. Todos mistérios do final da 2ª temporada nos deixaram com um sentimento de dúvida em relação aos eventos da série. E por mais que uma 3ª temporada pareça tentar responder alguns destes questionamentos, não fique muito esperançoso e lembre-se: estamos falando de uma produção de David Lynch aqui. Dessa forma, por mais que tenhamos certas respostas, mais perguntas e mistérios bizarros surgirão, e essa é a beleza de Twin Peaks. Mais do que se ater em resolver os enigmas propostos, é necessário prestar atenção nas organizações simbólicas dos mesmos. A série apresenta, através do homicídio de uma jovem menina, dualidades muito presentes no nosso imaginário: o bem e o mal, o inocente e o culpado, o puro e o impuro. É necessário compreender as nuances que transpassam essas lutas, que são incorporadas na narrativa através do sobrenatural, antes de somente tentar desvendar a série como se esta fosse um simples suspense policial.

Vivemos hoje em uma época fértil para as retomadas de produções que marcaram seu tempo, e Twin Peaks não só marcou os anos 90, como também influenciou, tanto na linguagem quanto na temática, muitas obras que seguiram. No entanto, é uma tarefa delicada produzir esses retornos e não se deixar afundar em completa nostalgia. Ao assistir os primeiros episódios da série, é possível encontrar um certo equilíbrio, Lynch e Frost não se prenderam somente em reapresentar personagens antigos e secundários das outras temporadas, mas a partir de personagens pontuais conseguiram reatualizá-los e remanejá-los a uma narrativa que, não só retoma o gancho deixado no final da 2ª temporada, mas a desenvolve sob um viés mais contemporâneo. Assim, vemos Lucy (Kimmy Robertson), Andy (Harry Goaz) e Hawk (Michael Horse) quase que parados no tempo, apesar da visível ação do envelhecimento nos atores; vemos o Agente Cooper (Kyle MacLachlan) duplicado, seu corpo sob controle de um espírito maligno (ou podemos chamá-lo apenas de Bob), e seu espírito ainda preso no Black Lodge; vemos Laura Palmer (Sheryl Lee), mais velha porém usando o mesmo figurino de suas outras aparições no Red Room, e apresentando algumas das linhas de diálogo mais interessantes até agora, como quando o Agente Cooper a indaga sobre quem ela é, e ao passo que ela o responde dizendo ser Laura Palmer, Cooper a confronta “mas Laura Palmer está morta”, e Palmer fala “eu estou morta, mas ainda vivo”, logo depois dessa interação com Cooper, Laura é sugada para uma outra dimensão (seria o White Lodge?) ao estilo de Império dos Sonhos (2006).

Nesta nova temporada há também o desenvolvimento espacial da narrativa, que não é mais centrada na pacata cidade de Twin Peaks, movendo-se entre outras cidades mas sem perder uma certa estranheza ao representá-las. Isso se deve, em parte, ao modo como Lynch situa espacialmente as cenas, com seus zooms e travellings em grande planos gerais carregados de um ar misterioso quando combinados a uma trilha sonora mais tensa. O diretor traz de volta em Twin Peaks uma forma de linguagem mais rígida – com poucos movimentos de câmera e planos mais abertos, estáticos e longos – que parecia estar perdida nas séries atuais, onde prioriza-se um ritmo mais acelerado na montagem e uma construção narrativa baseada nas emoções – talvez seja por isso que a maioria das séries da atualidade abusam do close-up. Por isso, o menor plano encontrado na série são primeiros planos estáticos, alguns deles frontais e com uma duração mais extensa. Somando-se a isso, uma cenografia impecável que deveria ser analisada minuciosamente, temos uma estética carregada de suspense que grita David Lynch.

Embora deva-se reconhecer que foi buscada uma atualização estética e narrativa para que a série atinja novos públicos, um ponto a respeito da aborgagem temática de Twin Peaks é preocupante. Não há como ignorar o fato de que a série foi construída em cima da violência contra a mulher, e a exibição do corpo feminino foi explorada de forma totalmente desnecessária, mesmo para uma série da década de 90. Era esperado que em pleno 2017 esta temática tivesse sido abordada diferentemente, mas infelizmente não foi o caso. Com um olhar antigo e ultrapassado, assistimos a morte de alguns personagens no decorrer dos primeiros episódios, homens e mulheres, mas por que duas delas tinham que estar sem roupa?

Algumas cenas parecem deslocadas, como se tivessem sido colocadas apenas para relembrar de alguns personagens. É o caso de quando, no início do primeiro episódio vemos o Dr. Lawrence Jacoby (Russ Tamblyn) em um trailer no meio da floresta, ou no final do segundo episódio com a cena situada no bar Bang Bang onde encontramos Shelly Johnson (Mädchen Amick) e James Hurley (James Marshall). Há de se considerar a possibilidade de essas cenas se desenvolverem, trazendo novas significações no decorrer da temporada.

De qualquer forma, foi gratificante assistir Twin Peaks novamente, e perceber que Lynch e Frost podem sempre ultrapassar seus próprios níveis de representação do bizarro. E esse é apenas o começo.

Colunas, Música

5 novos nomes do jazz nacional contemporâneo que você precisa conhecer

O Brasil possui monstros do jazz, isso todo mundo sabe, e o nome Hermeto Pascoal deve vir logo à mente. No entanto, há toda uma produção contemporânea que merece atenção redobrada. Adicionando novas sonoridades ao jazz clássico, as nuances brasileiras se misturam e os resultados são maravilhosos. Ao ouvir o jazz nacional sentimos que ele transparece o que somos: uma mistura. Nosso jazz não é só jazz, é soul, é funk, é hip hop, é bossa nova, é tudo junto pra formar algo singular, assim como nosso povo. Então, para massagear os ouvidos, conheça abaixo 5 nomes do jazz brasileiro contemporâneo:

1. AMARO FREITAS

Pianista e compositor pernambucano, Amaro Freitas já gravou com Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, Wilson das Neves e Roberto Menescal. Em seu mais recente trabalho, o álbum Sangue Negro, o músico inova trazendo uma mistura interessante entre free jazz, samba e frevo. Em entrevista para o Jornal do Commercio, Amaro diz que “às vezes a gente fica preso às formas de melodia e harmonização, mas o som já existe. Essas são apenas as formas esquematizadas de organizar a música – e a música europeia, não é nem a nossa música. O som é muito mais do que isso. O som pode ser ruído, pode ser qualquer coisa que eu possa trabalhar dentro da minha cabeça”, e que a ideia central do álbum foi “trazer elementos da música pernambucana para instrumentos eruditos”.

2- TRIO X

O Trio X, formado pelos graduandos em Música da Unicamp Daniel Moreira, Felipe Ribeiro e Zeca Vieira, apresenta uma música instrumental que atualiza o jazz com muita personalidade. Feather, música composta por Felipe Ribeiro, parece contar uma história através da música, e essa é uma experiência musical das mais importantes: suscitar no ouvinte outras sensações e transportá-lo para outro lugar. É o tipo de música para se ouvir de olhos fechados. No canal do YouTube da banda há mais produções igualmente deliciosas de se ouvir.

3- VALV TRIO

O trio formado por Felipe Julio (Guitarra), Marcelo Borges (Guitarra) e Bruno Hernandes (Bateria), apesar de ainda não possuir um repertório muito grande, mostra que a fusão entre o jazz, o rock e a música eletrônica funciona muito bem. Aguardamos mais músicas do trio!

4- KICK BUCKET

A banda formada por Bruno Kioshi (baldes), Thiago Kim (sax), Levy Santiago (baixo) e El Cid (teclado), traz um formato no mínimo inusitado. Para começo de conversa, Kick Bucket não só chuta baldes, mas apresenta suas batidas com maestria. No balde há jazz, blues, soul, funk, tudo isso apresentado na rua pra todo mundo ver e ouvir. Neste último domingo de dia das mães (14) tive a oportunidade de vê-los se apresentando na Avenida Paulista, e mesmo com o barulho ensurdecedor das pessoas/carros/ônibus ouvi um som que lembra Badbadnotgood, mas com um toque especial brasileiro. A proposta de tocar nas ruas é importantíssima, pois promove a popularização do jazz e aproxima o público dos músicos.

5- ÈKÓ AFROBEAT

O afrobeat vem se mostrar com toda sua pluralidade sonora em ÈKÓ Afrobeat. A banda é formada por Igor Brasil (guitarra), Tibless (voz), Gustavo Boni (baixo), Paulo Kishimoto (Teclado), Eduardo Marques (bateria), Chico Santana (percussão), Natan Oliveira (trompete), Edmar Pereira (sax barítono), Rodrigo Bento (sax tenor) e Evandro Bezerra (trombone). No seu álbum de estreia intitulado Sambou África, toda essa galera adiciona cada um sua especificidade e traz um som diferente misturando o funk, soul, free jazz e ritmos tradicionais iorubá.

Ajude a difundir o jazz nacional, ouça e compartilhe o som dos nossos artistas!

Atualizações, Filmes

Nova temporada de Twin Peaks será exibida pela Netflix

Pra ninguém ficar sem ver o Agente Cooper novamente, a Netflix anunciou nesta semana que irá exibir os episódios da nova temporada de Twin Peaks. A partir da próxima segunda-feira (22) a série estará disponível para streaming e será atualizada semanalmente com um novo episódio.

Twin Peaks, série criada por Mark Frost e David Lynch, foi sucesso nos anos 90. A história gira em torno do detetive do FBI, o Agente Cooper, que busca desvendar o misterioso assassinato de uma garota moradora da pacata cidade de Twin Peaks. Por trás do crime, Cooper descobre um novo universo sobrenatural que envolve anões dançantes que falam de trás pra frente, gigantes com premonições, um espírito do mal e corujas que não são o que parecem ser.

Desde que foi confirmada a produção dos novos episódios até recentemente pouca divulgação foi feita. No entanto no último mês algumas fotos e trailers conseguiram deixar um ar ainda mais misterioso sobre o que iremos encontrar nesta nova temporada de Twin Peaks. Após os trailers enigmáticos, há uma semana foi divulgado um novo trailer, desta vez com cenas da nova temporada, confira:

Ansiosos? Fiquem ligados no Beco que em breve traremos críticas sobre a série.