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Fernanda Brito

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Capitã Marvel (2019)

Capitã Marvel chegou aos cinemas mundiais dia 07 deste mês e nós precisamos falar sobre isso. Com 152 milhões de dólares de orçamento, o filme já lucrou os impressionantes US$ 825 milhões ao redor do mundo, o que o faz quebrar o recorde da Mulher Maravilha, com US$ 821 milhões. Com esse número, o filme garantiu a 11ª melhor bilheteria entre os 21 filmes lançados pelo Universo Cinematográfico Marvel (MCU) –  deixando para trás produções como Homem-Formiga e a Vespa (623 milhões), Homem de Ferro 2 (624 milhões), Thor: O Mundo Sombrio (645 milhões) e Capitão América 2: O Soldado Invernal (714 milhões). Além disso tudo, Capitã Marvel foi a maior estreia da história de um filme protagonizado por uma mulher e a sexta melhor estreia de um filme de qualquer gênero em todos os tempos.

O primeiro filme do MCU protagonizado por uma mulher conta a história da piloto da aeronáutica americana Carol Danvers que, após a explosão de um motor alienígena, é contaminada com radiação e levada pelos Kree para o planeta deles. Lá, ela se torna uma guerreira Kree treinada e super forte e luta junto com seu esquadrão para manter a paz no universo. O detalhe é que Carol perdeu a memória durante a explosão, não lembra de onde veio nem nada sobre sua vida antes de chegar em Hala, e tudo o que sabe é o que os Kree a contaram. De acordo com eles, há uma raça chamada de Skrull que atua como uma praga no universo destruindo os planetas, e é obrigação dos Kree, como guerreiros heróis, detê-los e garantir a paz. No meio de uma missão que dá errado, Carol, que é chamada em sua nova vida de Vers, se separa do seu esquadrão e acaba na Terra rastreando um Skrull. Assim, ela encontra Nick Fury que, até este momento, não acreditava em extraterrestres e nem passava por sua cabeça que haveria seres superpoderosos por aí que um dia se denominariam “Vingadores”.

Visto como um filme de introdução da Capitã Marvel somente para que haja sentido no seu aparecimento em Vingadores: Ultimato, Capitã Marvel nos conta mais do que era esperado e esclarece várias questões que concordo não serem tão significativas, mas quem nunca quis saber como que o Fury perdeu o olho? Ou como o Tesseract veio parar na Terra? Ou ainda como nasceu a Iniciativa Vingadores? Podemos dizer que Carol Danvers é a “mãe” dos Vingadores, pois, sem ela, o agente Fury não teria descoberto a existência dos alienígenas, testemunhado uma guerra interestelar e visto a necessidade de que a Terra tivesse protetores a altura desse tipo de ameaça. Outra questão interessante neste filme é o nome Marvel, ou Mar-Vell. Não vou entrar em detalhes, pois a graça do filme está em identificar essas referências e ir respondendo as pequenas perguntas que ficaram soltas durante todos esses anos de MCU. Mas alerto sobre uma coisa: fiquem de olho no gato, ele não é o que parece ser!

Desde os quadrinhos do Capitão Marvel lá pelos anos 60 que, curiosamente, era um nome de um herói da DC que virou Shazam! após uma briga judicial, essa é uma das poucas vezes que o nome é dado a uma mulher e podemos ver como uma conquista essa versão ter ganhado os cinemas e integrado o mundo dos Vingadores. Durante as especulações antes do lançamento do filme, muito foi falado sobre a manobra arriscada da Marvel de “apostar no feminismo” para “lacrar”, tanto que uma manchete da época me chamou muito a atenção: Quem lacra, não lucra. Porém, de acordo com os números surpreendentes dessas 2 semanas, não foi isso que aconteceu, não é mesmo? O que podemos ver foi uma aceitação enorme de que uma mulher pode sim ser uma heroína forte e destemida, salvar o mundo, proteger seus amigos e não precisa ter nenhum romance no meio da história. Um filme sobre uma heroína não é um filme de mulher. Ou de homem, pois, para uma mulher salvar o mundo, ela também não precisa estar super sexualizada com uma roupa nada prática, nem fazer o uso da sedução para derrotar seus inimigos. Ela pode ser mais forte, mais rápida e mais esperta que um homem e as curvas do seu corpo não tem nada a ver com isso. Outra cena para ficar de olho: “eu não preciso provar nada para ninguém” – Carol Danvers.

O saldo geral é que Capitã Marvel é um filme excelente que não deixa nada a dever aos outros filmes do MCU. A história mantém o mesmo padrão fluído e cômico, a protagonista é forte, destemida e representa muito bem os heróis Marvel, muitas perguntas são respondidas, muitas referências são feitas e, mesmo sendo um daqueles filmes independentes que só existem para introduzir o herói ao grupo, contrariou todos os pessimistas e se mostrou extremamente necessário. Não podemos esquecer também do sentimento de representatividade que sentimos em Pantera Negra, pois já estava na hora de uma protagonista guerreira e herói que representasse a nós mulheres também no Universo Marvel, e Brie Larson, a ganhadora do Oscar por Quarto de Jack, soube dar vida a essa protagonista como ninguém.

Carol ou Vers não é fofa, gentil, delicada, ingênua, nem ostenta nenhum outro estereótipo atribuído às mulheres. Tanto que podem até dizer que ela é mal humorada por manter sempre sua expressão séria e focada. Não diriam isso se fosse um homem, fica a dica. Ela é uma guerreira, que antes fora uma militar, e se comporta como tal. Ouviu durante toda a sua vida que não deveria ter os sonhos que tem, nem estar nos lugar que está por ser mulher e isso serviu de combustível para sua determinação em subir cada vez mais alto, ser cada vez mais forte e seguir cada vez mais veloz. Alguma semelhança com o Capitão América? Ninguém mais havia resistido àquele experimento, assim como não é qualquer um que aguentaria uma carga radioativa do porte que Carol aguentou, absorveria essa carga e converteria em poder.

Claro que também não posso deixar de falar sobre a linda homenagem a Stan Lee logo na abertura do filme que, ao contrário dos outros, ao invés de mostrar aquela abertura com os quadrinhos da Marvel, mostra quadros das participações de Stan Lee durante todos esses anos, terminando com um “Obrigado, Stan”. Ele também aparece no meio do filme e especulasse que também aparecerá em Homem-aranha: longe de casa.

Capitã Marvel segue o padrão MCU também com as cenas pós-crédito. São duas, uma no começo e outra bem no final, mas bem no final mesmo. Podemos comparar com a cena que quase não apareceu de Homem de Ferro 3. O filme segue em cartaz em todo o país ainda com várias salas e não dá indício de queda de popularidade, o que mostra que sua bilheteria só tende a aumentar e talvez tenhamos mais alguns recordes quebrados. Vale a pena conferir tanto pelo próprio filme que é ótimo, quanto para se preparar para Vingadores: Ultimato que chega aos cinemas dia 26 de abril. Enquanto ficamos na espera, sigamos sempre alto, forte e veloz, baby.

HOLLYWOOD, CALIFORNIA – FEBRUARY 24: Cast and crew of ‘Green Book’ accept the Best Picture award onstage during the 91st Annual Academy Awards at Dolby Theatre on February 24, 2019 in Hollywood, California. (Photo by Kevin Winter/Getty Images)
Atualizações, Filmes

Oscar 2019: Confira a lista de vencedores

Aconteceu neste domingo (24/02) a 91ª cerimônia de entrega do Oscar. As expectativas eram altas principalmente nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz e a Melhor canção, já que a legião de fãs da Lady Gaga aclamava por Shallow. Como todo grande evento, não poderia faltar uma polêmica que ficou por conta de Kevin Hart e sua desistência do posto de anfitrião da noite após algumas piadas homofóbicas feitas no passado em redes sociais virem à tona.

Desde a criação da cerimônia, apenas 5 edições do Oscar ficaram sem um anfitrião: os vencedores de 1939, 1969, 1970 e 1971 foram anunciados por vários artistas, chamados de “Amigos do Oscar” – organização semelhante à deste ano. Em 1989, foi a última edição sem um anfitrião, quando o produtor Allan Carr tentou reinventar o Oscar por meio de números artísticos. Porém, isso não tirou o brilho da noite que teve alguns pontos altos que merecem ser destacados:

  • Já começamos com o show de abertura feito pelo Queen e Adam Lambert como vocalista;
  • Shallow sendo interpretada ao vivo com Lady Gaga ao piano e Bradley Cooper com seu violão deixou todos emocionados e sem palavras;
  • Jason Momoa usando um terno rosa e dizendo que os tempos mudaram e um deus havaiano pode ficar ótimo de rosa nunca foi tão atual no Brasil quanto nos tempos que vivemos hoje;
  • Assim como também o Javier Barden falando em espanhol para anunciar os indicados para melhor filme estrangeiro, destacando que nenhum muro pode separar o talento, nunca fez tanto sentido nos Estados Unidos;
  • Descer no meio da plateia como se estivesse flutuando em um guarda-chuva para anunciar a canção do filme O retorno de Mary Poppins, que concorreu ao prêmio de Melhor Canção, é necessário? No Oscar, sim. E faz toda a diferença;
  • Pharrell Williams usando um terno de bermuda não será esquecido tão cedo;
  • Spike Lee pulando em cima do Samuel L. Jackson ao ganhar o prêmio de melhor roteiro adaptado por Infiltrado na Klan, também não;
  • Melissa McCarthy com um vestido cheio de coelhos com direito até a uma luva de coelho que se mexia enquanto ela falava ao anunciar os indicados de Melhor Figurino, muito menos;
  • Barbra Streisand em sua aparição especial fazendo referência ao seu papel na versão de Nasce uma estrela de 1977 mostrou que uma rainha nunca perde a majestade;

E, mesmo com todo o esforço, a sensação que ficou ao assistirmos o encerramento feito de forma aparentemente improvisada pela Julia Roberts, é que a falta de um anfitrião deixou um buraco que não conseguiu ser preenchido e que, no fim, aquelas piadinhas que parecem não servirem para nada fazem toda a diferença.

Confiram os vencedores do Oscar 2019:

Melhor filme: Green Book – o guia

Melhor diretor: Alfonso Cuarón – Roma

Melhor ator: Rami Malek – Bohemian Rhapsody

Melhor atriz: Olivia Colman – A Favorita

Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali – Green Book: O Guia

Melhor atriz coadjuvante: Regina King – Se a Rua Beale Falasse

Melhor animação: Homem-Aranha no aranhaverso

Melhor filme estrangeiro: Roma – México

Melhor roteiro original: Green Book – o guia

Melhor roteiro adaptado: Infiltrado na Klan

Melhor trilha sonora: Pantera Negra

Melhor canção original: Shallow – Nasce uma estrela

Melhor documentário de longa-metragem: Free Solo

Melhor mixagem de som: Bohemian Rhapsody

Melhor edição de som: Bohemian Rhapsody

Melhor curta de animação: Bao

Curta-metragem live action: Skin

Melhor documentário de curta-metragem: Period. End of Sentence.

Melhor edição: Bohemian Rhapsody

Melhor direção de arte: Pantera Negra

Melhor fotografia: Roma

Melhor efeitos visuais: O Primeiro Homem

Melhor figurino: Pantera Negra

Melhor maquiagem e penteados: Vice

Críticas de Cinema, Filmes

CRÍTICA: Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald (2018)

Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega hoje aos cinemas. Algumas sessões foram disponibilizadas entre os dias 13 e 14 e foi em uma delas em que o Beco esteve e traz tudo o mais rápido possível para vocês. Depois de 2 anos, o que esperar da continuação da nova franquia de J.K. Rowling?

Começamos o filme com Grindelwald preso no MACUSA, a espera de sua transferência para o Reino Unido, onde será julgado e enviado para Askaban. Claro que ele consegue fugir ou não teríamos mais filmes e a Segunda Grande Guerra Bruxa teria terminado por aí. Porém, como bem já sabemos pelos livros e filmes de Harry Potter, a franquia original, Grindelwald e Dumbledore têm sua grande luta, onde o futuro diretor de Hogwarts se torna o dono da Varinha das varinhas, então, não sabemos em qual dos próximos filmes isso vai acontecer, mas vai.

Voltando a Animais Fantásticos 2, Newt Scamander continua sendo o nosso herói lufano que, acusado de tentar salvar o Obscurial em Nova Iorque durante o primeiro filme, está impedido de sair de Londres. Vamos aqui dar uma atenção especial a pitoresca casa do Newt: um sobrado tipicamente britânico até você chegar no porão, onde um imenso santuário para criaturas mágicas contendo vários habitats diferentes nos mostra que nosso magizoologista não desistiu de sua missão.

Jacob, Tina e Queenie estão de volta junto com uma gama de novos personagens. Conhecemos Teseu, o irmão de Newt, e Leta, seu antigo amor que agora está noiva de seu irmão (tenso!). Viajamos para Paris atrás de Credence e temos a primeira grande revelação do filme: Nagini. Ela já apareceu no trailer e não há mais surpresa na sua maldição sanguínea que a condenará um dia a ser uma cobra para sempre (como sabemos bem). Ainda não há traços de maldade na jovem Nagini, então não tem como saber como ela virou aliada de Voldemort no futuro, mas talvez, isso será esclarecido mais para frente.

Como já foi especulado, nesse segundo filme fica mais provado que cada um se passará em um lugar diferente. Nova Iorque, Paris… Será que o próximo será no Brasil? Infelizmente, não apareceu nada sobre Beauxbatons como eu estava esperando, e o Ministério da Magia francês só passa rapidamente em uma cena, então, não tem como vermos muito a respeito. O ano é 1927 e a cidade não parece muito diferente da Nova Iorque do primeiro filme, não aparece nem a Torre Eiffel. O máximo de diferente vai ser o equivalente ao Beco Diagonal francês, onde fica o circo em que Credence e Nagini estão presos até conseguirem fugir no início do filme.

Em geral, o filme é ótimo, levando em conta o roteiro original, os efeitos especiais, trilha sonora, ação, romance, e claro, o universo de Harry Potter que nunca deixa de surpreender. Porém, comparado com o primeiro filme, pecou um pouco na falta de conteúdo. A impressão que temos é que Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald é um filme intermediário que está ali somente para nos introduzir aos próximos episódios.

Muitas apresentações de personagens novos, histórias de famílias e uma preocupação enorme com cenas de ação tiraram a fluidez e dinâmica tão presente em Animais fantásticos e onde habitam. Tudo se resume a “onde está Credence?” Os crimes de Grindelwald que é bom, nada. Depois de assistir o filme, o título fica meio sem sentido e nos perguntamos que crimes foram esses? Ele fugiu do Ministério, claro. Matou alguns aurores… Mas, fora isso, vemos um Grindelwald político tentando recrutar bruxos através de uma boa argumentação e um grande poder de persuasão, o que fez o MACUSA até retirar sua língua durante a custódia devido a sua facilidade em recrutar os guardas. Grindelwald realmente acredita que está certo e que tudo está sendo feito para um bem maior e consegue convencer muita gente disso. Nada muito diferente do que já vimos acontecer durante a nossa História.

Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega aos cinemas hoje (15/11) com aproximadamente 2 horas de filme e trazendo uma produção excelente, mas nada tão demais como se era esperado depois de 2 anos de expectativa.

Colunas, Livros

Chimamanda Adichie e seu discurso feminista

“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos.”

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Ela é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que estão atraindo uma nova geração de leitores de literatura africana. Seu primeiro livro, Hibisco Roxo, foi publicado em 2003 e, desde então, sua popularidade não para de crescer. Mas, o que destaca a Chimamanda e fez eu querer escrever este artigo hoje é o seu discurso feminista.

Em 2012, Chimamanda Adichie deu uma palestra no TEDxEuston, uma conferência anual com foco na África, falando sobre o feminismo, mais especificamente sobre sua experiência em ser uma feminista africana. Várias partes desta palestra foram usadas na música Flawless, da Beyoncé, e, posteriormente, virou um livro. Sejamos todos feministas foi lançado no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras.

″Eu estou com raiva. A construção de gênero do modo como funciona atualmente é uma grave injustiça. Todos nós deveríamos estar com raiva. Esse sentimento, a raiva, é importante historicamente para as transformações sociais positivas, mas, além de estar com raiva, eu também estou esperançosa porque eu acredito profundamente na habilidade dos humanos de se reinventarem e se tornarem melhores”.

O livro é cheio de citações e frases de empoderamento feminino, além de explicar o que é o feminismo, por que precisamos do feminismo e por que ser chamada de feminista, ás vezes, soa tão ruim. Caracterizada como uma mulher raivosa e de gênio difícil, Chimamanda nos mostra o machismo nesses adjetivos que são atribuídos a ela só por ser uma mulher falando. Um homem que defendesse firmemente seus ideais e falasse de forma assertiva seria taxado como alguém raivoso e de gênio difícil? Quando o problema não está na característica, mas no fato de ser uma mulher portando ela, isso é machismo. E é por isso que o feminismo é tão necessário.

Em 2017, a Companhia das Letras nos traz Para educar crianças feministas: um manifesto. O pequeno livrinho de capa verde nada mais é do que uma carta que Chimamanda escreveu para sua amiga em resposta a uma pergunta: Como criar minha filha como uma feminista?

Como mãe de uma menina, esse livro abriu meus olhos para muitas coisas que, até então, eu não achava serem tão importantes. O estigma das princesas é uma delas. Ensinar minha filha que ela não é uma donzela indefesa, que o príncipe perfeito não existe e que ela não precisa de um casamento para ter um final feliz se mostrou mais difícil do que eu esperava. Por sorte, as animações da Disney têm evoluído junto com os movimentos feministas, e princesas modernas que salvam o dia e buscam o seu próprio felizes para sempre têm surgido para nos socorrer.

A importância do exemplo nas minhas atitudes e o perigo do tal feminismo leve também me fez pensar. O feminismo leve traz a ideia de uma igualdade feminina condicional. “O homem é o cabeça, mas a mulher é o pescoço” e “meu marido me ajuda em casa” são frases muito comuns usadas por feministas leves. Basicamente, usa-se o conceito do “deixar”. Deixar que a mulher estude, deixar que a mulher trabalhe. A mulher pode fazer o que quiser, desde que o marido deixe. Eca.

Porém, acredito que, para mim, a parte mais importante desses dois livros foi entender que ser feminista não é deixar de ser feminina e, muito menos, é declarar guerra contra os homens. Ser feminista é querer direitos e deveres iguais para todos, sem distinção de gênero. Um mundo igualitário, sem discursos de ódio, opressão e preconceito. Eu consegui entender que ser chamada de feminista não é algo ruim e que eu não preciso deixar de usar maquiagem ou depilar minhas pernas, nem marchar seminua em praça pública para defender meus direitos.

Mas, mais do que isso, ser feminista é ser a favor da humanidade. Homens e mulheres vivendo em igualdade, respeitando suas diferenças e contribuindo de forma igual para a sociedade. Respeito, essa é a palavra chave. Seja para homens, mulheres, gays, pessoas trans, negros, índios, refugiados, para todos.

Paulo Freire já dizia que o sonho do oprimido é virar o opressor, porém o feminismo não defende que os homens devam ser exterminados ou virar escravos das mulheres em uma revolução apocalíptica distópica. O feminismo defende um mundo igualitário e, em um mundo igualitário, nenhum dos lados pode ser oprimido.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Os invisíveis (2018)

Estreia hoje em alguns cinemas pelo país Os invisíveis, um filme alemão que fala sobre o nazismo. Depois de algum tempo, já se sabe que muitos alemães não concordavam com as decisões de Hitler e, uma delas, era o genocídio judeu. Este filme fala sobre um assunto que pouco foi tratado até então, os judeus que permaneceram escondidos em Berlim durante o massacre e tiveram que se tornar invisíveis.

Em junho de 1943, o governo declarou Berlim livre de judeus, porém, 7 mil continuaram escondidos, e destes, 1,5 mil se salvaram. Entre eles, conhecemos a história de quatro jovens que, com muita coragem, esperteza e ajuda de alemães que eram contra o regime, viveram até o fim da guerra escondidos no meio da multidão.

O filme intercala dramatização e depoimentos dos quatro judeus já idosos dando detalhes do que viveram e sentiram enquanto lutavam por suas vidas, o que dá mais emoção quando assistimos as cenas. É quase como se pudéssemos sentir o cheiro das ruas, a dor da fome no estômago, o medo…

Paramos para pensar pela primeira vez naqueles que conseguiram fugir das câmaras de gás, mas, apesar disso, não estavam seguros. Eram obrigados a se esconder como ratos, colocando todos ao redor em perigo. Separados de suas famílias e sozinhos, caçados como animais a serem mandados para o matadouro.

Outra parte também muito interessante do filme é conhecermos essa outra face da história, o que nos faz ver que, apesar de sabermos tanto sobre o nazismo e o holocausto, ainda há muito a aprender. Como a história dos judeus que se aliaram aos alemães e entregaram outros judeus, tentando assim poupar suas próprias vidas, mas acabaram também capturados no final.

Porém, o melhor de tudo é ver que, mesmo no meio de um dos capítulos mais sombrios da História, também havia luz. Pessoas boas e dispostas a ajudar dando abrigo e comida, mesmo correndo risco de serem também mandadas aos campos de concentração como traidoras. Quando pensamos em nazismo, logo pensamos nos alemães e em como mataram milhões de pessoas inocentes, mas não pensamos em todos os outros alemães que eram contra isso e fizeram coisas para ajudar.

No filme, vemos um alemão rico que distribuía documentos falsos para judeus escondidos. Vemos um oficial do exército que ajuda duas moças judias as empregando em sua casa como babás de seus filhos. Vemos uma senhora que pinta o cabelo de uma das personagens principais para que ela possa se misturar melhor. Enfim, ao mesmo tempo em que vemos muita dor com todos os perigos e privações, também vemos esperança.

Para mim, a parte mais impactante no filme foi o final quando um dos personagens, o Cioma, já idoso, olha para a câmera com os olhos marejados e nos questiona: Por que eles fizeram isso com tantas pessoas inocentes? Isso é algo que eu nunca vou entender.

Ninguém pensava que aquilo um dia poderia acontecer. Ninguém esperava e, se isso fosse questionado alguns anos antes, seria visto como uma loucura. Mas aconteceu. E isso deve ser lembrado, estudado e questionado infinitas vezes para que o mundo não corra o risco de que algo assim aconteça de novo.

Se pensarmos em todo o contexto histórico, a Alemanha se encontrava em um colapso econômico após a derrota na Primeira Guerra. O povo estava desesperado e Hitler surgiu prometendo resolver todos os problemas e tornar a Alemanha uma potência próspera e bem sucedida, mas claro que alguém deveria ser culpado, o “bode expiatório”. Hitler conseguiu convencer toda uma nação de que esse “culpado” eram os judeus. Os alemães pensavam que Hitler poderia salvá-los. E nós conhecemos o resto da história.

Estima-se que 6 milhões de judeus foram mortos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Seis milhões de pessoas inocentes foram torturadas, queimadas, sufocadas em câmaras de gás até a morte, fuziladas, expostas a experimentos científicos grotescos, estupradas… Por serem consideradas inferiores e impuras só por serem judias. O Cioma não sabe por que isso aconteceu. E eu também não.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Marvin (2018)

Martin Clement, nascido Marvin Bijou, escapou. Ele escapou de uma pequena aldeia no campo. Ele escapou de sua família, da tirania de seu pai e da renúncia de sua mãe. Ele escapou da intolerância, da rejeição e do bullying que sofreu por ser apontado como “diferente”. Contra todas as probabilidades, ele encontrou aliados.

Primeiro, Madeleine Clement, a diretora do ensino médio que o apresentou ao teatro e cujo nome ele adotará mais tarde como símbolo de sua salvação. Em seguida, Abel Pinto, seu mentor e modelo, que irá encorajá-lo a contar sua história no palco. Finalmente, Isabelle Huppert irá ajudá-lo a produzir seu show e trazê-lo para a vida. Marvin/Martin arriscará tudo para criar esse show que representa muito mais do que sucesso: é o caminho para a reinvenção.

Marvin (Marvin ou La Belle Éducation), da diretora Anne Fontaine (Agnus Dei e Coco antes de Chanel), é um filme francês que chega hoje aos cinemas. Estrelado por Finnegan Oldfield, sua principal missão é chocar. Há um tema específico, mas, ao mesmo tempo, não há. É um filme sobre tudo e todos, expondo a hipocrisia humana e essa necessidade quase visceral que temos de estabelecer um padrão e permanecer nesse padrão, não importa o que aconteça. E eu não estou só falando sobre a homossexualidade de Marvin. Este não é nem de longe o choque da história.

Em uma aldeia no interior da França, um menino frágil comparado aos outros de sua idade sofre bullying na escola. Ele é perseguido e assediado porque decidiram que ele era diferente. Quando este menino chega em casa, ele encontra uma mãe que não queria muito estar ali e ser mãe, mas teve que ser para cumprir o que era esperado dela. Ele encontra um pai infeliz e insatisfeito. Ele encontra um irmão mais velho que pensa igual àqueles garotos que o perseguem na escola. Ele está sozinho. Durante quase todas as cenas do filme, vemos Marvin sozinho. Ou melhor, não totalmente sozinho, mas acompanhado de sua tristeza, sofrimento e incompreensão. Cenas silenciosas onde a dor nos olhos do pequeno Marvin diz tudo.

O filme começa com Marvin, agora chamado Martin Clement, como um ator de sucesso com uma peça de sucesso, aparecendo em vários programas de televisão, lançando um livro, enfim, ele chegou lá. Porém, com o decorrer das cenas, alguns flashbacks começam a aparecer, mostrando tudo o que ele passou para “chegar lá”. Definiram quem ele era antes que ele mesmo soubesse e decidisse o que ser. Estigmatizaram, julgaram, perseguiram… E ele estava sempre sozinho.

Até que a diretora do colégio, notando essa solidão, o indicou para o grupo de teatro da escola. E foi no teatro que Marvin encontrou sua válvula de escape, externando tudo o que estava guardado em seu interior por tanto tempo. Encenando seus pais, seu irmão, suas impressões de cada cena que ele havia presenciado. Aliás, a tão famosa peça de teatro que leva Marvin ao estrelato, a qual foi escrita, estrelada e dirigida por ele, nada mais é do que o retrato de sua família e sua vida, dotada de comentários e impressões pessoais, os quais, na época, ele não pôde expressar e, agora, usa o palco e sua arte para colocar para fora quem ele é.

Marvin é um filme intenso devido à sua verdade. Uma verdade nua e crua que choca e incomoda, assim como a maioria das verdades fazem. Quantos Marvins estão por aí vivendo a mesma coisa? Quantas crianças são perseguidas e humilhadas por não se encaixarem em determinado padrão social que definiram para elas? Quem definiu? Por quê? Quem tem a autoridade de definir como a vida de outra pessoa deve ser?

Por mais que o tema principal da história seja um garoto descobrindo sua sexualidade, Marvin vai muito além. Ele nos faz questionar sobre nós mesmos. Somos quem realmente gostaríamos de ser ou o que disseram que deveríamos ser? Somos como a mãe de Marvin que exercia um papel que não a deixava feliz, mas, nascida mulher, era o que “tinha para hoje”? Ou somos como aquela diretora que foi sensível o bastante para notar o sofrimento de um aluno no meio de tantos outros? Enxergamos os Marvins ou fingimos que eles não estão ali em pró do padrão maior? Assista ao filme, encare os olhos de Marvin e responda para si mesmo.

A mulher na janela
Livros, Novidades, Resenhas

Resenha: A mulher na janela, A. J. Finn

A mulher na janela, de A. J. Finn, publicado pela editora Arqueiro, é o livro mais surpreendente que você vai ver esse ano e eu vou te dizer porquê. Vamos começar pelo autor que eu nunca tinha ouvido falar até o dia que recebi esse livro no evento da editora para livreiros e blogueiros e comecei a lê-lo.

A. J. Finn é formado em Oxford e já foi crítico literário em diversos jornais conceituados como o Los Angeles Times, The Washington Post e o The Times Literary Supplement. A mulher na janela é seu primeiro romance e já foi vendido para 36 países, está sendo adaptado para o cinema pela Fox e é número 1 na lista do The New York Times. Não é pouca coisa, né?

+ Especial: Conheça A. J. Finn

Continuando, bem na capa do livro, já temos a seguinte frase: Não é paranoia se está realmente acontecendo. Instigante. Aí, você já começa a leitura com essa pulga atrás da orelha. Existe a paranóia? Não existe? E se essa frase foi colocada ali só para me confundir? E se não foi? Você vai enlouquecendo um pouco no processo, mas é normal.

O livro começa contando a rotina da Dra. Anna Fox, uma psicóloga infantil que sofre de Agorafobia, medo de lugares abertos. No caso, a Dra. Fox sofre fortes crises de pânico e ansiedade quando é exposta a espaços fora da sua casa, mesmo que seja só o seu jardim. Na verdade, ela nem consegue deixar as janelas abertas ou se aproximar da porta da frente por saber o que a espera além daquilo.

Ela mora sozinha em uma casa constantemente fechada e escura, bebe muito vinho, é viciada em filmes antigos e seus passatempos incluem jogar xadrez online, orientar outras pessoas que sofrem de agorafobia em um fórum virtual e vigiar a vida dos vizinhos. Sim, munida de uma câmera com um super zoom e dona de uma casa de três andares com muitas janelas, Anna Fox sabe de tudo o que acontece em cada casa de sua pequena vizinhança, acompanhando a vida das outras pessoas que podem sair de casa e conviver em sociedade, tendo nisso uma espécie de distração e consolo, como se ela pudesse viver através delas.

Testemunha ocular de cada passo de seus vizinhos, Anna também vigia suas páginas em redes sociais, sabe onde trabalham, suas rotinas, quem vai embora e quem chega, enfim, nenhum detalhe escapa da sua super lente. É quando os Russell chegam. A família Russell composta pelo pai, a mãe e o filho adolescente rapidamente chama a atenção da Dra. Fox, afinal, era uma família totalmente nova para estudar. Ela teria que aprender a rotina deles, descobrir por que estavam ali, de onde vieram e o que faziam para poder integrá-los em seu pequeno reino particular.

Foi durante as várias horas de vigia que Anna começou a perceber algumas coisas que não se encaixavam e a se questionar outras que não conseguia entender. Por que o jovem Ethan estudava em casa, passava a maior parte do tempo parado diante do computador e parecia tão triste? Será que o Sr. Russell era um desses pais dominadores e abusivos? Por que a Sra. Russell só apareceu uma vez e, agora, ela não conseguia encontrá-la em nenhuma janela da casa?

Ao longo da descrição da rotina de Anna, vamos conhecendo mais sua história, como o acidente de carro que ela teve um tempo atrás e que desencadeou sua fobia, a fazendo viver longe do marido e da filha. Vamos vivendo junto com ela o drama das pessoas do fórum que desabafam suas próprias situações e o drama dos vizinhos que Anna continua vigiando.

Até que a tal Sra. Russell aparece em uma situação em que ajuda Anna em um ataque de pânico na porta de sua casa. As duas passam horas conversando, coisas são ditas ou insinuadas e o quebra-cabeça parece começar a se encaixar. Ou, pelo menos, era o que a Dra. Fox pensava antes de assistir Jane Russell ser esfaqueada bem de frente da janela de sua sala. Ali, na casa ao lado, no meio da madrugada e relativamente bêbada, Anna Fox não podia fazer muito mais do que chamar a polícia. E é aí que tudo começa.

Outra mulher aparece alegando ser Jane Russell e todos acreditam que Anna está delirando devido a sua grande quantidade de remédios misturados ao álcool. A partir daí, vivemos vários e vários capítulos envoltos nessa dúvida: Anna Fox viu mesmo o que disse ter visto ou tudo não passou de um delírio da sua doença aliado ao excesso de vinho? Ela conheceu mesmo Jane Russell naquele dia em sua casa ou fantasiou tudo aquilo por se sentir muito sozinha? Alistair Russell teria mesmo matado a sua mulher e colocado uma impostora no lugar ou eles são só uma britânica família comum sem nenhum segredo escuso?

Mergulhamos na cabeça de Anna, nos perguntamos junto com ela e duvidamos junto com ela. Afinal, seria A mulher na janela um emocionante thriller cheio de conspiração e suspense ou só os relatos de uma pobre mulher que enlouquece sozinha em sua casa depois de uma grande tragédia?

Volto à palavra que usei no primeiro parágrafo dessa resenha: surpreendente. Tenha certeza que sua opinião mudará várias e várias vezes durante essa leitura. Você duvidará de Anna, duvidará de todos os outros e duvidará até de si mesmo. Até que ponto algo é mesmo real e até que ponto não é? Quem conhece realmente os mistérios da mente humana e como podemos confiar 100% em tudo o que vemos? No fim, a frase que estampa a capa de A mulher na janela pode, afinal, ser usada como um norte e nos guiar para a verdade: Não é paranoia se está realmente acontecendo.

Soman Chainani attends the Fast Track during the 2010 Los Angeles Film Festival at EVO Lofts on June 24, 2010 in Los Angeles, California. (Photo by Valerie Macon/WireImage)
Atualizações, Cultura, Livros

Beco na Bienal: Especial Soman Chainani #14

Soman Chainani é fascinado por contos de fadas. Cresceu lendo essas histórias e assistindo às animações da Disney. Quando fez sua graduação em literatura inglesa e americana em Harvard, praticamente criou uma matéria para ele mesmo sobre contos de fadas e escreveu uma tese sobre o motivo pelo qual os vilões são tão irresistíveis.

Roteirista aclamado, é mestre pela Columbia University na área de Cinema (Direção) e foi ganhador do prêmio máximo da instituição, o FMI Fellowship. Seus filmes já foram exibidos em mais de 150 festivais ao redor do mundo, tendo ganhado mais de 30 prêmios de júri e público. Suas premiações como autor incluem o Big Bear Lake, o New Draft, o CAPE Foundation, o Sun Valey Writers’ Conference e o cobiçado Shasha Grant, concedido por um júri internacional de executivos de cinema.

Quando não está escrevendo histórias ou lecionando em Nova York, Soman é um jogador de tênis habilidoso e difícil de vencer (ficou dez anos sem perder um primeiro set!). Até que começou a escrever A Escola do Bem e do Mal. Agora, ele perde sempre. A série A Escola do Bem e do Mal conta com quatro volumes: A Escola do Bem e do Mal, Um mundo sem príncipes, Infelizes para Sempre e Em Busca da Glória.

Soman Chainani estará na Arena de autógrafos BIC dia 10 de agosto às 16h. Para quem não conseguiu pegar senha, não se preocupe, pois ele também estará no Estande do Grupo Autência dia 11 às 16h. Para essa sessão de autógrafos do Grupo Autêntica, é obrigatório ter o 4º volume da série e poderão ser autografados até 4 livros, sendo um deles o Em Busca da Glória. Já na Arena BIC, só poderá ser 1 livro, mas pode ser qualquer um do autor.

Site oficial do autor: http://somanchainani.net/

Colunas, Filmes

Discutindo o filme “Eu não sou um homem fácil”

Em minhas andanças pelo mundo da Netflix, me deparei com um filme francês que, pelo nome, já me chamou a atenção. Dei uma chance para o trailer e fui cativada de vez. Eu não sou um homem fácil não é o típico filme com que estamos acostumados. Ele choca, desconstrói, critica e liberta, e você vai entender por que.

De início, temos Damien, um homem que é o estereótipo do mundo machista. Assedia todas as mulheres, as diminui na empresa em que trabalha e só se preocupa em aumentar seus números de quantas mulheres conseguiu dormir no ano e o que fazer para superá-los no ano que vem. Até que, em um belo dia, ele bate a cabeça em uma barra de ferro que sustenta o nome de uma avenida, cai desmaiado na calçada e, quando acorda, todo o seu mundo está literalmente do avesso. Por que “literalmente”?

Bom, Damien acorda em um mundo onde as mulheres são o sexo forte. O matriarcado domina a sociedade, e os homens se tornaram o sexo frágil e sofrem tudo o que as mulheres do nosso mundo sofrem. Junto com seu melhor amigo, Damien passa pelo choque de se ver nesse mundo às avessas e nós rimos com a dificuldade que ele tem para se adaptar. Vemos também as críticas mascaradas de humor e nos chocamos com como as coisas realmente são difíceis para as mulheres.

Para mim, essa é a primeira questão do filme. As mulheres estão acostumadas com sua realidade. Estão acostumadas a andar com medo na rua à noite e a serem assediadas por estarem com determinada roupa ou por terem o azar de estar em pé em um transporte público no lugar errado. Estão acostumadas a terem que lutar por seus direitos todos os dias e já se armam todas as manhãs para enfrentar o machismo e preconceito que as aguardam quando saem de casa. Ou, muitas vezes, quando ainda nem saíram da cama. Porém, quando vemos essas mesmas situações acontecendo com homens, por algum motivo, isso nos choca mais, pois estamos tão acostumadas a vivenciar essas situações que deixamos de perceber como elas são cruéis e absurdas. Mas, quando assistimos, caímos na realidade.

A segunda questão é a necessidade de masculinizar a mulher sempre que ela é colocada em uma posição de domínio. Neste filme, acontece a mesma coisa. As mulheres andam sem camisa na rua, fazem xixi de pé, usam ternos e gravatas, cabelos curtos, etc. Já os homens fazem ioga, usam shorts curtos e echarpes, carregam bolsas e estão sempre chorando por tudo. Basicamente, Eu não sou um homem fácil, literalmente, trocou os homens e as mulheres de lugar. Para mim, em uma mensagem de que, para alcançar o respeito e a liderança, as mulheres devem ser como os homens, ou seja, só sendo como um homem para alcançar a igualdade que nós queremos.

Isso me incomodou profundamente porque uma mulher não precisa deixar de ser mulher para ser forte, capaz, líder e respeitável em sua casa, em seu trabalho e diante da sociedade. A mulher não deveria ser obrigada a se prender a nenhum tipo de estereótipo para aparentar ser mais inteligente. Não deveria ter que usar roupas masculinas para ser menos assediada. Ou ter que provar que é tão forte fisicamente quanto um homem para ser respeitada. Essa necessidade de diminuir e hostilizar o mundo feminino pode ser encarada como um tipo de dominação e chega a ser um tiro no pé porque, o que era para ser um filme de crítica contra o machismo, acabou sendo uma exaltação da cultura machista. Pois mostra que, para ser o sexo dominante, a mulher tem que se vestir e se portar como um homem, então, a cultura do homem em si não deixou de ser dominante. Só mudou o sexo que a difunde.

Porém, apesar disso, o filme vale a pena ser visto, ou melhor, deve ser visto. Deve gerar reflexão, discussão e seu choque deve circular pela sociedade, pois, enquanto estivermos discutindo sobre isso, estaremos nos armando de conhecimento e crítica contra a cultura machista, mas também, não contra a cultura feminina. Homens e mulheres são diferentes, porém precisam ser respeitados de forma igual, com os mesmos direitos e deveres diante da sociedade. Eu não sou um homem fácil traz o choque para iniciar essa reflexão e nos proporciona momentos de riso com a tão clichê dificuldade masculina de se adaptar ao mundo feminino, porém, não pode ser levado como uma cartilha, pois, em um mundo igualitário, nenhum dos lados deve ser oprimido.

Confira a crítica do filme feito pela Júlia do BecoLab AQUI

Guia da Bienal 2024: mapa, como chegar, o que levar e mais
Divulgação
Atualizações, Livros

Beco na Bienal: Conheça os espaços e atrações da Bienal do Livro de São Paulo 2018 #11

Está chegando a tão esperada Bienal do Livro de São Paulo 2018! Estamos animados? Sim! Estamos ansiosos? Sim! Estamos por dentro de tudo o que vai ter por lá? Eh… O Beco está! E a gente traz agora tudinho para você preparar a sua agenda de visitas, seu caderninho de autógrafos, o celular 100% carregado para arrasar no insta e aproveitar tudo o que a Bienal tem para oferecer!

Arena de autógrafos BIC

Aqui é onde vai rolar aquelas sessões de autógrafos com horário marcado e é necessário ter senha para entrar. As senhas estão sendo distribuídas progressivamente no site da Bienal, então, é só ficar de olho no dia que vai liberar a senha daquele autor que você sonha em conhecer e pegar no site: http://www.bienaldolivrosp.com.br/A-Bienal-do-Livro/Arena-de-Autografos-BIC/

Arena Cultural

Na Arena Cultural, serão ministradas palestras sobre vários temas muito interessantes pelos próprios autores que estarão presentes na Bienal. Tem Bela Gil e Marcos Piangers falando sobre maternidade e paternidade nos dias de hoje, um bate papo com Ziraldo e Maurício de Souza , Carina Rissi, Laura Conrado e Ana Beatriz Brandão falando sobre suas recentes obras e muito mais. A agenda também está no site, então, é só se programar direitinho porque tem para todos os gostos: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Arena-Cultural/

 Bibliosesc – Praça de Histórias

Uma biblioteca gigante e interativa, não há forma melhor de descrever esse espaço. Mediação de bate-papo com autores, contação de histórias, sarau, slam, conscientização ambiental… Nesse espaço, tem tudo o que podemos chamar de alimento para a mente. A agenda você também pode conferir certinho no site da Bienal: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/BiblioSesc-Praca-de-Historias/

Bibliosesc – Praça da Palavra

Semelhante ao que vai acontecer na Praça das Histórias, a Bibliosesc promove mediação de leitura, palestras e muito entretenimento literário na Praça da Palavra. Os horários também estão no site: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Praca-da-Palavra/

Cordel e Repente

Ao contrário do que o nome nos induz a pensar, este espaço não é só para declamação de cordel. Também vai ter lançamento de livro, palestras e, acreditem, oficina de ilustração de quadrinhos! Pois é, vale à pena dar uma conferida, né? A agenda está no site: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Cordel-e-Repente/

Cozinhando com Palavras

Cozinhando com Palavras já é uma área bem conhecida da Bienal há algumas edições e está de volta em 2018. Esta é a área dos livros sobre comida, não tem forma melhor de descrever. Cozinha nacional, internacional, palestras de chefs conceituados, donos de restaurantes, críticos gastronômicos, enfim, tudo que se tem direito quando o assunto é comida. Se essa é a sua vibe, se programe direitinho e aproveite porque a Bienal é para todos os gostos: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Cozinhando-com-Palavras/

Encontro de fãs

Somos todos fãs, não é mesmo? Pois tem um lugarzinho para nós na Bienal do Livro sim! Durante toda a edição terá encontros de fãs de sagas, temas literários, concurso de cosplay… Tudo que temos direito. Isso é ótimo para assistir uma palestra legal, conhecer gente nova e compartilhar a sua paixão de fã com outros que curtem o mesmo que você. A programação está no site e já adianto que eu espero encontrar muitos fãs de Harry Potter no encontro do dia 10: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Econtro-de-Fas/

Espaço do Saber

Nessa área, serão as palestras para educadores, para quem quer aprender mais sobre o uso da tecnologia no ambiente de trabalho ou ainda para quem gosta de uma vibe mais de alto conhecimento e reflexão. Pesquisadores, pedagogos e até o presidente da TV Cultura estarão por aqui: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Espaco-do-Saber/

Salão de Ideias

Como o nome já diz, aqui é para compartilhar e debater ideias. A solidão da mulher negra, a literatura policial no Brasil e como é ser mulher no mundo contemporâneo são alguns temas que serão discutidos neste espaço. Não dá para perder, né? Confira a agenda e se programe: http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao/Salao-de-Ideias/

Espaço infantil Tenda das Mil Fábulas

Bienal do Livro de São Paulo está homenageando em 2018 o emirado árabe de Sharjah. O Espaço Infantil da Bienal do Livro de 2018 terá o nome de Tenda das Mil Fábulas, por conta de uma obra bastante representativa na cultura árabe, o Livro das Mil Fábulas, conhecido no ocidente como o Livro das Mil e Uma Noites. Uma obra fundadora, que representa culturas e territórios, difundida por importantes escritores. O livro das Mil Fábulas partiu da oralidade, no século XIV e ganhou o mundo, portando em si diversos gêneros literários: narrativas noturnas, fábulas, crônicas, notícias e relatos quase históricos.

Nos 10 dias de programação, terá um projeto educativo, com narradores de histórias residentes – José Bocca, Anderson Barreto, Ana Luisa Lacombe e Lenna Mahule; além de músicos: o percussionista Carlinhos Ferreira e integrantes da Orquestra Mundana, grupo formado por refugiados de vários países, sediado em São Paulo. O educativo apresentará diariamente um repertório de atividades para crianças, bebês e público geral, das 9h às 18h. E também diariamente, das 18h30 às 20h, o grupo apresentará contos do Livro das Mil Fábulas ou Livro das Mil e Uma Noites, em adaptações de versões recontadas por diversos autores brasileiros, como Ferreira Gullar e Carlos Heitor Cony, acompanhados pela Orquestra Mundana.

O site da Bienal não diz se será necessário pegar alguma senha para a utilização de algum dos espaços ou se será por sistema de lotação, então, eu sugiro que você se programe e chegue cedo. Não preciso lembrar que a Bienal do Livro é um evento que movimenta milhares de pessoas e muita gente pode ter o mesmo gosto que o seu.

Acompanhe os tutoriais aqui do Beco para saber como chegar, o que usar e o que levar, faça a sua agenda com tudo que você vai querer fazer e quem você vai querer ver por lá com os horários certinhos e curta a Bienal ao máximo, afinal, a próxima é só em 2020.

Para conferir todas as informações, acesse o site da Bienal do Livro de São Paulo: http://www.bienaldolivrosp.com.br