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Emanuel Antunes

Atualizações

Crônica: Questão de rotina.

A reunião começou tranquilamente. O orador daquela noite era um vizinho meu, o Euclides. Nunca vi o seu Euclides tão bem vestido como ele está hoje. Uma camisa social azul claro, com listras finas, cabelo bem penteado e sob o braço um volume do Evangelho. Ele começou a falar;

“Meus irmãos, que a paz de nosso senhor Jesus Cristo esteja conosco hoje e sempre.

Todos nós respondemos em coro.

“Que assim seja.”

“Iremos abordar hoje o capítulo XV, ‘Fora da Caridade não há salvação'”.

Cada qual abriu seu Evangelho. Dona Mirtes passou alguns minutos procurando a página, até que seu neto sacou o livro e colocou na seção certa para a ocasião. Quando nos acomodamos, Euclides prosseguiu com a palestra. Foram belos sessenta minutos, todos prestando atenção, um silêncio absoluto. O relógio bateu oito e meia e quem iria tomar passe foi até a sala ao lado para entrar na fila. Eu estava bem ali, não queria ser mais uma e congestionar a fila, sem contar que ao chegar em casa ainda tinha um trabalho para digitar e enviar para o professor. Decidi por fim que seria melhor voltar para casa. Fui andando, até topar com o ponto de ônibus. Estava lotado e algumas luzes quase piscavam anunciando que a qualquer momento poderiam apagar de vez. Vi no meio das pessoas o meu vizinho, seu Euclides. Pensei em acenar, parabenizar pela palestra, dizer que gostei muito, mas ele estava concentrado demais olhando para o nada. O homem já tinha uma certa idade, mamãe dizia que ele era mais velho que ela uns vinte anos. Nas minhas contas isso dava cinquenta e alguma coisa. Mas lá estava ele de cabeça erguida, pensando em diversas coisas, imagino. Alguém foi se aproximando de seu Euclides, era um senhor que mal se aguentava em pé. Sua camisa pelo que consegui ver tinha alguns rasgões e seu rosto era invadido por uma barba densa.

O homem maltrapilho estendeu a mão para Euclides, ele respondeu com um olhar desconfiado. O homem continuou com a mão estendida, mas nada de Euclides lhe dizer nem que sim nem que não, até que o senhor encostou em meu vizinho, para tentar lhe chamar atenção. Seu Euclides renegou o ato se afastando do homem, lhe disse algumas palavras nada felizes que de onde estou não consigo entender.

O ônibus chegou. Bairro das Indústrias, 104. O meu. O de Seu Euclides, que apressado para fugir do velho correu e foi o primeiro a entrar. Eu subo quase por última, passo o cartão no leitor e vou andando entre o aperto do ônibus e o mal humor das pessoas. Acabo parando defronte a seu Euclides que naquele momento está observando a rua. Faço o mesmo, dou as costas para ele e fico olhando a lagoa, os prédios que a circundam, dez minutos se passam e o ônibus está mais lotado, não consigo mover nem um dedo do pé.

Alguém encosta em mim por trás, não para passar ou descer do coletivo, nada desse gênero, sinto uma mão tocando minha cintura e descendo até pressionar o lado esquerdo de minha bunda. Paraliso. Não sei como reagir, não consigo falar. Penso em gritar, mas ninguém acreditaria em mim. “Eu só resvalei em você, garota”, a pessoa diria. Penso em virar e bater no cretino, se for o caso de ser um homem, mas todos olhariam para mim como se fosse louca. Não sei o que fazer. Meu evangelho cai. O livro rola e vai parar ao lado do meu pé esquerdo. Olho para ele e vejo sapatos sociais pretos, vou subindo o olhar enquanto aquele toque vai ganhando proporções maiores, encontro uma calça também preta e a mais para cima uma camisa azul, com listras finas. Ele me faz ficar colada ao apoio de ferro do ônibus. Ninguém está vendo isso? Ninguém?

Minha parada está chegando. Aguente. Aguente. Cinco, quatro, três, um minuto. Quando penso em sair dali, poder correr para chegar em casa, a mão desgruda de mim. Aquele maldito corpo descola do meu.

Olho para frente e vejo seu Euclies descer, com seu livro debaixo do braço e um sorriso no rosto.

Eu descerei na próxima parada, é melhor. Chegarei em casa, dormirei, é melhor. Nada além disso. No fim, bem, eu não deveria estar ali, certo?

Certo?

Autorais

Autoria: Veredas

Tópico I (Louvação à Iansã)

E quando você disser não
Pois bem
Serei o sim que não se muda
E que o faça de erro
Que se transforme em transtorno
Que se jogue do mais alto prédio
Sou presente e não arredo
Sou todo um horizonte, e ai
Ai daquele que fechar os olhos
Os feche e nunca mais consiga abrir.

Tópico II (Dos filhos)

Derrubei os muros que nos transformaram em estranhos
Cada qual com seu dialeto, com seu mundo
Derrubei a mesmice que nos impossibilitava a dança
Mas você acostumou-se com o cativeiro
Não sabe viver além do que já foi visto
Acabei com sua crença
Com sua falsa alegria
Derrubei e despenquei junto ao pesado concreto
Melhor não por aqui ficar do que ser o seu
Quando você nunca desejou posses
Ser sua nova prisão
Sou sim a entrada para os carnavais que por ai vierem
Sou a cidade quando queima e clama
Grita por um pouco de paz
Paz essa que sempre foi tua
Mas és cega, minto, te fazes disto para ocultar os olhos atentos
a malícia escorrendo pelo canto da boca
Podridão de meus esforços
Motivo pelo qual morro a cada dia que passa
Os derrubei
Os levei cá comigo
Para o sem fim do inferno que me colocastes ao se libertar de ti.

Colunas

The Epic Battle: Roubaram minha paciência

Brasileiro é espécie prática, sabe fazer as coisas com uma rapidez sem tamanho. Pode conferir isso em qualquer esquina por ai, pergunte: O que nós fazemos pra resolver isso tudo? Simples, pequeno gafanhoto, saca as panelas, pede para as madames baterem bem forte e enxota a presidente para Cuba. É simples ou não é? Rápido, prático e sem todo esse estresse. E quem assume a coisa toda sou eu que falo, que bato panela, que digo o que bem desejo com quem me interessar. Petista, de Direta, de Esquerda, Comunista, Ista, Alquimista, tudo se resume a rótulos. Temos esse vício também, de definir as pessoas, dizer seus limites e o que devem fazer em nossa exemplar sociedade. Mas me responde, amigo que rotula, que destitui, que interpreta a constituição como se fosse a bíblia que você usa todos os dias em teus cultos para disseminar ódio, me diz, isso não cansa?

Me responde quando puder. Quando não estiver tão ocupado em olhar para o lado, não para si, de se importar com o que ocorre dentro das mansões ou nas favelas, quando tu conseguires parar de interferir onde não és chamado, só ai me responde e olhe lá, porque mesmo perguntando não garanto que esteja pronto para ouvir mais absurdos.

Suíça. Lugar bonito. Lugar bom para se visitar. Lugar excelente para se esconder dinheiro, não é verdade, camarada Cunha? Acho que não. Brasil, cheio de seu sincretismo, mas na mente de alguns amigos é o território excelente para uma reforma religiosa, cultural e social, mas o interessante, a reforma quem dita são eles e só. Que bela bancada, que belo monstro críamos. Não cito os defensores da ressurreição ditatorial ou os descendentes de Pedro, não cito porque roubaram minha paciência. Meu sono.

Vou contar o que ocorreu para que minha enorme calma partisse para outra. Não é de hoje, nada disso, é coisa antiga, coisa de mais de séculos. De lá de Boa Vista, até quem sabe Porto Alegre e para bem além, alguns morreram, alguns sumiram (Sim, puf), outros até hoje não conseguem assimilar o que é verdade, o que é medo, o que é terror, tudo isso por conta de uma tal liberdade, por conta de um terço de voz. Bem antes outros nem se importavam de sofrer dia após noite, tudo por conta dessa menina, bem mais bonita que Suíças e Franças, isso está enraizado desde quando pisaram “intrusos” em nosso litoral, mas pisaram e assim se fez Brasil. Brasil consciente de seu lugar e de onde consegue se erguer, país com um potencial fora do comum. Agora me diga, tudo isso para o que temos hoje? Para que homens que gritam por morte e intolerância fiquem desfilando, bancando vícios, furtando a sua, a nossa, a paciência de qualquer ser humano que bem pense? Faça-me o favor, paneleiro, monarquista, amigo de Médici, eu não sou pago para isso, e nem se fosse. Não aprendi a escrever para ficar calado frente a tais absurdos. Não jogue pedra no passado, nem manche o presente que trilho junto a tantos outros racionais. Não me venha com devaneios políticos que de nada ajudam a democracia. Juro que não queria citar “democracia” neste texto, pois é palavra que machuca o ego de certas pessoas, é palavra que não pode ser usada pois parece clichê, chiclete há eras mastigado. Democracia é tão mal usada que entrou no desuso.

Sem essa de solução prática, não existe, ficou claro entre os tempos, não criou-se um método para atingir milhões de uma hora para outra. Pensemos em projetos, algo que perdure e que mude não só as estruturas superficialmente, mas que afete as mentalidades. Parece que o gps foi desativado, ou gasolina acabou, vai saber, mas não saímos do lugar pois não temos nem motivação nem caminho para ir. Não se pode é querer regressar, quem isso desejar, volte sozinho, enfrente o passado, leve seus esforços e seus belos discursos para o escuro do passado e por lá fique, só assim recupero paciência, um pouco de alegria e quem sabe, por não ter que me estressar mais, deixo de escrever.

Atualizações

Crônica: Um estranho rapaz

Um primo meu, um distante, é escritor. Ele só vem aqui nas férias, nos fins de ano, vez ou outra. Chega e vai logo fazendo questão de não está aqui, sempre grudado a um caderno, geralmente eles são diferentes dependendo da época. Já vi de tudo, não sei porque ele ainda aparece, sai da sua toca, mas ele vem e trás presentes ainda mais, para mamãe, papai, vovó, para mim, um dos motivos para que eu não reclame de sua presença. Tenho raiva dele na maior parte do tempo, porra, não fala com ninguém, não escuta ninguém, para que ele serve então? Acho que é gay, provavelmente, não temos notícias de namoradas, é meio obvio, não? Se não tem namorada, tudo indica que tenha namorado, e se não tiver, bem, que merda. Tenho raiva dele porque não entendo a utilidade disso tudo, dessas noites sem dormir, dessas ligações que ele faz para conseguir apoio de editoras, para ver se alguém publica algo seu em um jornal, revista, bula de remédio.

Ocorreu que nesse final de semana, ele chegou. Dessa vez não trouxe caderninho, mas sim um notebook, o teclado manchado de refrigerante e algum doce que grudou ali e não saiu mais, a cara cansada, parece que morreu e não avisaram para ele  a hora do enterro. Um defunto desavisado, por ironia isso ocorrera em nossa família. Uma tia nossa morreu, até ai tudo bem, mas mandaram apenas o caixão. Ela era rica, tinha duas casas em Boa Viagem, uma em Cabo Branco e outras no interior de Pernambuco e da Paraíba, até apartamento em Salvador a mulher comprara, pois bem, assim que morreu fomos ler o seu testamento. Não deixava nada para seu ninguém, tudo seria doado, mas ela tinha um último pedido, um caixão de ouro. O infeliz já estava comprado, ela só queria que carregássemos. Lá foram todos os homens da família carregando aquilo às duas da tarde, era tão pesado que não notaram a ausência do corpo. Minha avó chorou por horas, minha mãe queria se jogar na cova. Dois dias depois alguém do necrotério liga para mamãe: “Esqueceram alguém aqui”. Titia faltou ao enterro.

Meu primo escritor chegou assim, andando porque era necessário. Estava perto de terminar seu segundo livro, ele dissera. O primeiro tinha sido publicado virtualmente, vendera poucas cópias e este foi obrigado a trabalhar em um bar. O que ele queria? Ficar rico vendendo livros? Pois bem, uma memória fraca ele tem, porque isso é Brasil, para se ficar rico é preciso diversos talentos, burlar as regras, ser a regra na mais verdade. Mas ele tem esperanças, quer ser o novo Assis, ou Amado, pra ele qualquer um serve, mas quer ser reconhecido. Está disposto a ficar semanas acordado, alternando entre banheiro e notebook. Emagreceu demais, por sinal, está parecendo que vai desaparecer, só não desapareceu ainda porque quem não ver aquela cara morta está cego por demais.

Vou passar o final de semana, titia. Ele disse. O infeliz vai ficar no meu quarto, se bem que quando ele cair na cama não levanta mais. No sábado almocei antes dele e voltei para meu quarto. Lá estava a criança ainda debruçado sobre o teclado. Vai comer, falei. Ele me olhou dos pés a cabeça e foi. O notebook ficou aberto sobre a cama e não consigo evitar a curiosidade. Não sou muito de ler romances como certas pessoas, mas folheio um vez ou outra. O título desse é “Navegar é preciso”, por Meu Primo. Leio o primeiro capítulo, ele ainda está almoçando. O segundo ,terceiro, quarto, lá se foram cinquenta páginas e estou boquiaberta em frente à tela. Para você que teve a sorte de não ler aquilo, vou contar o enredo. Um garoto se apaixona por uma garota, eles são primos. Eles transam. Ele mata a garota. Não sei se foi proposital mas a garota, a tal de Juliana, tem cabelos ruivos feito os meus, sua pele é igualzinha à minha, suas frases prontas, bem, criações patenteadas de minha pessoa. Meu primo voltou para o quarto.

Nervoso, vermelho, queria saber o que estava fazendo ali. Você leu meu livro, sua doente? Ele gritou. Olha quem fala, olha quem é o doente nisso tudo. Não li, respondi no mesmo tom, disse que estava vendo o facebook. Não sou boa em mentir, mas desgrudei do computador e pulei para o colchão estirado no chão. Anos depois ele publicou aquele livro, me mandou um exemplar autografado e tudo. Ninguém na família associou o quão real aquele livro era, o que tinha de verdade no plano de fundo, porque ninguém leu. Meu primo não vem aqui desde aquele final de semana, não sei o porque, mas acho que ele descobriu que eu tinha lido o início do livro, ou não sei, ele me mandou aquele negócio tempo depois. Mas foi divertido ver sua reação no domingo a noite, quando esperei todos irem dormir e começar a colocar em prática o que planejei. Vesti pouca coisa para dormir, entrei no quarto e ele me olhou. Voltou a focar no notebook. Cheguei perto dele, a atenção ainda era toda para o notebook. Empurrei a máquina para o lado e me agachei sobre ele. “Eu sou gay, pronto, é isso”, ele gritou. Veja bem, eu sei das coisas. Pensei que seu livro fosse retrato fiel das coisas, mas bem, uma vez  teria que errar para não parecer que a vida é algo controlável. Os anos passaram, o dinheiro foi se acumulando, meu primo virou aquela tia. Mas existe uma coisa no mundo chamada jornalista, e jornalista é ferrenho, não sei porque não me procuraram antes, mas um dia chegaram por aqui. Câmera, repórter e a pergunta que todos os leitores daquela criatura queriam fazer: Você é a prima do livro? Vocês tiveram um caso? Bem, não se deve mentirar na televisão, disse sorrindo para a câmera. Meu primo é gay, não tem prima alguma.

Mas meu primo era vergonhoso, era cheio de seus segredos. Contratara até uma mulher para fingir ser sua esposa em frente aos flashes que recebia todo santo dia. Fui invejosa sim, queria mostrar que ele era mentiroso sim. Uma pena isso ter custado as décadas que eu ainda poderia ter pela frente. Pois em um final de semana desses ele voltou para a casa de mamãe, eu também estava lá, ele veio com uma arma e brincou de ser realista. Fez de fantasia, retrato da verdade. Meu primo é dos bons, sabe como terminar uma boa história.

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The Epic Battle: O identitário de um homem sem lembranças

Um questionamento surgiu em meio à aula, qual a necessidade de um mártir? Porque um povo se apega tanto a dados históricos que de nada parecem servir, que só são informações adicionais em pesquisas? A resposta é simples: Porque sim.

O zumbar de tambores, o bradar de espadas, o registro apressado de um qualquer que tornou-se grande, é assim que se constrói o panorama suficiente para ao menos resguardar pessoas ao redor. Tudo influencia nas questões políticas, tudo converge para esse ponto, não me diga que existem esferas singulares, existe sim uma rede de informações, a qual estamos inseridos e sem ela não conseguimos achar significância na existência. Veja bem, existiu uma época em que foi necessário captar a essência de um Jesus mineiro, foi preciso construir essa imagem de um mártir surreal, um homem que nunca existiu, para que no fim se justificasse uma causa, para que tivéssemos o que outros tem. Transformaram pessoas escravizadas em guerreiros estupendos, que se pudessem usariam até armaduras, ergueram-se monumentos em prol destes homens e mulheres, mas me diga, para que? Isso na mente do desavisado não influencia em nada, o presente aparente ser intocado por tais fatos, de nada serve, a política não usa essas justificativas, a economia não funciona por conta desses heróis e deuses, a educação não é guiada por tais premissas. O inocente assim pensa.

Para que existisse uma revolta, criou-se o centro motivador, para que chamassem esse território de república, convocaram Marianes, para que a monarquia caísse tiveram que se apoiar em teorias de outros. Somos a cópia, não é agradável ser a cópia. Por esse motivo e nenhum outro o homem deseja ser a primazia, deseja ser o primeiro a habitar este território, deseja ser o inventor do avião, de tal religião, da poesia, deste tipo de poesia. Se não temos lembranças, por mais que sejam falsas, não temos nada no que se apoiar. Ao falar em política, falasse com toda a vontade que inconfidentes já tiveram, usa-se todo o sangue derramado por filhos de Olindas, se resguarda em qualquer resquício de tupi guerreiro, de Xavante indominável. Percebeu? A memória é essencial em qualquer situação, se não existe um ideário, uma referência, não se existe.

O romantismo usado nas diversas obras atuais é tremendo, ele está revestido por diversas camadas de contemporaneidade mas ainda resiste em qualquer história. Das sagas internacionais até os livros, os novatos, de nosso país. Não se escreve uma palavra bem dita sem um pingo de amor e ódio no coração, nem que seja um resquício, lá está presente na produção literária, fale-se de tragédia, alegria ou desprezo, é intrínseco e muitas vezes não percebido, digamos que a maioria dos escritores não desejam passar tal imagem, mas passam, só basta um olhar específico, um olhar não traumatizado ou enjaulado pela máquina internacional. Não se constrói boas obras ao se limitar à fronteiras, isso é óbvio, não se faz uma história convincente se ficarmos brincando de admirar Clarices ou Vinicius e apenas esses, se entrincheiramos o conhecimento ele acaba por não servir de nada, é necessário sim uma visão geral das coisas, um tatear abrangente ao procurar escrever, mas existe um porém, nesse porém vive a balança cultural de muitos. Quando está pende para o de fora um problema pode sair das páginas, devorar o leitor e transforma-lo em só mais um no meio de tantos, persuadidos por uma política de que não é necessário ser o primeiro ao habitar o continente, que isso de encarar o histórico não é primordial para se entender, que conceitos de nação e país são apenas conceitos e de nada influenciam. É perigoso transmitir ideias, principalmente quando nessas ideias prevalecem uma síndrome de vira-lata, de tolo desinteressado.

Não somos os coitados, os bestializados, nunca fomos. O problema não está em ser ou não ser, mas em querer transformar-se, em desejar ter aquela face. Não se engane, deixe de ilusões, você nunca terá um sangue uno, nunca será alvo como seu consciente, poluído de névoa impenetrável, você é o aglomerado de idades, de tragédias, você, ao tomar a verdade para si acabara percebendo que sempre foi a vitória. O resultado de construções que despencam mas que emergem por serem o que são, o que sempre foram. Você vive a memória, aceite.

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Crônica: O átomo

 

          Tudo passa por ali. A banda, um samba popular, qualquer que seja o você, mas por ali passa. E todos comentam, diga-se de passagem, falam aos montes sobre qualquer que seja o assunto. Logo assim que um tema é lançado, as crianças se jogam como se fosse dia de Cosme e Damião e começam uma briga para decidir quem é quem, e quem, no meio de todos aqueles é o dono da razão. Não existe filosofia capaz de barrar uma mesa de bar. É lá que surgem os grandes escritores, os pensadores de uma época, é na mesa de bar onde se fala sobre política, futebol, amor e economia. É na mesa de bar onde a criatura se liberta, dizendo o que pensa e muitas vezes sendo julgado por isso, mas faz parte da mesa de bar. Faz parte do mundo. É sexista, essa tal mesa de bar, não permite muito a inclusão de outras pessoas, mas também nada apresenta contra elas. Ai, esse discurso já ficou gasto.

          Mas a mesa de bar significa bem mais que uma oligarquia, um conceito antigo de “conversa jogada fora”. Digo pois fiquei surpreso certa vez com uma dessas por ai. Era terça, o sol fazia questão em deixar tudo ainda mais angustiante, as pessoas se estressavam com qualquer erro, xingavam quem quer que fosse. Não era um belo dia. Mas tive uma miragem, avistei, de minha casa mesmo, uma mesa de bar. E lá todo mundo era espontâneo, todo mundo soltava o verbo e ele nem estava no principio, foi posto ali porque era necessário. Alguns até se arrumavam para ir à mesa de bar, eu, vestido da pior forma possível como sempre, fiquei intimidado, mas aquele homem era único ali. Só ele usava terno e gravata (Em uma mesa de bar). Toda a áurea que circundava aquele lugar era bem mais que curiosa, as pessoas não paravam um só instante, um fluxo de assuntos imenso transcorria naquelas mentes. Se você chegasse e sugerisse algo não ficava por menos, tal sugestão entrava na corrente e se misturava ao ritmo da mesa de bar.

           Não precisa beber não. Mas beba. Ou não. A mesa de bar ensina, o bom e o ruim. Mostra que dentro de mundos existem outros, e nesses outros mundos, bem menores, coexistem e por ai vai, até chegarmos ao bendito átomo. Ai está, até o átomo é assunto de mesa de bar. Mas onde estávamos… ah, claro, a terça sem humor. Tudo ao redor da mesa de bar era um caos, um acidente acabara de ocorrer na rua e em primeira mão o dono do bar já contava claramente o que havia acontecido: “O cara vinha na contra mão, a dona não teve culpa, tava acabando de sair da carage, deu ré e pá, voou junto com o outro. O bestalhado capotou, acabou caindo na pracinha como vocês tão vendo, já a dona foi pra o hospital, ela e o marido. O menino que tava no banco de trás, pois é, não tem mais menino…”

           “Morreu?”

           “Porra nenhuma, pulou antes que o outro carro batesse!”

            “Mas perai, menino, deixe de frescura!” fez questão de observar Adão.

           “E eu num to dizendo. Se eu to dizendo é porque é verdade!” continuou o dono do bar “O pirraia, tem uns doze anos, cês sabem, pulou até a outra porta, conseguiu abrir e se jogar pra rua, foi quando o carro bateu e os dois, eu digo os dois, passaram voando por cima do menino. Adivinhe, macho, adivinhe quantos arranhão o menino levou?”

             O bar todo em coro falou:

            “Nenhum!”

            “Como vocês sabem?”

            Ombros se moveram e por essa ficou.

            “Pois então, agora eu vou na cozinha ver se a carne ta pronta. Eu tava cozinhando na hora do acidente!” E lá se vai o dono do bar, para sua cozinha sem visualização alguma da rua.

               Lá do outro lado da rua, consegui ver, mesmo que me esforçasse muito para enxergar (a idade começa a não me fazer bem), quatro mulheres, elas debatiam com todo gosto, gesticulando loucamente. Andei disfarçadamente até um ponto próximo, ali conseguia ouvir um pouco da conversa.

               “Bateu, e com força!” disse uma moça de cabelos encaracolados.

               “Mas não me diga, e o menino?”

               “Disseram que foi pra o hospital, ele ainda conseguiu sair do carro, mas quebrou o braço na queda. Coitado do menino!”

               “Mas não me diga!”

               “Digo sim!” confirmou a outra.

              No fim eu não sabia a quem ouvir, em quem acreditar, mas a verdade é, naquela manhã quem dirigia era meu pai. O moço do carro, o que causou o acidente, nem teve culpa porque foi problema do veículo, minha mãe nem da cama saiu, pegou uma gripe daquelas e eu, bem, eu estava sentado ali, a vista de tudo e de todos, mesmo que ninguém me visse, na problemática mesa de bar.

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Crônica: Caçador

Há quem diga que a bondade seja a responsável por acordar o homem, lhe fazer gritar e sinalizar o seu nascimento. Há quem diga. Tenho outra teoria, muitas outras até, mas a que prevalece entre tantas essas é a que não seria a bondade ou o suspiro de um deus todo poderoso, creio, que por mais rude e inocente que possa parecer, o drástico momento do nascimento liga-se diretamente com o medo. Caminha ali, lado a lado desde a corrida do espermatozoide, bravo espermatozoide. O medo está ali, presente, a partir que o feto encara seus primeiros dias. A mãe teme. O pai. Toda a família. E se for indesejado, ai meu caro amigo, misturam-se os sentimentos. Remorso, raiva, ódio, mas sobre todos eles fica o medo. Medo de ter raiva o suficiente para matar aquela criatura. Medo que a criatura tenha raiva o suficiente e quem saiba mate sua portadora. Medo de que o animal sinta medo e assim cria-se uma enxurrada de receios, de apostas. Não se aposta na vida. Se aposta sim, na morte e só nela. Tão mais bela é a morte. Serena, sem medo, mentirosos são aqueles que dizem temer a morte. Mas que nada, eles temem o que vem além dela, mas a morte em si, só ela e nada mais é o ápice da vida. Todo um filme passando em sua mente, toda uma cronologia, os amores, as rivalidades, a raiva, o ódio, o remorso. Diga-me, qual a diferença entre nascimento e morte? Qual a razão para comemorarmos um e entrarmos em luto por conta de outro? Faço-me essa pergunta todo maldito dia e todo ele não me aparece com a resposta. Respostas é o que tenho e por ter tantas essas fico perdido nessa lacuna entre vida e morte, entre rebento e alento e não sei para onde ir. Tenho medo. Medo de que chegue o momento tão sorridente da morte e a resposta não me venha. Creio, que quando tal hora chegar trará consigo o preenchimento desta lacuna. Eis outro motivo para adorarmos a morte, encararmos como um acontecimento digno de linha do tempo em redes sociais. Mas não queremos morrer, não é verdade? Temos medo. Medo de não aproveitar tudo isso, nessa lacuna que a pouco me referi, essa lacuna chamada pelos mais felizes dos poetas de: existência. Tolos. Que existência ardilosa é essa que nos presenteia com dúvidas? Não necessito de mais dúvidas, não mais. Tenho medo de não ser aquilo que espero, que almejo, de não marcar a cronologia de outros, de não ser símbolo ou modelo. De que interessa, de que serve ser modelo? De nada por sinal, mas quero. Queremos. Quero ser visto como aquele que um dia conseguiu enxergar algo, e em minha cegueira, em minha busca incansável pelo nome estampado na mente de quem puder, não sou nada. Sou terra batida, pisada por centenas, por milênios de procuras, por anos e anos de não respostas. Sou tudo isso que me dá medo. Não me conheço, por isso mesmo temo. Não vos conheço, um motivo a acrescentar. Não tenho medo do medo, isso seria racional até demais de minha parte. Tenho medo de quem sente medo. Tenho medo de mim.

Livros, Resenhas

Resenha: Difamação, Renée Knight

Livros transformam. Te fazem acreditar em tais coisas, te induzem a criar, livros são perigosos. Knight nos joga nesse emaranhado de vozes, nos cospe em um debate frenético entre sanidade e loucura, em seu romance de estreia Renée desbanca renomes. Iguala-se a estes.

O cotidiano de Catherine assemelha-se ao de qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Trabalho, casamento, filho, cansaço. Uma tela em branco que acaba sendo manchada nas primeiras páginas. O leitor perdeu sua zona de conforto em instantes. De início encaramos a Sr. Catherine Ravenscroft com diversos olhos, na verdade não queremos encara-lá de tão enfadonha que parece ser. A mulher deixa que seu misto de insegurança e medo transpasse os parágrafos e ninguém deseja sentir tais coisas, do mesmo modo que somos forçados a bel prazer a não desgrudar da obra. O livro que mudaria a história de Catherine tem como título “O Completo estranho”. Ele apareceu ali, no meio de suas coisas, entre as caixas da mudança e a falta de paciência para abri-las.

“É preciso coragem, certo? Para tirar a máscara e ver quem realmente somos.” (Pág. 222)

“O Completo Estranho” reserva surpresas, tanto para a leitora quanto para seus observadores. Catherine logo se dá conta que o que ali está escrito há anos se desgrudara das folhas, há décadas ocorrera friamente e por alguma razão fora aprisionado em mais de duzentas páginas. Propositalmente. Um livro não se escreve sozinho, assim como pessoas não se jogam no mar a toa. Catherine encara um labirinto, encara e é destinada a ele, mesmo que tema perder-se, mesmo sabendo que irá se perder entre os arbustos. Como está bem definido na sinopse do livro:

“Catherine Ravenscroft chegou à meia-idade levando uma vida perfeitamente normal: é casada, tem um filho, ama o emprego, gosta de ler nas horas vagas. Agora que o filho cresceu e seguiu seu próprio rumo, ela e o marido decidiram se mudar para uma casa menor. Em meio ao caos da mudança, Catherine encontra O completo estranho, um livro que não se lembra de ter comprado. 

Intrigada, ela inicia a leitura, mas logo se dá conta de algo terrível. O que está ali não é ficção. A narrativa traz, com riqueza de detalhes, o dia em que Catherine se tornou refém de um segredo sombrio. Até então, ela achava que ninguém mais sabia o que havia acontecido naquele verão, vinte anos antes. Pelo menos ninguém ainda vivo.

Agora o mundo perfeito de Catherine está desmoronando, e sua única esperança é encarar o que realmente aconteceu naquele dia fatídico. Mesmo que a verdade possa destruí-la. “

O segredo que guardara por anos começa a ser revelado, lentamente, assim deseja o autor, a pessoa que apropriou-se de histórias alheias para aterrorizar. O mistério perdura até a última página, mesmo que tudo aparente ter sido revelado. O mistério continua vivo até mesmo após a conclusão da leitura, é algo agonizante o que Knight provoca. Os temas são lançados, navegamos do erotismo até o egoísmo, entramos na mente de adolescentes, de maridos inseguros, de filhos ignorados, é um embate filosófico sobre existência e o porque de nunca conseguirmos aproveitar tal. A autora vai até o cerne humano e crava suas unhas por meio das palavras, meticulosamente escritas e planejadas, provocativa ao extremo, Renée Knight faz o que os escritores conseguem forjar melhor: Ela atua com diversas faces, ela é e não é ao mesmo tempo seus personagens, lhes dá forma e os deixa viver nos múltiplos universos que suas mentes produzem.

“É incrível como a raiva dá forças a alguém.” (Pág. 24)

A temporização usada na obra é um ponto a ser ressaltado. O tempo presente da narração é 2013, mas constantemente vamos até 1993, ou 1998, por questões necessárias, nada como visto na maioria dos livros onde essas viagem temporais só surgem para acrescentar pontos que nem deveriam existir ou para impedir lacunas. Knight acerta em tudo, e isso é raríssimo, posso identificar um dia quem sabe erros neste livro, em uma terceira ou quarta leitura (pois é impossível ler uma só vez esse romance), mesmo que ache isso uma tarefa dificílima. A edição da Suma de Letras é impecável, da escolha do papel até a diagramação da obra. A capa permite que o leitor faça suas escolhas, assim como o livro, sobre o gênero e sobre do que se trata. A tensão começa a partir dai, o romance é mascarado, sombrio e calculado com uma frieza monstruosa.

“Há de parecer um acidente, e Catherine sabe com que facilidade os acidentes acontecem.” (Pág. 55)

Catherine parece ser o centro das atenções do enredo, surge como a esposa com um passado enevoado e como mãe displicente, é essa a imagem que temos por páginas e páginas. Com o andar das coisas fica explícito que Catherine nada mais é que uma peça entre tantas, que no tabuleiro ela se encarrega de ser a rainha, cercada por torres, bispos e um rei que necessita das mais variadas proteções. Seu marido, assim como se referiu ao próprio o autor de “O Completo Estranho”, é uma ponte entre a mulher seu filho, Nicholas. Mas pontes, quando feitas as pressas, desabam.

“E, com ela ao meu lado, não será preciso muito para levar essa espécime débil até a beira do precipício. Só preciso alimentar seu lado sombrio e levá-lo a um ponto sem volta, deixá-lo, equilibrando-se na beirada.” (Pág. 163)

O responsável pelas mudanças na vida rotineira da família Ravenscroft não demora para mostrar sua face. Não fica no escuro ocultando suas origens, suas histórias e seus desejos. Ele é melancólico na maioria das vezes e seu caráter saudosista o cega em diversos momentos, mas também o alerta no menor indício de perigo. Portador de segredos, o homem (Sim, ao menos isso posso revelar) a vida de alguns em um inferno com direito a seus nove níveis. O interessante é que em seu estado de ódio, o sujeito, por mais que tente evitar, acaba se perdendo. Acaba mergulhando neste inferno, cria sua, e ardendo nas palavras que por raiva incontrolável disparou. Sua trama difamatória nos conduz para desfechos eletrizantes. Os pontos finais da autora queimam.

“Difamação” é atípico, guiado com a sutileza de uma escritora sarcástica, levado para as livrarias com o ar que merece e que atinge a qualquer leitor. Do início ao fim a missão que Knight destinou a si mesma é cumprida, a crueza de seus capítulos surpreendem o mais bem avisado. Nada ocorre por motivos do destino na obra, a concha vai aos poucos unindo suas pontas até transformar-se em uma gigantesca rede de informações, uma rede traiçoeira, munida de verdades sobre tudo e todos. Uma partícula de humanidade foi injetada no romance, provocando assim o surgimento de muitas outras. Fica claro que não se deve, nem na mais segura situação, confiar.

Atualizações

Crônica: Dos devaneios, das intrigas, da falsa filosofia

Nem me pergunte de onde venho e para onde vou, não saberei te responder, nem se quisesse. São demasiados os caminhos, são gastas as correntes que me querem impor, a podridão do arcaico desnecessário, a pureza do arcadismo. Carpe Diem, gritou de lá, do monte. Ah, o monte.

Era quarta, linda quarta por sinal. O ônibus disparava por sobre os buracos da BR, corria como se fossemos os mais apressados ali. O motorista desbravava seu medo e o nosso, mas que medo, acidentes não ocorrem, não é verdade? Até morrermos, até ai, nada. Mas estávamos no monte. Ali, no cruzamento das diversas estradas, se encontrava um monte, um pequeno monte em meio a uma vasta planície, uma das portas para o Recife apressado, assim como o motorista. De longe nada se via naquele monte, nada mesmo, pois a tarde se despedia inocentemente, contrastando com os veículos que ali passavam ela caminhava, lentamente, até onde fosse sua casa. Mas fomos nos aproximando, e mais, e mais, até que ficou evidente. Um menino, de no máximo doze anos sobre aquele monte. Que belo monte. Foram poucos segundos de visão, mas desde aquela quarta a visão persiste. Segundos eternos.

O garoto estava sobre o monte, observando diversos ângulos, em pé, altaneiro, sem mover-se por mais impressionante que fosse. Seu calção esfarrapado, sua cabeça quase sem cabelo, seu peito negro exposto ao vento e à sorte. Que coragem a do menino, que coragem. O ônibus começou a tomar outros pontos da estrada, a girar, a criar um filme em minha mente, pois a cada imagem deixada para trás, uma nova se formava evidentemente, e lá, bem ali sobre o monte, continuava o menino. Sobre seu braço esquerdo, uma pipa, como plano de fundo o mundo despencava em uma vermelhidão proposital. Partimos. O menino ficou.

Eu daria tudo para parar ali, ficar junto ao menino, lhe fazer diversas perguntas. Não as digo aqui pois você não é o menino (Não é, certo?). Porque, menino? Porque ficar ali, se tantos alis existiam, porque logo ali? Essa eu faria para qualquer um, substitua o menino por uma pessoa, pense em tal, agora lhe faça essa pergunta imaginando o “ali”. Porque? Só me diga, as coisas poderiam ser diferentes, não?

Tudo poderia ser diferente. Eu poderia muito bem ter passado ali sem que o menino estivesse lá, poderia não ter mirado toda aquela pintura, a qual pensei por horas não ter sido real. Tão bela, tão verdadeira. O menino, o menino pode não existir neste instante, ou pode não ter existido. E se eu quisesse ter visto aquele menino, bem ali, bem naquele momento? E se passamos horas e horas imaginando meninos, imaginando que a vida pode ter seus traços modificados sem prévias, sem horários marcados? Me diz, menino, me diz porque poucas coisas podem causar tantos estragos, me explica o porque de tudo isso existir, mesmo que eu não tenha visto início e nem verei fim, me fala.

Não sei, como falei, nem me pergunte, de onde venho nem pra onde vou, pois nunca responderam. Por mais que grite, por mais que implore por respostas, nenhuma, nem um mísero sussurro. Nem o homem, nem o bem, nasceram para a reciprocidade, nem as perguntas, muito menos as respostas. Reciprocidade resguardasse para as estantes e seus livros, para as livrarias e seus viciados, para o mar e o rio, para o menino e o monte.

Música

Café no Beco #3: Toca Raul!

Era um 21 de agosto. Faz tempo, muitos não lembram. Mas nós lembramos sim e não pode passar assim, como se não significasse nada. Partia em mais um de muitos discos voadores, partia, Raul. Movimentou gerações, movimentou ideais. Atrevido, o moleque, muito atrevido. Os anos passaram, Raulzito e cá estamos, relembrando teus feitos, teus erros, tua pequena trajetória. Era um 21 de Agosto, é um 21 de agosto, e de lá, lá do fundo, do fundo mesmo, se escuta alguém gritar: Toca Raul!

O Beco toca.

10 – Eu sou egoísta

http://https://www.youtube.com/watch?v=KnYRQowDrWg

 

9 – Como vovó já dizia

http://https://www.youtube.com/watch?v=wsNkL0LLFWw

 

8 – Eu também vou reclamar

 

7 – O dia em que a terra parou

 

6 – Cowboy fora da lei

 

5 – Meu amigo Pedro

 

4 – Sapato 36

3 – Eu nasci há dez mil anos atrás

https://www.youtube.com/watch?v=AQJi8EJuhMo

 

2 – Gita

 

1 – Sociedade Alternativa