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Emanuel Antunes

Reviews de Séries

Review: How to Get Away with Murder 1×11 – Best Christmas Ever

Já era de se esperar, graças ao que vem apresentando, que How to Get Away With Murder não persistiria com a linha “Assassinato de Sam”. Para não tornar a série batida, episódio após episódio nos é oferecido um novo caso, no 11º uma verdadeira “História Americana” é adicionada à trama. Tudo começa quando uma mulher, que na visão de Annalise nada mais era do que uma bisbilhoteira, decide convocar a advogada em sua defesa. Jackie, que pousara no escritório de Keating como quem aparata, coloca algumas de suas cartas na mesa, relata os crimes do marido e confia na situação para conseguir um apoio no tribunal. Como ocorrera no caso de Rebecca, a professora assume tudo às cegas.

O episódio é dividido em quatro polos. O primeiro é a chegada da irmã de Sam que busca de todas as formas obter a verdade no que se refere ao professor de Middleton. O segundo foca o drama dos aspirantes a advogados que vivem o famoso drama pós-assassinato. Neste caso quem ganha certo destaque é Wes com seus pesadelos constantes. Graças a flashbacks podemos observar a tensão que permeia os estudantes. O terceiro polo é destinado ao crime já citado, onde Jackie, a mulher que pedira asilo a Annalise, oferece diversas faces. O quarto e último tópico a ser debatido no episódio é o pendulo entre “revelação” e “desaparecimento”. Sam nos dá o ar de sua graça mesmo estando morto, queimado, dilacerado e com seus braços e pernas jogados em uma lixeira qualquer. O telespectador sofre com as três situações anteriores a essa, teme o que está por vir.

Por ser a revelação de 2014, How to get Away with Murder promete sacudir o primeiro semestre, mesmo com a chegada das novas temporadas de Bates Motel e Game of Thrones, a série deve figurar como uma das maiores audiências dos EUA. O episódio 11 mantém a linha, não tão revelador quanto os episódios entre o 8º e o 10º, mas com qualidade idêntica. HGAWM não se perde no labirinto das séries de seu estilo, hoje é referência.

Atualizações

"Animais Fantásticos e Onde Habitam" ganha sua primeira chamada para elenco.

Como ocorrera nas adaptações de Harry Potter, os atores que possuem chance de ingressar no elenco de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” devem ter nacionalidade Britânica (Em Harry Potter tivemos a exceção de Emma Watson, que nascera em Paris). Fora anunciado que as gravações do primeiro filme sobre Newt Scamander começarão no mês de Agosto deste ano. Também nos fora agraciada a informação de que Newt apresentará 23 anos na época em que a história irá transcorrer. As filmagens serão feitas em Nova York e Londres.

Existe um risco, como destacara Heyman, de não existir a continuação para o primeiro volume de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, no caso da bilheteria não corresponder à expectativa. A responsável pelo elenco é Fiona Weir, a mesma comandara a escolha do cast de Harry Potter. Com data de estreia para 18 de Novembro de 2016 e roteiro original por Joanne Rowling, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” desfila, por hora, entre mistérios.

Colunas

The Epic Battle: Weasley, Éponine, Mulan e quem quiser

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem. Somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” Simone de Beauvoir

“Não devo nada ao movimento de libertação das mulheres. As feministas odeiam-me, não é? Não as posso culpar uma vez que odeio o feminismo. É puro veneno.” Margaret Thatcher.

Anos e anos de luta constante. O movimento feminista carrega milhões desde meados do século XIX. A ONU, no segundo semestre de 2014 lançara a campanha “He for She”, usando como porta-voz e embaixadora a atriz Emma Watson, que nas telas já fora bruxa, ladra, adolescente em crise e até personagem de épico bíblico. Fora dos cinemas, Watson defende ideais fortes com palavras simples. A jogada da Organização das Nações Unidas foi essencial para o sucesso do evento. Usar a atriz mais falada do século XXI como “garota propaganda” caiu como uma luva nas mãos do feminismo. Os jovens, que por mais de uma década colecionaram imagens de Emma, decoraram suas falas, o nome de seus parentes, seu nome do meio e até mesmo o seu endereço, hoje levantam o punho e gritam: “Women Unite”. Como dissera Victor Hugo: “Existe uma coisa mais poderosa do que todos os exércitos do mundo, e esta coisa é uma ideia cujo tempo chegou.” A era Feminista é a nossa; a literatura, o cinema e a música mostram isso.

A “The Epic Battle” desta semana colocará frente a frente personagens de ramos diferentes, de épocas diferentes, mas em sua maioria com pensamentos iguais. Conhecido mundialmente, o romance de Victor Hugo, o mesmo da frase citada acima, “Os Miseráveis” (1862), apresenta uma das melhores tramas da literatura francesa, e uma das melhores personagens também. A jovem Éponine, ao ver o povo cantado em plena Noite da Insurreição, ao ver as barricadas sendo formadas em uma França que almejava por sangue, transformara seu rosto. Éponine rasgara as roupas convencionais de uma mulher, derrubando as regras de uma sociedade que mesmo com seu ar revolucionário ainda persistia com ideais machistas, a adolescente vestiu-se como um homem e foi à luta. Éponine morrerá sobre os braços de Marius. Séculos após podemos fitar uma cena parecida. No filme da Disney, Mulan provoca tal impacto. Destinada ao público infanto-juvenil, a animação carrega consigo mensagens de puro feminismo de “Segunda Onda”. Nos livros, outra mulher também usa trajes masculinos, mais precisamente em “O Senhor dos Anéis”. Éowyn, sobrinha do Rei Théoden de Rohan, nascida na 3º Era do Sol, vai à luta mesmo contra as ordens e regras de seu reino. Um fato interessante é que na trama de Tolkien, Éowyn (disfarçada de homem) enfrenta o Rei Bruxo de Angmar, sobre ele uma profecia pairava, uma profecia de mil anos, a qual dizia que tal rei não cairia pela mão de um homem. Quando o Senhor dos Nazgûl introduz seu histórico em plena guerra, Éowyn retira o elmo e fala: “…Mas não sou nenhum homem mortal! Você está olhando para uma mulher! Sou Éowyn, filha de Éomund…”. É o estopim feminista em plena década de 50.

No especial “As Mulheres de Harry Potter”, afirmara Joanne Rowling: “Uma mulher pode lutar tanto quanto um homem. Pode fazer uma magia tão poderosa quanto a de um homem”. Em “Harry Potter” (1997-2007) as suas mulheres traduzem a ideologia do movimento Feminista. Molly Weasley, que criara seus sete filhos com toda paciência do mundo (ou não), revelou-se no último livro. Minerva, sem demonstrar sentimento algum, comandara um exército. Hermione Granger é a personificação da inteligência e ousadia. Tonks concilia o nascimento do filho com uma iminente guerra. As mulheres de Harry Potter representam a política igualitária, a política da libertação de dogmas. Voltando para o universo das animações, temos as garotas do “Let it go”. Frozen comanda a remessa de filmes da “nova Disney”, lado a lado com Elsa vem “Brave”. Está em alta construir princesas independentes, com rostos muitas vezes maquiavélicos, as produções se adaptam para vender.

Em poucos dias o filme “Cinquenta Tons de Cinza” chega aos cinemas, mesmo não aprovando a escrita e o enredo, defendo que E. L. James deixa clara a mensagem feminista também presente na história de Anastasia. Muitos discordarão mas em “Cinquenta Tons de Cinza” não é a subjugação que fica em destaque, mas sim o poder que a mulher apresenta sobre seu corpo,  é o território onde tal pode atuar ou deixar que outra pessoa atue. A vez dos mocinhos se perdera no tempo, a bola está com elas, independente do gênero. Arya Stark e sua Agulha provam isso, juntamente com a garota Targaryen e a rainha em decadência, Cersei. O combustível que move as engrenagens das artes de nosso século é feminista. Mas existe o outro lado, o machismo que persiste, por mais que escritores, produtores e tantos outros profissionais desejem retirá-lo de cena. Diferentemente de Katniss ou Tris, podemos observar no mundo das séries personagens dependentes, extasiadas frente aos acontecimentos, um exemplo vem de “Reign”. É típico das séries da CW inserir, nem que seja no meio da história, um triângulo amoroso. A adaptação da história de Mary Stuart, Rainha da Escócia, é um ultraje à memória da mulher que um dia comandara nações. Assim como acontece na série do mesmo canal, “The 100” nos apresenta outra personagem sem atrativos, que vez ou outra tem traços de independência, mas só em raros momentos. Clarke representa o antigo modelo de mulher, a que aguarda o avanço para poder pegar carona neste.

Na literatura o exemplo mais comum de anti-feminismo são as histórias de Meyer. Bella mais se identifica com uma dona de casa do século XX do que uma senhora de seu destino. Ela é espectadora, quando deveria ser protagonista. Sempre existirão os defensores e os reacionários, ideologias nascem para isso. Cabe ao bom senso levantar a bandeira que bem lhe couber.

Igualdade busca o feminismo que brotara há décadas, igualdade procura Emma com seus discursos. Não é sobrepor a mulher frente ao homem, é colocá-los em patamares idênticos. Presenciamos uma quarta onda, uma avalanche de informações que devem ser captadas e bem analisadas por nós, leitores assíduos. Feminismo não é utopia. Feminismo é presente, e já cantara Elis Regina, “O novo sempre vem”, mesmo que não seja novo, façamos atualidade as velhas ideias. Ideias de um movimento que ainda apresenta tanto a oferecer.

Resenhas

Resenha: O Bicho-da-Seda, Robert Galbraith (J.K. Rowling)

O detetive Cormoran Strike, protagonista de O chamado do Cuco, está de volta, ao lado de sua fiel assistente Robin Ellacott, no segundo livro de Robert Galbraith, pseudônimo de J.K. Rowling. Dessa vez, o veterano de guerra terá que solucionar o brutal assassinato de um escritor. Quando o romancista Owen Quine desaparece, sua esposa procura o detetive particular Cormoran Strike. Incialmente, ela pensa apenas que o marido se afastou por alguns dias como fez antes e quer que Strike o encontre e o leve para casa. Mas, à medida que investiga, fica claro para Strike que há mais no sumiço de Quine do que percebe a esposa. O escrito acabara de concluir um livro retratando maldosamente quase todos que conhece. Se o romance fosse publicado, a vida deles estaria arruinada – assim, muita gente pode querer silenciá-lo. E quanto Quine é encontrado brutalmente assassinado em circunstâncias estranhas, torna-se uma corrida contra o tempo entender a motivação de um assassino impiedoso, diferente de qualquer outro que Strike tenha encontrado na vida.

Após rejeitar um caso promissor, Cormoran atira às cegas e acerta bem no meio do alvo. O segundo romance da série “Cormoran Strike” elimina todos os concorrentes do gênero, traz à tona o bom e velho gênero policial. Em Londres, hoje, pouco se fala de Sherlock e Watson, outra dupla figura nos jornais e na televisão.

Resenhar um livro de J.K. Rowling sem ser tendencioso é algo impossível quando o escritor é um bruxo. É isso que todo e qualquer fã fala antes de escrever algo do gênero, e, por mais que tente, não posso fugir do clichê. “Morte Súbita” demonstrou que Joanne sobreviveria em qualquer meio literário, já o “O Chamado do Cuco” surgiu para reafirmar: “J.K. Rowling consegue ser J.K. Rowling até quando não é J.K. Rowling.” O segundo volume da série devasta qualquer leitor. Com um início parecido com o de “Cuco”, cheio de dúvidas sobre assassinato ou desaparecimento, o leitor logo descobre que Owen Quinne está muito mais que morto.

Algo que melhora entre “Cuco” e “Seda” é a relação entre Cormoran e Robin. No segundo livro podemos notar um maior envolvimento dos dois, e é de conhecimento geral que a maioria dos fãs “shippa” o casal, mesmo que Matthew, o noivo da secretária, marque presença na maioria das páginas destinadas à personagem. O ponto forte de “O Bicho-da-Seda” é o fato de falar sobre o mercado literário. Digamos que J.K. Rowling fez questão de demonstrar como é suja a seleção de originais, a publicação de renomes e como se sente um escritor em crise. A própria sofrera em seu início de carreira, quando teve seu “Harry Potter e a Pedra Filosofal” rejeitado por doze editoras no Reino Unido. O simbolismo usado em “O Bicho-da-Seda” é algo secular. O uso de obras clássicas em meio aos capítulos só deixa tudo mais sofisticado e com a real feição Londrina.

A conclusão do romance deixa todo leitor boquiaberto. A teia construída por Joanne resulta em um menestrel literário. Não foi só um assassinato. A morte, juntamente com o desfecho, vira um afresco que deve ser admirado por séculos. O discurso existencialista abordado nas quatrocentas e poucas páginas é feito lentamente, mas com uma eficácia tremenda. Cormoran é a fantasia real que faz falta em meio a distopias e livros juvenis com pouco conteúdo.

O plano de fundo usado por Rowling, desde Londres a estradas pintadas por nevascas, foi altamente elaborado. Sente-se o cheiro da fumaça londrina, da espessura dos prédios seculares, é o estopim da Literatura Policial. Muitos julgaram “Seda” um livro enfadonho, sem atrativos. O segundo volume da História de Strike, para mim, é eletrizante, não se desgruda, não se esquece das frases lidas. Um realismo fortíssimo foi empregado em cada parágrafo, desde as partidas do Arsenal assistidas por Cormoran até as discussões de Robin com seu noivo. Joanne só precisou de um assassinato para provocar a crítica mundial. Um assassinato para desbancar o mercado das letras, ao qual faz uma crítica ferrenha. Rowling obriga o leitor a desvendar o mistério. Ou descobre ou descobre, não existe outra opção. Como dissera Strike em uma conversa com sua secretária sobre o assassino: “Eu sinto o cheiro, Robin”. Se pudesse, o completaria, e afirmaria “O Bicho-da-Seda tem o cheiro do melhor livro do ano. Cheiro de obra que não se desfaz através dos anos”.

Seremos presenteados com a adaptação das aventuras (ou desventuras) de Strike para a televisão, a BBC já anunciara. Será uma grande estreia do mundo das séries, assim como foi no âmbito literário.