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Anderson Rodrigues

Livros, Resenhas

Resenha: Eu, robô, Isaac Asimov

1 – Um robô não pode ferir um ser humano, ou por inação, permitir que um humano seja ferido.

2 – Um robô deve seguir todas as ordens dadas por seres humanos, exceto em casos que entrem em contradição com a primeira lei.

3 – Um robô deve proteger a própria existência, desde que isso não entre em contradição com a primeira e segunda lei.

São essas as leis que regem o universo ocupado por humanos e robôs criado por Isaac Asimov e que, teoricamente, são impossíveis de serem burladas. Não compare o livro com o filme de mesmo nome estrelado por Will Smith, embora o filme seja baseado, não se compara a grandiosidade do livro, é certo que diversos momentos do filme são inspirados em contos específicos do livro, como a cena no armazém de robôs, baseada no conto “Um robozinho sumido”, ou outras cenas que são de contos que nem sequer se encontram no livro, como quando o robô Sonny fala sobre seu sonho, que parece uma alusão ao conto “Sonhos de Robô”. Portanto, entenda filme e livro como obras distintas.

Eu, robô é uma coletânea de contos que já foram publicados em outras revistas, porém dessa vez são apresentados de forma a manterem um elo entre cada um, com uma entrevista a celebre Dra. Susan Calvin, personagem recorrente em vários contos de Asimov, em que ela fala um pouco de sua vida e relação com os robôs ao longo do tempo, começando o conto “Robbie”, que mostra um robô babá numa época que as maquinas ainda eram mais simples, alguns dos contos não a tem como protagonista, mas é ela uma das mais interessantes personagens mostradas.

O livro é subdivido em 9 contos, fora a história geral de ligação. São contos inteligentes, muitas vezes as três leis que a principio eram inquebráveis são postos à prova, necessitando de soluções inteligentes para concluir cada conto. Ainda que aparentemente sejam histórias sobre robôs, o foco são os humanos e suas interações com as maquinas inteligentes. A quem gosta de ficção cientifica, ou pretende conhecer a obra desse grande autor.

Atualizações, Livros, Resenhas

Resenha: Biblioteca das Almas, Ranson Riggs

Há quem diga que o terceiro e último filme sofre de uma maldição, e, portanto será inferior aos dois filmes anteriores. No cinema, temos alguns bons (nem tão bons assim) exemplos, mas aparentemente, essa maldição afeta outras mídias, infelizmente, Biblioteca das Almas é um exemplo claro que essa maldição afeta também a literatura.

Dentre os três livros, esse é o mais decepcionante. Durante a leitura de todos os outros, um conceito fica claro, o poder do Jacob é a super conveniência, pois, diversas vezes conflitos foram resolvidos de forma tola, apenas para dar andamento na história. Como por exemplo, ele e Emma encontrarem o barqueiro aleatoriamente na cidade, quando ao mesmo tempo o barqueiro o esperava há anos. Alguém na Pixar já falava, “coincidências devem colocar o personagem em problemas, não tira-lo”.

O livro tem um ritmo acelerado e isso encaixou bem, não há tempo para discutir, o sentimento de tensão consegue perdurar em alguns momentos. As fotos sem duvidas são um dos grandes atrativos dessa saga, foi algo inovador e usado de forma a dar uma “veracidade” maior, embora uma ou outra foto pareça deslocada demais do contexto, foi com certeza o melhor dos livros.

Ao terminar essa obra, pode-se compará-la a um filme de domingo, daqueles cheios de explosões. Você sabe que ele não é o melhor, e se prestar atenção até encontra alguns erros, mas se deixa levar e ignora tais erros. E como ele tem momentos que poderiam ser melhorados…

O desfecho — e o vilão da história, na verdade — foram deprimentes. A passagem de Caul na caverna é quase que um plágio à cena final do filme Scooby-Doo de 2002, em que o Scooby Loo fica gigante, coincidentemente nesse filme também havia almas em forma de plasma azul!

Outro ponto tremendamente fraco, e até ridículo, foi aquela trupe de crianças atacando uma tropa de homens armados, essa passagem é indigna até mesmo de um livro voltado ao público pré-adolescente escrito sem revisão. A batalha entre acólitos e etéreos era convincente, mas uma turma de crianças e velhinhas avançar contra uns 30 homens armados e ninguém sair mortalmente ferido é bobo demais, a menina que tinha a boca na nuca tinha o que? Uns nove anos? E ainda havia pássaros bicando a cabeça dos soldados e bonequinhos cutucando as botas dos soldados… Que tipo de soldados são esses que não fuzilam essas crianças?

É grupo de garotos guiados por outro garoto montado, flutuando sobre algo invisível, não deve ser algo difícil de mirar. Lembre-se que em outros confrontos contra acólitos durante a saga os desempenhos deles era dignos de cenas dos trapalhões, e no final conseguiram enfrentar uma tropa inteira e sair ilesos, não há supressão de realidade que possa aceitar isso, pois a própria realidade do livro nos levava a entender que era impossível.

Quando Jacob se perguntou sobre seu poder foi um momento engraçado, pois era algo questionável desde o começo, ao menos foi dada uma explicação qualquer para sua super conveniência. A despedida do Jacob foi divertida, pessoalmente gostaria que o autor finalizasse de forma a deixar o Jacob num hospício enquanto jurava que peculiares existiam. Mas um final feliz parecia o melhor para se vender.

Brincar com o tempo sempre é confuso, ao fim algumas dúvidas ainda resistiram, como por exemplo:

— Quando eles estavam em Londres durante um bombardeio, eles não estavam sobre a influência de nenhuma fenda, pois a fenda que eles viviam já tinha sido destruída, portanto qual seria a explicação falar que o futuro continuaria o mesmo (dá a entender que as ymbringnes falavam sobre o futuro ser impossível de ser mudado apenas para controlar as crianças, e isso seria uma mentira muito cruel).

— Se o irmão do Caul tinha sido pego e obrigado a construir o polifendador, Caul não deveria deixar acólitos de guarda ou prender o irmão constantemente na torre, é serio que ele não achou que alguém que poderia ser perigoso para eles ficasse morando livremente a algumas quadras do quartel general do mal seria… Perigoso? Caul definitivamente não conhece o conceito de estratégia.

— O que eles vão fazer com os etéreos restantes?

— Eles deixaram aquele preso no polifendador sofrendo?

— Então tecnicamente a única habilidade restante e aproveitável do Jacob é entrar em fendas?

Em suma, é um livro divertido, mas cheio de confusões, é como um filme trash, você para aproveitar deve desligar o cérebro. Porém, a saga ao todo não é um tempo de leitura totalmente perdido, apenas divertido, mas ainda carrega a maldição do terceiro capitulo. Veja também as nossas resenhas do primeiro e segundo livros.

O cinema de artes marciais e seus novos representantes
O cinema de artes marciais e seus novos representantes
Atualizações, Colunas, Filmes

O cinema de artes marciais e seus novos representantes

Como vários jovens, sempre fui aficionado por filmes de artes marciais, adorava filmes do Van Damme, o mix de ação e comédia do Jackie Chan ou até os inúmeros filmes de roteiro parecido do Steven Seagal, reprisados eternamente pelo SBT. Embora essas lendas (ok, não estou incluindo o Steven em “lendas”, desculpe amigão) continuem na ativa, como podemos notar pelo remake de kickboxer, no qual JCVD agora faz o papel de mestre (um tanto canastrão, devo dizer), e Jackie Chan, que ultimamente tem filmes fora do eixo acrobacia-humor, com o surpreendente The Foreigner.

Afirmar que outros atores fora os clássicos são os novos representantes pode parecer exagero, mas deve-se lembrar que os clássicos sempre estarão lá, sempre poderemos ver O grande dragão chinês Bruce Lee, Sonny Chiba e sua trilogia mítica Street Fighter, Sammo Hung e companhia ou todos os brutamontes hollywoodianos, citarei atores já consagrados, porém, que ainda vejo a possibilidade de crescerem mais, e terem o reconhecimento que merecem.

Tony Jaa
Foi reconhecido após a trilogia Ong Bak e a duologia O protetor, filmes de roteiros simples mas que garantem diversão pelas cenas de ação. Após isso já atuou em filmes maiores como velozes e furiosos 7 e ao lado de Ivan Drago Dolph Lundgren em Skin Trade, porém, seu filme mais divertido depois dos citados é Spl 2 em que atua ao lado de Jackie Wu e o veterano Ken Lo. Muai thai no cinema é sinônimo de Tony Jaa.

Donnie Yen
Dentre os aqui citados, provavelmente Donnie Yen é o mais famoso. Tornou-se conhecido mundialmente após a incrível trilogia O grande mestre, baseada na vida de Ip Man, mestre de Wing Chun conhecido por ter sido mestre de Bruce Lee. Sua atuação como Chirrut em Rogue One: Uma História Star Wars confirmou ser um ator consagrado. Entretanto, pretendo citar aqui outros filmes dele, Kung fu mortal, Identidade especial e Flashpoint, nesses três filmes um pouco menos populares por aqui, mas com uma característica interessante em comum, durante os combates, são mescladas as habilidades em Wushu de Donnie com grappling, golpes tradicionais com armlocks, mata-leões e outras imobilizações, uma interessante junção entre o estilo clássico de combate e lutas modernas.

Jeeja Yanin
Ela só teve um filme de grande relevância até o momento, mas já é possível supor que Jeeja Yanin será a maior atriz feminina de artes marciais. Em Chocolate, é tratado de forma sensível o autismo da personagem, que aprendeu por mimetismo muai thai, embora o chamativo seja as incríveis cenas de artes combate, de coreografia limpa, outro ponto alto é a ausência de dublês, característica marcante de filmes tailandeses, as cenas pós-créditos confirmam isso, mostrando como os atores se esforçaram e sofreram para trazer tais cenas. O diretor de Chocolate é Prachya Pinkaew, o mesmo de Ong Bak e O protetor.

Scoot Adkins
O primeiro ocidental da lista se autodenominava o lutador mais completo do mundo. Sem dúvidas, o papel mais icônico de Adkins foi como Yuri Boyka na atual quadrilogia O Imbatível, embora tenha aparecido como antagonista no segundo filme, sua personalidade marcante logo o tornou protagonista dos filmes seguintes, sua parceria com o diretor Isaac Florentine sempre gera bons frutos, pois conseguem fazer filmes agradáveis com pouca verba. Teve papeis menores em Os mercenários 2, no excelente Cão de briga, com Jet Li, e ainda trabalhou nas coreografias de Dr. Estranho e fez uma ponta como um dos capangas de Kaecilius, interpretado por Mads Mikkelsen. Para Adkins, só resta lhe darem um papel a sua altura, num filme de maior peso, por enquanto seguirei gritando Boyka Boyka Boyka Boyka…

Iko Uwais
O indonésio Iko Uwais sem dúvidas é o ator/artista marcial revelação da década, sua parceria com o diretor Gareth Evans e o ator Yayan Ruhian geraram excelentes frutos. Iko estreou em Merantau Warrior, mas foi em seu segundo filme com a trupe que mostrou que veio para ficar, The raid é um filme frenético, de coreografia incrível, utilizando um estilo de luta próprio do país, a duologia mostra combates intensos que não se intimida em mostrar cenas violentas, porém não se resume a isso, tornando apenas um adendo e não uma finalidade. Gostou das cenas de lutas em corredores da serie Demolidor, da Netflix? Aqui encontrará os melhores combates em corredores e espaços pequenos do cinema. Em The raid 2, o espaço expandiu, o roteiro foi melhor desenvolvido, e as cenas de ação não deixaram a desejar, sobretudo, uma personagem roubou a cena, e o coração de fãs do gênero, uma mulher e um par de martelos, Julie Estelle é a mulher que pode bater de frente com Jeeja Yanin.

A hammergirl e Iko Uwais contracenaram novamente em Headshot, dessa vez sem a direção de Gareth Evans, o filme manteve o padrão de qualidade nas cenas de ação, pecando apenas nos efeitos de tiroteios, com aquele sangue digital que some antes de tocar o chão (também visto em os mercenários 2), mas nada que estrague a experiência.

Filmes de artes marciais sempre foram considerados de segunda categoria, não deveria. Embora seus roteiros sejam por vezes simples, ou efeitos especiais regulares a fracos, é uma diversão descompromissada, e deve ser assistido como tal, muitas vezes o filme trás mais do que apenas combates, gratas as surpresas.

Filme desse nicho, como pode ser percebido, ainda são dominados pelos orientais, embora as verbas sejam menores que grandes produções americanas, há um grande empenho na coreografia, raramente pecam em aplicar a horrível câmera tremida, que é um recurso para disfarçar as más coreografias, se procura ação, nesses filmes poderá ver sem ficar tonto pelo movimento incomodo de câmeras. Seus atores experientes em artes marciais, campeões em seus estilos são apenas uma bonificação aos expectadores.

Sabe o que todos os atores citados acima têm em comum? Todos atuarão juntos em Triple Threat! Essa é a maior reunião de atores de diferentes etnias e estilos marciais do cinema atual, para os fãs, o hype apenas aumenta, contemplem:

Você já conhece fantástico cinema sul-coreano?
Você já conhece fantástico cinema sul-coreano?
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Você já conhece fantástico cinema sul-coreano?

Certas vezes, encontramos filmes que são verdadeiras pepitas de ouro, dado a sua qualidade, outras vezes, encontramos uma verdadeira jazida, como é o caso dos thrillers sul-coreanos.

Os filmes desse país, geralmente policiais, mostram técnicas habilidosas de gravação, violência estilizada e roteiros impactantes. Muitas de suas produções parecem não se importar se o expectador ficará chocado ao acabar de assistir, ou melhor, procuram o deixar de queixo caído.

Algumas características podem ser notadas facilmente, como as tramas intricadas, muitas vezes os protagonistas são policiais (nos casos dos thrillers policiais), ou Salaryman, utilizando o termo japonês para executivos. Nota-se também pouca utilização de armas de fogo, já que muitas das cenas são utilizados materiais inusitados, como martelos (Oldboy) ou até um osso (The yellow sea)!

Oldboy — versão coreana com o maravilhoso Min sik Choi, esqueça a versão americana — foi a minha porta de entrada nesse mundo, porém, há muito mais a se assistir. Do próprio Min Sik, aliás, o ator demonstra sua capacidade em outros excelentes filmes, seja um general estrategista em A Batalha de Myeongryang, um policial cansado em New World, um velho caçador que perdeu o filho em The Tiger, ou um psicopata terrível em I saw the devil, todos os (excelentes) filmes em que ele atua mostram o quão bom ator é.

Além dos filmes mencionados, falarei brevemente de outros grandes filmes sul-coreanos, sem ordem de preferência, que superam facilmente produções hollywoodianas em questão de enredo e/ou ação.

A Hard Day: No dia da morte da mãe, o detetive Gun-Soo se envolve num acidente de carro, com vítima fatal, como se as coisas não estivessem ruins o bastante, logo depois ele passa a receber ligações o ameaçando. É incrível as situações de extrema tensão combinada com momentos quase que engraçados.

O homem de lugar nenhum: Um agente exilado vive num mercadinho isolado de todo o mundo externo, tendo algum tipo de interação apenas com uma menina, quando ela e sua mão são sequestradas, o homem resolve se vingar…

O caçador: Um ex-detetive e agora cafetão volta a ativa quando um serial killer passa a matar mulheres, o mais interessante nesse filme é que as ações deles são criveis.

Mother – A Busca Pela Verdade: Quando o filho com retardo mental é acusado de um assassinato, e a justiça dá o caso por encerrado, cabe à mãe procurar sozinha por respostas. Atente-se à fotografia desse filme, uma obra de arte.

Sede de Sangue: Um padre participa de um experimento, no qual muitos não sobrevivem, como o titulo dá a entender, ele vira um bebedor de sangue, diferente dos que brilham no sol, toda a trama tramita entre os prazeres carnais e a culpa.

Train to Busan: Quando os filmes de zumbis ficaram saturados, surgiu esse achado, unindo ação e drama, ele conseguiu ser inovador quando tudo era mais do mesmo. Assim como Oldboy, esse também ficou popular em vários países.

E esses são apenas alguns exemplos, ainda há muitos outros grandes filmes. Costuma-se associar o cinema coreano apenas a filmes sobre vingança, no qual, diga-se de passagem, são muito bons, mas esse país vai mais além, basta se aventurar e descobrir as surpreendentes obras!

Há um problema que assola a maior parte dos jovens escritores
Há um problema que assola a maior parte dos jovens escritores
Atualizações, Colunas, Livros

Há um problema que assola a maior parte dos jovens escritores

Quando comecei a escrever, adorei a sensação de poder, eu poderia escrever o que quisesse e isso era incrível!
As pessoas podem não gostar, criticar a minha obra, ou até mesmo escrever algo melhor, mas não podem me impedir, sou livre pra escolher o que quero fazer. Queimem, boicotem, escrevam em resposta, mas nunca poderão me calar.

A liberdade é encantadora, e aqueles que desfrutam disso não querem perde-la. Se quiser escrever sobre a visão romantizada de um assassino de prostitutas, só pra chocar quem lê ao revelar, eu posso. Talvez escrever sobre uma criança abusada sexualmente pelo que ela acredita serem monstros do guarda-roupa, ou um cara que enfia um consolo na bunda pra ver Deus. Céus! Eu posso colocar um astronauta junto com um ser mitológico grego numa taberna medieval multidimensional no espaço, e ninguém pode me proibir.

Acredite, eu escrevi essas coisas, apenas por saber que eu podia fazer.

Então vejo outros garotos que estão começando, assim como eu, mas eles não escrevem antes de pedir permissão, não, estão perdidos. Estar perdido é bom, você não se adéqua a realidade e quer mudar, mas é essa liberdade que eles não percebem. Eles têm duvidas, mas os questionamentos são quase que pedidos por aprovação, “e se meu protagonista estiver morto?”, “posso nomear capítulos?”, “posso falar de tal marca?” ou “posso escrever uma palavra errada para simular a fala do personagem?”.

Sim! Todos podem fazer o que quiserem, não há um regulamento para padronizar textos, ninguém será preso se tentar se arriscar um pouquinho. Pode ser que não gostem, problema deles, na nossa constituição não há um lugar que afirma a quantidade de palavras por capítulos, não existe uma organização regulamentadora que ditam o que podemos escrever. Apenas não cometa crimes, faça o que queres e o resto há de ser da lei.

É claro, não digo para negarem qualquer comentário, mas leia as criticas com cuidado, acate sugestões que ache que sejam proveitosas para você, é isso que leitores betas fazem, mas o autor é que deve estar no controle, não levem todos os conselhos como ordens.

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Resenha: O Vilarejo, Raphael Montes

O Vilarejo é o segundo livro que li do Raphael Montes (o primeiro foi Jantar secreto, que já tem resenha aqui no Beco), fica claro que seu estilo é marcado pelo choque causado pela violência, nesses dois livros, pelo menos em algum momento você sentirá ânsia ao ler.

O vilarejo é um livro pequeno, com pouco menos de 100 páginas, com contos que se passam num mesmo universo (um vilarejo europeu), todos os contos são fechados, porém, formam pontes com todos os outros, sendo que o último amarra todas as pontas deixadas pelos anteriores.

Além disso, há uma história maior, que ocorre antes e depois da coletânea, que pretende assim dar um ar de realidade à história, um detalhe bem interessante.  O livro mostra cada pecado capital como um demônio, cada conto representa um desses demônios, embora as situações sejam criadas pelos humanos, direta ou indiretamente influenciados. Sobre os personagens abordados, todos são odiáveis, não há como se identificar com algum, uma pena, gosto de sentir empatia, mesmo que o personagem seja cheio de defeitos, aqui todos são merecedores de seus karmas. Ao final ocorre toda uma explicação sobre as histórias que foi desnecessária, não subjugue seus leitores, Montes, eles conseguem fazer associações sozinhos!

Não é um livro ruim, é impactante, e cumpre ao que se propõem, apenas se comparar à Jantar secreto pode-se perceber que talvez não seja o melhor dele, isso se deve por já começar a leitura sabendo o que se pode esperar, se você não leu nenhum livro dele, acredite, não sabe o que esperar.

A quem tiver estômago, é uma boa recomendação.

SPOILERS A SEGUIR – SÓ CONTINUE SE JÁ TIVER LIDO

O cramunhão, sete-peles, mochila de criança, pé fendido… Falou que apenas aflorou o que cada um tinha de pior, por isso o preguiçoso escravizou crianças, o marceneiro pegou lepra, etc. Mas a garota do primeiro conto, o pecado dela era a gula, o argumento para ela foi ter negado ALGUNS OSSOS DE RATO para ele, ela estava lutando pela vida dela e dos filhos, isso não é gula, é sobrevivência. E mesmo se argumentar sobre os jantares cheios de fartura que era feitos, foram em tempos de vacas gordas, e todos os moradores da região comiam e abundancia.

Achei um pouco exagerado esse argumento, mas nada a prejudicar, apenas uma curiosidade.

Livros, Resenhas

Resenha: Lua de larvas, Sally Gardner

Standish Treadwell é um jovem disléxico que vê o mundo de maneira diferente da maioria. Graças a essa visão, ele percebe que o mundo lá de fora não tem que ser necessariamente cinzento e opressor. Quando seu melhor amigo, Hector, é de repente levado embora, Standish percebe que cabe a ele, a seu avô e a um pequeno grupo de rebeldes enfrentar e derrotar a opressão permanente das forças da Terra Mãe. Com o pano de fundo de um regime implacável, disposto a tudo para vencer seus rivais na corrida para chegar à Lua. Este impressionante Lua de larvas é o novo livro da premiada autora Sally Gardner.

Lua de larvas é um livro de leitura rápida, mas tão intenso quanto um soco no estômago, não se deixe levar pela sua aparente simplicidade, ou logo será nocauteado sem perceber de onde veio o golpe.

Seu formato a principio pode estranhar, seus capítulos são minúsculos, cerca de dois parágrafos apenas. Cada capítulo é sempre seguido por alguma imagem (preste atenção nessas imagens, elas contarão uma história nem tão paralela ao livro, lembre-se que ratos são tidos como traidores). Como um todo, é um livro belo, sua arte de capa é certamente um detalhe chamativo, é sempre bom ter um livro de capa bonita na estante!

Sobre a trama, Standish é um garoto com dislexia numa sociedade totalitária, um adolescente solitário refém de uma realidade repressora e violenta, sua heterocromia não colabora, visto que crianças diferentes são brutalmente repreendidas. Não foi estabelecida a época em que ocorre, pode ser no passado ou num futuro distópico, mas aos poucos fica claro que o país em que ele vive — a Terra Mãe — é uma clara alusão à Alemanha nazista, e isso fica muito evidente devido às saudações, os soldados aqui chamados de “moscas verdes” e os agentes de casaco, muito parecidos com aqueles agentes estilosos que usavam trajes Hugo Boss.

Não é mostrado um clima de guerra, e sim, pós-guerra muito semelhante à guerra-fria, a tensão é constante, traições e falsas acusações são constantes, e até mesmo estimuladas nas escolas. É nesse caos que Standish conhece Hector, um garoto que ele confia e adora, nutrindo uma amizade que nunca experimentou antes.

Por fim, é um livro simples, num final de semana pode-se acabar, mas nem por isso é raso, pelo contrário, tal leveza só garante que você baixe a guarda, para quando isso acontecer, tome um golpe direto no queixo, como dito no titulo, é como dar um selinho numa granada de mão, é um história marcante, sua narrativa em primeira pessoa apenas garante uma maior aproximação do leitor, super recomendo!