Estamos vivendo um boom de continuações e remakes dos filmes e séries que amamos. Devo confessar que não sou grande entusiasta do formato mas nunca dispenso a oportunidade de ver filmes com mulheres que dão socos e pontapés. E foi assim que eu fui parar na cabine do novo “As Panteras”, escrito e dirigido por Elizabeth Banks.
Se você tem por volta dos 20 e poucos anos e quase ou nenhum interesse pelo universo dos anos 70/80 que que seus pais provavelmente viveram (e amaram), saiba que As Panteras (Charlie’s Angels) nasceu no formato de série de televisão nos anos 70 com todo o girl power e hair goals que se poderia ter. Lá pelos anos 2000, a franquia foi adaptada para a conhecida versão com Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu.
O Girl Power vende. Nós sabemos e Hollywood também – ainda mais após movimentos como o Me Too. Então, não é a toa todo o barulho que o filme vem trazendo ao se apresentar como feminista. De fato temos mudanças positivas da versão dos anos 2000 – e é impossível não comparar o atual com esta versão – tal qual saímos da hipersexualização das personagens e acrescentamos mulheres que podem hackear e manjam muito de tecnologia – papéis geralmente desempenhados por homens até pouco tempo (mas estamos virando esse jogo através de filmes e séries, alô Sense 8 e Oito Mulheres e Um Segredo).
Ainda no universo feminino, presenciamos nossas “anjas” passarem por situações como macho palestrinha levando crédito pelo que a mulher fez, assédio no trabalho e o homem chato que caga regra do que a mulher deveria fazer ou como eu chamo tudo isso: mais um dia na vida da mulher.
Porém, por mais que o filme tente, acaba encaixando suas protagonistas em caixinhas dos clichês. Sabina (Kristen Stewart) é a clássica menina que era problema durante a adolescência, ama curtir a vida adoidado e não tem filtro na hora de falar. Elena (Naomi Scott) é a que cai de paraquedas, inocente e querendo mostrar serviço e Jane (Ella Balinska) é a típica fortona que não chora e “não precisa de ninguém”. Mas a química entre o trio é visível e faz toda a diferença durante o longa.
Aqui vale elogiar a face comediante que conhecemos de Kristen Stewart. Torcer o nariz para os filmes da atriz com base em Crepúsculo é golpe baixo em 2019. A atriz se entregou em vários papéis diferentes – de filmes mais independentes como Para Sempre Alice até trabalhos com o diretor francês Oliver Assayas, no qual foi premiada com o César por Personal Shopper. A personagem de Stewart é carismática e traz leveza para o filme.
Outro ponto positivo é a boa fotografia do filme mas o que realmente chama a atenção é a trilha sonora com um compilado de vozes femininas. A trilha ficou na responsabilidade de ninguém menos que Ariana Grande, que arrasou nas escolhas. Entre a seleção, está a música “tema” do filme “Don’t Call me Angel” com participação da própria ao lado de Miley Cyrus e Lana Del Rey, passando por um remix de “Bad Girl” de Donna Summer e o original “Pantera” de Anitta, que abre o filme numa cena de um Rio de Janeiro fake.
Vale lembrar que o filme tem cena pós-créditos e vale pela espera.
As Panteras é uma feliz surpresa – ainda mais naqueles dias que a gente só quer ver um filme com ritmo e ir para casa sem pensar muito. No mais, elas que lutem.