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Ansiedade: mal do século ou mal da nova geração?

Há alguns anos, a depressão chegou a ser considerada como o “mal do século XXI”, com dados da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), falando sobre uma suposta epidemia de depressão. Muitos debates foram levantados acerca da doença, inclusive aquele que questiona se os casos estão realmente aumentando ou se só estamos diagnosticando de forma melhor. No entanto, um outro mal parece assolar a maior parte da nova geração (chamada de geração Z), que desponta agora no mercado de trabalho e na vida: a ansiedade.

Se a depressão foi considerada o mal do século XXI até este momento, seria a ansiedade o mal da segunda metade do século, em que os jovens já estarão na terceira idade ou na meia idade?

A ansiedade

Antes de falar sobre a ansiedade e o suposto “novo mal do século”, precisamos entender o que ela é e de onde ela vem. Podemos dizer que ela é prima do medo, e se baseia em uma emoção vaga, bem desagradável e que nos traz tensão. Ela prepara o nosso “eu primitivo” para a batalha. Nós carregamos um DNA primitivo ainda, aquilo que chega pra gente por meio do instinto e, nas épocas primitivas, o medo e a ansiedade eram coisas boas, porque eram as coisas que nos mantinham vivos. Preparados para a fuga ou para a batalha. A ansiedade e o medo então, sinalizam para nós algumas ameaças antes mesmo delas acontecerem. Além disso, ela pode melhorar nossa performance, nos proteger de estranhos e reduzir o excesso de autoconfiança.

No entanto, tudo tem um limite e é além desse limite que está instaurada a “ansiedade-mal-do-século”. É quando todo esse medo se torna uma tensão constante que impossibilita o relaxamento, gerando insônia, tremedeira, palpitações, sudorese e outros sintomas.

Possíveis causas

Estar ansioso é diferente de ter uma ansiedade patológica, isto é, um transtorno de ansiedade. Todos nós experimentaremos os sentimentos que retratei no tópico anterior em algum momento da vida. Seja por medo, por alegria ou por expectativa, nós estaremos ansiosos e isso é um sentimento normal, que precisa ser acolhido. O ponto é quando isso passa do limite e se torna patológico. A ansiedade não se torna mais pontual e se torna quase que uma âncora na nossa vida.

É fato que o nosso mundo mudou e a ansiedade parece vir intrínseca a essa mudança. Se ela é prima do medo, ela é uma prima que pode se tornar uma visita indesejável, já que no medo, conhecemos as causas que geram aquele sentimento, na ansiedade, não. As causas são difusas, conflituosas e até mesmo, desconhecidas e vagas. É sentir medo por algo que nem sabe se vai acontecer. Mas, é compreensível nessa nova era do mundo, por isso, é preciso cuidado.

Estamos numa época em que a informação circula livremente, a todo o tempo. Nós temos acesso às informações literalmente na palma da nossa mão, pelo celular. E a primeira geração a ter que se adaptar com essa nova realidade, foram os jovens, que hoje citam a ansiedade como mal do século. Foi preciso se adequar ao novo mercado de trabalho para conseguir estar inserido nele – já que as dicas dos pais não valiam mais de nada. Foi preciso aprender as novas tecnologias na raça – já que não tinha ninguém antes para ensinar. Foi preciso quebrar paradigmas e preconceitos enraizados há muito tempo na sociedade – sem nada além das próprias convicções. A nova geração, chamada de geração Z (pessoas que nasceram entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010), chegaram para participar dessa mudança. E toda mudança exige lidar com o desconhecido. Mudança gera medo. E o medo do desconhecido é o quê? A ansiedade.

A grande quantia de informações e o medo de perder alguma coisa, também chamado de “FOMO – Fear Of Missing Out” é quase um sintoma “obrigatório” quando a gente fala de ansiedade na nova geração. A ânsia de sempre aprender mais, sempre estar a frente e sempre ser o primeiro está tornando a resposta biológica do nosso corpo, presente no nosso DNA desde a as eras primitivas, em patologia.

O que fazer, então?

É preciso falar sobre ansiedade. Explicar que ela é uma resposta biológica do nosso corpo e que devemos saber interpretar e sinalizar quando ela passa do limite, quando ela se torna patológica. E claro, também é preciso conscientizar sobre prevenção e tratamento.

Numa era de tanta informação, a informação de saúde acaba ficando em segundo plano. A geração Z não se desliga. Trabalha vinte e quatro horas por dia e nos intervalos, pesquisa notícias, curiosidades, informações…. O tempo todo lidando com o desconhecido.

Dessa forma, com a informação, que as pessoas já consomem (só não são 100% confiáveis ainda), a ansiedade pode não se tornar um mal do século, como é sabido da depressão. Ainda dá tempo de mudar o cenário.

É preciso conscientizar que os momentos de descanso, de ócio e de desligamento são tão importantes quanto os momentos de atividade. E claro, a visita ao médico sempre que sentir que algo saiu do limite.

A ansiedade, uma vez compreendida e entendida, pode ser facilmente manejada. Psiquiatras, psicólogos e psicanalistas devem atuar em conjunto para conscientizar e remediar – seja por medicamentos, por processos terapêuticos e até mesmo, pela fala. A fala cura e deixar alguém com ansiedade falar, é uma grande forma de colocar para fora todo aquele sentimento pressionado e escondido.

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