Quarto de Despejo é o primeiro livro de Carolina Maria de Jesus, até então desconhecida. Publicado na década de 1960, o livro é um diário que aborda o cotidiano de uma mulher negra, mãe, pobre, solteira e favelada. O livro é uma arma, tanto para expor ao mundo suas vivências na favela do Canindé, quanto quando era insultada e esbravejava que colocaria isso em seu livro. Quarto de Despejo é uma obra de resistência.
Os relatos, divididos em capítulos datados de 1955 a 1960, com aspectos da rotina de Carolina escritos de forma bem fiel. No meio dos fatos, ela escreve devaneios de como é difícil a vida de uma mãe que cria seus filhos na linha da miséria. Três filhos sob sua inteira responsabilidade, fazem com que a mulher se desdobre entre catadora de papelão, metal e como lavadeira. Ela não dá conta e muitas vezes sua frustração transparece nas páginas, mas há algo maior que a move: sua fé.
Ela tem total repúdio pela situação em que vive, e ao mesmo tempo é apedrejada pelos seus vizinhos ao menor sinal de sucesso de sua publicação. Isso causa estranheza, porque mesmo inconformada e em uma situação precária, consegue tirar olhares de inveja de pessoas próximas. Nisso, ela também encontra explicação na fé, quando cita em certas passagens do livro que precisa se benzer porque está com mau olhado.
Quarto de Despejo é um desabafo vomitado em páginas que nos deixam imersos em uma realidade que muitas vezes não conhecemos. Algo que é importante destacar, mais uma vez, é sua luta que desdobra todos os dias para prover o sustento de sua família. É ela pelos seus filhos, e muitas vezes, ela não tem para dar a eles. Ela cita que sabe a cor da fome: amarela. E essa cor ela tentava fugir ao máximo.
É uma obra sofrida que poderia ser facilmente ficcional, mas infelizmente não é. É dura, difícil e honesta. Seu linguajar também demonstra essa dureza e frieza. Há alguns erros gramaticais que contribuem para comprovarmos a veracidade da história. Carolina é autodidata.
Quarto de Despejo foi descoberto pelo jornalista Audálio Dantas, para quem Carolina mostrou seus cadernos durante uma reportagem que ele fazia no Canindé. Os trechos foram publicados em uma reportagem da Folha e depois publicado e organizado pelo próprio Audálio, que fez poucas alterações mantendo seu diário na íntegra.
A escritora faleceu em 1977, após sucesso de vendas dos livros, deixando três filhos.
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