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Veronica Roth responde perguntas de fãs e fala sobre final de "Allegiant (Convergente)"

Veronica Roth, autora da trilogia Divergente, respondeu recentemente em seu Twitter, uma série de perguntas dos fãs, pessoais e sobre a saga. Logo em seguida, fez uma postagem em seu blog sobre o final do último livro, Allegiant. Confira traduzido:

Você escreveu ‘Quatro’ pela perspectiva do Tobias. Como você teve essa ideia?

Veronica Roth: Meu editor perguntou se eu queria escrever pela perspectiva de outro personagem, e a história dele é familiar e eu estava ansiosa para explorá-la.

Qual foi a história mais fácil de escrever?

Veronica Roth: A mais fácil foi ‘O Transferido’, pois eu sabia bem a arca da história e tinha bastante emoções para explorar.

‘Quatro: O Traidor’ sobrepõe com o primeiro livro na série Divergente. Como isso afetou sua abordagem?

Veronica Roth: Essa sobreposição deixou as coisas complicadas! Constantemente eu estava consultando Divergente e Convergente e teve que ser mais metódico. Enquanto foi provavelmente a história mais desafiadora, foi MUITO divertido trabalhar nela.

Tem algum outro personagem que você gostaria de escrever?

Veronica Roth: Não agora! Eu escrevi a do Quatro porque sua história estava na minha cabeça, mas agora todas as outras estão quietas!

Como seus fãs influenciaram as histórias de Divergente?

Veronica Roth: Bem, a afeição dos meus leitores (e a minha) e interesse em seu personagem ajudou a juntar essas histórias, definitivamente.

A sua visão dos livros de Divergente mudou depois que o filme saiu?

Veronica Roth: Na verdade, não! Eu tento pensar que o filme e o livro são duas coisas diferentes – ambas ótimas! Mas separadas na minha cabeça.

O que você acha mais intrigante da facção da Audácia?

Veronica Roth: Eu amo o jeito que eles lutam pra descobrir o que significa coragem – e o que não significa. (Não é imprudência, não é crueldade e etc.) Eu adoro deixar os personagens da Audácia pensarem entre as linhas e ver o que acontece.

O que vem depois? Você vai continuar a escrever distopias?

Veronica Roth: Amei escrever a distopia, mas estou pronta pra começar algo novo. Ainda quero escrever YA (Jovem Adulto), mas além disso, não tenho certeza!

Onde você escreveu o primeiro capítulo de Divergente?

Veronica Roth: Escrevi na minha cama, na casa dos meus pais. Depois de ter assistido um pouco de Veronica Mars.

O que você mais gosta na relação entre Tris e Tobias?

Veronica Roth: Pra mim eles são como amigos e iguais – para um ser forte, o outro não precisa ser fraco.

Foi fácil pra você se conectar com Tris ou Tobias enquanto escrevia suas perspectivas?

Veronica Roth: Difícil dizer, pois eu tinha bastante treino com a Tris, mas coisas diferentes foram fáceis com Tobias – ele é bastante direto comigo. (Isso deve soar estranho!)

Que conselho você daria para alguém que deseja escrever um livro?

Veronica Roth: Se apaixone pelo processo de escrita, e não pelo resultado. Procure a crítica de pessoas que você confia também. 

Quando você estava escrevendo ‘Quatro’, você desejou poder mudar alguma coisa nos outros livros?

Veronica Roth: Alguns diálogos em Divergente! Simplesmente porque eu conheço melhor o Quatro agora, então quando eu estava escrevendo ‘O Traidor’, algumas das falas que eu tive que manter não soavam mais com ele.

A cena que você mais gostou de escrever da série Divergente?

Veronica Roth: Tris e Quatro na paisagem do medo dele! Provavelmente esse é o porquê de eu estar ansiosa para escrever duas vezes, em ‘Divergente’ e ‘O Traidor’ 

Você escreve com que frequência?

Veronica Roth: Praticamente todos os dias! Mas nem sempre o mesmo período de tempo.

Como autora, você sente saudades dos seus personagens ou você deixa eles irem logo que termina de escrever o livro – nesse caso, a série?

Veronica Roth: Eu definitivamente sinto saudades deles. Eu tive a oportunidade de conhece-los tão bem, é difícil não ter mais suas vozes na minha cabeça. Mas acho que isso significa que eu vou ter que adicionar mais vozes. (Juro que eu não sou louca.) (Na maior parte do tempo.)

Você imaginava como a história ia progredir e terminar desde o começo, ou você foi desenvolvendo no processo?

Veronica Roth: Eu escrevi alguns esboços para o resto da série depois de terminar ‘Divergente’, então eu sabia. Mas as coisas mudaram um pouco enquanto eu ia, e me surpreendia frequentemente.

Se você pudesse passar um dia com algum personagem dos seus livros, qual seria?

Veronica Roth: Evelyn. Eu adoraria cutucar seu cérebro. Mas eu me sentiria um pouco intimidada, acho.

Com que outro autor – vivo ou morto – você gostaria de ter um jantar?

Veronica Roth: Flannery O’Connor. Eu acho ela incrível e deve ter tido um cérebro muito interessante.

Qual dos três livros você demorou mais pra escrever?

Veronica Roth: Convergente. Eu tive que pedir uma extensão de prazo pra minha editora, na verdade, só para deixar as coisas certas.

Eu sou escritora (não profissional, nem nada), mas qual conselho você daria para escrever uma série? 

Veronica Roth: Explore bastante e planeje antes de começar, ou você se verá em becos sem saída. Eu aprendi isso da maneira difícil – algumas coisas que eu comecei foram difíceis de trazer depois.

Que personagem dos livros você se sentiu mais envolvida e cresceu mais?

Veronica Roth: Provavelmente Caleb. Ele começou simples para Tris, e se tornou muito mais complicado enquanto a história se desenvolvia.

Qual personagem você mais admira e por quê?

Veronica Roth: Difícil escolher o que eu MAIS admiro, mas o jeito que a Christina consegue perdoar Tris depois de tudo que aconteceu entre elas. É difícil se desapegar da mágoa pelos amigos, e fazer aquilo foi um sinal de força e graça.

Spoilers do último livro da série, Allegiant (Convergente) a partir deste ponto, só continue lendo se já tiver terminado o livro.

No meu programa de escrita e criação na faculdade, nós tínhamos uma regra: durante o workshop, quando a sua história está sendo criticada, você não tem a permissão de falar nada. Isso é para dar aos seus companheiros a liberdade de interpretar o seu trabalho e apontar as falhas sem que você as aponte; e é também porque a sua defensa na verdade não significa nada, mesmo que você acha que signifique. Se suas explicações e intenções não são claras para os leitores, são borradas dentro do texto, isso não é culpa do leitor, é culpa do autor.

Respondendo aos comentários dos leitores sobre os livros de Divergente sempre pareceu do mesmo jeito para mim, como se fosse eu gritando com outras pessoas enquanto eu deveria deixar que falassem livremente, e tão ruim quanto algumas críticas machuquem (e machucam, porque eu sou só uma humana), eu nunca nunca quis isso.

Então, isso não é o que eu estou tentando fazer aqui. Muitas pessoas tem me perguntado porque a Tris morre no final de Allegiant, e o que eu quero fazer aqui é responder aquela questão tão bem quanto eu posso. Mas se vocês estão preocupados que minha voz se sobressaia sobre a sua própria, por favor, pare de ler esse poste – essa é a última coisa que eu quero. Eu não quero falar para vocês como ler esses livros ou até mesmo falar para vocês que tem um jeito certo de lê-los. Eu só quero oferecer a vocês um insight sobre como eu, pessoalmente, encontrei o caminho para esse final, se vocês estiverem interessados em saber.
Antes de eu começar, eu vou falar algumas coisas:

1. Vocês todos estão permitidos – encorajados! – a continuar sentindo do jeito que vocês se sentem, ou pensando do jeito que vocês pensam, sobre esse final, não importa o que esse post fale. Sim, eu sou a autora, mas esse livro agora é tão de vocês quanto é meu, e nossas vozes são iguais nessa conversa.
2. Só porque eu tentei fazer algo com a minha escrita, não significa necessariamente que eu faça isso bem, então há espaço para dizer “ Ok, eu entendo o que você está dizendo, mas eu não acho que o que você está tentando fazer funciona.”

Eu disse a vocês antes que esse final sempre foi uma parte do plano, mas uma coisa que eu quero deixar claro é que eu não o escolhi para chocar alguém, ou para chatear alguém, ou porque eu sou cruel com os meus personagens –não, não, não. Eu posso ter sido cruel com outros personagens no passado, mas não com ela, nunca com ela. E eu não estava pensando em nenhum leitor quando eu escrevi esse livro; eu estava pensando na história, porque tentar atender as expectativas de tantos leitores seria paralisante. Não tem jeito de agradar a todos, porque livro místico com o final que cada uma das pessoas quer não existe – você quer coisas diferentes, cada um de vocês. A única coisa que eu posso fazer, baseado nesse fato, é escrever um história honesta o máximo que eu puder.

O que aconteceu com os pais de Tris no final de Divergente foi, de alguma forma, o catalisador para o resto dos livros. Antes desse ponto, Tris rejeitou os valores e crenças dos seus pais de um jeito bem tangível quando escolheu a Audácia. Ela batalhou do início ao fim de Divergente para reconciliar duas identidades: a sua identidade da Abnegação, a qual o Quatro mostra a ela, e sua identidade da Audácia. É logo após a sua mãe desistir da sua vida foi que Tris percebeu como àquelas duas identidades se encaixam, combinando altruísmo e bravura e amor pela sua família, e amor pela sua facção tudo junto sob um guarda-chuva: Divergente. É um momento de triunfo seguido por um momento de total devastação, quando Natalie morre para que a Tris possa escapar. E então Andrew morre logo depois.

A morte dos pais da Tris foram momentos reveladores, para Tris e para mim. Para Tris, eles pareceram acordá-la para o poder de se auto sacrificar pelo amor; ela mais tarde entrega a arma para o Quatro em vez de matá-lo, essencialmente dar a vida dela em vez de tirar a dele. Ela disse algo naquele momento sobre o poder do auto sacrifício, mas as suas ações não se aplicam esse poder da melhor maneira – deixar que ela mesma seja morta, naquela hora, foi talvez nobre em uma perspectiva romântica, mas não teria salvado a Audácia de serem zumbis controlados por simulações, e não teria salvado o Tobias da sua própria simulação.

Para mim, a morte dos pais da Tris me fez perceber que apesar dela ter abandonado a facção dos pais, ela nunca foi capaz de separar ela mesma deles, nunca quis fazer; que o verdadeiro desafio da personagem dela, aquele que ela nunca foi capaz de abrir mão, foi descobrir como honrar os pais dela enquanto mantêm sua distinta identidade. Essa foi sua dificuldade em Divergente, de um jeito sutil, mas também foi também a sua dificuldade de uma maneira mais óbvia em Insurgente.

Tris passou Insurgente guerreando com a culpa e aflição por causa da morte de seus pais e das suas ações precipitadas em atirar no Will para salvar sua própria vida (o que é o oposto do que ela fez pelo Tobias, além de mostrar que a Tris ainda não tinha percebido naquele ponto como ser altruísta). Os atos “altruístas” ela pensou estar fazendo em Insurgente – subindo desarmada durante o ataque Audácia-Erudição, espionando a conversa de Max com Jack Kang sem uma arma, e se entregar para o complexo da Erudição quando foi pedido para ela não ir – foram mais auto destrutivos que qualquer coisa. Ela racionalizou aqueles atos auto destrutivos os chamando de altruísmo, mas quando ela estava prestes a ser executada, ela percebeu que os pais dela não deram a vida por ela só para que ela pudesse morrer quando não fosse necessário. Ela percebeu que ela queria viver.

Ela emergiu daquela quase execução com uma nova maturidade: ela apreciou a sua própria vida, ela queria resolver problemas sem recorrer a violência, ela buscou a verdade em vez da destruição. Aquela Tris ainda não havia descoberto o que altruísmo era para ela, mas ela havia descoberto o que não era: auto aniquilação.

Foi assim que a Tris foi no início de Allegiant. Ela não estava mais arriscando sua vida sem razão. Ela ainda estava lutando com as sua crenças sobre altruísmo – mas nessa hora, ela estava pensando se o Caleb, quando se voluntariou para ir para um missão sem volta até o laboratório de armas foi motivado pela culpa ou pelo amor. Ela lutou com a decisão de se deixar o Caleb se sacrificar foi ético pelo resto do livro. E, enquanto ela estava lutando com essa decisão, ela também estava lutando com a sua própria identidade; seu constante questionamento sobre o que é altruísmo estava inextricavelmente ligado com o seu senso de ser, como foi nos últimos dois livros. Essa luta finalmente veio a cabeça quando ela e Caleb estavam correndo até o laboratório de armas e ela disse: “Ele é uma parte de mim, sempre será, e eu sou uma parte dele também. Eu não pertenço a Audácia, Abnegação ou até mesmo a Divergente. Eu não pertenço a Bureau ou a experiência ou a fronteira. Eu pertenço as pessoas que eu amo e eles pertencem a mim – eles, e o amor e a lealdade que dou a ele, formam mais a minha identidade que qualquer palavra ou grupo jamais formarão.” (455)

Depois disso, Tris entrou no mesmo papel que seu pais fizeram quando eles morreram por ela. Ela amou e deu sua vida pelo Caleb mesmo depois dele ter traído ela, da mesma maneira que seus pais amaram e deram sua vida por ela depois que ela os deixou pela Audácia.

Mas dessa vez, diferente de Insurgente, o ato não foi auto destruidor. O relacionamento peculiar da Tris com os soros é que ela foi capaz de derrotá-los (como na simulação do medo na Audácia e o soro da verdade na Franqueza) a não ser que em algum momento ela queria que eles funcionassem (como no soro da paz da Amizade). Então, quando ela passou pelo soro da morte fora do laboratório de armas e ele não a matou, aquilo sugestionou que ela não estava buscando sua própria destruição. Ela estava realmente agindo por amor ao Caleb.

No final, ela teve uma conversa com David onde ela disse a ele suas crenças sobre sacrifício, que deveria ser por amor, força e necessidade. Aquela era uma Tris que sabia no que acreditava sobre o altruísmo. Que sabia quem ela era. Que sabia o que ela queria fazer. Em cada livro ela tentou emular o sacrifício dos pais, e em cada livro ela não parecia entender o que aquele sacrifício realmente era, até Allegiant, quando ela teve um forte senso de identidade, quando ela teve um entendimento perspicaz sobre o que ela (e seus pais) acreditavam sobre altruísmo, que sua jornada havia acabado.

Eu pensei em buscar com a minha mão de autora e arrancá-la daquela situação horrível. Eu pensei e agonizei sobre isso. Mas para mim, isso pareceu desonesto e emocionalmente manipulável. Esse foi o final e ela o escolheu, e eu senti que ela mereceu um final que era tão poderoso quanto ela era.

Em Insurgente, antes da sua “execução,” ela gritou para nada, “Eu ainda não acabei!”

Em Allegiant, ela perguntou a sua mãe, “Eu acabei?”

E sua mãe falou, “Sim. Minha querida criança, você fez tão bem.”

Eu entendo estar chateado pela perda de um personagem que você se importa, e eu estou tão alegre que vocês se importam com ela, porque eu também me importo. Eu estou orgulhosa da maneira como esse final se espelhou naqueles dos outros livros, da maneira como ele se refletiu nas perdas realísticas (dado a configuração distópica e perigosa) dos outros livros, na maneira como mostrou da maneira que a Tris é verdadeiramente feita, e na maneira que concluiu sua duramente merecida transformação. Eu acho que o amor dela pelo irmão é bonito, poderoso.

Eu tenho ouvido uma grande extensão de reações sobre o livro, e eu aceito e respeito todas as reações como válidas. Mas meus sentimentos pessoais sobre o final não mudaram. Eu vou sentir falta dela, aquela voz da Tris na minha cabeça. Mas eu também estou tão, tão orgulhosa da sua força.

Fonte e Tradução

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