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The Epic Battle: O preconceito, o homofóbico e o Guarda-Roupa

Há alguns dias, por meio do twitter, J.K. Rowling, escritora da saga “Harry Potter”, do livro “Morte Súbita” e da série “Cormoran Strike”, rebateu uma pergunta com a melhor e mais simples reposta que alguém um dia poderia dar sobre o assunto. Confira:

Vraaa

Perceba, a fã, em primeira instância, elogia o trabalho de Joanne e agradece profundamente por ter lhe proporcionado o mundo mágico de Harry Potter, a ironia é que a moça não conseguira captar a principal mensagem da obra, pois ainda na mesma linha ela questiona:  “Eu fico imaginando porque você disse que Dumbledore é gay, porque não consigo imaginar ele desse jeito.” Essa moça, Ana alguma coisa, sofreu nocaute quando vira a resposta, primeiramente receber uma mensagem de Rowling já é uma honra fora do comum, e logo uma dessas. Bem, meus amigos, assim respondera a criadora do garoto bruxo: ” Talvez porque gays se parecem com… pessoas?”. Emoldurem esse trecho e vamos para o próximo parágrafo.

Estamos vendo uma comoção nacional: todos contra a novela das nove. Meu senhor, que absurdo, olhem essas mulheres se beijando na TV, ninguém faz nada… Eu vou dizer, Sr. Preconceituoso, o porque de não fazermos nada. Não existe nada a se fazer, quantas vezes seu filho, o inocente de dezoito anos ou até mesmo a criança de cinco, não ficou colado à TV para ver um beijo quente do galã com a mocinha ou até mesmo uma transa sob lençóis brancos que de nada escondem? Neste momento eu garanto que você, pai, mãe, irmão ou seja lá o que for, apenas sorriu ou também admirou a cena, o máximo que pode ter dito foi: “mas essa Paola Oliveira…”.

É aí que questiono mais uma vez: qual a diferença? O que separa um beijo hétero de um beijo gay? Não, irei desmentir-me, não existe essa de beijo gay ou beijo hétero, é beijo e pronto. É sexo e ponto final. Duas pessoas estão ali, amando-se ou não, isso ocorre com o ser humano, muitas vezes é impulsionado pelo prazer, outras por questões emocionais, somos pessoas como falara J.K. Rowling. O real problema não está na novela ou na série, está na barreira criada por você, querido homofóbico. Ontem, ou bem antes de ontem, estava eu debatendo este assunto na academia, reafirmando tudo que disse neste parágrafo e como quem não quer nada um estudante, igual a mim ou a qualquer outro na universidade cuspira a seguinte frase: “Então vai lá beijar um cara!”. Responderei como respondi no momento. Cada um beija o que bem entender, não deve ser julgado por isso. Homens se beijando não ferem a constituição. Um casal de mulheres adotando uma criança não transforma o indivíduo em um animal abominável. Abominável é o preconceito, a repulsa. Mas defendo sim, sua opção de escolha, posicionar-se entre um dos lados, o que aceita ou que não consegue compreender tudo isso, é de livre escolha para todos os públicos, o problema é agredir, verbal ou fisicamente as escolhas. Isso extrapola o que chamamos de preconceito, isso é crime.

Para encerrarmos o debate sobre a televisão e partirmos para a literatura, só quero dizer que precisamos ser bem mais corajosos nas diversas emissoras, explorar o caminho que ninguém nunca desejou invadir, por puro medo de recusa. Nunca pensei que iria parabenizar a rede Globo, mas hoje rendo-me à tal, pois após anos de atitudes ofuscadas, consegue criar a verdadeira arte, não por ter tramas incríveis, mas sim por não impor limites. Há décadas o cinema vem martelando em cenas como as que a globo está expondo agora. O francês vem com uma bandeira gigantesca com “Azul é a cor mais quente”, o cinema alternativo europeu premia seus telespectadores com cenas realistas do que seria um relacionamento gay: um relacionamento como qualquer outro. O mundo das séries já quebrara esse paradigma há muito tempo. Game of Thrones, Orange is the new Black, Skins… façam o favor, parem de tanto moralismo barato, assistam tais séries e desmitifiquem seus medos, sua ira.

Milhões e milhões de crianças leem “Harry Potter”, essas crianças cresceram e muitas delas hoje já tem seus filhos, suas famílias constituídas, eis a pergunta: Dumbledore esteve presente nas centenas de páginas, ativamente apareceu do primeiro até o sexto livro, até mesmo após sua morte, lá estava Alvo, convivemos tanto tempo com ele e porque será, raios o parta, que não somos gays? Todos nós, os milhões de leitores? Essa é a lógica de quem renega uma pessoa apenas por ser quem é. Amigo, amiga, quando estiver com raiva de seu conhecido por ele ser gay, pegue seu preconceito e deixe-o reservado em seu guarda-roupa, ele ficará bem mais protegido lá, sem ninguém tocar. Ou quem sabe, você, por ser oprimido, por ter que enfrentar a ridicularização em sua própria casa, tenha terror de se declarar, de gritar “I will survive” como Gloria Gaynor gritou, de dizer aos seus amigos o que está acontecendo, desista desse empoeirado armário, ele não o levará para Nárnia alguma, apenas te diminuirá mais e mais a cada segundo.

Como muitos pensam, ser mulher não é crime, ser gay não é violação, ser homem não te faz machista. É necessário romper correntes, absorver o que as artes nos proporcionam. E, parafraseando Raul Seixas, “Faz o que tu queres, há de ser” quase “tudo da lei”. Amar é permitido, ofender, nunca. Escrever sobre é obrigação, não por ser pró ou contra, mas por ser quem é. Agente de toda a sociedade, transformador de visões, observador dessas, corra contra o preconceito ao invés de fortalecê-lo.

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