O Vilarejo é o segundo livro que li do Raphael Montes (o primeiro foi Jantar secreto, que já tem resenha aqui no Beco), fica claro que seu estilo é marcado pelo choque causado pela violência, nesses dois livros, pelo menos em algum momento você sentirá ânsia ao ler.
O vilarejo é um livro pequeno, com pouco menos de 100 páginas, com contos que se passam num mesmo universo (um vilarejo europeu), todos os contos são fechados, porém, formam pontes com todos os outros, sendo que o último amarra todas as pontas deixadas pelos anteriores.
Além disso, há uma história maior, que ocorre antes e depois da coletânea, que pretende assim dar um ar de realidade à história, um detalhe bem interessante. O livro mostra cada pecado capital como um demônio, cada conto representa um desses demônios, embora as situações sejam criadas pelos humanos, direta ou indiretamente influenciados. Sobre os personagens abordados, todos são odiáveis, não há como se identificar com algum, uma pena, gosto de sentir empatia, mesmo que o personagem seja cheio de defeitos, aqui todos são merecedores de seus karmas. Ao final ocorre toda uma explicação sobre as histórias que foi desnecessária, não subjugue seus leitores, Montes, eles conseguem fazer associações sozinhos!
Não é um livro ruim, é impactante, e cumpre ao que se propõem, apenas se comparar à Jantar secreto pode-se perceber que talvez não seja o melhor dele, isso se deve por já começar a leitura sabendo o que se pode esperar, se você não leu nenhum livro dele, acredite, não sabe o que esperar.
A quem tiver estômago, é uma boa recomendação.
SPOILERS A SEGUIR – SÓ CONTINUE SE JÁ TIVER LIDO
O cramunhão, sete-peles, mochila de criança, pé fendido… Falou que apenas aflorou o que cada um tinha de pior, por isso o preguiçoso escravizou crianças, o marceneiro pegou lepra, etc. Mas a garota do primeiro conto, o pecado dela era a gula, o argumento para ela foi ter negado ALGUNS OSSOS DE RATO para ele, ela estava lutando pela vida dela e dos filhos, isso não é gula, é sobrevivência. E mesmo se argumentar sobre os jantares cheios de fartura que era feitos, foram em tempos de vacas gordas, e todos os moradores da região comiam e abundancia.
Achei um pouco exagerado esse argumento, mas nada a prejudicar, apenas uma curiosidade.