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o garoto que usava coroa

os esforços falharam, afinal
Autorais, Livros

Autoria: Os esforços não falharam, afinal

Esse texto fazia parte da coletânea do meu primeiro livro, O garoto que usava coroa. Na época, eu resolvi excluir porque achava pessoal demais. Hoje sequer lembro porque foi escrito. Todos os meus esforços pra manter esse texto não publicado vão falhar também.

Tem algo mais bonito que o som do seu nome? Só de dizê-lo faz meu coração tocar como um sino. Coisa estranha de se imaginar… Tá, não vou começar assim. Só queria escrever um início legal, pra te surpreender depois com uma carta que você não enjoe de ler, espero que goste, de verdade.

Você se lembra de como nos conhecemos? Que coisa louca. Rende uma história, e vou conta-la do meu ponto de vista. Vamos voltar para o final de 2013…

05 de dezembro de 2013, 11:03 AM, para ser mais exato. Graças ao Zezé de Camargo, que não cantava mais nada, no Encontro da Fátima Bernardes. Se isso não é começar uma amizade improvável, não sei o que é.

Bom, eu não sei como as coisas foram muito depois disso, eu poderia baixar nossa conversa do WhatsApp, mas ela é interminável. Só sei que, – essa parte vai ficar muito melosa, sério, mas é necessária –, você com seu jeito único, conseguiu me deixar apegado a você em pouquíssimo tempo, como você deve ter percebido. Eu sou meio complexado, então sempre achava que você estava brava comigo por alguma coisa, ou algo assim, mas eu sei que não. (Pelo menos espero que não).

Lembro-me de um dia em que você estava triste e eu fiquei praticamente toda a madrugada conversando com você pelo Whatsapp. Para mim, foi um dos melhores dias, não pela parte da tristeza, mas pela parte de que pela primeira vez, eu parecia ser um “amigo útil” para você. Pode parecer besteira minha, mas não é, te juro. Claro que, nesse dia fiquei bastante preocupado, não parecia ser possível como alguém poderia ter te machucado de tal maneira. Não parecia lógico, real. Como eu já disse uma vez, você é o tipo de pessoa que nos faz te querer sempre por perto, e ter aquela vontade de afastar tudo de ruim que possa vir a te acontecer. Não que você precise da proteção de ninguém, sua força é invejável, mas é como um imã. Ou como a terceira lei de Newton. Ação e Reação.

Foi difícil escolher algo pra te dar. Primeiro pensei em um CD do OneRepublic, porque foi essa a primeira banda que você me indicou. Sempre que ouço o Native, me lembro de você. Algumas musicas em especial. Counting Stars, porque foi a primeira. What You Wanted, porque apareceu no trailer de A Culpa É das Estrelas, e eu sempre relacionei esse filme/livro a você, também, por algum motivo. I would kill for you, that’s right, if that’s what you wanted… É um trecho que explica bem o que eu disse alguns parágrafos atrás. I Lived é minha música preferida de todos os tempos. Tem também Burning Bridges, que é a sua preferida, Preacher… Mas acho que Something I Need é a mais original que eu relaciono a você. Não é porque é a primeira, porque apareceu em um filme, ou porque é a sua ou a minha preferida. É porque simplesmente foi você a primeira pessoa que veio na minha cabeça quando ouvi ela pela primeira vez.

Bom, voltando aos presentes. Pensei em outras várias opções, mas eu não sabia se você já tinha ou não. Então resolvi dar o meu livro preferido e iniciar essa carta igual o Will. Não que eu goste dele, mas tenho que admitir que ele é criativo.

Eu poderia citar agora, inúmeras ocasiões em que você me fez rir nos momentos em que eu estava na pior, mesmo sem você saber disso. Obrigado, sério, mas essa não é uma carta sobre mim, então vou só comentar.

Você se lembra de quando você falou “Não ficou um lixo porque você que escreveu. E você escreve com o coração.” Ou quando você disse que eu tinha potencial para ser um best-seller? Você foi, e ainda é, uma das únicas que realmente acreditou em mim de tal maneira, e eu não sei como agradecer isso. Enquanto todo mundo me olhava torto porque eu estava escrevendo um livro, ou sonhava em ser escritor, você dizia isso. E isso valia e ainda vale tudo valer a pena, tudo.

Teve uma época, durante esse ano, em que nós não nos falamos muito, estávamos bem ocupados. Primeiro, pensei que nunca mais teríamos tudo aquilo de volta. Mas depois, percebi que nada havia mudado, senão para melhor. I’m on a rollercoaster that only goes up my friend.

Tem uma música que explica bem como eu me sinto, sobre isso e sobre algumas outras coisas que eu já havia comentado. Você vai entender quando ouvir. Você provavelmente já ouviu I wanna be the rain, do RBD. É essa. E nenhuma descreve melhor, sério.

E para finalizar este livreto que escrevi, saiba que nunca, NUNCA, te quero ver longe de mim. E aqui cito John Green diretamente, mais uma vez, “You realize that trying to keep your distance from me will not lessen my affection for you. All efforts to save me from you will fail”. (Tenha em mente que tentar manter distância de mim, de forma alguma, diminui o que eu sinto por você. Todos os esforços para me salvarem de você irão falhar.)

All efforts to save me from you will fail.
Todos os esforços para me salvarem de você irão falhar.

Do seu amigo, Gustav Albuquerque.

Montanha russa
Autorais

Autoria: Montanha russa, por Gabu Camacho

Nota de início: Montanha russa foi escrito há muitos anos. Mais de cinco. Ele está presente no primeiro livro, O garoto que usava coroa, mas diferente por lá. Na época em que o livro foi escrito, eu ainda não tinha me assumido LGBTQIAP+ e tive medo de entregar um texto explicitamente LGBTQIAP+ para ser publicado. Apesar do livro ser todo sobre essa temática, de forma mais sutil, eu tive medo na época e por isso, fiz a Stephenie Meyer e troquei o gênero dos personagens. Essa aqui é a versão real. Boa leitura!

Afiadas são as flechas de um coração partido.
— Cassandra Clare, “Cidade do Fogo Celestial”.

Minha animação estava ridiculamente alta. Minha avó havia me chamado para dormir em sua casa neste fim de semana que precedia o natal, afinal, meu primo Matthew chegaria com seu pai Pily do interior, na madrugada. Segundo ela, nós éramos grandes amigos na infância, eu não me lembrava disso, só me lembrava dele, e da sua presença onipresente em meu Facebook.

— Ele disse estar ansioso para te ver, Edmundo. E vocês podem aproveitar o parque de diversões aí na frente. Tudo bem se ele ficar no seu quarto? – Minha vó era muito preocupada em acomodar bem as pessoas.

— Tudo bem sim, vó. – Concordei rapidamente e voltei meu olhar para a janela, que dava numa movimentada avenida, e além dela, havia um terreno baldio, do tipo que circos e parques de diversões se instalavam em datas sublimes. Um parque estava lá agora, e eu via crianças felizes com seus ursos enormes e outras mais felizes ainda com pequenas bolinhas pula-pula.

— Bom, podemos dormir. Quando chegarem, saberemos. Já deixei o café pronto. – A preocupação pelo bem estar era uma coisa que me fascinava na minha avó. Apenas acenei em concordância e segui para o meu quarto, fechando a porta. Tinha duas camas, uma box de casal e outra de solteiro. Deixei-a preparada para Matthew, meu primo, que apesar de exalar uma aura mais velha, tinha quase a minha idade.

Sentei-me a beira da minha cama, olhando para o nada, enquanto retirava o meu colar cujo pingente era uma chave, do pescoço, e me deitei rapidamente olhando para o teto. Peguei no sono em algum momento despercebido, mas pareceu apenas um piscar de olhos quando uma buzina irrompeu em minha mente. Chegaram.

Um micro-ônibus estava parado em frente à casa da minha avó, com todos da família do interior descendo, gradualmente. Ela e meu avô estavam emocionados pela surpresa e eu estava ao canto, com meu cabelo negro desgrenhado cobrindo os olhos, esperando por um rosto que pudesse ser conhecido.

— ED! Como você está lindo, garoto! – Era minha tia Lucie, com seu jeito todo espevitado. Era uma das únicas que gostava e realmente conhecia do interior.

— Ahn, obrigado tia… – Mas ela já tinha saído para abraçar as pessoas entre si. Entrei na casa e me sentei no canto do sofá, querendo me tornar invisível enquanto tentava não ser mal educado e voltar para o quarto. Coloquei a mão involuntariamente no meu pingente de chave, já havia se tornado algo que lhe trazia calmaria.

— Hmm, oi? – Reconheci seu rosto imediatamente. Queimava em vermelho, parecia estar tímido, assim como eu.

— Oi, Matthew. Como está? Tio Pily, oi. – Levantei-me do sofá e abracei ambos. Matt tinha um cheiro masculino adocicado, meu tio cheirava a álcool.

— Grande homem, Ed. Pode ajudar Matthew com as malas e mostrar onde ele deve dormir? Já está com sono. – O tom dele não transmitia orgulho.

— Claro. Vamos, Matt… Matthew. – Droga, estava corando e nem sabia o porquê.

Pegou a maior mala e seguiu o corredor até seu quarto, nos fundos, onde se sentou na cama mais uma vez.

— Quer dar uma volta? – Eu estava ciente da hora, mas o parque de diversões ainda estava aberto.

— Claro. – Ele passou a mão nos seus cabelos negros, que se misturavam arrepiados de maneira preguiçosa.

Atravessamos a rua e fomos juntos para o parque, conversando sobre coisas aleatórias. Dez minutos depois, já éramos melhores amigos de infância. Matt tinha um jeito de criança, no portar assim como no pensar. Parecia um bebê em corpo de adolescente de dezessete anos, e era isso que talvez houvesse me cativado.

— Quero uma bolinha pula-pula do Homem Aranha. – Ele disse certa hora, olhando para mim.

— Vou conseguir uma pra você. – Eu sorri, mas perdi todo meu dinheiro tentando acertar o alvo, e ainda assim não havia conseguido o prêmio. Matt parecia desapontado, mas seguimos para minha avó, mais uma vez. Todos já dormiam, então fomos para fazer o mesmo. Deitei na grande cama de casal e acordei no dia seguinte, já de tardezinha, com meus braços apoiados em um saco que parecia respirar…

Não era um saco. Era Matthew.

Levantei-me silenciosamente e coloquei meu celular na tomada, depois de tirar uma foto do rosto inocente que havia passado a noite ao seu lado. Comecei a me sentir mal desde então, odiava me apegar às pessoas. Eles sempre iam embora, depois. O celular vibrou com a chegada do conselho diário:

Você pode estar em um relacionamento por dois anos e não sentir nada. Você pode estar em um relacionamento por dois meses e sentir tudo. Tempo não é uma grandeza de qualidade, de paixão ou de amor.

Sorri pro meu primo deitado na cama e fui tomar café, com as mãos para dentro da manga longa do pijama comprido.

— Quer voltar ao parque? – Matt chegou pouco tempo depois na mesa de café. — Podemos ir à montanha russa hoje.

— Claro que sim! – Eu estava adorando passar tempo sozinho com Matthew, nossas conversas eram únicas e parecíamos ser irmãos. Isso me deprimia. Sabia que logo depois ele voltaria para a cidade e então, nunca mais nos veríamos.

Nós fomos, brincamos, corremos. Matthew conseguiu uma bolinha do Homem Aranha e logo voltou para a casa. Fiquei no parque mais uns minutos, queria um presente mais especial para ele. Quando voltei, a casa era só berro.

— DELINQUENTE! NÓS VOLTAREMOS PARA CASA AINDA HOJE! – Era meu Tio Pily.

— Calma, Pily… Não precisa tratar o garoto assim. – Minha vó estava calma.

Entrei correndo na casa, mas fui impedido pelos meus pais na cozinha, para chegar até a porta.

— Ed, pegue suas coisas. Estamos indo embora. – Minha mãe soava séria.

— Devo falar com Matt antes?

— Claro, Edmundo. – Meu pai estava compreensivo, como sempre ocorria quando se tratava de sua família.

Entrei no banheiro, mas Matthew não estava para conversa, então logo saí e voltei ao quarto, em prantos, fingindo arrumar minhas coisas, enquanto caçava por um pedaço de papel. Estavam gritando para que eu fosse embora, quando meu tio esmurrava a porta do banheiro querendo que Matt saísse. Tirei meu colar de chave, envolvi em um papel e escrevi no meu garrancho:

Chave para os seus sonhos.

Deixei onde sabia que ele veria, e fui embora. Não sabia o que significava aquele gesto, mas agora não importava mais.

Então, fui embora convicto de que Matthew jamais veria minha carta.

Convicto de que jamais veria Matthew novamente.

Convicto de que meu melhor primo jamais abriria os olhos novamente.

Convicto, de que Matthew havia se suicidado no banheiro da minha avó.

Autoria: Aconteceu de novo
Autoria: Aconteceu de novo
Autorais

Autoria: Aconteceu de novo

Leia ouvindo: Call it what you want, Taylor Swift

Querido diário,

O quão clichê é manter um diário? Não sei. Foi a terapeuta da Sara, que recomendou para ela, e eu senti como se fosse para mim também. Gosto de divagar, e contar essa história do meio. Você não sabe o que veio antes dela, nem tampouco saberá o que virá depois. Mas aconteceu de novo.

Sabe quando acontece aquilo que você diz, jura de pés juntos, promete a si mesmo, que nunca mais vai deixar acontecer? Então. Mas eu deixei, e eu nem sei o porquê. É como diz Taylor Swift, talvez eu estivesse apenas dançando nesse jogo inebriante com as mãos amarradas. Não li a última página, nem tampouco lerei ou farei questão de escrevê-la.

A gente se agarra a algo só pelas memórias, mas não deveríamos então nos agarrar às memórias e não aos algos? As memórias se agarram na gente, os algos vão embora para sempre.

De vez em quando paro e vejo minha parede de polaroids. Quantas memórias de algos que já se foram, talvez eu mesmo tenha sido um algo partido para alguém. Mas aconteceu de novo.

Não sei se o problema sou eu. O clichê do problema sou eu. Acho que não, sou legal demais para isso e minha fase de me culpar por tudo o que acontece no mundo já passou. Sou prepotente, talvez. Mas acredito no meu potencial e sei que eu sei me reinventar. Será que apenas sei que sei ou sei saber? Mas é, a vida é um ciclo vicioso. A gente acha que as coisas vão mudar, teme as mudanças e elas mudam para ser o que eram antes.

Estou melhor que nunca estive, sei que me basto, sei que aquele garotinho que dizia que seu mundo caiu por conta dos egoísmos alheios morreu. Aquele menino, de cabelos castanhos e que usava coroa na rua, e chapéu em casa morreu. Assassinado.

Não precisa chamar a polícia. Ele simplesmente morreu, pisou na coroa e a quebrou em zilhões de pedaços. Pisou assim como todos que o pisaram. Talvez tenha crescido, talvez não. Mas aconteceu de novo.

Aconteceu de novo toda a sua história antes da coroa, mesmo depois de usá-la com orgulho. Então, de que adianta mantê-la? Nada. De nada adianta manter um cadáver. Hora ou outra ele começa a feder.

Adeus, Garoto da Coroa. Descanse em paz.

Sempre, Gustav Albuquerque.