“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos.”
Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Ela é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que estão atraindo uma nova geração de leitores de literatura africana. Seu primeiro livro, Hibisco Roxo, foi publicado em 2003 e, desde então, sua popularidade não para de crescer. Mas, o que destaca a Chimamanda e fez eu querer escrever este artigo hoje é o seu discurso feminista.
Em 2012, Chimamanda Adichie deu uma palestra no TEDxEuston, uma conferência anual com foco na África, falando sobre o feminismo, mais especificamente sobre sua experiência em ser uma feminista africana. Várias partes desta palestra foram usadas na música Flawless, da Beyoncé, e, posteriormente, virou um livro. Sejamos todos feministas foi lançado no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras.
″Eu estou com raiva. A construção de gênero do modo como funciona atualmente é uma grave injustiça. Todos nós deveríamos estar com raiva. Esse sentimento, a raiva, é importante historicamente para as transformações sociais positivas, mas, além de estar com raiva, eu também estou esperançosa porque eu acredito profundamente na habilidade dos humanos de se reinventarem e se tornarem melhores”.
O livro é cheio de citações e frases de empoderamento feminino, além de explicar o que é o feminismo, por que precisamos do feminismo e por que ser chamada de feminista, ás vezes, soa tão ruim. Caracterizada como uma mulher raivosa e de gênio difícil, Chimamanda nos mostra o machismo nesses adjetivos que são atribuídos a ela só por ser uma mulher falando. Um homem que defendesse firmemente seus ideais e falasse de forma assertiva seria taxado como alguém raivoso e de gênio difícil? Quando o problema não está na característica, mas no fato de ser uma mulher portando ela, isso é machismo. E é por isso que o feminismo é tão necessário.
Em 2017, a Companhia das Letras nos traz Para educar crianças feministas: um manifesto. O pequeno livrinho de capa verde nada mais é do que uma carta que Chimamanda escreveu para sua amiga em resposta a uma pergunta: Como criar minha filha como uma feminista?
Como mãe de uma menina, esse livro abriu meus olhos para muitas coisas que, até então, eu não achava serem tão importantes. O estigma das princesas é uma delas. Ensinar minha filha que ela não é uma donzela indefesa, que o príncipe perfeito não existe e que ela não precisa de um casamento para ter um final feliz se mostrou mais difícil do que eu esperava. Por sorte, as animações da Disney têm evoluído junto com os movimentos feministas, e princesas modernas que salvam o dia e buscam o seu próprio felizes para sempre têm surgido para nos socorrer.
A importância do exemplo nas minhas atitudes e o perigo do tal feminismo leve também me fez pensar. O feminismo leve traz a ideia de uma igualdade feminina condicional. “O homem é o cabeça, mas a mulher é o pescoço” e “meu marido me ajuda em casa” são frases muito comuns usadas por feministas leves. Basicamente, usa-se o conceito do “deixar”. Deixar que a mulher estude, deixar que a mulher trabalhe. A mulher pode fazer o que quiser, desde que o marido deixe. Eca.
Porém, acredito que, para mim, a parte mais importante desses dois livros foi entender que ser feminista não é deixar de ser feminina e, muito menos, é declarar guerra contra os homens. Ser feminista é querer direitos e deveres iguais para todos, sem distinção de gênero. Um mundo igualitário, sem discursos de ódio, opressão e preconceito. Eu consegui entender que ser chamada de feminista não é algo ruim e que eu não preciso deixar de usar maquiagem ou depilar minhas pernas, nem marchar seminua em praça pública para defender meus direitos.
Mas, mais do que isso, ser feminista é ser a favor da humanidade. Homens e mulheres vivendo em igualdade, respeitando suas diferenças e contribuindo de forma igual para a sociedade. Respeito, essa é a palavra chave. Seja para homens, mulheres, gays, pessoas trans, negros, índios, refugiados, para todos.
Paulo Freire já dizia que o sonho do oprimido é virar o opressor, porém o feminismo não defende que os homens devam ser exterminados ou virar escravos das mulheres em uma revolução apocalíptica distópica. O feminismo defende um mundo igualitário e, em um mundo igualitário, nenhum dos lados pode ser oprimido.