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Halloween: 5 livros de terror para entrar no clima
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Halloween: 5 livros de terror para entrar no clima

Comemorado no dia 31 de outubro, o Dia das Bruxas – também conhecido como Halloween ou até mesmo Dia do Saci, aqui no Brasil – deriva de um festival pagão celta, intitulado Samhain, que celebrava a chegada do inverno e era tido como o momento em que a barreira que separava os mortos dos vivos deixava de estar presente.

Já o terror é um dos gêneros que mais desperta curiosidade e fascínio, assim como trata de questões relevantes por meio de alegorias e analogias. Mary Shelley, Bram Stoker, Horace Walpole e Edgar Allan Poe são exemplos de autores clássicos do terror, que inspiram obras até hoje. A mais recente série de terror da Netflix leva o nome de um dos contos de Edgar Allan Poe: A Queda da Casa de Usher.

Por conta da colheita que era feita antes do inverno, a abóbora era um dos símbolos do Samhain. O Halloween se tornou cada vez mais como conhecemos hoje após a influência do catolicismo ao mesclar as tradições celtas ao Dia de Todos os Santos.

A atmosfera sobrenatural que cerca a data certamente inspira a leitura de histórias de terror e as nuances que estão presentes no gênero, seja por meio do mistério, do horror, do misticismo ou até mesmo do que é considerado científico. Para se aprofundar mais nas histórias que não te deixarão dormir, confira cinco livros que são clássicos do medo.

5 livros de terror (e um bônus) para entrar no clima de Halloween

Drácula, de Bram Stoker

Elaborado como um romance a partir de uma série de cartas, relatos, diários pessoais, reportagens de jornais, registros de bordo, etc, o livro nos apresenta os costumes, tradições e a cultura da Inglaterra vitoriana e a reação dos britânicos com relação ao que vem do estrangeiro, personificado através do medo da figura do vampiro.

Quando foi publicado em 1897, “Drácula” não foi um best-seller imediato. O romance tornou-se mais significativo para os leitores modernos do que foi para os leitores contemporâneos do autor, atingindo seu grande status lendário clássico ao longo do século XX. A edição bilíngue de “Drácula” pela Editora Landmark conta com um primeiro capítulo excluído por Stoker da publicação e recuperado após a morte do autor.

O Estranho Caso do Doutor Jekyll e do Senhor Hyde, de Robert Louis Stevenson

Escrito em 1886, o clássico conta a história de Utterson, um advogado que acompanha os horrores acontecidos em Londres no final do século XIX por um misterioso homem que comete crimes e provoca a polícia local. O clima sombrio da capital inglesa contorna a história e dá o tom de mistério, pois mesmo durante o dia, a névoa deixa a cidade escura.

O contexto histórico do país é transcrito na trama: avanço nas pesquisas e experimentos científicos, êxodo rural devido à Revolução Industrial, contraste econômico, poluição e aumento dos índices criminais, motivo pelo qual, em 1829, foi criada a Scotland Yard. Em meio a esta conjuntura, o lado tenebroso da sociedade vitoriana e a dualidade do homem são discutidas pela obra.

Frankenstein, de Mary Shelley

O livro relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que busca recriar um ser vivo, uma criatura, através do uso da ciência em seu laboratório. Mary Shelley escreveu a obra quando tinha 19 anos. Publicada em 1818, sem o devido crédito para a autora em sua primeira edição, o romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero, tendo influência na literatura e na cultura popular ocidental.

Frankenstein aborda diversos temas ao longo de sua narrativa, sendo a mais gritante a relação entre a criatura e o seu criador, com óbvias implicações religiosas. Preconceito, ingratidão e injustiça também estão presentes. A criatura é sempre julgada por sua aparência, e agredida antes de ter a oportunidade de se defender. Por fim, a inevitabilidade do destino, tema muito desenvolvido na literatura clássica, é constantemente aludida ao longo da obra que se presta a múltiplas interpretações e leituras.

O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux

Publicado originalmente em série na famosa revista literária “Le Gallois”, entre 23 de setembro de 1909 e 8 de janeiro de 1910, e posteriormente em livro em abril de 1910. O romance é parcialmente inspirado em fatos históricos da Ópera de Paris durante o século XIX e em um conto relativo à descoberta de um esqueleto de um bailarino durante a produção da ópera “O Franco-atirador”, de Carl Maria von Weber, em 1841.

O livro combina romance e suspense para narrar o triângulo amoroso entre a linda e talentosa cantora lírica Christine Daaé, o frágil e apaixonado visconde Raoul de Chagny e o sinistro e obcecado gênio da música que habita os porões do teatro. Relatado como uma investigação real, a obra busca atestar a existência do habitante do subterrâneo da Ópera de Paris. Com contornos de relato histórico, a narrativa conduz o leitor pelos labirintos da Ópera de Paris e do coração humano, revelando o que há de mais obscuro em ambos.

A Volta do Parafuso, de Henry James

Para aqueles que se interessam por histórias mais sobrenaturais, em A Volta do Parafuso somos levados ao dia a dia de uma governanta num casarão em Bly, Inglaterra, a qual cuida de duas crianças, que serão possuídas por espíritos de um criado de quarto e de sua antecessora na função.

O livro provocou polêmica quando foi publicado porque nunca ficou claro se tudo o que se passou foi de fato real ou apenas fruto de uma imaginação obsessiva da narradora da história. Essas leituras em aberto são capazes de levarem a grandes acertos e enormes absurdos na experiência de interpretação do livro.

Bônus: 1984, de George Orwell

Mais real do que se espera, distopias também podem dar medo. 1984 oferece uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as sociedades capitalistas modernas. A história se passa em um futuro onde o Estado impõe um regime extremamente totalitário, através da vigilância do Grande Irmão, imposta pelo partido (Ingsoc), onde ninguém escapa do seu poder.

O país é dominado pelo medo e repressão, pois quem pensa contra o regime é acusado de cometer um crime. Neste mundo, o personagem principal, que representa o contraponto ao regime, Winston Smith logo começa a questionar o modo como age o Estado. Winston faz parte do Ministério da Verdade, sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico.

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Crítica: Terror nos Bastidores (The Final Girls, 2015)

Na última crítica do Especial de Halloween, eu escrevi sobre A Babá — um filme de terrir, gênero que combina comédia e terror e um dos meus subgêneros de terror preferidos —  filme original da Netflix que não tem medo de ser trash e é muito divertido. E ainda no mesmo tema, a crítica do Especial de Halloween de hoje é um dos meus filmes de terrir preferido: The Final Girls ou como foi traduzido aqui no Brasil, Terror nos Bastidores.

Imagem: Divulgação

The Final Girls é uma espécie de sátira/homenagem aos filmes de slasher dos anos 80 dirigida por Todd Strauss-Schulson (Um Natal Muito Louco) e roteirizada pela dupla M.A Fortin (Queen of the South) e Joshua John Miller (Também roteirista de Queen of the South, e atuou no longa Near Dark). O longa segue a história de Amanda Cartwright (Malin Akerman, de Watchtmen, e simplesmente maravilhosa) e Max Cartwright (Taissa Farmiga, de American Horror Story), mãe e filha que são muito ligadas e tem uma relação de amizade e cumplicidade. No entanto, Amanda é uma atriz fracassada que não consegue um bom papel por ter participado de um filme da famosa franquia slasher Camp Bloodbath (uma clara referência à franquia Sexta-Feira 13), e apesar de sempre contar com o apoio da filha, vive frustrada. Após sair de mais um teste fracassado, Amanda e Max sofrem um terrível acidente de carro, matando a primeira, com Max tendo que lidar com a morte precoce da mãe.

Imagem: Malin Akerman e Taissa Famiga, Divulgação

Um ano se passa, e a jovem é convidada para uma sessão especial dos dois filmes da franquia que fez sua mãe ficar famosa (e seu único sucesso). Relutantemente ela aceita, mais como uma oportunidade de rever a mãe do que realmente querer participar do evento, mesmo que seja apenas em um filme. Porém, durante a sessão, acontece um incêndio e Max e seus amigos — Chris Briggs (Alexander Ludwig), Vicki Summers (Nina Dobrev), Gertie Michaels (Alia Shawkat) e Duncan (Thomas Middledict) — rasgam a tela do filme, para eles poderem fugir por uma saída do outro lado. Mas, em vez de eles estarem sãos e salvos, inexplicavelmente o grupo vai parar dentro do filme Camp Bloodbath. O grupo terá que fazer de tudo para sair dessa situação em meio a um filme de slasher com um assassino à solta querendo matar todos que ver pela frente, lidando com as regras desse tipo de filme. E Max terá que lidar com a dor e a saudade de rever a sua mãe, sendo que ali ela é só uma personagem de filme de terror e que está marcada para morrer.

ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS ABAIXO

Imagem: Divulgação

The Final Girls é um filme que me chamou a atenção logo pela premissa: o que você faria se ficasse preso em um filme de terror? Afinal todos conhecemos as regras desse tipo de filme, principalmente o slasher; conhecemos de cor e salteado os clichês e estereótipos, mas será que seria o suficiente para sobrevivermos?!

O longa lida com isso da forma mais divertida possível, através do personagem Duncan que é um fã da franquia e conhece todas as regras, as falas, as ordens das mortes, quem será a final girl… Mas não é o suficiente para fazê-lo durar muito. E esse é um dos pontos mais assustadores e divertidos do filme: todos eles vão morrer, porque eles estão em um filme slasher e apenas a final girl sobrevive no final.

Imagem: Divulgação

Outro ponto que me fez querer assistir ao filme é que a premissa do filme me fez lembrar de um clássico brasileiro da Sessão da Tarde estrelado pela Angélica (sim, ela mesma!): Zoando na TV, em que ela e o namorado (interpretado pelo Márcio Garcia) entram na TV e terão que tentar sair dali, enquanto lidam com vilões que querem controlar a programação da TV (ok, provavelmente só eu lembro dessa pérola brasileira, mas procurem no Youtube).

Imagem: Divulgação

 

Mas, o que me surpreendeu em The Final Girls é que ele consegue ser extremamente emocional. Sim, você não leu errado. Em meio à todos os esteriótipos e piadas com os clichês de filmes slasher há espaço para um desenvolvimento de personagens tão bom, que eu literalmente me debulhei em lágrimas em uma das cenas finais do filme. E isso se deve a forma como o roteiro desenvolveu o relacionamento de Max com Amanda e com a personagem que sua mãe interpreta: Nancy.

Nancy é a típica personagem loira e bonita, doce e virginal, que teria tudo para ser a protagonista, até que “comete o erro” de perder a virgindade, e por isso paga com sua vida. Como sabemos, filmes de terror possuem uma moralidade bem tradicional, não a toa uma das regras é que não se pode transar nesses filmes, pois você está assinando sua sentença de morte. Era muito comum nesses filmes dos anos 80, principalmente os primeiros filmes da franquia Sexta-Feira 13, em que eles usavam uma personagem que teria todo o potencial para ser a protagonista (geralmente era a personagem com mais tempo de tela, e tinha todo o ar virginal) de exemplo moral; então a personagem transava ou cometia algum outro clichê, e assim era morta pelo assassino. Isso deixava o caminho livre para verdadeira final girl brilhar: a garota diferente de todas, introspectiva (com menos tempo de tela às vezes) e virgem. Nancy é exatamente a personagem que servirá de exemplo moral no filme, e por isso sua morte é inevitável.

Imagem: Divulgação

Como não poderia deixar de ser, isso mexe com Max, que não consegue separar sua mãe da personagem, e por isso quer fazer de tudo para Nancy sobreviver, mesmo que seja impossível. Ou não tão impossível. Por não fazerem parte do filme, o grupo passa a alterar a ordem natural das regras do Camp Bloodbath; como o fato de eles, mesmo não sendo personagens do filme morrerem e a ordem das mortes. No entanto, o erro principal que eles cometem é acidentalmente causar a morte da final girl do filme: Paula (Chloe Bridges), alterando assim todas as regras do filme.

Max, então, vê isso como uma oportunidade de “salvar” sua mãe, e passa a fazer de tudo para que Nancy seja a nova final girl e sobreviva. As atuações de Malin Ackerman e Taissa Farmiga estão sensacionais, e elas trazem um peso emocional para as personagens que não esperava ver em um filme que satiriza filmes slasher e por isso abusa do uso dos estereótipos. Não tem como não se emocionar e inclusive chorar com a relação das duas, e mesmo que seja inevitável, torcer para que as duas sobrevivam.

Imagem: Divulgação

The Final Girls possui várias referências de vários filmes slasher, mas não tem como não olhar para ele e não lembrar de imediato de Sexta-Feira 13, o fato de ser em um acampamento, a história do assassino que sofria bulliyng das outras crianças e por culpa delas, morre — no caso de Camp Bloodbath, ele só fica desfigurado—  a roupa e máscara do assassino. Até o típico tema do Jason Vorhees de quando ele se aproximava de sua vítima: o famoso kill kill ma ma   (aposto que você cantava kikikimama, ou algo parecido). Toda a produção do filme, desde as locações, as cores, a transição para os flashbacks (uma das sacadas mais geniais do filme), a trilha sonora: tudo remete aos filmes slasher dos anos 80.

Imagem: Divulgação

Inclusive a trilha sonora do filme é um dos grandes destaques: a instrumental consegue reproduzir o clima dos filmes dos anos 80 e a comercial tem ótimas músicas dessa época, com destaque para Bette Davis Eyes (que você nunca ouvirá da mesma forma). Os personagens são todos carismáticos, o que torna ainda mais difícil a inevitável morte deles (um frescor para o gênero slasher, já que normalmente você só quer assistir todo mundo morrer). Com destaques para os personagens do Camp Bloodbath: Kurt, interpretado pelo Adam Devine de Pitch Perfect, que faz um atleta pervertido e cheios de hormônios insuportável, mas engraçado e Tina (Angela Trimbur) a gostosona burra mais estereotipada ever e que protagoniza as cenas mais engraçadas. Angela Trimbur tem uma veia cômica ótima.

Imagem: Divulgação

The Final Girls é um dos melhores filmes do gênero terrir que tive o prazer de assistir, que brinca de forma inteligente com o gênero slasher e possui uma veia dramática surpreendente para um filme do gênero. Ah e a cena final é uma das mais maravilhosas e inteligentes, que fecha o filme com uma piscadinha para os fãs de filmes de terror.

Terror nos Bastidores (The Final Girls) já está disponível na Netflix.

Especial Halloween:

 

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Crítica: A Babá (The Babysitter, 2017)

E continuando o mini Especial de Halloween, a crítica de hoje é de um filme de terror mais leve, que mistura elementos de slasher e comédia: A Babá (The Babysitter), que estreou na última Sexta-Feira 13 (13/10) na Netflix.

Imagem: Netflix

A Babá foi dirigido por McG (As Panteras) e roteirizado por Brian Duffield (Insurgente), e conta a história de Cole (Judah Lewis, uma grata surpresa), um menino de 14 anos, que não tem muitos amigos e sofre bullying dos garotos maiores. Ele só pode contar com duas pessoas na sua vida: sua vizinha Melanie (Emily Alyn Lind, a Amanda Clarke criança em Revenge) e sua babá Bee (Samira Weaving, psicoticamente carismática), por quem ele secretamente tem um crush.

Imagem: Judah Lewis, Samara Weaving, Netflix

Quando os seus pais viajam pelo fim de semana, ele mais uma vez é deixado aos cuidados de Bee, então Cole aproveita essa noite para espiar o que sua babá faz quando ele vai dormir.  O plano dá certo, Cole, finge que está dormindo, e fica espiando em um canto da escada sem Bee perceber. Ela está se divertindo em um jogo da garrafa com cinco amigos: Max (Robbie Amell), Sonya (Hana Mae Lee), Alisson (Bella Thorne), John (Andrew Bachelor) e Samuel (Doug Haley).

O que parece mais um plot de filme de comédia besteirol americano, tem uma mudança drástica e sanguinolenta: durante o jogo, Bee assassina cruelmente Samuel, e ela e seus quatro amigos restantes bebem o sangue dele, enquanto Cole observa de cima da escada horrorizado. Bee e seus amigos fazem parte de um culto satânico, onde eles precisam fazer um sacrifício para poder conseguir o que mais desejam. Cole foge para o seu quarto e tenta ligar para a polícia em vão, e é descoberto acordado pela sua babá e seus amigos satanistas. Agora o garoto terá que fazer de tudo para sobreviver, pois ele será caçado e morto para Bee e seu culto completarem o sacrifício.

ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS ABAIXO 

Imagem: Judah Lewis, Netflix

Ah o terrir! O gênero que combina comédia e terror é um dos meus gêneros preferidos, exatamente por combinar dois gêneros completamente antitéticos, inclusive no meu gosto pessoal, entre si. Eu não sou fã de comédias (especialmente as americanas) e amo terror, tanto que me divirto mais com qualquer filme B de terror do que com piadas em comédias. Porém, o terrir consegue, geralmente unir esses dois elementos de forma tão perfeita que parecem que foram feitos um para o outro!

A Babá não é diferente, conseguindo ser uma comédia de terror de boa qualidade, bem trash, bem absurda, com mortes bizarras que flertam com o gore, e sem se levar a sério em momento algum (ou tão sério quanto um filme desse gênero consegue se levar). O filme também refaz o gênero slasher, que vem embalado em uma espécie de comédia besteirol adolescente, e ainda é um coming of age de um garoto de 14 anos tendo que lidar com a puberdade.

Imagem: Netflix

Cole é um típico garoto de 14 anos, meio nerd e que não tem muitos amigos no colégio. A única pessoa com quem ele sempre fala é Melanie, sua vizinha que também tem 14 anos. Cole também sofre bullying dos garotos maiores, principalmente pelo fato de ainda precisar de uma babá. Porém, esse detalhe não é de todo ruim: sua babá Bee, é uma linda loira, mais velha, tão nerd quanto ele e que sempre está ao seu lado para ajudar (quase uma manic dream pixie girl). A “garota dos sonhos” de qualquer um, principalmente para um moleque que está enfrentando a puberdade. Não a toa, Cole nutre uma paixão platônica por sua babá, e não e´muito bom em esconder isso.

Imagem: Bella Thorne, Netflix

Após Melanie dizer que geralmente as babás trazem namorados para a casa da criança que está cuidando, enquanto essa dorme; Cole resolve espiar Bee, e a pega em uma festinha com cinco amigos com direito a jogo da garrafa. Quase o início de um filme de comédia besteirol, até que Bee mata um de seus amigos e ela e o restante bebem o sangue do corpo. Cole vê tudo, escondido na escada, horrorizado, e corre para o seu quarto para ligar para polícia. Em vão, já que Bee e seus amigos satanistas percebem que o garoto estava acordado e é a única testemunha do crime, e resolvem matá-lo para completar o sacrifício. Cole terá que fazer de tudo para sobreviver e ter coragem para enfrentar os seus maiores medos.

Imagem: Judah Lewis, Netflix

 

O filme é slasher, porém traz uma leve subversão do gênero: o grupo de jovens satanistas são estereótipos dos jovens de filmes de terror (líder de torcida, atleta bonitão, a loira gostosa, o único cara negro, a garota estranha e misteriosa) que geralmente é quem são caçados por um assassino sanguinário; mas em A Babá eles são os assassinos, e o próprio filme faz uma piada com isso dizendo que eles são jovens e bonitos demais para fazerem um sacrifício satânico.

A final girl aqui, também sofre uma repaginada: em vez de uma garota virgem, temos um garoto virgem, que será o final boy que terá que lutar para sobreviver. Inclusive, o clichê da final girl conseguir enfrentar de igual para igual o seu algoz é potencializado ao máximo aqui: em uma espécie de Esqueceram de Mim retorcido (uma referência clara do filme), Cole consegue eliminar os seus algozes um por um, uma morte mais bizarra e trash que a outra.

Imagem: Netflix

 

Judah Lewis é uma grata surpresa, o ator está muito bem e nos faz importar com o personagem, e suas expressões são ótimas e condizentes com as situações que enfrenta. Samara Weaving é outro destaque, sendo super carismática e psicótica na dosagem certa. As piadas são ótimas, principalmente as do Andrew Bachelor (seu personagem deveria viver mais) e surpreendentemente Bella Thorne, que tem um bom time para comédia.

Imagem: Bella Thorne, Netflix

McG e Brian Duffield conseguiram fazer uma comédia terror com claras referências aos filmes dos anos 80 misturado com referências da cultura pop atual de forma divertida e que não se leva tão a sério. A Babá não tem medo e nem vergonha de ser trash até a raiz, não negando em momento algum que se trata de um filme “ruim” e por isso é tão bom e divertido.

A Babá (The Babysitter) já está disponível na Netflix.

 

Especial Halloween:

Crítica: 1922 (2017)
Crítica: 1922 (2017)
Atualizações, Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: 1922 (2017)

Ontem (20/10) estreou 1922, filme de terror psicológico, e que é mais uma adaptação de Stephen King feita pela Netflix; e que está fazendo parte do Especial de Halloween do Beco Literário. O longa é uma adaptação do conto homônimo de King — conto esse que faz parte do livro Escuridão Total Sem Estrelas, lançado aqui no Brasil em 2015 pela Suma de Letras — e de todo o livro, considerado pelos fãs o mais pesado e macabro. 1922 é dirigido e roteirizado por Zak Hilditch (As Horas Finais), que foi muito elogiado pelo próprio Mestre do Terror.

Imagem: Thomas Jane, Netflix

1922 é ambientado no ano que dá nome ao longa, e segue a história da família James, composta pelo patriarca Wilfred James (Thomas Jane, em uma de suas melhores performances), sua mulher Arlette James (Molly Parker), e seu único filho Henry James (Dylan Schmid ), que moram em uma fazenda no Nebraska. Wilfred como um típico fazendeiro e patriarca de uma família de 1922 há apenas duas coisas que ele mais se importa: suas terras e seu filho varão, que herdará as suas terras.

No entanto, sua esposa Arlette nunca gostou de morar em uma fazenda, e seu sonho é morar na cidade grande, e abrir uma butique de roupas. Esse sonho se torna possível, quando ela herda um pedaço de terra próximo a ferrovia, e decide vendê-lo, para ter o dinheiro necessário para se mudar para a cidade. Wilfred prontamente não concorda com a decisão, e mesmo com vários argumentos da esposa, não quer vender as terras e morar na cidade. Mas, como bem pontua Arlette, as terras eram dela, então a decisão de vender era dela. Ela venderia as terras, e se mudaria para a cidade grande com o filho, com ou sem o marido, e restava Wilfred aceitar ir com ela ou não.

Porém, há uma escuridão em cada ser humano, e como Wilfred bem pontua em sua narração, há um Wilfred calculista e perverso dentro do fazendeiro; e influenciando o seu filho— que também não deseja abandonar sua vida na fazenda — decidem matar Arlette. No entanto, essa decisão se mostrará uma das piores decisões de suas vidas, já que a partir de então tudo na vida de pai e filho começará a ruir, assim como o corpo de sua esposa e mãe sendo decomposto e comido por ratos.

ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS ABAIXO

 

Imagem: Molly Parker, Netflix

 A culpa e como ela pode enlouquecer um ser humano sempre foi um dos temas mais explorados pelo Gênio do Terror, Edgar Allan Poe (e com toda certeza o meu escritor preferido), um dos seus contos mais famosos, O Coração Delator (The Tell-Tale Heart), trata justamente disso:  um homem após matar um velho para quem trabalhava e escondê-lo embaixo do assoalho, passa a ouvir o som dos batimentos cardíacos do velho morto, justamente quando a polícia vai interroga-lo. Só ele pode ouvir o som, e é tão enlouquecedor que ele acaba de entregando para a polícia.

Outro tema muito explorado por Poe, é a escuridão que cada ser humano tem dentro de si, que o faz cometer atos terríveis; Poe vai chamar esse lado perverso do ser humano de Demônio da Perversidade em um conto/artigo teórico maravilhoso. Stephen King utilizou esses dois temas do terror em 1922, com Wilfred sendo “tentado” por um “demônio interior e perverso” em que a única solução que ele via para aquela situação era o assassinato da esposa. O Wilfred calculista e perverso que existia dentro do fazendeiro criou uma trama de uma lógica perversa para seu filho Henry compactuar do mesmo pensamento, onde matar a mãe seria um mal necessário, algo que até Deus os perdoaria. Feito o ato eles teriam que lidar com o peso da culpa.

Mas antes, deve-se cobrir os rastros do crime. Então pai e filho escondem o corpo da mãe em um poço, assim como roupas e joias, para simular para a polícia que Arlette fugiu. Era 1922 afinal, e dizer que a esposa fugiu, evitaria muitas perguntas da polícia, até mesmo para preservar a “honra” do marido abandonado, mesmo que muito da história não batesse. Wilfred e Henry seguem com suas vidas, trabalhando na fazenda, Henry cada vez mais sério com sua namorada Shannon (Kaitlyn Bernard); mas ambos não conseguem esquecer o que fizeram. Henry fica cada vez mais irritado e distante, e começa a perder a noção do certo e errado, já Wilfred não consegue esquecer a última imagem que tem da mulher: morta no poço e sendo comida por ratos. Ratos esses que parecem estar infestando a casa.

Tudo começa dá errado para os dois. Henry engravida a namorada e eles fogem, virando criminosos, a casa começa a cair em ruinas, com ratos roendo tudo nela, e a casa começa a cair aos pedaços. E Wilfred começa a ser assombrado pela sua esposa morta. Será que o espírito dela veio atormentá-lo? Ou Wilfred está enlouquecendo com a culpa? A sua vida parece estar em ruínas, e como uma praga divina, os ratos estão por toda parte, atormentando Wilfred, cada vez mais sendo consumido pela culpa.

1922 é um bom filme de terror psicológico, com uma ótima atuação de Thomas Jane, que realmente se entregou ao personagem. Toda a caracterização do personagem o fez ficar completamente irreconhecível de outros trabalhos do ator, como o seu Frank Castle, em o Justiceiro de 2004. Molly Parker aparece pouco, porém faz um ótimo trabalho. A única falha no quesito atuação é Dylan Schmid, que não consegue acompanhar a atuação de Thomas Jane, nos entregando uma atuação fraca e sem muitas expressões.

Imagem: Thomas Jane, Netflix

O ritmo do filme também é um problema, sendo arrastado em alguns momentos, mas Zak Hilditch consegue entregar um bom filme de terror psicológico, com uma atmosfera sufocante, cada vez mais que a culpa vai consumindo Wilfred James e sua adorada fazenda e filho. No entanto, das duas adaptações de Stephen King da Netflix, Jogo Perigoso ainda segue como o meu favorito.

1922 já está disponível na Netflix.

Especial Halloween: 

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Crítica: Jogo Perigoso (Gerald’s Game, 2017)

Continuando o mini especial de Halloween, onde faço críticas de filmes de terror (ou similares) que assisti e assistirei durante o mês de Outubro; hoje farei a crítica de uma adaptação do mestre do terror Stephen King feita pela Netflix: Jogo Perigoso (Gerald’s Game).

Jogo Perigoso é dirigido por Mike Flanagan (Hush: A Morte Ouve), que também assina o roteiro juntamente com Jeff Howard (Ouija: A Origem do Mal) baseado no livro de mesmo nome, do autor Stephen King (é, esse está sendo o ano para as adaptações de King, não que eu esteja reclamando, inclusive façam mais!). A história segue um casal, Jessie Burlingame (Carla Gugino,  que está simplesmente fantástica) e Gerald Burlingame (Bruce Greenwood) que vão para uma casa de campo com a intenção de apimentar o casamento, em uma tentativa de uma segunda lua de mel.

Gerald , então,  propõe um joguinho sexual, Jessie topa e ele a algema (com algemas de verdade) na cama. Porém, o jogo dá absolutamente errado, e Jessie se vê sozinha, algemada na cama, sem poder se soltar, com ninguém para pedir ajuda. Os vizinhos mais próximos estão longe o suficiente para não ouvi-la gritar, e mesmo que pudessem ouvir não estão em casa. Não tem como alcançar o celular, e a chave das algemas está em cima da pia do banheiro. Sem comida, sem água. E para piorar a situação, um cachorro faminto entrou pela casa. A situação de Jessie é desesperadora, tanto que a mente da personagem começa a projetar figuras como uma forma de mecanismo de defesa. Jessie, começa a pensar em formas de como sobreviver e escapar, enquanto é atormentada por visões e lembranças traumáticas do passado, e por uma estranha figura na escuridão.

ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS E CONTEÚDO SOBRE ABUSO SEXUAL INFANTIL E VIOLÊNCIA

Imagem: Netflix

Eu estava com altas expectativas para Jogo Perigoso, devido ao trailer e por ser uma adaptação de Stephen King, apesar de não ter lido o livro (algo, que após ter visto o filme, devo corrigir rapidamente). Apesar de nem todas as adaptações de King serem boas, as que são, geralmente entram para a minha lista de filmes de terror preferidos (alô Iluminado, Carrie), e Jogo Perigoso não foi uma exceção. Porém, foi um filme muito difícil de se assistir.

É um filme pesado. Principalmente para mulheres, pois aborda questões, de violências contra mulheres, que nós, de alguma forma já passamos, e infelizmente ainda passamos. Por isso, já deixo claro que o filme possui muitos gatilhos!

Imagem: Netflix

Jessie foi exposta desde muito cedo a misoginia e violência contra as mulheres. Aos 12 anos, ela foi abusada pelo pai, que a fez acreditar que a culpa era dela e que caso ela contasse para sua mãe, ela brigaria com Jessie e a culparia. Desde então, Jessie se silenciou sobre o assunto, mesmo que cada vez que ela olhasse para seu pai, alguém que deveria protegê-la de todo mal, a machucasse. Mesmo que estivesse com medo com a perspectiva de acontecer de novo, ou com sua irmãzinha. Jessie se calou pois aprendeu desde muito cedo que a culpa pela violência sofrida cairia nela, mesmo que ela fosse a vítima.

Anos se passaram, e Jessie já é adulta e casada com Gerald. Seu casamento não vai bem, e ela se culpa por isso, mesmo que não seja a culpada. Mas, afinal, a “culpa é sempre da esposa, caso o casamento vai mal”. É por isso que Jessie aceita fazer parte do jogo sexual arquitetado por Gerald, pois quem sabe era isso que estava faltando: apimentar um pouco a relação. Tudo ia bem, até que Gerald começa a ficar violento, pois o que excita ele é a violência, a submissão, e ela gritar por socorro. Jessie manda ele parar,mas ele insiste, ainda mais violento. Ela continua dizendo que não, e consegue empurrá-lo com os pés. Eles começam a discutir, ela manda soltá-la, mas ele diz que não e continua a discutir. Então,  Gerald tem um ataque cardíaco e morre, deixando-a ali sozinha e algemada na cama. Ela começa a gritar, mas não tem ninguém para ajudá-la, o celular está inalcançável, e a chave ainda mais distante.

Para piorar, um cachorro faminto entra pela porta que eles esqueceram aberta, e começa a comer o cadáver de Gerald, e ela sabe que será a próxima (aqui uma clara referência a Cujo, também de King). Jessie começa a ter um ataque de pânico, e sua mente como um mecanismo de defesa, projeta a figura de um Gerald vivo  — uma alusão ao seu desespero e estado de impotência, pois o tempo todo a figura de seu marido fica dizendo que ela não vai conseguir sair dali viva — e uma outra Jessie, que representa o seu instinto de sobrevivência, que fica lhe dando ideias de como sair daquela situação. Jessie fica o tempo todo conversando com essas figuras, pensando em modos de escapar, de conseguir água e tentando afugentar o cachorro que tenta o tempo todo mordê-la. E tendo lembranças. Nesse momento todas as lembranças ruins da infância voltam, além de outras ruins com o próprio Gerald, com Jessie percebendo um padrão misógino e violento que ela tinha decidido ignorar, pois a “culpa” seria, mais uma vez, dela.

Imagem: Netflix

Mike Flanagan — juntamente com a interpretação maravilhosa de Carla Gugino — conseguiu criar uma trama claustrofóbica e desesperadora, trazendo uma sensação de impotência para o expectador, da mesma forma que a personagem se sente. Em uma cena em que a personagem tenta pegar um copo de água, dá um frio na barriga, pois à todo momento você pensa que o copo vai cair de alguma forma. Além das próprias lembranças devastadoras de Jessie (destaco a atriz Chiara Aurelia, que a faz a Jessie com 12 anos, uma ótima atuação), que são um soco no estômago por si só.

O elemento terror é reforçado com a estranha figura que aparece no quarto a noite. Será mais uma alucinação? Ou será a morte? Devo dizer que a resolução do mistério me pegou totalmente de surpresa, me deixando com mais vontade de ler o livro de Stephen King. Outro destaque é a cena em que Jessie consegue escapar das algemas, uma cena muito agonizante de se assistir.

Jogo Perigoso  é um terror psicológico realmente desesperador e sufocante. Foi um filme pesado de se assistir, mas com certeza é mais uma boa adaptação de Stephen King. E espero que esse padrão se mantenha, nas próximas adaptações do mestre do terror. Porém, reitero que é um filme com muitos gatilhos, com discussões  mais que necessárias, mas ainda assim muito pesado.

Jogo Perigoso (Gerald’s Game) já está disponível na Netflix.

Primeira Crítica do Especial Halloween: Raw

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Crítica: Raw (Grave, 2016)

Outubro é o mês do Halloween, e com ele vem festas de Dias das Bruxas e maratonas de filmes de terror. E para ajudar nessa difícil missão de escolher os filmes de terror ou que tenham como temática o Halloween, que me proponho até o fim desse mês, fazer críticas de alguns filmes de terror (ou similares) que assisti e assistirei esse mês.

Imagem: Divulgação

 

O primeiro deles é Raw (Grave), filme de horror francês da diretora e roteirista Julia Ducournau que tem como tema o processo de tornar-se mulher, que todas nós, mulheres, passamos na puberdade. Tudo sob uma perspectiva feminina, mostrando o processo de autodescoberta de uma jovem de 16 anos, em uma sociedade com altas expectativas sociais e culturais, e que impõe regras e padrões difíceis de se alcançar, principalmente para as mulheres. Ah, e canibalismo!

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A história segue Justine — genialmente interpretada pela jovem atriz, Garance Marillier — uma jovem educada no vegetarianismo que acabou de passar para o curso de veterinária na faculdade, curso que seus pais prestaram, e que sua irmã mais velha já está cursando. Adiantada para sua idade, Justine se vê agora diante da perspectiva de enfrentar a faculdade: morando longe dos pais, com colegas hostis e competitivos e professores que não dão a mínima para ela. E os famosos trotes. Em um deles, a menina é obrigada a comer carne pela primeira vez, e partir de então começa a ter uma fome descontrolada por qualquer tipo de carne. Incluindo a humana.

ATENÇÃO ALGUNS SPOILERS ABAIXO

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Raw causou polêmica no Festival de Cannes 2016 (onde foi premiado na Semana da Crítica como Melhor Filme pela FIPRESCI) e posteriormente no Festival do Rio 2016, pois não era para pessoas de estômago fraco. “Membros do público desmaiaram”, era uma das manchetes sobre o filme, e por isso o filme logo me chamou a atenção e fiquei com altas expectativas, que foram supridas satisfatoriamente.

Eu adoro terror e horror, e um subgênero que me agrada muito é o gore. Gore ou Splatter é um subgênero do terror/horror, que deliberadamente, se concentra em representações gráficas de sangue e violência. No entanto, poucos filmes categorizados como gore utilizam a violência gráfica de forma inteligente e condizente com a história que está contando, tornando a violência gráfica uma violência gratuita e de mau gosto; fazendo com que as produções desse subgênero sejam taxadas de ruins. Um gore bem feito para mim, é aquele que causa a agonia e repulsa necessárias no telespectador e não risadas, e para isso é necessário que o diretor utilize a violência gráfica no momento certo em que a narrativa pedir, e não a todo momento, apenas para chocar o público.

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E isso, Julia Ducournau fez com maestria, utilizando de situações normais, como por exemplo, uma cena de depilação, e tornando-a uma das cenas mais agonizantes de todo o filme. Utilizando uma paleta de cores frias para constatar com as cenas mais sangrentas, uma abordagem parecida com os filmes da cineasta Claire Denis, também francesa (inclusive, acho que o cinema de horror francês sabe trabalhar melhor o gore do que o americano).

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A câmera é focada em closes na protagonista, para passar a sensação necessária de agonia e claustrofobia, para sentirmos todas as transformações que Justine passa junto com ela. Justine se sente deslocada e apreensiva o tempo todo: ela é considerada um gênio, por isso passou no vestibular mais cedo do que os outros, e agora terá que viver longe dos pais nos alojamentos da faculdade. Na faculdade, todos estão preocupados consigo mesmos, e sendo uma caloura é obrigada a passar por todos os tipos de trotes que os veteranos inventarem. Ao mesmo tempo, ela está tendo o seu despertar sexual— e em meio as festas regadas a bebidas e sexo — Justine, virgem e tímida, e com um mega crush em seu colega de quarto que é gay; ela não sabe lidar com o que está acontecendo consigo mesma.

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Sua família é de vegetarianos, então ela nunca comeu carne. Mas, em um dos trotes, é obrigada pela própria irmã, Alexia, a comer carne de ovelha. Alexia também foi criada como vegetariana, mas longe dos pais, seus hábitos mudaram. Após ingerir a carne de ovelha, Justine tem uma reação alérgica, em uma cena que pode ser trigger/gatilho para pessoas que com alergias, por isso recomendo que pulem. A cena é longa, com super closes na protagonista, causando uma agonia no telespectador, a mesma agonia que a protagonista está sentindo.

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Justine, então, passa a sentir uma fome incontrolável por carne, desde hambúrguer e até mesmo carne crua. Até que, após um acidente, onde o dedo de sua irmã Alexia (Ella Rumpf, outro grande destaque do filme) é decepado, e Justine sente um desejo incontrolável de comê-lo. Justine passa então a desejar carne humana, que vai muito de encontro aos seus próprios desejos sexuais, fazendo-a desejar comer, literalmente, Adrien (Rabah Nait Oufella), seu colega de quarto.

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O roteiro de Julia Ducournau usa muito bem a metáfora do canibalismo como o despertar sexual de Justine como mulher, ambos considerados, em níveis diferentes, tabus da sociedade. Outro ponto é a boa utilização dos personagens, a história em si gira em torno de Justine, mas todos os personagens e tramas são importantes, e todos são desenvolvidos. Destaque para a relação de Justine e Alexia: a irmã mais velha é o perfeito contraponto de Justine. Também canibal, Alexia se entregou de corpo e alma a esse estilo de vida primitivo e animalesco, e incentiva Justine a fazer o mesmo.

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A relação das duas é complexa e real, como relacionamentos fraternos geralmente são: ao mesmo tempo que querem matar uma a outra, são as primeiras a se ajudarem. Ella e Garance ficam muito bem juntas em cena, com Alexia sempre sendo mais explosiva e animalesca, enquanto Justine é mais retraída, tentando reprimir a todo custo a si mesma.

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Devo destacar também a trilha sonora: a comercial possui músicas maravilhosas e que casam perfeitamente com a cena e a construção da personagem- destaque para Plus Putes que toutes les Putes de Orties. Mas é a trilha instrumental, maravilhosamente composta por Jim Williams, que é o grande destaque da trama, aparecendo em pontos chaves do longa, como quando Justine come carne humana pela primeira vez, ou a impactante cena final (tornando-a ainda mais impactante, deixando o espectador de boca aberta).

Raw é um filme agonizante e realmente não é para quem tem estômago fraco. Julia Ducournau utilizou muito bem o gore para contar a puberdade e o despertar da sexualidade de uma jovem mulher. Também não é um filme que te dá respostas, se é isso que você busca, não o assista achando que o roteiro explicará do porquê Justine tem instintos canibais, pois esse não é o ponto. É um filme maravilhoso, mas não recomendo para quem tem triggers/gatilhos com sangue ou alergias.

Raw (Grave) já está disponível no catálogo da Netflix.

ATENÇÃO: O TRAILER POSSUI CENAS QUE PODEM SER GATILHOS COM SANGUE OU ALERGIAS!