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Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Capitã Marvel (2019)

Capitã Marvel chegou aos cinemas mundiais dia 07 deste mês e nós precisamos falar sobre isso. Com 152 milhões de dólares de orçamento, o filme já lucrou os impressionantes US$ 825 milhões ao redor do mundo, o que o faz quebrar o recorde da Mulher Maravilha, com US$ 821 milhões. Com esse número, o filme garantiu a 11ª melhor bilheteria entre os 21 filmes lançados pelo Universo Cinematográfico Marvel (MCU) –  deixando para trás produções como Homem-Formiga e a Vespa (623 milhões), Homem de Ferro 2 (624 milhões), Thor: O Mundo Sombrio (645 milhões) e Capitão América 2: O Soldado Invernal (714 milhões). Além disso tudo, Capitã Marvel foi a maior estreia da história de um filme protagonizado por uma mulher e a sexta melhor estreia de um filme de qualquer gênero em todos os tempos.

O primeiro filme do MCU protagonizado por uma mulher conta a história da piloto da aeronáutica americana Carol Danvers que, após a explosão de um motor alienígena, é contaminada com radiação e levada pelos Kree para o planeta deles. Lá, ela se torna uma guerreira Kree treinada e super forte e luta junto com seu esquadrão para manter a paz no universo. O detalhe é que Carol perdeu a memória durante a explosão, não lembra de onde veio nem nada sobre sua vida antes de chegar em Hala, e tudo o que sabe é o que os Kree a contaram. De acordo com eles, há uma raça chamada de Skrull que atua como uma praga no universo destruindo os planetas, e é obrigação dos Kree, como guerreiros heróis, detê-los e garantir a paz. No meio de uma missão que dá errado, Carol, que é chamada em sua nova vida de Vers, se separa do seu esquadrão e acaba na Terra rastreando um Skrull. Assim, ela encontra Nick Fury que, até este momento, não acreditava em extraterrestres e nem passava por sua cabeça que haveria seres superpoderosos por aí que um dia se denominariam “Vingadores”.

Visto como um filme de introdução da Capitã Marvel somente para que haja sentido no seu aparecimento em Vingadores: Ultimato, Capitã Marvel nos conta mais do que era esperado e esclarece várias questões que concordo não serem tão significativas, mas quem nunca quis saber como que o Fury perdeu o olho? Ou como o Tesseract veio parar na Terra? Ou ainda como nasceu a Iniciativa Vingadores? Podemos dizer que Carol Danvers é a “mãe” dos Vingadores, pois, sem ela, o agente Fury não teria descoberto a existência dos alienígenas, testemunhado uma guerra interestelar e visto a necessidade de que a Terra tivesse protetores a altura desse tipo de ameaça. Outra questão interessante neste filme é o nome Marvel, ou Mar-Vell. Não vou entrar em detalhes, pois a graça do filme está em identificar essas referências e ir respondendo as pequenas perguntas que ficaram soltas durante todos esses anos de MCU. Mas alerto sobre uma coisa: fiquem de olho no gato, ele não é o que parece ser!

Desde os quadrinhos do Capitão Marvel lá pelos anos 60 que, curiosamente, era um nome de um herói da DC que virou Shazam! após uma briga judicial, essa é uma das poucas vezes que o nome é dado a uma mulher e podemos ver como uma conquista essa versão ter ganhado os cinemas e integrado o mundo dos Vingadores. Durante as especulações antes do lançamento do filme, muito foi falado sobre a manobra arriscada da Marvel de “apostar no feminismo” para “lacrar”, tanto que uma manchete da época me chamou muito a atenção: Quem lacra, não lucra. Porém, de acordo com os números surpreendentes dessas 2 semanas, não foi isso que aconteceu, não é mesmo? O que podemos ver foi uma aceitação enorme de que uma mulher pode sim ser uma heroína forte e destemida, salvar o mundo, proteger seus amigos e não precisa ter nenhum romance no meio da história. Um filme sobre uma heroína não é um filme de mulher. Ou de homem, pois, para uma mulher salvar o mundo, ela também não precisa estar super sexualizada com uma roupa nada prática, nem fazer o uso da sedução para derrotar seus inimigos. Ela pode ser mais forte, mais rápida e mais esperta que um homem e as curvas do seu corpo não tem nada a ver com isso. Outra cena para ficar de olho: “eu não preciso provar nada para ninguém” – Carol Danvers.

O saldo geral é que Capitã Marvel é um filme excelente que não deixa nada a dever aos outros filmes do MCU. A história mantém o mesmo padrão fluído e cômico, a protagonista é forte, destemida e representa muito bem os heróis Marvel, muitas perguntas são respondidas, muitas referências são feitas e, mesmo sendo um daqueles filmes independentes que só existem para introduzir o herói ao grupo, contrariou todos os pessimistas e se mostrou extremamente necessário. Não podemos esquecer também do sentimento de representatividade que sentimos em Pantera Negra, pois já estava na hora de uma protagonista guerreira e herói que representasse a nós mulheres também no Universo Marvel, e Brie Larson, a ganhadora do Oscar por Quarto de Jack, soube dar vida a essa protagonista como ninguém.

Carol ou Vers não é fofa, gentil, delicada, ingênua, nem ostenta nenhum outro estereótipo atribuído às mulheres. Tanto que podem até dizer que ela é mal humorada por manter sempre sua expressão séria e focada. Não diriam isso se fosse um homem, fica a dica. Ela é uma guerreira, que antes fora uma militar, e se comporta como tal. Ouviu durante toda a sua vida que não deveria ter os sonhos que tem, nem estar nos lugar que está por ser mulher e isso serviu de combustível para sua determinação em subir cada vez mais alto, ser cada vez mais forte e seguir cada vez mais veloz. Alguma semelhança com o Capitão América? Ninguém mais havia resistido àquele experimento, assim como não é qualquer um que aguentaria uma carga radioativa do porte que Carol aguentou, absorveria essa carga e converteria em poder.

Claro que também não posso deixar de falar sobre a linda homenagem a Stan Lee logo na abertura do filme que, ao contrário dos outros, ao invés de mostrar aquela abertura com os quadrinhos da Marvel, mostra quadros das participações de Stan Lee durante todos esses anos, terminando com um “Obrigado, Stan”. Ele também aparece no meio do filme e especulasse que também aparecerá em Homem-aranha: longe de casa.

Capitã Marvel segue o padrão MCU também com as cenas pós-crédito. São duas, uma no começo e outra bem no final, mas bem no final mesmo. Podemos comparar com a cena que quase não apareceu de Homem de Ferro 3. O filme segue em cartaz em todo o país ainda com várias salas e não dá indício de queda de popularidade, o que mostra que sua bilheteria só tende a aumentar e talvez tenhamos mais alguns recordes quebrados. Vale a pena conferir tanto pelo próprio filme que é ótimo, quanto para se preparar para Vingadores: Ultimato que chega aos cinemas dia 26 de abril. Enquanto ficamos na espera, sigamos sempre alto, forte e veloz, baby.

Críticas de Cinema, Filmes

CRÍTICA: Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald (2018)

Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega hoje aos cinemas. Algumas sessões foram disponibilizadas entre os dias 13 e 14 e foi em uma delas em que o Beco esteve e traz tudo o mais rápido possível para vocês. Depois de 2 anos, o que esperar da continuação da nova franquia de J.K. Rowling?

Começamos o filme com Grindelwald preso no MACUSA, a espera de sua transferência para o Reino Unido, onde será julgado e enviado para Askaban. Claro que ele consegue fugir ou não teríamos mais filmes e a Segunda Grande Guerra Bruxa teria terminado por aí. Porém, como bem já sabemos pelos livros e filmes de Harry Potter, a franquia original, Grindelwald e Dumbledore têm sua grande luta, onde o futuro diretor de Hogwarts se torna o dono da Varinha das varinhas, então, não sabemos em qual dos próximos filmes isso vai acontecer, mas vai.

Voltando a Animais Fantásticos 2, Newt Scamander continua sendo o nosso herói lufano que, acusado de tentar salvar o Obscurial em Nova Iorque durante o primeiro filme, está impedido de sair de Londres. Vamos aqui dar uma atenção especial a pitoresca casa do Newt: um sobrado tipicamente britânico até você chegar no porão, onde um imenso santuário para criaturas mágicas contendo vários habitats diferentes nos mostra que nosso magizoologista não desistiu de sua missão.

Jacob, Tina e Queenie estão de volta junto com uma gama de novos personagens. Conhecemos Teseu, o irmão de Newt, e Leta, seu antigo amor que agora está noiva de seu irmão (tenso!). Viajamos para Paris atrás de Credence e temos a primeira grande revelação do filme: Nagini. Ela já apareceu no trailer e não há mais surpresa na sua maldição sanguínea que a condenará um dia a ser uma cobra para sempre (como sabemos bem). Ainda não há traços de maldade na jovem Nagini, então não tem como saber como ela virou aliada de Voldemort no futuro, mas talvez, isso será esclarecido mais para frente.

Como já foi especulado, nesse segundo filme fica mais provado que cada um se passará em um lugar diferente. Nova Iorque, Paris… Será que o próximo será no Brasil? Infelizmente, não apareceu nada sobre Beauxbatons como eu estava esperando, e o Ministério da Magia francês só passa rapidamente em uma cena, então, não tem como vermos muito a respeito. O ano é 1927 e a cidade não parece muito diferente da Nova Iorque do primeiro filme, não aparece nem a Torre Eiffel. O máximo de diferente vai ser o equivalente ao Beco Diagonal francês, onde fica o circo em que Credence e Nagini estão presos até conseguirem fugir no início do filme.

Em geral, o filme é ótimo, levando em conta o roteiro original, os efeitos especiais, trilha sonora, ação, romance, e claro, o universo de Harry Potter que nunca deixa de surpreender. Porém, comparado com o primeiro filme, pecou um pouco na falta de conteúdo. A impressão que temos é que Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald é um filme intermediário que está ali somente para nos introduzir aos próximos episódios.

Muitas apresentações de personagens novos, histórias de famílias e uma preocupação enorme com cenas de ação tiraram a fluidez e dinâmica tão presente em Animais fantásticos e onde habitam. Tudo se resume a “onde está Credence?” Os crimes de Grindelwald que é bom, nada. Depois de assistir o filme, o título fica meio sem sentido e nos perguntamos que crimes foram esses? Ele fugiu do Ministério, claro. Matou alguns aurores… Mas, fora isso, vemos um Grindelwald político tentando recrutar bruxos através de uma boa argumentação e um grande poder de persuasão, o que fez o MACUSA até retirar sua língua durante a custódia devido a sua facilidade em recrutar os guardas. Grindelwald realmente acredita que está certo e que tudo está sendo feito para um bem maior e consegue convencer muita gente disso. Nada muito diferente do que já vimos acontecer durante a nossa História.

Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald chega aos cinemas hoje (15/11) com aproximadamente 2 horas de filme e trazendo uma produção excelente, mas nada tão demais como se era esperado depois de 2 anos de expectativa.

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Crítica de Cinema: Millennium: A Garota na Teia de Aranha

Há sete anos, chegava aos cinemas a versão de David Fincher (diretor de Se7en e Clube da Luta) para a saga Millennium, concebida por Stieg Larsson (1954-2004). Com Rooney Mara (Carol) e Daniel Craig (007 contra Spectre) no elenco e roteiro de Steven Zaillian (A Lista de Schindler), Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres foi aclamado pela crítica e, naturalmente, se esperava uma sequência pelas mãos de Fincher. Porém ela não veio.

Após a morte de Stieg Larsson, David Lagercrantz foi escolhido para dar continuidade à série, escrevendo até o momento mais dois volumes. Pois bem, após três filmes suecos que lançaram a atriz Noomi Rapace (Prometheus) ao estrelato e a versão americana de Fincher, chega aos cinemas Millennium: A Garota na Teia de Aranha, inspirado no livro homônimo de Lagercrantz

Na direção, sai David Fincher e entra Fede Alvarez (diretor de O Homem nas Trevas e da nova versão de A Morte do Demônio). Claire Foy (The Crown) assume o papel da hacker justiceira Lisbeth Salander no lugar de Rooney Mara, e Sverrir Gudnason (Borg vs. McEnroe) substitui Daniel Craig como o jornalista Mikael Blomkvist. Diante de tamanha responsabilidade, a nova equipe não faz feio.

Sem deixar claro se é um reboot ou uma sequência, Millennium: A Garota na Teia de Aranha funciona bem como ambos. Na trama, Salander é contratada por um analista da NSA, Frans Balder (Stephen Merchant, de Logan), para recuperar um programa capaz de controlar todo o arsenal nuclear do mundo. Poderia ser uma missão simples, se um perigoso grupo criminoso, denominado “Os Aranhas”, não estivesse em busca do mesmo software.

(Divulgação/Sony Pictures)

(Divulgação/Sony Pictures)

É evidente a mudança no tom entre os filmes de Fincher e Alvarez. Se no primeiro Millennium a história se desenrolava lentamente, com mais profundidade, o novo filme abraça uma trama mais ágil, enxuta e menos subversiva. A estratégia funciona, e tem tudo pra agradar uma parcela do público mais acostumada com filmes de ação, mas tem seu preço. Os personagens secundários não passam de meros coadjuvantes. E o principal prejudicado é Mikael Blomkvist. Se antes o jornalista dividia o posto de protagonista ao lado de Salander, agora o personagem é apenas um assistente da hacker.

Em contrapartida, Claire Foy não decepciona com sua versão de Lisbeth Salander. É um risco enorme assumir uma figura tão emblemática, ainda mais depois de Rooney Mara ter sido indicada ao Oscar pelo mesmo papel. Porém, com seu olhar expressivo e encarnando o sotaque e os trejeitos da personagem, Claire Foy surpreende e entrega uma Salander com nuances diferentes das exploradas por Mara e Rapace, sem deixar de ser fiel aos livros.

O uruguaio Fede Alvarez entrega uma direção segura, que reverencia na medida o trabalho de David Fincher, como no contraste de luz e sombra e na fotografia de cores mais frias, por exemplo. Mas também dá seu toque autoral, com movimentos de câmera mais subjetivos, cortes rápidos nas cenas de ação e uma atmosfera de suspense e tensão muito bem construída.

Como filme de ação e investigação, Millennium: A Garota na Teia de Aranha cumpre o seu papel. Mesmo deixando pra trás parte do seu viés erudito e abraçando o cinema de entretenimento, o saldo é positivo. Mais acessível, o filme promete conquistar novos fãs. E se o desempenho nas bilheterias for satisfatório, é provável que Lisbeth Salander retorne para uma nova missão em breve.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Os invisíveis (2018)

Estreia hoje em alguns cinemas pelo país Os invisíveis, um filme alemão que fala sobre o nazismo. Depois de algum tempo, já se sabe que muitos alemães não concordavam com as decisões de Hitler e, uma delas, era o genocídio judeu. Este filme fala sobre um assunto que pouco foi tratado até então, os judeus que permaneceram escondidos em Berlim durante o massacre e tiveram que se tornar invisíveis.

Em junho de 1943, o governo declarou Berlim livre de judeus, porém, 7 mil continuaram escondidos, e destes, 1,5 mil se salvaram. Entre eles, conhecemos a história de quatro jovens que, com muita coragem, esperteza e ajuda de alemães que eram contra o regime, viveram até o fim da guerra escondidos no meio da multidão.

O filme intercala dramatização e depoimentos dos quatro judeus já idosos dando detalhes do que viveram e sentiram enquanto lutavam por suas vidas, o que dá mais emoção quando assistimos as cenas. É quase como se pudéssemos sentir o cheiro das ruas, a dor da fome no estômago, o medo…

Paramos para pensar pela primeira vez naqueles que conseguiram fugir das câmaras de gás, mas, apesar disso, não estavam seguros. Eram obrigados a se esconder como ratos, colocando todos ao redor em perigo. Separados de suas famílias e sozinhos, caçados como animais a serem mandados para o matadouro.

Outra parte também muito interessante do filme é conhecermos essa outra face da história, o que nos faz ver que, apesar de sabermos tanto sobre o nazismo e o holocausto, ainda há muito a aprender. Como a história dos judeus que se aliaram aos alemães e entregaram outros judeus, tentando assim poupar suas próprias vidas, mas acabaram também capturados no final.

Porém, o melhor de tudo é ver que, mesmo no meio de um dos capítulos mais sombrios da História, também havia luz. Pessoas boas e dispostas a ajudar dando abrigo e comida, mesmo correndo risco de serem também mandadas aos campos de concentração como traidoras. Quando pensamos em nazismo, logo pensamos nos alemães e em como mataram milhões de pessoas inocentes, mas não pensamos em todos os outros alemães que eram contra isso e fizeram coisas para ajudar.

No filme, vemos um alemão rico que distribuía documentos falsos para judeus escondidos. Vemos um oficial do exército que ajuda duas moças judias as empregando em sua casa como babás de seus filhos. Vemos uma senhora que pinta o cabelo de uma das personagens principais para que ela possa se misturar melhor. Enfim, ao mesmo tempo em que vemos muita dor com todos os perigos e privações, também vemos esperança.

Para mim, a parte mais impactante no filme foi o final quando um dos personagens, o Cioma, já idoso, olha para a câmera com os olhos marejados e nos questiona: Por que eles fizeram isso com tantas pessoas inocentes? Isso é algo que eu nunca vou entender.

Ninguém pensava que aquilo um dia poderia acontecer. Ninguém esperava e, se isso fosse questionado alguns anos antes, seria visto como uma loucura. Mas aconteceu. E isso deve ser lembrado, estudado e questionado infinitas vezes para que o mundo não corra o risco de que algo assim aconteça de novo.

Se pensarmos em todo o contexto histórico, a Alemanha se encontrava em um colapso econômico após a derrota na Primeira Guerra. O povo estava desesperado e Hitler surgiu prometendo resolver todos os problemas e tornar a Alemanha uma potência próspera e bem sucedida, mas claro que alguém deveria ser culpado, o “bode expiatório”. Hitler conseguiu convencer toda uma nação de que esse “culpado” eram os judeus. Os alemães pensavam que Hitler poderia salvá-los. E nós conhecemos o resto da história.

Estima-se que 6 milhões de judeus foram mortos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Seis milhões de pessoas inocentes foram torturadas, queimadas, sufocadas em câmaras de gás até a morte, fuziladas, expostas a experimentos científicos grotescos, estupradas… Por serem consideradas inferiores e impuras só por serem judias. O Cioma não sabe por que isso aconteceu. E eu também não.

Colunas, Filmes

Discutindo o filme “Eu não sou um homem fácil”

Em minhas andanças pelo mundo da Netflix, me deparei com um filme francês que, pelo nome, já me chamou a atenção. Dei uma chance para o trailer e fui cativada de vez. Eu não sou um homem fácil não é o típico filme com que estamos acostumados. Ele choca, desconstrói, critica e liberta, e você vai entender por que.

De início, temos Damien, um homem que é o estereótipo do mundo machista. Assedia todas as mulheres, as diminui na empresa em que trabalha e só se preocupa em aumentar seus números de quantas mulheres conseguiu dormir no ano e o que fazer para superá-los no ano que vem. Até que, em um belo dia, ele bate a cabeça em uma barra de ferro que sustenta o nome de uma avenida, cai desmaiado na calçada e, quando acorda, todo o seu mundo está literalmente do avesso. Por que “literalmente”?

Bom, Damien acorda em um mundo onde as mulheres são o sexo forte. O matriarcado domina a sociedade, e os homens se tornaram o sexo frágil e sofrem tudo o que as mulheres do nosso mundo sofrem. Junto com seu melhor amigo, Damien passa pelo choque de se ver nesse mundo às avessas e nós rimos com a dificuldade que ele tem para se adaptar. Vemos também as críticas mascaradas de humor e nos chocamos com como as coisas realmente são difíceis para as mulheres.

Para mim, essa é a primeira questão do filme. As mulheres estão acostumadas com sua realidade. Estão acostumadas a andar com medo na rua à noite e a serem assediadas por estarem com determinada roupa ou por terem o azar de estar em pé em um transporte público no lugar errado. Estão acostumadas a terem que lutar por seus direitos todos os dias e já se armam todas as manhãs para enfrentar o machismo e preconceito que as aguardam quando saem de casa. Ou, muitas vezes, quando ainda nem saíram da cama. Porém, quando vemos essas mesmas situações acontecendo com homens, por algum motivo, isso nos choca mais, pois estamos tão acostumadas a vivenciar essas situações que deixamos de perceber como elas são cruéis e absurdas. Mas, quando assistimos, caímos na realidade.

A segunda questão é a necessidade de masculinizar a mulher sempre que ela é colocada em uma posição de domínio. Neste filme, acontece a mesma coisa. As mulheres andam sem camisa na rua, fazem xixi de pé, usam ternos e gravatas, cabelos curtos, etc. Já os homens fazem ioga, usam shorts curtos e echarpes, carregam bolsas e estão sempre chorando por tudo. Basicamente, Eu não sou um homem fácil, literalmente, trocou os homens e as mulheres de lugar. Para mim, em uma mensagem de que, para alcançar o respeito e a liderança, as mulheres devem ser como os homens, ou seja, só sendo como um homem para alcançar a igualdade que nós queremos.

Isso me incomodou profundamente porque uma mulher não precisa deixar de ser mulher para ser forte, capaz, líder e respeitável em sua casa, em seu trabalho e diante da sociedade. A mulher não deveria ser obrigada a se prender a nenhum tipo de estereótipo para aparentar ser mais inteligente. Não deveria ter que usar roupas masculinas para ser menos assediada. Ou ter que provar que é tão forte fisicamente quanto um homem para ser respeitada. Essa necessidade de diminuir e hostilizar o mundo feminino pode ser encarada como um tipo de dominação e chega a ser um tiro no pé porque, o que era para ser um filme de crítica contra o machismo, acabou sendo uma exaltação da cultura machista. Pois mostra que, para ser o sexo dominante, a mulher tem que se vestir e se portar como um homem, então, a cultura do homem em si não deixou de ser dominante. Só mudou o sexo que a difunde.

Porém, apesar disso, o filme vale a pena ser visto, ou melhor, deve ser visto. Deve gerar reflexão, discussão e seu choque deve circular pela sociedade, pois, enquanto estivermos discutindo sobre isso, estaremos nos armando de conhecimento e crítica contra a cultura machista, mas também, não contra a cultura feminina. Homens e mulheres são diferentes, porém precisam ser respeitados de forma igual, com os mesmos direitos e deveres diante da sociedade. Eu não sou um homem fácil traz o choque para iniciar essa reflexão e nos proporciona momentos de riso com a tão clichê dificuldade masculina de se adaptar ao mundo feminino, porém, não pode ser levado como uma cartilha, pois, em um mundo igualitário, nenhum dos lados deve ser oprimido.

Confira a crítica do filme feito pela Júlia do BecoLab AQUI

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Os Incríveis 2 (2018)

Os incríveis 2 chega finalmente aos cinemas brasileiros dia 28 de junho, mas a animação já quebrou recordes em sua estreia mundial que foi ontem (18/06). Com US$ 231,5 milhões em bilheteria – US$ 180 milhões apenas nos Estados Unidos -, Os incríveis 2 superou Procurando Dory, até então a líder de bilheteria das animações com US$ 135 milhões. Mas os recordes não param por aí. A animação se tornou a terceira maior estreia de 2018, atrás apenas de Vingadores: Guerra Infinita (com US$ 257,6 milhões) e Pantera Negra (com US$ 202 milhões). Está bom ou quer mais? Sim, tem mais. Não satisfeita, Os incríveis 2 ainda ficou entre as oito maiores estreias do cinema americano, ficando até na frente do live-action A Bela e a Fera. Valeu à pena esperar 14 anos, hein?

A história começa exatamente no final do primeiro filme, com o Escavador invadindo a cidade e a família Pêra toda unida e uniformizada combatendo o crime. Então, só para esclarecer, não teve aquela passagem de tempo que costumam colocar nos filmes quando demoram muito para lançar a continuação, ou seja, na animação, não passaram os 14 anos que se passou no mundo real. As crianças ainda são crianças, os super heróis ainda são ilegais e o Sr. Incrível ainda continua sem um emprego.

Acontece que salvar a cidade do Escavador não deu muito certo e, agora, os super heróis são até procurados pela polícia como criminosos, e a família Pêra acaba escondida em um hotel. O filme poderia parar aí extremamente triste e pessimista, mas, como em toda boa história, um milionário admirador de heróis aparece para salvar o dia. Sim, no maior estilo fada madrinha, o tal milionário leva toda a família para uma mansão super tecnológica e contrata a Mulher Elástica para atuar em seu plano de mudar a lei que transforma os super heróis em criminosos para que eles possam atuar novamente. Hein? A Mulher Elástica? Sim, a Mulher Elástica. O plano do milionário é financiar um super herói para que ele possa combater o crime e mostrar que super heróis são bons, necessários e que a lei deve ser revogada. E, para isso, ele decide que a Mulher Elástica é a melhor opção porque, segundo um estudo cheio de gráficos, ela apresenta mais chances de resultados positivos com menos estragos do patrimônio público.

É neste ponto que vemos a primeira mudança que nos salta aos olhos, apesar de dever ser vista como algo normal e corriqueiro, mas, infelizmente, não é. A animação mostra a mãe saindo para trabalhar e o pai ficando com os filhos em casa. Mostra a frustração do Sr. Incrível por não poder ser o provedor da família naquele momento e até uma certa inveja do sucesso da esposa que se mostra totalmente capaz de desempenhar a mesma função de super herói que ele. O filme aborda as mesmas piadas que já foram muito vistas em comédias românticas sobre os pais que não aguentam a rotina das mães e se descabelam na primeira crise e, infelizmente, isso ainda causa graça.

Vemos um pai despreparado, uma mãe preocupada em deixar a casa e os filhos sob a supervisão dele e, em pleno século XXI, ainda sentimentos estranheza nessa situação e ainda achamos engraçado um pai não saber trocar uma fralda. Ainda achamos comum e justificável a preocupação e a culpa da mãe por não estar lá para ajudar no dever de casa de matemática ou achar os sapatos perdidos. Ainda sentimos pena do pai que não consegue dormir direito e se atrapalha todo ao preparar o café da manhã. Coisa que toda mãe deve saber fazer com maestria porque não faz mais do que sua obrigação, não é?

Porém, podemos dizer que, graças às conquistas do século XXI, esse tipo de assunto é exposto em uma animação infantil, mostrando que a mãe também trabalha fora e o pai também troca fraldas, algo inimaginável há poucos anos atrás. Os incríveis 2 segue a evolução dos filmes de super heróis que tem abordado mais as heroínas femininas e mostrado que salvar o dia não é um trabalho só para os homens. Assim como os contos de fadas que vem mostrando que as princesas não precisam de um príncipe para escreverem sua própria história e nem de um casamento para alcançarem o seu felizes para sempre.

O enredo é envolvente e coerente apesar de ter se passado tanto tempo, mas não se pode dizer que há um motivo em questão de qualidade e tecnologia para ter sido preciso 14 anos para que a animação fosse feita, apesar do que nos levou a crer vários memes no Facebook. A mensagem também é crucial e necessária de ser discutida. Infelizmente, ainda tem que ser discutida, mas ainda bem que pode ser discutida. O desfecho também é brilhante e mostra que cada um pode ocupar o seu lugar sem ter que diminuir ou tirar o lugar do outro e que super heróis, mais do que salvar o dia, trazem esperança de um dia melhor e nos inspiram a ser melhores. Por fim, o saldo geral é que valeu muito à pena esperar esses 14 anos.

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Crítica: Eu não sou um homem fácil (2018)

O filme Eu não sou um homem fácil (Je Ne Suis Pas un Homme Facile) da diretora francesa Eléonore Pourriat tem chamado a atenção desde sua estreia no site de streaming americano Netflix. O filme parte da premissa que o machão Damien, interpretado por Vincent Elbaz, sofre um pequeno acidente e acorda num mundo em que os papéis de gêneros foram invertidos e as mulheres ocupam agora o lugar de dominância na sociedade.

Por se tratar de uma comédia com um que de besteirol o enredo retrata o machismo com muita leveza, entretanto as críticas são escrachadas. Damien logo no começo é assediado por uma mulher em seu ambiente de trabalho e é compelido a mudar todo seu físico para se encaixar e voltar para o mercado de trabalho. Além disso todos os personagens homens nesse novo mundo representam exatamente os estereótipos femininos são todos dóceis, frágeis e subordinados enquanto as mulheres são fortes e cheias de virilidade.

As referenciais sutis das cenas também são muito provocativas, como por exemplo a parte em que as mulheres estão jogando pôquer e a carta da rainha é mais forte que a do rei e vence a partida mostrando que a figura feminina é forte naquele universo paralelo em todos os âmbitos. Outra passagem interessante são os beijos trocados por Damien e Alexandra (Marie-Sophie Ferdane) em que a máscula escritora levanta o protagonista contra a parede num gesto claro de dominação.

Por não ser uma produção americana certos aspectos da cultura francesa tornam o filme ainda mais interessante como por exemplo o padrão de beleza dos personagens. Tanto Damien quando Alexandra não seriam personagens considerados extremamente atraentes numa criação estadunidense, entretanto isso só deixa a narrativa ainda mais verídica uma vez que retrata uma sociedade muito genuína uma vez que não se engessa nos moldes hollywoodianos.

“Eu não sou um homem fácil” é aquele tipo de comédia que poderia ter três horas de duração que ainda sim haveriam assuntos para serem abordados. Os personagens não têm toda aquela profundidade, estão mais presos ao momento do que a suas individualidades, mas mesmo assim faz sentido dentro do contexto criado pelo enredo. Com opiniões ácidas posicionamentos bem claros, o filme de Eléonore é aquele tipo de entretenimento leve, mas o mesmo tempo conscientizador de domingo a noite.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: De encontro com a vida (2018)

De encontro com a vida é um filme alemão baseado em uma história real. O filme conta a história de Saliya Kahawatte (Kostja Ullmann), um jovem de família imigrante na Alemanha que, no último ano da escola, perde 95% da visão devido a uma doença degenerativa. Com o sonho de trabalhar em um grande hotel, o jovem Sali tenta se inscrever para vários programas de treinamento, ao invés de ir para a faculdade, porém, ao se declarar como deficiente visual, é negado em todos. Assim, ele resolve fazer uma manobra ousada: se inscrever em um dos maiores hotéis cinco estrelas da Alemanha sem contar que só tem 5% de visão.

Saliya aposta exclusivamente em sua memória. Sim, com os outros sentidos aflorando, ele percebe ter mais facilidade com o tato, a audição, o paladar e com sua memória. Assim, decorando cada coisa que o professor diz, ele consegue se formar em sua escola regular. Decorando cada coisa que os instrutores do hotel dizem, ele consegue pular de treinamento para treinamento sem deixar ninguém desconfiar de nada. Claro que isso denota um esforço descomunal, pois ele sempre tem que acordar mais cedo para decorar os caminhos, a posição das coisas e tentar ler os rótulos usando sua lupa estrategicamente escondida.

Por sorte, ele encontra nessa empreitada vários amigos dispostos a ajudá-lo, como Max (Jacob Matschenz), um herdeiro displicente que vê no emprego um castigo de seu pai. Como toda comédia romântica, não poderia faltar um grande amor na vida de Saliya, que se manifesta através de Laura (Anna Maria Mühe), a jovem fazendeira que entrega seus produtos para a cozinha do hotel. Uma compreensão e admiração inesperada também denotam dos professores que, ao descobrirem sobre a deficiência de Saliya, reconhecem seu esforço e o ajudam a estudar.

A primeira coisa a destacar sobre esse filme é sua origem alemã, afinal, não vemos muitos filmes que não são de Hollywood chegarem por aqui. A segunda coisa é o fato de ser um filme baseado em uma história real sobre alguém que não é bem uma celebridade. Eu, particularmente, nunca tinha ouvido falar de Saliya Kahawatte e acredito que, a não ser que for alguém especializado em redes de restaurantes alemãs, você também não. A terceira coisa é a mensagem. Inspiradora, essa é a palavra perfeita para descrever essa história.

A história de um rapaz que, desde muito cedo, nutre um sonho e, apesar de tudo conspirar contra, não desiste desse sonho e faz tudo para conseguir. Sim, há vários filmes sobre esse tema porque parece que a maioria das pessoas que realizou seus sonhos teve que lutar muito para conseguir. Temos A procura da felicidade e Um sonho possível para colocar nessa lista, porém, em um mundo tão sombrio e tão cheio de desilusões com guerras, corrupção e tanta miséria e desigualdade, histórias de esperança e vitória merecem ser compartilhadas, independente da origem do filme ou o valor de seu orçamento.

De encontro com a vida é um filme engraçado, emocionante, simples em sua essência, mas extremamente inspirador. A história de Saliya Kahawatte aconteceu lá na Alemanha, mas ela pode inspirar a história da Maria, do José, do Antonio, da Joana e de todos aqueles que têm um sonho e que, apesar de parecer impossível, insistem “nessa estranha mania de ter fé na vida”.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Gnomeu e Julieta – O mistério do jardim (2018)

Hoje (31/05), chega aos cinemas Gnomeu e Julieta: O mistério do jardim. A animação vem para agradar crianças e adultos, fazendo uma analogia a Romeu e Julieta, só que em um mundo onde gnomos de jardim são vivos e têm sentimentos, assim como nós. O longa britânico é o segundo de Gnomeu e Julieta, que teve seu início com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, centrada na obra de Shakespeare. Agora, a história é centrada em Sherlock Holmes, que aqui se chama Sherlock Gnomes e seu adorável assistente Watson.

A trama começa quando Gnomeu, Julieta e seus companheiros de jardim chegam a Londres, e um misterioso roubo de gnomos começa. Um jardim após o outro, todos somem misteriosamente, sem nenhuma pista, nenhum rastro. Claro que cabem a Sherlock Gnomes, o grande detetive e protetor dos gnomos de jardim, e seu assistente Watson resolverem o caso e resgatarem os gnomos perdidos.

Acontece que, nesse meio tempo, o jardim de Gnomeu e Julieta também é atacado e é claro que eles não ficariam de fora dessa busca, afinal, após a festa da primavera, os dois seriam os novos líderes do jardim. Era sua responsabilidade salvar suas famílias e amigos. Agora, Sherlock Gnomes, Watson, Gnomeu e Julieta correm contra o tempo em busca dos gnomos perdidos que eles acreditam estar com Moriarty, um enfeite de porcelana maléfico, antigo inimigo de Sherlock Gnomes e um apreciador da tortura de gnomos de jardim.

Gnomeu e Julieta: O mistério do jardim traz trilha sonora de Elton John, fazendo companhia ao Rei Leão e O caminho para El Dorado e nos surpreende com uma mensagem que transcende as barreiras da idade. Ao longo do filme, vemos Gnomeu ser ignorado por Julieta, assim como Watson é ignorado por Sherlock Gnomes. Aprendemos como é importante ouvir seu parceiro e respeitar as opiniões daqueles que nos amam e se preocupam conosco. Vemos que aquele ditado que diz que “uma andorinha só não faz verão” faz muito sentido, assim como “duas cabeças pensam melhor do que uma” e, como diz Jota Quest “ninguém é feliz sozinho”.

Quando um adulto vai ao cinema assistir uma animação, ele espera crianças fazendo barulho, algumas pipocas voando pelo ar, um filminho leve e engraçado… Porém, dificilmente, preocupa-se em aprender algo e se enriquecer com a mensagem do filme. Foi aí que eu me surpreendi. Gnomeu e Julieta transcende a barreira da idade porque nos mostra que não precisamos estar sozinhos. Não precisamos tomar todas as decisões sozinhos e lutar sozinhos. Seja com os amigos ou com a família, sempre temos alguém com quem podemos contar e devemos contar. Assim como sempre podemos ajudar e devemos ajudar.

Com uma trilha sonora excelente, ótimos personagens cheios de referências da obra de Arthur Conan Doyle, comédia, ação, romance e suspense, além da mensagem emocionante e inspiradora, Gnomeu e Julieta: o mistério do jardim promete ser uma excelente animação para crianças e adultos, mostrando que o poder da amizade e o companheirismo são fundamentais em todos os relacionamentos.

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Crítica: Uma dobra no tempo (2018)

Uma dobra no tempo é o novo lançamento da Disney que o Beco foi assistir hoje em uma exclusiva para a imprensa e traz tudo para vocês. O filme é uma aposta infanto-juvenil com público alvo para crianças de 8 a 12 anos e tem como focos a autoaceitação, o amor próprio, a esperança e os laços de amor entre a família e os amigos.

Meg Murry (Storm Reid) é a filha de dois cientistas brilhantes que buscam provar que é possível viajar milhões de anos-luz só com o poder da mente. É o que eles chamam de tesseract. Imaginem: você só precisa encontrar a frequência certa e pronto! Estará em outro planeta em questão de segundos. Qualquer lugar, não há limites! O problema é que nem todos acreditaram neles, então, o Dr. Murry (Chris Pine) teve que tirar a prova por si só, e ele conseguiu. Mas se perdeu pelo Universo, deixando sua família abandonada e sem notícias durante 4 anos.

Nesses 4 anos, Meg se tornou uma menina hostil, desconfiada, sem amigos e vítima de bullying na escola. A típica adolescente complicada e problemática. Seu irmão adotivo que era só um bebê quando seu pai sumiu, Charles Wallace (Deric McCabe), é visto como um doido esquisitão por ser inteligente demais. A certeza de que seu pai nunca mais irá voltar fica cada vez mais concreta, até que três mulheres bem esquisitas cruzam a vida de Meg e Charles, reacendendo a esperança em seus corações.

Essas mulheres nada mais são do que Sra. Quem (Mindy Kaling), Sra. Qual (Oprah Winfrey) e Sra. Queé (Reese Whitherspoon), as guardiãs do bem do Universo que trabalham em um exército que busca ajudar a todos, seja em auxílio ou resgate, como é o caso do pai de Meg. Elas receberam um chamado do Dr. Murry e, junto com Charles Wallace, Meg e Calvin (Levi Miller), um colega de classe de Meg por quem ela tem um leve crush, buscam por ele através dos vários planetas nos quais passou, seguindo suas pistas.

 

Como é esperado de um filme com público alvo infantil, a trilha sonora não é muito rica, mas os efeitos especiais são excelentes. Muitas cores, seres fantásticos e cenários surpreendentes podem ser esperados. Além de muita ação, artifício típico para prender a atenção das crianças. Também não é um filme muito longo e a história se desenvolve rápido de forma simples e eficaz, com diálogos curtos e poucos personagens, o que é muito comum no seguimento.

A primeira coisa que chama a atenção em Uma dobra no tempo é a mensagem. Tendo em vista o público alvo e o alto índice de bullying nas escolas, fica claro o objetivo do filme de valorizar as diferenças, a autoaceitação e o valor de cada um com seus defeitos e qualidades. A protagonista é uma menina negra com cabelos cacheados e óculos e não se acha muito bonita, além de sofrer bullying de outras meninas da escola, meninas estas que são brancas, magras e tem cabelo liso. Ela ainda se acha estranha e desajeitada, tendo até dificuldade em “tesserar” porque não gosta de si, o que faz a Sra. Qual comentar que até parece que ela quer reaparecer como outra pessoa.

Ao longo do filme, vemos Meg lidar com suas inseguranças, principalmente a dificuldade em confiar. Vemos ela acolher seus defeitos como parte de si, além de reconhecer suas inúmeras qualidades, principalmente sua habilidade com a física e a matemática. Com isso, ela descobre que é a junção destes que a faz ser quem é e que foi preciso milhares de combinações do Universo ao longo de vários milênios para que ela fosse gerada exatamente desse jeito, o que a torna algo extremamente especial.

Temos também o poder feminino da história. O livro que originou o filme é o primeiro da série Uma dobra no tempo escrita por Madeleine L’Engle, a direção é de Ava DuVernay e o elenco é predominantemente feminino. Coincidência? Eu acho que não. Não podemos esquecer que temos no elenco ninguém mais, ninguém menos do que Oprah Winfrey e Reese Whitherspoon, reconhecidas ativistas pelos direitos humanos, igualdade social e racial e defesa das mulheres. É notório que o filme tem o objetivo muito maior do que ser uma história de fantasia para crianças, pois há também um caráter humanitário e até ativista convocando as crianças a serem guerreiros pelo Bem, atuando em suas escolas e comunidades como uma luz que dissipa as trevas.

Outra coisa interessante no filme é uma protagonista negra sem o enfoque da história ser esse. Em era de Pantera Negra, vemos como aflorou nas pessoas a luta por representatividade e eu achei algo magnífico a representatividade apresentada nesse filme. Não só pela protagonista, mas pela família interracial, o irmão adotivo, o crush branco de olhos azuis, a bully asiática e por aí vai. Isso também é visto nas três entidades ajudantes representadas na forma humana como três mulheres totalmente diferentes entre si. Criar uma identificação com as crianças fará não só elas conseguirem se ver em um ator ou uma atriz em um filme, mas se relacionarem com a história e as situações apresentadas ali, conseguindo entender melhor a mensagem que é passada: você é a junção perfeita de qualidades e defeitos que te fazem um ser único e especial e, enquanto tiver amor e esperança, sempre haverá uma solução. Basta ser corajoso e nunca deixar de lutar pelo o que acredita.