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"A Paixão Segundo G.H." terá 1ª sessão no Festival de Rotterdam neste sábado
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Estreias, Filmes

“A Paixão Segundo G.H.” terá 1ª sessão no Festival de Rotterdam neste sábado

Com ingressos esgotados, A PAIXÃO SEGUNDO G.H., o mais recente filme de Luiz Fernando Carvalho, inicia sua trajetória internacional na 53ª edição do Festival de Rotterdam, na Holanda, neste sábado, dia 27 de janeiro. A atriz Maria Fernanda Candido, o cineasta e a roteirista Melina Dalboni participam da exibição na cidade, onde estarão também no debate “A Arte da Adaptação: Percurso Criativo Para Levar a Literatura ao Cinema”.

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Após passar pelo Festival do Rio e Mostra de Cinema de São Paulo, a produção estreia em Portugal no dia 15 de fevereiro e tem data prevista de lançamento nos cinemas brasileiros no dia 28 de março. Baseado na obra homônima de Clarice Lispector, o longa-metragem com roteiro do diretor e de Melina Dalboni traz no elenco Maria Fernanda Candido e Samira Nancassa.

Sinopse
Rio de Janeiro, 1964. Após o fim de uma paixão, G.H., escultora da elite de Copacabana, decide arrumar seu apartamento, começando pelo quarto de serviço. No dia anterior, a empregada pediu demissão. No quarto, G.H. se depara com uma enorme barata que revela seu próprio horror diante do mundo, reflexo de uma sociedade repleta de preconceitos contra os seres que elege como subalternos. Diante do inseto, G.H. vive sua via-crúcis existencial. A experiência narra a perda de sua identidade e a faz questionar todas as convenções sociais que aprisionam o feminino até hoje. Baseado no romance de Clarice Lispector.

Deve-se viver apesar de
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Deve-se viver apesar de

Tem uma frase da Clarice Lispector de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” que diz que devemos viver apesar de. Que é o apesar de que nos empurra pra frente.

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

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Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”

E, recentemente, venho pensando sobre trabalho. Apesar de, temos trabalho pra fazer. Todos nós. Alguns trabalham para ter o que comer. Outros trabalham pra ter uma casa limpa. Outros trabalham fazendo terapia. Todos trabalham limpando a bunda. Tudo isso é trabalho. Higienizar, dar brilho, manter… É tudo trabalho.

Existem coisas na vida que são prazeirosas e coisas que não são. E existem coisas que são apenas trabalho. Não são nada, mas ainda sim devem ser feitas. E deve-se viver apesar de.

Encarar o trabalho dessa forma tem feito o trabalho ser mais leve. De vez em quando, me sinto sobrecarregado. Culpado. Triste. Queria viver só sendo escritor de ficção e me sinto mal de ter que escrever coisas da vida real para ganhar dinheiro e sobreviver. Mas isso é manutenção da minha vida social. Manutenção é trabalho. Precisa ser feito, não precisa sempre dar prazer. E nem sempre vai.

Talvez nada na vida sempre dê prazer. É ingenuidade pensar assim. Talvez nem se eu fosse um escritor de ficção em tempo integral tipo o Stephen King, eu teria prazer sempre.

E o fato é que isso me mata. Eu sou comandado pelo princípio de prazer, pelo ID, como chamaria Freud. E outras pessoas conseguem encarar o trabalho apenas como trabalho e viver apesar de.

Eu não consigo. Me mata encarar o trabalho como trabalho e encarar como algo que precisa ser feito.

Precisa ser feito apesar de.

PREMIADO EM DIVERSOS FESTIVAIS, “O LIVRO DOS PRAZERES” ABRE A PREMIER BRASIL DO FESTIVAL DO RIO 2021
Atualizações, Filmes, Séries

“O Livro dos Prazeres” abre o Festival do Rio 2021

Primeiro longa de ficção da diretora Marcela Lordy, “O LIVRO DOS PRAZERES” é uma livre adaptação da obra “Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres”, de Clarice Lispector, uma das mais importantes escritoras em língua portuguesa do século XX. Uma coprodução Brasil-Argentina, entre bigBonsai, Cinematográfica Marcela, Rizoma Films, República Pureza e Canal Brasil, o filme traz para os tempos atuais a narrativa do livro publicado em 1969. Ele abre a Mostra Première Brasil: competição de longas metragens de ficção, no dia 10 de dezembro, mesmo dia do aniversário de Clarice, que se estivesse viva completaria 101 anos.

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O longa fez sua estreia na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na qual foi um dos três filmes mais vistos pelo público, e, depois, foi exibido no Festival de Vitória, de onde saiu com os prêmios de melhor roteiro, interpretação feminina (Simone Spoladore) e menção honrosa para a fotografia (Mauro Pinheiro Júnior, ABC).

Desde então, o  “O LIVRO DOS PRAZERES” viajou pelo mundo, e foi exibido em diversos festivais, tendo sido premiado no BAFICI (Argentina/2021) – Competição Americana, melhor atriz (Simone Spoladore) e menção honrosa em longa metragem; no 013 Cinecitta International Film Festival Tilburg (Holanda/2021), prêmio do público; e os prêmios de melhor roteiro, melhor atriz e menção honrosa em fotografia no 27º Festival de Vitória;

Este ano, o filme também teve premières no Canadá, na Europa e na Ásia, e no mais recente Festival de Cannes foi distribuído para os Estados Unidos, Israel e Japão. Segundo a revista americana Variety, o filme faz parte da safra de primeiros filmes de uma nova geração de jovens cineastas brasileiras, um dos fenômenos mais interessantes vistos atualmente no cinema da América Latina.

Sobre o filme:

O LIVRO DOS PRAZERES’ acompanha Lóri (Simone Spoladore), uma professora que vive a monotonia de uma rotina de trabalho e relacionamentos furtivos até que conhece Ulisses (Javier Drolas), um professor de filosofia argentino, egocêntrico e provocador. É com ele que Lóri aprende a amar enfrentando sua própria solidão. Uma jornada de investigação íntima, de cara a cara com a angústia e a dor, numa trajetória só possível pelo encontro, troca e aprendizado entre os dois.

O filme é um romance psicológico erótico sobre o ponto de vista de uma mulher contemporânea em busca de conexões afetivas reais”, coloca a diretora Marcela Lordy, que completa, “ Ele fala sobre a autorrealização feminina numa sociedade patriarcal. A vontade de adaptar ‘Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres’ para o cinema surgiu da minha necessidade de olhar mais de perto para a velocidade com que as relações afetivas se formam e se desfazem nos dias de hoje. Estava morando sozinha pela primeira vez quando me deparei com Lóri e seus desafios existenciais da maturidade. Ao ler o livro, senti que havia algo sagrado ali sobre o amor que ainda precisava ser resgatado”, completa. Algo difícil, não só na literatura da época, mas ainda nos dias de hoje, mais de 50 anos após a publicação do livro.

O “O LIVRO DOS PRAZERES” acompanha Lóri em sua descoberta de si, do outro e do mundo. Um cinema da normalidade, das coisas não-extraordinárias, propondo, no entanto, um olhar extraordinário sobre o cotidiano. Esta narrativa sensorial sugere a possibilidade de uma relação amorosa estável desconstruindo o mito do amor romântico no qual a obrigação de fazer o outro feliz sai do cônjuge e vai para o indivíduo e suas escolhas.

“No momento em que o cinema brasileiro vive um processo de desmonte e asfixia de recursos, o filme rodado no Rio de Janeiro, – em locações presentes no livro como a orla da praia do Leme e a Floresta da Tijuca, – já se torna resistência no cinema autoral.”, diz a diretora. Desde a primeira versão do roteiro, o papel de Lóri já era da atriz Simone Spoladore, com quem Marcela Lordy trabalhou anteriormente no telefilme A Musa Impassível e no curta metragem Sonhos de Lulu. Já o ator argentino Javier Drolas entrou no projeto por seu talento, proximidade com a cultura brasileira e pelo fato do “O LIVRO DOS PRAZERES” ser uma coprodução com a Argentina.

Com roteiro da também argentina Josefina Trotta, em parceria com a própria diretora Marcela Lordy, e com produção de Deborah Osborn e Marcela Lordy, “O LIVRO DOS PRAZERES” conta com a fotografia de Mauro Pinheiro, direção de arte de Iolanda Teixeira, montagem da argentina Rosário Suárez e trilha sonora original de Edson Secco. O longa tem participação especial da artista plástica Letícia Ramos criando os intertítulos do filme em 16mm, do artista visual Pedro Cezar Ferreira nas aquarelas e do fotógrafo Wladimir Fontes, que criou a imagem do pinhole e fotos still que aparecem ao longo do filme. A distribuição no Brasil é da Vitrine Filmes.

Resenhas

Resenha: Felicidade Clandestina, Clarice Lispector

Felicidade Clandestina é um compilado de 25 contos (maravilhosos, diga-se de passagem) da Clarice Lispector. Com estorias carregadas de subjetividade a autora insere o leitor sutilmente em discussões sobre a existência humana, amadurecimento e família a partir de conceitos simples como um ovo.

Contando com alguns contos simples e tocantes e outros extremamente densos, o livro é recheado de felizes surpresas e fará com que você pare e reflita. Clarice, como de costume em suas obras, se utiliza de uma profunda descrição psicológica de suas personagens o que contribui para o desenvolvimento perfeito do enredo.

No conto homônimo ao titulo do livro nos é apresentada uma garotinha apaixonada por literatura, que ao decorrer da narrativa se vê numa situação de humilhação por parte da filha do livreiro que lhe prometera emprestar uma obra de Machado de Assis. Sabendo que a garotinha faria de tudo para ter esse livro em mãos ela inicia, nas palavras da autora, uma tortura chinesa. É nesse ponto em que vemos o lado reflexivo da autora, como o livro em mãos a garota conclui.

[…]Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. […] Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

E assim ao decorrer do livro é perceptível a noção de clandestino, de não pertencer  e muita das vezes retratar uma felicidade que não aconteceu para a personagem ou uma felicidade passageira e por mais curta que seja, ainda assim clandestina. Livro extremamente curto e ainda assim de uma profundidade digna de Clarice, ótima pedida para marinheiros de primeira viagem nesse mar de emoções que são suas obras.