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Crítica: Abigail e a cidade proibida (2019)

Abigail e a cidade proibida é um filme russo que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (12) e surpreende em vários aspectos. Primeiro, é um filme russo, e, vivendo em um mundo dominado pelo cinema hollywoodiano, é surpreendente quando somos expostos a um filme russo. Segundo, ele ressuscita o gênero steampunk tão popular nos anos 80 e 90. Porém, as surpresas não são suficientes para amenizarem os furos no roteiro e a fraqueza da história.

Para quem não conhece, steampunk é o termo usado para uma ficção científica que fala sobre avanços tecnológicos em uma história que se passa mais no passado. Confuso? Deixe-me explicar. Júlio Verne descreve uma máquina parecida com um submarino no início do século 20, assim como também fala sobre uma viagem ao redor do mundo em um balão de ar quente. Submarinos e balões são coisas totalmente comuns para nós, mas não são na época em que a história passa.

Agora, voltando à história da Abigail, temos um mundo onde há pessoas capazes de produzir magia que pode ser canalizada em armas futurísticas que lançam raios. A tal cidade proibida é o local onde eles moram, uma cidade totalmente cercada onde ninguém entra e ninguém sai. O motivo dado à população é que há uma doença mortal que se espalhou pelo mundo e eles só estão vivos por causa da muralha que cerca a cidade.

Ninguém sabe o que há lá fora ou se ainda há algo lá fora, porém, já se passaram tantos anos que ninguém mais pergunta, só aceita. Homens mascarados patrulham as ruas o tempo todo, colocando luzes nos olhos das pessoas para testar se a tal “doença” se manifestou. Aqueles que têm um diagnóstico positivo são levados para fora da cidade.

Dentro desse mundo pós-apocaliptico meio futurista e mágico, temos a nossa mocinha, a Abigail, cuja o pai trabalhava para o governo e foi levado quando ela tinha 8 anos. A história se passa quando ela já está com 18, mas temos vários flashbacks ao longo do filme, onde Abigail se lembra das lições que seu pai a ensinou e segue em uma busca implacável de seu paradeiro.

Abigail e a cidade proibida tinha tudo para dar certo, porém, a fórmula não funcionou tão bem quanto esperado. Apesar do roteiro diferente, essa aposta arrojada no steampunk em contrapartida da ficção científica tradicional que está tão em alta e toda aura de magia e ótimos efeitos especiais, o filme peca na execução em falar muito em tão pouco tempo e forçar um romance entre Abigail e o líder da resistência que se consolidou em menos de dez minutos.

Temos magia, um mundo pós-apocalíptico, uma trama cheia de conspiração, várias intrigas e muitos personagens com histórias mal acabadas no mesmo filme. Levando em conta o público-alvo que eu não julgaria ser mais do que infanto-juvenil, a confusão é muito grande e, ao final do filme, saímos com aquela sensação de que não foi tudo entendido de verdade. Até agora eu não entendi como se consegue trancar uma população inteira dentro de uma cidade por mais de 100 anos sem ninguém desconfiar de nada. Quem era o líder dessa coisa toda? Porque temos um líder na época da Abigail, mas é impossível que seja o mesmo desde o início. Ou ele tem o poder da imortalidade? Isso não é explicado na história.

Como todo o restante do filme, o clímax é rápido e confuso demais, com mais enfoque nas lutas e efeitos especiais do que em amarrar as pontas soltas. O tal shipp dos mocinhos não tem química nenhuma, e ninguém parece se importar muito com os mortos durante o processo. Talvez, se eles tivessem diminuído um pouco a quantidade de informações e investido mais em solidificar o roteiro, dando realmente um princípio, meio e fim para tudo, Abigail e a cidade proibida teria tudo para ser um sucesso. Infelizmente, não é esse o caso.