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Estudantes criam absorvente menstrual ecológico com custo baixíssimo
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Estudantes criam absorvente menstrual ecológico com custo baixíssimo

A pobreza menstrual está mais perto do que se imagina. Numa conversa, a estudante Camily Pereira dos Santos, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, campus de Osório, descobriu que sua mãe, quando adolescente, não tinha acesso aos absorventes de menstruação. Foi o empurrão que ela precisava para se unir à colega Laura Nedel Drebes e tocar em frente uma pesquisa que resultaria em um absorvente menstrual de baixíssimo custo e ecologicamente correto. O projeto é um dos destaques da 20ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), que acontece até o dia 26 de março pela Plataforma FEBRACE Virtual.

Depois de um ano de pesquisa, elas conseguiram desenvolver o protótipo. Em resumo: o algodão foi substituído por resíduos da agroindústria (fibra do caule da bananeira e do açaí de juçara); o bioplástico, que envolve o absorvente, foi feito com resíduos de cápsulas de medicamentos da indústria nutracêutica; e o invólucro do produto com retalhos de tecidos das costureiras locais.

O produto final tem poder de absorção muito maior, segundo Camily, e é 95% mais barato do que o comercial (R$ 0,02 a unidade), já incluídos os custos diretos e indiretos da fabricação. “Não queremos parar por aí, nossa meta é criar uma cooperativa para a produção do absorvente”, diz a estudante.
Os 497 finalistas da FEBRACE — entre eles o projeto de Camily e Laura — serão julgados por professores universitários e especialistas, que farão a avaliação em teleconferências fechadas. Os autores dos melhores projetos, nas diversas categorias, ganharão troféus, medalhas, bolsas e estágios, num total aproximado de 300 prêmios e oportunidades no Brasil e no exterior. Também serão selecionados nove projetos para a Regeneron ISEF — a maior feira internacional de ciências do mundo que acontece em maio, nos EUA.

Mulheres na Ciência: determinismo biológico e protagonismo na História
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Mulheres na Ciência: determinismo biológico e protagonismo na História

A presença das mulheres na Ciência não é de hoje. Na verdade, é de sempre. E o protagonismo feminino atravessa a História com conquistas incalculáveis para a humanidade. Isso não quer dizer, no entanto, que o caminho foi fácil. Muito pelo contrário. As mulheres, ainda hoje, encontram dificuldades em estabelecer seus talentos, principalmente em cargos de chefia e destaque. Substantivo feminino, a ciência atravessou séculos como um espaço predominantemente ocupado por homens e seus feitos brilhantes. As mulheres têm conseguido quebrar essa barreira de gênero, mesmo que aos poucos e “pedindo licença”. Mas é um processo lento e cultural que extrapola qualquer capacidade, mesmo que explícita e, mesmo assim, não enxergada em muitos casos.

+ As diferenças entre sexualidade, gênero e sexo biológico

Exemplos ao longo dos séculos não faltam. Na Grécia Antiga podemos citar Teano, escritora de livros e tratados sobre Matemática, Física e Medicina e responsável pelo legado de Pitágoras, considerada a “mãe da doutrina do meio-termo”. No entanto, a História, por muitas vezes, mostra Teano como uma das muitas mulheres do pai da Matemática. No início do século 20, o Instituto Politécnico de Zurique, na Suíça, era uma das poucas universidades da Europa que admitiam mulheres. E lá a primeira mulher de Albert Einstein, Mileva Maric, já mostrava seu grande talento pela Ciência. A ela, inclusive, o próprio Einstein atribuiu boa parte das ideias que o tornaram um dos maiores cientistas da História, inclusive na produção dos quatro artigos na revista Annalen der Physik (Anais da Física) que mudaram a compreensão das leis da física para sempre, incluindo sua teoria da relatividade. Na época, muitos a chamavam de “velha bruxa”. Pouco se sabe sobre seus feitos, anão ser que ela foi mulher do pai da Teoria da Relatividade e mãe de três de seus filhos.

Filhos, por sinal, são outro ponto relevante. Assim como Mileva, Fernanda Staniscuaski também teve três filhos e é cientista. Bióloga, ela enfrentou uma série de dificuldades para exercer a maternidade ao mesmo tempo em que precisava se dedicar ao trabalho. Diante do desafio, criou o “Parent in Science”, rede que levanta a discussão sobre o impacto na carreira científica de mulheres e homens e onde as mulheres da Ciência também podem externar suas angústias e desafios de se dedicar aos filhos, aos laboratórios e à pesquisa científica. Uma das ações da rede de apoio é o “Maternidade no Lattes”, que é a inclusão da licença-maternidade no currículo. “Para o movimento, é importante reconhecer, formalmente, a maternidade como parte da trajetória profissional das mulheres, com o objetivo de sinalizar o momento de pausa na carreira das cientistas e justificar as lacunas que existem na produção e nos currículos em função do momento de ser mãe”, pontua Fernanda. Além disso, a bióloga ressalta que é uma maneira de tirar a maternidade da invisibilidade e de um determinismo biológico e, com isso, provocar mudanças sobre como ela é vista dentro da academia.

“Eu como uma colaboradora com 13 anos numa mesma empresa consigo notar grandes transformações como ações mais humanizadas e voltadas para autocuidado e cuidado com a família. Quando minha filha nasceu fiquei preocupada em não conseguir ter a mesma produtividade que antes e a empresa não entender.

Hoje, além de ter adquirido grandes virtudes com a maternidade, entre elas melhor administração do tempo, ainda me sinto segura em poder atender as demandas de mãe e mulher. Dessa maneira, me sinto na obrigação de criar um ambiente mais acolhedor principalmente para as mulheres, mamães, famílias e futuras mães”, relata Adriana Freire Machado, gerente de marketing para a América Latina da Eppendorf do Brasil e mãe de uma menina de seis anos. Adriana destacou ainda que a liderança da empresa já é 50% feminina, algo recente, que ocorreu nos últimos quatro anos.

Adriana apoia as iniciativas da Fernanda do Parent in Science e entende as dificuldades, pois bolsistas não são celetistas e isso dificulta ainda mais a carreira dessas profissionais, já que têm menos direitos trabalhistas.

“O importante é que empresas, universidades e a sociedade se movam para mudar esse cenário para promover igualde de direitos para todos”, completa.

Reconhecer e dar visibilidade à mulher na Ciência vai além de prêmios ou condecorações. É renovar uma cultura que, por vezes, ainda deriva as palavras de Darwin no segundo volume de “A Origem do Homem”, de 1871, onde ele diz que “o homem é mais poderoso em corpo e mente que a mulher, e no estado selvagem ele a mantém numa condição de servidão muito mais abjeta que o faz o macho de qualquer outro animal; portanto, não surpreende que ele tenha ganhado o poder de seleção”. Há quem ainda se admire ou reprove essas palavras — assim como na época -, pelo simples fato de Darwin ter relacionado o parentesco entre o ser humano e outros primatas, proposta pela mesma obra.