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Autorias: Escuridão do cósmico segredo, por Gabu Camacho

Olá, #BecoLovers! Esta é a primeira postagem da mais nova seção do Beco Literário, intitulada de Autorias, onde nós escritores, postaremos textos escritos por nós mesmos, sejam eles dissertações, artigos de opinião, histórias fantásticas… Enfim! Não há limites para a escrita. Tomamos essa decisão após muitos de vocês (lindos <3) elogiarem nossas colunas, resenhas e acima de tudo, nossa escrita. Este é só um novo espacinho para mostrar o nosso talento. Continuem comentando, participando, sugerindo… Nós sempre lemos tudo e buscamos melhorar o site ao máximo!

Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras…
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
— Augusto dos Anjos, “Monólogo de uma sombra”.

Tudo branco. Tudo limpo, silencioso. O que houve? Algo deu errado? Não, não deu. Meu pai sorri lá longe, feliz. Atrás do vidro. Onde estou? Minha visão está turva, o mundo gira rápido demais… Um lapso de nitidez me atinge, ele não está sorrindo, ele chora como uma criança.

Por que choras, pai? Estou aqui, sou só eu, Téo. Não devo ser um desgosto tão grande assim pra ele, devo? Por que choras então, papai?

Vovó, por que choras? A senhora, tão festeira, sempre sorridente atrás do fogão, por que exibes esse rosto marcado pelas rugas e tão envelhecido, tão maltratado pelo tempo? A senhora não é assim, a senhora nunca aparentou a idade que tem…

Mamãe, por que estás abraçada a mim, sendo que estou aqui? Mamãe, olha pra mim, está tudo bem, mãe. Eu te amo, demais. Mesmo nunca tendo dito isso em voz alta. Mamãe, sou só eu, Téo…

Não é meu clone, é Ted, meu irmão gêmeo. Ele está bem. Ei, Ted! Por que exibes esses olhos vermelhos aí, cara? Não andou fumando de novo né, cabeção? Não, você chorou, posso sentir… Por que choras, cara? Você sempre foi o mais forte de nós. Cuidado, moleque, a mãe vai pegar você matando aula. Não esquece o RG quando sair de casa. Mas não chora, não. Não é o fim do mundo. Tudo vai ficar bem.

Por que tanta choradeira, por que tantos borrões turvos e pálidos nos meus olhos? Tá rolando guerrinha de ovos podres? Uma briga? Corre, corre, corre, Ted… Mas não chora, não.

Cuidado, os pais vão ver! Protege a vovó, cara…

Quem é esse cara vindo em minha direção com dois ferros de passar… Não cara, vai pra lá… Ted, ele vai me queimar, Ted, minha mão tá amarrada, me ajuda, Ted…

Papai…

Por que não consigo me mexer? Por quê? O que está acontecendo? A massa das balas de coco que a senhora fez para o café da tarde deu errado, Vovó? Não me queima, não…

Por que estou nesse aquário, por quê?

Papai sumiu, mas consigo ouvir seus berros incontroláveis…

Ted o abraçou, isso mesmo, garoto! Mamãe, por que a senhora tá dormindo nessa maca de hospital? Por que estamos no hospital?

Oi, Vovó, a senhora tá sorrindo pra mim, pode me explicar o que houve? Vovó… Eu te amo.

“A eternidade só tem fim pra quem não ama, meu menino.”

Ela viu que eu sorri, tenho certeza.

Ela viu.

E meu mundo, se apagou.