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Alice Júnior
Críticas de Cinema, Filmes, Séries

Crítica de Cinema: Alice Júnior (2019)

Alice Júnior é o filme que todos nós precisávamos mas ainda não tínhamos nos dado conta, pelo menos, conscientemente. É cativante, bem escrito, bem produzido e, acima de tudo, com muita representatividade.

+ Resenha: Vermelho, branco e sangue azul, Casey McQuinston

Ele conta a história de Alice Júnior, uma adolescente trans, que mora com o pai, Jean, e grava vídeos para o Youtube. Uma garota como qualquer outra de sua idade. No entanto, ela vê sua rotina mudar quando o pai é transferido de Recife para Araucárias do Sul, uma cidade no interior do Paraná.

Com a transferência, os dois passam a morar afastados da cidade, em um sítio. Realidade bem diferente da que ela estava acostumada. Mas, isso não é o pior: Alice também é transferida de escola e vai parar em um colégio religioso, com um pensamento mais retrógrado com o qual ela estava acostumada.

A luta de Alice Júnior, que antes era pelo seu primeiro beijo, agora passa a ser por reconhecimento. Na escola, ela precisa enfrentar preconceitos de pessoas da sua idade que não validam a existência de uma menina trans e por isso, não reconhecem a sua identidade. Ela não pode usar as roupas que quer, não pode usar o banheiro feminino e nem seu nome social é respeitado na chamada.

O grande ponto alto do filme é a luta de Alice, que parece inquebrável, pelos seus direitos, mesmo que ainda nova. Seu pai, Jean, é um grande aliado da causa e faz de tudo pela filha, o que é muito bonito de se ver representado no filme. E é nesse ponto que também vemos uma virada de chave entre as pessoas: existem sim, aqueles que querem derrubar Alice e sua existência, mas também existem aqueles que a ajudam a ser resistência.

O desenvolvimento de Alice Júnior se dá nessa virada de chave. Outras adolescentes da sua idade, passam a apoia-la e até o banheiro feminino, se passa a chamar “banheiro feminista”. O filme é uma representação incrível da adolescência LGBTQIAP+ e nos traz um quentinho no coração pela representatividade. Estamos acostumados a ver filmes adolescentes estrelados por Maísa, Larissa Manoela e outras atrizes cisgênero, enquanto Alice Júnior traz toda essa trama, inerente aos mais jovens, representada por uma garota trans.

Lembra que eu disse que era tudo o que a gente precisava? Além da luta por identificação, a gente também vê “problemas” de jovens como o primeiro beijo, o primeiro namoro, o vestibular, entender o seu lugar no mundo…. Se ainda usássemos o sistema de estrelas aqui no Beco, eu não daria cinco estrelas. Daria todo o céu.

Colunas

Meus quase 20 anos

Se você está no final da adolescência e, principalmente, se já terminou o Ensino Médio, encontra-se na mesma fase difícil em que eu estou. Não somos considerados adolescentes e nem adultos, estamos nesse meio termo chato, que pelo menos eu, não gosto nem um pouco.

Vou te explicar o porquê de eu estar falando isso. Esses dias, minha mãe estava conversando com uma conhecida dela sobre a família, filhos e tudo mais e falou que além da minha irmã, ela tinha uma “bebê” de quase 20 anos (que no caso sou eu). E na hora eu entrei em choque, parece que ouvir isso de outra pessoa faz parecer que sou muito mais velha do que me sinto ser.

Muitos não veem a hora de completar 18 anos, como se por magia, tudo ficasse melhor, finalmente a tão esperada liberdade, não é mesmo? Bom, eu não acho lá aquelas coisas, não sinto que tenho quase 20 anos de jeito nenhum e não estou pronta para ser adulta.

Há um tempo, ter 20 anos para mim era algo extremamente distante, imaginava-me madura, esperta, responsável por todos os aspectos da minha vida, mais sociável e até com mais dinheiro. E adivinha? Não sou nada disso. Por dentro continuo aquela menina que gostaria de entrar na sala do médico acompanhada pela minha mãe e que ela falasse todos os meus sintomas e não eu, sozinha, perdida.

Não tenho a mínima ideia de como faz para pagar contas, INSS, não me imagino em filas de banco, fazendo transferências, não sei que rumo quero dar na minha vida, nem como estarei daqui a 5 anos. Mercado de trabalho é uma palavra que me dá arrepios. “Já escolheu uma profissão?”, “Isso não dá dinheiro!”, “Você precisa ter estabilidade”, “Você pensa em casar?” “Pensa em fazer pós, mestrado?”, “Nossa, você não vai crescer, não?”. CALMA! Muitas perguntas para respostas que eu não posso e não sei te dar. Pode ser que daqui um tempo eu saiba o que responder, pode ser que não. Mas pensar um dia de cada vez já alivia bastante.

Às vezes gostaria de voltar no tempo. Minha única preocupação na vida era com a escola, uma apresentação que se aproximava e me deixava ansiosa, uma prova difícil que me exigiria mais estudo, ou seja, olhando para trás, eram problemas muito simples de serem resolvidos.

Sinto falta de chegar da escola e assistir “O Pequeno Urso”, “Castelo Rá-tim-bum”, tomar um achocolatado de tarde e uma pipoquinha que minha mãe fazia com o maior carinho. Pensar em quem eu iria chamar para brincar na minha casa e qual seria a brincadeira. Até as brigas eram mais fáceis, no dia seguinte já estavam todos “de bem” novamente. Comprar material escolar e decidir qual seria a capa dos cadernos que usaria naquele ano. Não se preocupar com as responsabilidades do amanhã, porque sabia que seria mais um dia normal na escola e meus pais dariam um “jeitinho” para tudo. Quer segurança maior que essa?

Pois é, mas esses anos maravilhosos passaram e as responsabilidades chegaram, quer estejamos preparados ou não. Por mais que nossos pais tenham nos preparado para a vida adulta, sempre será difícil se virar sozinho, porque só aprenderemos de verdade com a prática e com os erros, que serão muitos, pode ter certeza. Mas aos poucos vamos nos adaptando e aprendendo a resolver os problemas sozinhos. E como tudo tem uma lado positivo, gosto de pensar que não sou a única que está meio perdida e que meus quase 20 anos irão me trazer experiências e lembranças incríveis.