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Resenha: A mulher na janela, A. J. Finn

A mulher na janela, de A. J. Finn, publicado pela editora Arqueiro, é o livro mais surpreendente que você vai ver esse ano e eu vou te dizer porquê. Vamos começar pelo autor que eu nunca tinha ouvido falar até o dia que recebi esse livro no evento da editora para livreiros e blogueiros e comecei a lê-lo.

A. J. Finn é formado em Oxford e já foi crítico literário em diversos jornais conceituados como o Los Angeles Times, The Washington Post e o The Times Literary Supplement. A mulher na janela é seu primeiro romance e já foi vendido para 36 países, está sendo adaptado para o cinema pela Fox e é número 1 na lista do The New York Times. Não é pouca coisa, né?

+ Especial: Conheça A. J. Finn

Continuando, bem na capa do livro, já temos a seguinte frase: Não é paranoia se está realmente acontecendo. Instigante. Aí, você já começa a leitura com essa pulga atrás da orelha. Existe a paranóia? Não existe? E se essa frase foi colocada ali só para me confundir? E se não foi? Você vai enlouquecendo um pouco no processo, mas é normal.

O livro começa contando a rotina da Dra. Anna Fox, uma psicóloga infantil que sofre de Agorafobia, medo de lugares abertos. No caso, a Dra. Fox sofre fortes crises de pânico e ansiedade quando é exposta a espaços fora da sua casa, mesmo que seja só o seu jardim. Na verdade, ela nem consegue deixar as janelas abertas ou se aproximar da porta da frente por saber o que a espera além daquilo.

Ela mora sozinha em uma casa constantemente fechada e escura, bebe muito vinho, é viciada em filmes antigos e seus passatempos incluem jogar xadrez online, orientar outras pessoas que sofrem de agorafobia em um fórum virtual e vigiar a vida dos vizinhos. Sim, munida de uma câmera com um super zoom e dona de uma casa de três andares com muitas janelas, Anna Fox sabe de tudo o que acontece em cada casa de sua pequena vizinhança, acompanhando a vida das outras pessoas que podem sair de casa e conviver em sociedade, tendo nisso uma espécie de distração e consolo, como se ela pudesse viver através delas.

Testemunha ocular de cada passo de seus vizinhos, Anna também vigia suas páginas em redes sociais, sabe onde trabalham, suas rotinas, quem vai embora e quem chega, enfim, nenhum detalhe escapa da sua super lente. É quando os Russell chegam. A família Russell composta pelo pai, a mãe e o filho adolescente rapidamente chama a atenção da Dra. Fox, afinal, era uma família totalmente nova para estudar. Ela teria que aprender a rotina deles, descobrir por que estavam ali, de onde vieram e o que faziam para poder integrá-los em seu pequeno reino particular.

Foi durante as várias horas de vigia que Anna começou a perceber algumas coisas que não se encaixavam e a se questionar outras que não conseguia entender. Por que o jovem Ethan estudava em casa, passava a maior parte do tempo parado diante do computador e parecia tão triste? Será que o Sr. Russell era um desses pais dominadores e abusivos? Por que a Sra. Russell só apareceu uma vez e, agora, ela não conseguia encontrá-la em nenhuma janela da casa?

Ao longo da descrição da rotina de Anna, vamos conhecendo mais sua história, como o acidente de carro que ela teve um tempo atrás e que desencadeou sua fobia, a fazendo viver longe do marido e da filha. Vamos vivendo junto com ela o drama das pessoas do fórum que desabafam suas próprias situações e o drama dos vizinhos que Anna continua vigiando.

Até que a tal Sra. Russell aparece em uma situação em que ajuda Anna em um ataque de pânico na porta de sua casa. As duas passam horas conversando, coisas são ditas ou insinuadas e o quebra-cabeça parece começar a se encaixar. Ou, pelo menos, era o que a Dra. Fox pensava antes de assistir Jane Russell ser esfaqueada bem de frente da janela de sua sala. Ali, na casa ao lado, no meio da madrugada e relativamente bêbada, Anna Fox não podia fazer muito mais do que chamar a polícia. E é aí que tudo começa.

Outra mulher aparece alegando ser Jane Russell e todos acreditam que Anna está delirando devido a sua grande quantidade de remédios misturados ao álcool. A partir daí, vivemos vários e vários capítulos envoltos nessa dúvida: Anna Fox viu mesmo o que disse ter visto ou tudo não passou de um delírio da sua doença aliado ao excesso de vinho? Ela conheceu mesmo Jane Russell naquele dia em sua casa ou fantasiou tudo aquilo por se sentir muito sozinha? Alistair Russell teria mesmo matado a sua mulher e colocado uma impostora no lugar ou eles são só uma britânica família comum sem nenhum segredo escuso?

Mergulhamos na cabeça de Anna, nos perguntamos junto com ela e duvidamos junto com ela. Afinal, seria A mulher na janela um emocionante thriller cheio de conspiração e suspense ou só os relatos de uma pobre mulher que enlouquece sozinha em sua casa depois de uma grande tragédia?

Volto à palavra que usei no primeiro parágrafo dessa resenha: surpreendente. Tenha certeza que sua opinião mudará várias e várias vezes durante essa leitura. Você duvidará de Anna, duvidará de todos os outros e duvidará até de si mesmo. Até que ponto algo é mesmo real e até que ponto não é? Quem conhece realmente os mistérios da mente humana e como podemos confiar 100% em tudo o que vemos? No fim, a frase que estampa a capa de A mulher na janela pode, afinal, ser usada como um norte e nos guiar para a verdade: Não é paranoia se está realmente acontecendo.