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Review: Sense8 (1ª Temporada)

Ser um e apenas um é pouco, mas muito pouco para mentes criadas não para o presente, mas para um futuro, um distante futuro que tornou-se atual, que tornou-se o passado de muitos. Não existe cronologia ou lógica, não existe razão ou sentimento, nada existe ao mesmo tempo que tudo se restringe à existência, às existências. É uma constante de pensamentos, uma mistura de atitudes, uma junção de vidas e vidas. Uma criação que resultou em diversas. Não, não é uma série normal, não falamos de algo comum, é peculiar em todos os sentidos, fogo de nosso entendimento.

A confusão criada na mente do telespectador no primeiro episódio é proposital, é claro que seria, somos jogados para os diversos universos mentais dos personagens. Para resumir a introdução da série: A história acompanha outras oito, segue o rastro de oito seres, esses espalhados por todo mundo, mais precisamente em: Londres, Seul, Mumbai, Nairóbi, Berlim, Cidade do México, São Francisco e Chicago. Nessas cidades temos os respectivos personagens: Riley, Sun, Kala, Capheus, Wolfgang, Lito, Nomi e Will. Você pode conferir essa lista abaixo:

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Ao decorrer dos episódios eles descobrem, ou pelo menos começam a notar as conexões que existem com outras pessoas. Muitos sentem frio quando o clima, o seu clima, o do lugar onde o corpo físico realmente está, exala um calor infernal. Sensações e mais sensações invadem as mentes dos sensates. Até que chega um momento onde a confusão criada no psíquico de cada um torna-se algo proveitoso. Eles, assim como os pensamentos, herdam certas habilidades, uma hora eu sou você, outra hora você consegue ser cada parte de meu corpo, é uma dança de cortes, imagens, ações. Os oito personagens claramente se unem para formar um ser indestrutível, nutrido das diversas qualidades, sendo hábil quando é preciso usar a inteligência e mais eficiente ainda quando é necessário usar a força.  Tudo isso não passa de um plano de fundo, um proposito para a história existir, se não fosse pelo “fenômeno sensate”, onde pessoas podem se conectar apenas telepaticamente com outras, a série não passaria de uma história maçante, sem nexo. Mas o impressionante é isso, o que mais nos impacta não é o “dom”, e nem essa evolução humana. O que nos deixa boquiabertos é a humanidade exposta. É impactante como a ficção de Sense8 só relata bruscamente o real.

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Por se tratar de vários ângulos, de várias pessoas, podemos ter diversas experiências de vida. Comecemos por Capheus, meu segundo personagem predileto. Capheus mora na capital do Quênia, Nairobi. A cidade nos é apresentada em um misto de alegria e balburdia, todo aquele espírito cansativo e acolhedor que uma capital pode proporcionar, mas com um ponto a mais, a pobreza do país consegue passar despercebida diversas vezes, até que chegamos à mãe de Capheus. A mulher está infectada com AIDS e Capheus, filho de uma classe pobre, sem ter onde apelar, vive um drama psicológico, mas sua sorte muda, ou melhor dizendo, o azar bate em sua porta. O motorista do “Van Damme” acaba parando onde não deveria estacionar e recebe um soco do destino. A partir dai, graças às habilidades de Sun (A nossa personagem favorita, sim, você irá ama-la), e sua vontade de vencer, Capheus entra em uma montanha russa. Mas vamos, enfim, até Sun.

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Chegamos em Seoul com toda a desconfiança do mundo, sem saber realmente quem é aquela mulher, sem saber se podemos admira-lá por fazer tudo aquilo ou teme-lá. Mas eis que em um belo dia, onde nada teria acontecido, onde Sun continuava a ser quem era, mudamos de opinião. Ela só se estressou um pouco, tinha sido ignorada pelo próprio pai, dono da transnacional onde trabalha, tinha ficado aborrecida por instantes, poucos segundos esses que a fizeram apunhalar a mesa de uma secretária desavisada como se fosse uma bolacha e ali, sem mais nem menos, partir um pedaço do móvel fora. Sim, essa é a melhor personagem de Sense8. Olhamos para Sun com outros olhos, lhe admiramos e será assim por toda temporada, a cada atitude que tomar, a cada rasteira que der no predestinado. Sun fora criado para algo que nunca desejou, fora obrigada a dar passos que não eram seus. Assim como Kala em seu casamento. A garota de Mumbai vive um dilema: Casar para ajudar sua família ou rejeitar a oferta por não amar a pessoa que lhe pedira tal coisa? Kala nos apresenta a Índia religiosa, a Índia de uma cultura vulcânica onde a cada segundo jatos de lava são expurgados por diversas montanhas humanas.

Nesse contratempo que vive Kala, aparece Wolfgang, o alemão cresceu à sombra de um pai criminoso e por esse e outros motivos, tornara-se uma cópia.  Ao seu lado um fiel amigo, geralmente cada sensate terá um, seja ele uma namorada, como no caso de Nomi e Lito (Para Lito um namorado, e uma namorada, falsa, mas uma namorada, viva ao poliamor, não é o caso de Lito, ele é muito fiel por sinal, mas vamos lá, viva ao poliamor do mesmo jeito) ou um cachorro como acontece com Sun. É meio de praxe, seja para aliviar a barra, para reprimir aquela “loucura” que o personagem esteja vivendo ou para brigar por seus anseios. Com Will as coisas ocorrem de diversas formas, ele, por ser policial, não pode ficar avistando quem quer que seja do nada, ou conversar com pessoas que não estão ali, mas ele o faz e por isso reforça um drama interno. Will se envolve fortemente com Riley, que não apresenta muitas funções em toda a trama, mas seu papel é essencial para unir o grupo em torno de uma causa.

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Eles estão espalhados por todo o mundo, vivendo suas vidas, transformando o dia após dia em algo mais que maçante, mas o acaso resolve bater na porta e quando a situação fica complicada eles se envolvem em torno de tudo aquilo, aceitam o que já deveriam ter aceito há muito tempo e transformam-se em um só. Isso não é spoiler para ninguém, longe disso, temos plena consciência que isso ocorreria cedo ou tarde, a série deixa explícito, mas diversos obstáculos são postos propositalmente caminho após caminho e nessa rede de mentes se cria pontos de confiança, pontos que os motivarão. Você ficará com essa frase pulsando em sua mente todo santo dia: “Eu sou nós”. Ou na melhor das hipóteses, “Somos um só”.

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