A proposta da série global é clara: retratar a terceira idade. Isso, de tão genérico, dói, mas senti que tinha algo a mais nas chamadas, no roteiro que não foi tão divulgado, não sei se por medo ou propositalmente. “Os Experientes” veio com um ar clichê, ar de série que só apareceu para ocupar espaço na grade, mas se você leu a review da semana passada deve saber muito bem que isso não passa de primeiras impressões. Depois de Yolanda, espero tudo da produção, e mesmo aguardando, eles surpreendem. Apresento a todos, os então desconhecidos (até sexta-feira) “Atravessadores do Samba”.
Cada episódio da série apresenta uma roupagem diferente, semana passada tivemos um assalto a banco, nesta sexta tudo girava em torno de um grupo de samba. Provavelmente a inspiração deve ter vindo do famoso “Fundo de Quintal”, eles eram o “Fundo de Quintal” mas sem a fama contínua. Os Atravessadores estão em um declínio há anos, mas como bons sambistas gritam que “o show tem que continuar”, e assim vão levando, cantando de bar em bar, em festa familiar, em churrasco, cantam porque amam e por aí vai. Lembrei-me vagamente da trajetória do mestre Cartola que vivia entre sucessos e fracassos, subindo e descendo o morro de Mangueira, com um sapato lustroso ou com sapato algum. Falando nisso, uma música de Cartola aparece diversas vezes como plano de fundo musical, “As Rosas não falam” se encaixa perfeitamente ao enredo. Semana passada deu Gal com Vapor Barato, neste capítulo me vem o velho cantando “Bate outra vez, com esperanças o meu coração…”, sinceramente, Rede Globo, quer me matar de vez? E mais, já que estamos neste papo musical, uma das canções que mais marcaram neste foi “Nervos de Aço”, não na voz de Paulinho da Viola como costumeiramente escutamos, mas em um interpretação de um dos personagens, foi de arrepiar. Literalmente, “Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?”.
Tudo estava rumando sem nenhuma intervenção do destino, nossos amigos Atravessadores atravessavam uma maré de azar mas mantinham a fé, até que o principal componente, este da foto de capa, morre. O quarteto transformou-se em trio e assim não daria para seguir. Todos nós sabemos que qualquer escândalo torna-se algo midiático, principalmente no Brasil, assim aconteceu com a partida do integrante dos Atravessadores, centenas de pessoas procuraram o grupo para confirmar shows e eles, no meio de todas aquelas propostas pensaram: Vamos em busca do quarto membro. Dezenas participaram da seleção, até Jair Rodrigues, que partira pouco tempos depois da gravação do episódio (grande Jair, saudades), no fim, a selecionada fora a atrasada Celeste, interpretada por Bibba Chuqui, que cá entre nós, teve péssima participação. A atriz forçava demais, toda cheia de braços e pernas, um erro na belíssima produção, que tivera no elenco principal o cantor Wilson das Neves, sambista consagrado.
A personagem Celeste divide o grupo, os senhores se encantam pela mulher e entre dois desses cria-se uma rixa, mas que será resolvida futuramente. “Os Experientes” alcança outra esfera, passa do drama impactante para o de calmaria, vaga sem pressa, caminha para o conformismo da vida que tanto foi explorado em escolas literárias e cinéfilas de nosso país, é maravilhoso ver um desenvolvimento limpo como aconteceu neste episódio, sem exigir demais, sem obrigar o telespectador, e como cantara o próprio Wilson Neves: “o samba é meu dom”. Tanto samba, tantas emoções em singelos quarenta minutos, aguardemos a próxima sexta, para chorar ou não, nunca se sabe o que acontece nesta série.