CONTÉM SPOILERS
Esqueça por enquanto James McGill e a história de sua transformação em Saul Goodman. Esse episódio foi de Mike Ehrmantraut. E que episódio! Se você achava que o passado de Jimmy era interessante, o de Mike é melhor.
Todas as questões levantadas no final do episódio anterior foram respondidas. Five-O alterna passado e presente de maneira magistral e devastadora. Toda a trama é conduzida como um quebra-cabeça, encaixando parte por parte até seu grande clímax.
A participação de Jimmy é bem pequena, além de ser a única parte mais “leve” do episódio. Mike exige a presença do advogado no seu interrogatório com os detetives que o procuraram para pegar o caderno de anotações e descobrir sobre a investigação. Chamar James foi um ato totalmente calculado por Mike, que já sabia que o advogado acabaria participando de seu esquema, apesar da hesitação no primeiro momento. James, por mais que se transforme constantemente, não consegue se desviar de sua essência. Esse é apenas mais um deslize que entra para sua lista e, mesmo que tenha sido bem intencionado, essa lista já é longa e sabemos que ele é capaz de coisa pior. Quanto tempo mais até que ele perca o controle?
Ficamos sabendo que o filho de Mike, Matty, também era um policial na Filadélfia e teria sido assassinado em uma emboscada. Ele era casado com Stacey e tinha uma filha com ela. Os detetives que interrogaram Ehrmantraut estavam ali em busca de informações sobre o parceiro de Matty na polícia, Hoffman, e do sargento Fensky, ambos assassinados pouco antes de Mike se mudar para Albuquerque.
Até mais ou menos a metade do episódio Mike nega saber qualquer informação sobre a morte tanto do filho como dos outros policiais. Mas a partir daí a verdade vai sendo revelada em flashbacks e culmina na confissão de Mike sobre toda a verdade. O roteiro é estruturado de maneira magnífica e os pouco mais de 40 minutos do episódio parecem 5.
Matty recusou-se a aceitar o dinheiro ilícito de drogas oferecido por seu parceiro. E sua primeira reação foi considerar fazer uma denúncia às autoridades. Por isso buscou um conselho do pai, mas Mike sabia que denunciar um policial era perigoso. Então, confessou que também fazia parte do esquema, admitiu que era “sujo”. E depois dissuadiu o filho a aceitar o dinheiro e desistir da denúncia. Mike o fez para protegê-lo, nisso não há dúvidas. Só ele poderia convencer o filho a fazer algo assim. Mas Hoffman e o sargento acreditaram que não poderiam confiar em Matty. E o mataram dois dias depois que ele aceitou o dinheiro. Tente imaginar a angústia desse pai que tentou ajudar o filho transformando-o em algo que ele não era, corrompendo-o para sempre, e no final, tudo ter sido vão.
O resultado? Mike se vingou da morte do filho. Em uma cena digna de cinema, Better Call Saul mostra toda sua qualidade de produção.
A atuação de Jonathan Banks é o grande destaque do episódio. Mike, desde Breaking Bad, era um personagem frio, minimalista, que não demonstrava grandes emoções. Mas aqui vemos aspectos dele que não imaginávamos. A origem do que o danificou. O desespero, a angústia e a culpa pelo que aconteceu ao filho. O alcoolismo. Tudo isso, até agora desconhecido, fez dele o que é hoje. “Eu quebrei o meu menino”, lamentou, “Eu o diminuí”.
Five-O foi um importante, necessário e coerente episódio. Mike sempre foi um personagem enigmático. E agora que pudemos entendê-lo melhor, agora que sabemos que a culpa pelo que aconteceu com o filho o corrói, podemos também simpatizar em parte com ele. Falhar em proteger o filho o mudou. Podemos culpá-lo por isso?