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Resenha: Zac & Mia, A.J. Betts

A última pessoa que Zac esperava encontrar em seu quarto de hospital era uma garota como Mia – bonita, irritante, mal-humorada e com um gosto musical duvidoso. No mundo real, ele nunca poderia ser amigo de uma pessoa como ela. Mas no hospital as regras são diferentes. Uma batida na parede do seu quarto se transforma em uma amizade surpreendente. Será que Mia precisa de Zac? Será que Zac precisa de Mia? Será que eles precisam tanto um do outro? Contada sob a perspectiva de ambos, Zac e Mia é a história tocante de dois adolescentes comuns em circunstâncias extraordinárias.

Quando recebi Zac & Mia em casa eu estava muito empolgada. Como vivo tentando me despistar dos spoilers que assolam o mundo, escolhi fechar os olhos todos os dias que lia algum comentário sobre esse livro. Estava esperando um romance que tinha agradado muito a crítica, tudo que eu não estava esperando era mais um livro sobre o câncer.

Eu estou oficialmente cansada de livros sobre o câncer. Não me entendam mal, não sou insensível e não acho que esse tema deveria ser escondido de todos nós. Muito pelo contrário! O mundo tem que perder o medo da palavra câncer e de todo o paradigma que a cerca, mas não do jeito que ando lendo por aí. Desde “A Culpa é das Estrelas” – diga-se de passagem, um dos meus livros favoritos – fomos levados por uma enxurrada de livros com a temática hospitalar, onde jovens lutam bravamente e diariamente para chegar ao fim de um mais dia e nem sempre tem um final feliz.

É a história clássica de um herói que trava uma batalha silenciosa dentro de si mesmo, mas que ainda conseguem preservar sua essência, levar sua vida normalmente e ainda nos dar uma lição como devemos aproveitar mais a nossa vida. Mas veja bem, o câncer não é nada romantizado. O câncer é feio, silencioso e letal. Ele é vencido (ou não) pelo cansaço. Ele luta não somente com um paciente, mas com todos os médicos que estudam diariamente novas drogas para combatê-lo, com as enfermeiras, que estão a todo o momento preocupadas com o bem-estar do paciente, ele luta com as mães desesperadas na beira da cama, com os pais resistentes na força filho, com os irmãos, irmãs, esposas, filhos e filhas que estão batalhando junto com o doente. O câncer modifica a vida de uma família inteira e não era bem isso que eu andava lendo e vendo por ai…

Nunca li um livro sobre a temática (e olha que li bastante viu? Aliado a meu fraco por romances, eu faço medicina, então a combinação dos dois temas sempre foi o suficiente para me chamar atenção) que abordasse o que sempre pensei: essa não é uma tarefa que se luta sozinho, e ao ler as palavras de Zac sobre sua doença, percebi que esse seria um livro diferente de todos que já li

Logo de cara conhecemos Zac, um garoto de 17 anos que está no pós-operatório de um transplante de medula, na segunda tentativa de curar sua leucemia. Em isolamento no seu quarto, ele fala de como toda a sua força e todo o seu sacrifício é para a sua família, que esteve ao seu lado e realmente lutou para ajudá-lo. De como as pessoas se referem a ele como “corajoso” e “guerreiro”, quando na verdade ele não fez nenhum grande ato heroico, não ajudou ninguém, não fez nenhuma nova descoberta. Mas Zac em momento nenhum é ressentido ou amargo. Ele é o personagem mais bem-humorado e engraçado do livro, e quando percebi isso, me apaixonei por Zac.

De todos, eu sou o menos corajoso. Nunca me alistei para essa guerra. A leucemia me convocou, essa filha da Puta.”

Vamos conhecendo toda sua história: de um garoto ativo, que morava numa fazenda com uma família amorosa, praticava esportes e saia com os amigos até a descoberta sobre sua doença, seus tratamentos e seu atual dia-a-dia no hospital, preso a uma cama, com pessoas medindo a quantidade de glóbulos brancos no seu sangue.

Seu cotidiano entendiante muda com a chegada de Mia, uma adolescente linda e rabugenta que chega para o quarto ao lado. Entre sua falta de educação com as enfermeiras e a música alta que ela coloca em pleno hospital, Mia muda o foco da atenção de Zac e consegue distraí-lo como ninguém nunca conseguiu por ali. Mia é briguenta e fútil, se preocupa mais com seu cabelo do que com seu osteosarcoma, mas ela também é a personagem que mais cresce em tão pouco tempo.

Ouço coisas como ‘você ter descoberto a tempo de se tratar é muita sorte…’ É impossível, essa coisa de sorte. Eu queria que a sorte desse o fora e me deixasse cometer meus próprios erros. Quero ter o controle sobre a minha vida novamente.

Acostumado a só ter companheiros de hospital na base dos 60 anos, Zac não tem como não se aproximar de Mia, e essa história passa longe de ser a mais romântica ou a mais convencional, mas com certeza é uma das mais lindas que já vi.

“Zac & Mia” fala sim sobre câncer, fala sim sobre aproveitarmos nossa vida ao máximo, porque podemos não saber até quando poderemos fazer isso, fala sim sobre valorizar a família e as coisas que realmente importam. Dito isso pode parecer bastante clichê, certo? Mas acredite, ele não é. O livro tem uma forma tão leve e ao mesmo tempo tão profunda de tratar sobre assunto que tentei procurar um outro livro semelhante pra exemplificar pra vocês e não consegui… Zac & Mia é único.

“Confie em mim, penso. Confie em mim. Então ela se apoia em mim como se eu fosse o único amigo que restasse no mundo.”

Leitura recomendada e entrou pro top das favoritas desse ano!

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