Resenhas

Resenha: Vinte Garotos no Verão, Sarah Ockler

Quando alguém que você ama morre, as pessoas perguntam como você está, mas não querem saber de verdade. Elas buscam a afirmação de que você está bem, de que você aprecia a preocupação delas, de que a vida continua. Em segredo, elas se perguntam quando a obrigação de perguntar terminará (depois de três meses, por sinal. Escrito ou não escrito, é esse o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que você jamais esquecerá). As pessoas não querem saber que você jamais comerá bolo de aniversário de novo porque não quer apagar o sabor mágico de cobertura nos lábios beijados por ele. Que você acorda todos os dias se perguntando por que você está viva e ele, não. Que na primeira tarde de suas férias de verdade você se senta diante do mar, o rosto quente sob o sol, desejando que ele lhe dê um sinal de que está tudo bem. Na verdade, as coisas não vão embora. Elas se transformam em algo diferente. Em algo mais bonito.

Confesso que julguei demais esse título quando vi esse livro na prateleira. O que mais me chamou atenção foi a capa – simples e de muito bom gosto – além de uma edição impecável. E quando li a sinopse, me senti completamente conquistada. Eu, iludida, esperava uma leitura leve pra começar as férias, e peguei justamente este livro de Sarah Ockler. Uma dica: esse título engana demais e eu não estava nem um pouquinho preparada pra história, que iria me ganhar.

Anna, Frankie e Matt  sempre foram amigos inseparáveis. Vizinhos desde criança, todos cresceram juntos e passaram unidos por todas as fases da infância até a adolescência. E é justamente quando começam a crescer que Anna desenvolve sentimentos mais fortes por Matt, irmão de sua melhor amiga Frankie. Enquanto se apaixona pelo seu melhor amigo e tenta manter isso em segredo da sua melhor amiga, nós vamos nos afeiçoando a Anna, e sua maneira engraçada e honesta de relatar os acontecimentos. Ficamos entusiasmados e meu coração bateu mais forte – junto com o de Anna – quando Matt lhe deu o primeiro beijo, e virei fã número um do casal. Acompanhar aquele comecinho do namoro, quando tudo na relação é uma descoberta gostosa (e ainda escondida), foi uma leitura maravilhosa. Eu li “Vinte garotos no verão” completamente alheia à tragédia que ia acontecer e sobre todas as reflexões que o livro iria me trazer, e é quando um acidente grave acontece e Matt morre abruptamente que me dei conta do tipo de literatura que me esperava pela frente.

“Reproduzi os eventos daquele dia centenas de vezes, procurando dicas.
Um fim alternativo. Um efeito borboleta.
Se Frankie e eu não tivéssemos tomado sorvete naquele dia estúpido,
ele ainda estaria vivo.
Se eu não tivesse atiçado seu coração, beijando-o todas as noites desde meu aniversário, ele ainda estaria vivo.
Se eu não tivesse nascido, ele ainda estaria vivo.
Se tivesse encontrado a borboleta que bateu as asas antes de entrarmos no carro naquele dia, eu a esmagaria.”

Anna se recolhe cada vez mais em seus próprios sentimentos, afinal, ninguém sabia que ela não perdeu apenas seu melhor amigo, mas perdeu também o amor da sua vida. Frankie, sem entender a atitude da amiga, não consegue compreender aquela dor – e a sua própria – e vira uma pessoa totalmente diferente: ousada, desobediente e rebelde, recusando-se a falar das lembranças felizes que os três tiveram juntos. O livro não aborda apenas a história de Anna e Frankie, mas também o luto de suas famílias e o impacto que a morte de um jovem pode causar.

Quando alguém que você ama morre, as pessoas perguntam como você está, mas não querem saber de verdade. Elas buscam a afirmação de que você está bem, de que você aprecia a preocupação delas, de que a vida continua. Em segredo, elas se perguntam quando a obrigação de perguntar terminará (depois de três meses, por sinal. Escrito ou não escrito, é esse o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que você jamais esquecerá).”

E é em busca de reatar os laços que tão bem fizeram a ambas que, um ano após a morte de Matt, Frankie e Anna concordam em uma viagem com a família de Frankie e Matt para a casa de praia da família.  É nesse momento que Frankie decidi fazer desse o melhor verão de suas vidas e planeja encontrar um garoto para Anna já que ela não entende o porquê da amiga ser tão receosa nesse assunto. Assim surge o plano de cada uma conhecer um garoto em cada um dos vinte dias da viagem, esperando que em meio a eles ambas encontrem alguém especial que as ajude a curar as feridas ainda abertas.

Não existem palavras para descrever o tamanho da dor de dar adeus a alguém. Menor ainda é o vocabulário para descrever a dor dos pais ao perderem um filho tão jovem e cheio de planos. Mas Sarah Ockler consegue cavar essas palavras e usá-las com maestria. Senti dor ao ler algumas falas da mãe de Matt e Frankie. Senti dor ao ler as palavras de Anna: que perdeu alguém que amou como amigo, amou como irmão e amou como namorado, tudo de uma só vez.

Acredito que “Vinte garotos no verão” seja um livro de amadurecimento de todos os personagens. Concluo que não existem 20, 200 garotos que façam você esquecer alguém que você amou e perdeu, mas existem muitas pessoas (não só garotos! Garotas, amigas, mães, amigos, irmãos…) que te ajudam a superar um pouquinho do que você perdeu. Ninguém substitui um vazio no seu coração, mas quando você está perto das pessoas que você ama (sejam quem for) um pouquinho de amor de cada uma vai deixando o seu vazio cada vez menor.

Na verdade, as coisas não vão embora. Elas se transformam em algo diferente. Em algo mais bonito.

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