Resenhas

Resenha: Tem Alguém Aí?, Marian Keys

Atenção: Esse texto contém spoilers de outros livros de Marian Keyes. Leia por sua própria conta e risco.

Anna Walsh é um desastre ambulante. Ferida fisicamente e emocionalmente destruída, ela passa os dias deitada no sofá da casa de seus pais em Dublin com uma ideia fixa na cabeça: voltar para Nova York. Nova York é onde estão seus melhores amigos, é onde fica o Melhor Emprego do Mundo®, que lhe dá acesso a uma quantidade estonteante de produtos de beleza, mas também, e acima de tudo, é a cidade onde Aidan, seu marido, mora. Mas sua volta para Manhattan se torna complicada não só por conta de suas cicatrizes, mas também porque Aidan parece ter desaparecido. Será que é hora de Anna tocar sua vida pra frente?

Tem Alguém Aí? não é um lançamento, na verdade está bem longe disso. O quarto e penúltimo livro da série das irmãs Walsh foi lançado em 2006, mas acabei tendo a oportunidade de lê-lo somente agora. Não virou o meu livro favorito da Marian Keyes (o topo do pódio ainda é de Ferias?!) mas chegou bem perto.

Anna é quarta irmã Walsh e sempre foi descrita nos livros anteriores de suas irmãs como uma garota desligada e meio avoada. Mas neste livro ela é uma mulher de 30 anos que se recupera de um acidente e da partida seu amado marido, Aidan. Mesmo tendo o suporte de sua família, ela sente a necessidade de voltar para Nova York, para seu emprego, para seus amigos e principalmente para seu marido. Mas ao chegar em Nova York ela acaba se surpreendo com como as coisas mudaram e suas tentativas loucas para se comunicarem com Aidan chegam ao extremo, mas ela não liga: está movida pelo amor que sente por ele.

“Todos os dias eram exatamente iguais. Era como se eu estivesse entrando por uma porta errada da minha vida e estivesse em um mundo onde tudo era idêntico, exceto por uma enorme diferença”.

Marian Keyes nunca me decepciona, nunca mesmo. Ela é uma das minhas autoras favoritas e eu sempre tenho a sensação de que suas histórias são histórias reais, talvez porque elas retratam a vida como ela é.

Na linha das irmãs Walsh, é muito interessante ver como cada irmã vê a si mesma e as outras. Elas chegam a parecer personagens completamente diferentes daqueles que são nos livros que cada uma narra, mas se você perceber com cuidado é nisso que Keyes trabalha com maestria: os pontos de vista e como toda história tem suas versões e ângulos.

Anna era a Walsh que eu mais tinha curiosidade em ver como narradora principal. Ela é realmente como a descrevem, mas ver seu amadurecimento e principalmente, como todos os acontecimentos vão desmontando-a é fascinante. As cenas com o trio Mamãe Walsh-Papai Walsh-Helen ainda causam as melhores risadas, como sempre. Posso dizer também que me apaixonei por Aidan Maddox e entendo porque Anna também o era, eles combinavam muito e o modo como eles se conheceram foi uma das melhores sequencias do livro. É Anna quem o convida para sair primeiro e esse lado dela cheio de atitude me deixou muito animada. A melhor amiga de Anna, Jacqui, no começo não parece ser uma grande personagem de primeira mas ao chegar na cena do parto da bebê Krystall eu simplesmente ri do começo ao fim (eu ainda dou risadas com o Espiral de Cus). Rachel ainda continua sendo de longe a minha Walsh favorita e ver o quanto ela tenta ajudar Anna (para quem já leu Férias?! sabe o quanto Rach teve seus altos e baixos, muito baixos) é comovente e ao mesmo tempo engraçado.

“Eu abri a janela e o som da cidade entrou; havia um mundo imenso e agitado lá fora. Por cinco ou seis segundos a borboleta ficou parada ali, no peitoril, até que alçou voo, pequena e corajosa, levando a vida em frente”.

Aliás, acho que esse é a melhor descrição para Tem Alguém Aí?: comovente e engraçado. Não é o livro mais engraçado de Marian, você consegue dar algumas risadas, mas é comovente. Ah como é. Foi o primeiro livro da Marian que me peguei com lágrimas nos olhos, e não eram das risadas. Ele tem uma premissa mais dramática do que os outros e cumpre com o seu papel, ser tocante sem ser melodramático.

Em uma escala de 0 a 10, eu acho que é um bom 8,5. Ainda segue a linha dos outros livros de Marian de começar empolgante e ir esfriando aos poucos, ou como muitos dizem, enrola demais. Mas como sempre antes do final acontece algo inexplicável e você quer chegar ao fim o mais rápido possível. Para quem gosta das irmãs Walsh e já leu até Los Angeles é uma ótima opção de leitura mas para quem não conhece Marian recomendo começar com outro livro dela, pois esse carrega muitos spoilers de Melancia, Férias?! e Los Angeles (como por exemplo a cena do casamento de Rachel). Fora isso é uma leitura que recomendo e o que mais posso dizer? Agora eu presto mais atenção em borboletas.

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