Resenhas

Resenha: O Oceano no Fim do Caminho, Neil Gaiman

Logo após ler Deuses Americanos, um título pelo qual me apaixonei perdidamente, decidi me aventurar por outros amores e gêneros, então li Garota Exemplar (sensacional) e O Maravilhoso Agora (decepcionante). Na semana do Ano Novo, como iria passar sete dias na praia, não queria correr o risco de levar um livro que não fosse gostar. Avaliei minhas opções em casa e resolvi por O Oceano no fim do Caminho, por já conhecer o trabalho de Neil Gaiman. Confesso que mal toquei na obra enquanto estive lá, mas assim que voltei, acabei a leitura em questão de horas.

Tudo começa quando o inquilino da casa do narrador, um leitor voraz de sete anos e que em nenhum momento é identificado pelo nome, se suicida no carro de sua família, o que leva o menino a conhecer a família Hempstock: Lettie, sua mãe e avó, que moram no final do caminho de seu bairro. Essas mulheres são misteriosas e parecem possuir poderes e clarividências que nenhuma outra pessoa possui. São muito antigas em nosso mundo e seus conhecimentos sobre a vida, a morte e o que há entre elas são infinitos. O menino descobre a partir desse acontecimento, um terrível mal onde coisas ruins começam a acontecer com ele e com sua família e apenas Lettie Hempstock, uma menina sardenta de onze anos que acredita que seu lago é na verdade um oceano, pode salvá-lo.

Este é um livro surpreendentemente simples e complexo ao mesmo tempo. Não se deixe enganar pelo formato juvenil de poucas páginas e letra grande. Apesar da narrativa singela, a história é extremamente bem elaborada, onde se misturam os terrores comuns das crianças e a verdadeira essência da infância. São as memórias narradas em primeira pessoa por um adulto do ponto de vista de um menino de sete anos, décadas depois. É uma fábula mística e assustadora, onde acontecimentos estranhos levam a consequências que mudam para sempre a vida do protagonista.

Tudo é contado de maneira direta e não muito explicado ou detalhado. Assim como fala o protagonista sobre mitos, esse livro simplesmente é, claro e rápido, não existe melhor maneira de explicá-lo. Outro ótimo ponto é quão ambígua a veracidade da trama pode ser; todos os fatos podem ser tão reais quanto seriam se fossem inventados pela imaginação fértil de uma criança. O que pode tornar a obra realmente assustadora, além de melancólica.

Assim como em Deuses Americanos, aqui há uma forte crítica ao consumismo. Os protagonistas são crianças e as mulheres Hempstock são independentes em sua fazenda, não precisando de homens nem de posses. As coisas simples da vida, como uma boa comida depois de um dia difícil, são bem apreciadas em contraposição aos males “adultos”, como a luxúria e a veneração exacerbada ao poder.

Uma ótima leitura que agradará todos aqueles que sabem que a infância não é tão simples quanto nos lembramos.

Anterior Seguinte

Você também pode gostar de...