Felicidade Clandestina é um compilado de 25 contos (maravilhosos, diga-se de passagem) da Clarice Lispector. Com estorias carregadas de subjetividade a autora insere o leitor sutilmente em discussões sobre a existência humana, amadurecimento e família a partir de conceitos simples como um ovo.
Contando com alguns contos simples e tocantes e outros extremamente densos, o livro é recheado de felizes surpresas e fará com que você pare e reflita. Clarice, como de costume em suas obras, se utiliza de uma profunda descrição psicológica de suas personagens o que contribui para o desenvolvimento perfeito do enredo.
No conto homônimo ao titulo do livro nos é apresentada uma garotinha apaixonada por literatura, que ao decorrer da narrativa se vê numa situação de humilhação por parte da filha do livreiro que lhe prometera emprestar uma obra de Machado de Assis. Sabendo que a garotinha faria de tudo para ter esse livro em mãos ela inicia, nas palavras da autora, uma tortura chinesa. É nesse ponto em que vemos o lado reflexivo da autora, como o livro em mãos a garota conclui.
[…]Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. […] Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
E assim ao decorrer do livro é perceptível a noção de clandestino, de não pertencer e muita das vezes retratar uma felicidade que não aconteceu para a personagem ou uma felicidade passageira e por mais curta que seja, ainda assim clandestina. Livro extremamente curto e ainda assim de uma profundidade digna de Clarice, ótima pedida para marinheiros de primeira viagem nesse mar de emoções que são suas obras.