Resenhas

Resenha: A Arma Escarlate, Renata Ventura

O ano é 1997. Em meio a um intenso tiroteio, durante uma das épocas mais sangrentas da favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, um menino de 13 anos descobre que é bruxo. Jurado de morte pelos chefes do tráfico, Hugo foge com apenas um objetivo em mente: aprender magia o suficiente para voltar e enfrentar o bandido que está ameaçando sua família. Neste processo de aprendizado, no entanto, ele pode acabar por descobrir o quanto de bandido há dentro dele mesmo.

Encantei-me com este livro desde a primeira vez em que o vi, em meu Facebook, e conheci sua sinopse. Eu, como grande fã de Harry Potter, me senti estranhamente atraído pela história, e comecei a ensaiar sua compra. Cheguei a colocá-lo no carrinho do Submarino inúmeras vezes, mas nunca finalizava. Até que vi a mensagem da Renata em um grupo, sobre a venda de exemplares autografados. Era minha deixa. Comprei, alimentando cada vez mais aquela expectativa que estava crescendo dentro de mim com relação a história. Cheguei até a sonhar com ela antes mesmo de ler! E além de fotogênico, o livro tem uma história impecável (Fotos da postagem tiradas por mim).

A Arma Escarlate, conta a história de Idá Aláàfin, um garoto de 13 anos, que mora com a mãe e a avó dentro de um contêiner na favela de Santa Marta (ou Dona Marta), localizada no Corcovado.

Idá, que a princípio, se desentende muito com a mãe, procura meios para se manter alheio a tudo de ruim que acontece no morro, no entanto, o desejo de conseguir uma vida melhor é tão grande, que acaba por aceitar um emprego como falcão, isto é, vigia para Vip, chefe do tráfico local.

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Em uma das noites em que estava de vigia, recebe um estranho pacote, com uma carta de admissão para um colégio de magia que não ficava muito longe dali. Idá, cujo apelido era Bruxo, entorpecido pelos papéis, deixa passar uma leva de policiais sem avisar o tráfico local, tinha sido um traidor, e só há um destino para esse tipo de gente: a morte.

Sem ter muita escolha, se despede da mãe e da avó, dizendo que foi admitido para um colégio interno, sem dar melhores informações, já que a mãe é evangélica, e não aceitaria de jeito algum, um bruxo na família. A fuga do garoto, neste primeiro momento, é uma cena particularmente emocionante, uma vez que, apesar de estar brava com o filho, a mãe despeja todas as economias para a compra de seus livros, acreditando que este encontrará uma vida melhor que a sua, transbordando orgulho.

Em meio a uma perfeita guerra, Idá parte em sua jornada para fora do morro, sendo roubado e agredido física e verbalmente por uma grande massa policial. É claro que isso não é novidade alguma em nossa realidade brasileira.

Em meio a alguns contratempos, o menino troca seu nome para Hugo Escarlate, já que não gostava do anterior e compra todos os materiais que precisa em uma espécie de brechó do mundo bruxo, lidando com mais uma grande dose de charlatões e ladrões disfarçados de comerciantes.

Finalmente, o garoto chega na escola, que é localizada dentro do Corcovado! Nossa Senhora do Korkovado, é uma das cinco escolas de magia brasileira, e é de tirar o fôlego, não só suas construções, mas também a complexidade de cada um dos personagens, além dos ditados populares do mundo bruxo que devo dizer, são incríveis!

Meu autógrafo!!
A primeira parte do livro, trata apenas de Hugo conhecendo a si mesmo como bruxo, e aprendendo (ou não!) a lidar com o mundo mágico. O garoto entra nas mais absurdas confusões e conhece um curioso grupo que vai contra as ordens do conselho estudantil: Os Pixies.

Pode ir tirando o centaurinho da chuva…

Os Pixies são formados por três meninos (Índio, Viny e Capí), e uma menina (Caimana), e são eles que apresentam Hugo ao melhor do mundo da magia. Amigos extremamente fiéis, que são de dar inveja a qualquer um que lê, além é claro, da complexidade que cada um possui conforme o enredo vai avançando. Renata Ventura criou um trabalho espetacular e fez com que eu conseguisse enxergar tudo o que era descrito, assim como ouvir a voz de cada um deles. Fui submerso pela sua narrativa do início ao fim, e admito que estou tento certas dificuldades em ver cada um deles como meros personagens. Para mim eles estão dentro do Corcovado neste exato momento (apesar da história se passar em 1997).

Gostaria de destacar também, o melhor personagem já inventado: Ítalo Twice Xavier, mais conhecido como Capí. Figura extraordinariamente bondosa, que nos contagia com tudo o que faz. Não tenho palavras para descrevê-lo, porque Capí é único, é especial e nos faz acreditar na bondade do ser humano, na pureza. É quase um unicórnio humano, se isto é possível. A desenvoltura com que ele foi criado e descrito, me fez enxergá-lo no meu dia a dia, e querer ter um pouco dele dentro de mim. 

Já a segunda parte do livro, que devo confessar que não larguei até ler a última palavra, é a divisão mais brutal, que nos faz repensar tudo o que temos e não temos. Não vou me estender com comentários relacionados a ela, uma vez que a surpresa durante a leitura é um sentimento magnífico.

Vai ver se eu aparatei lá na esquina!

Por fim, se é que não elogiei a autora suficientemente, eu indico este livro para qualquer pessoa. É uma obra magnífica da literatura brasileira, e a primeira que eu leio que me fez realmente gostar do lugar onde vivo e ver que apesar de viver em um país com inúmeras falhas, eu posso ter sangue mágico nas veias. Todos podemos, graças a Renata, esta bruxinha boa (que descrevo propositalmente assim – vide dedicatória do livro), que foi a primeira autora a me fazer sentir tão apegado por um mundo criado e pelas suas personagens, que são indescritivelmente reais para mim. Meus mais sinceros agradecimentos e congratulações. Mal posso esperar para ler A Comissão Chapeleira já estou com saudade das aventuras de Hugo com os Pixies.

Aviso: “A Arma Escarlate” causa dependência! Não paro de sonhar com o mundo mágico e os personagens desde que iniciei a leitura! Uma dependência magicamente boa, que eu não quero me livrar nunca. Comprem o livro na livraria mais próxima e eu GARANTO que não se arrependerão. Superou minhas expectativas (que eram bem grandes)!

 

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