Um dos nomes mais importantes do cinema político italiano, Marco Bellocchio (De punhos cerrados, Bom-dia, Noite) está de volta às telas brasileiras com O SEQUESTRO DO PAPA, baseado na história de abdução do menino Edgardo Mortara, que chocou a Itália no século XIX. O longa estreia nos cinemas brasileiros em 11 de julho, com distribuição da Pandora Filmes. A produção foi indicada em 11 categorias no Davi di Donatello, entre elas, melhor filme, diretor e roteiro adaptado, e venceu nas categorias melhor figurino, maquiagem e cabelo.
Bellocchio, que assina o roteiro com Susanna Nicchiarelli e Edoardo Albinati, conta a história de Mortara por uma perspectiva única, politizada e crítica. A trama tem ao centro o sequestro desse menino judeu por autoridades da Igreja Católica, pois foi feita a denúncia de que uma empregada o batizara quando estava gravemente enfermo. A desculpa para a tal ação era a existência de uma lei que proibia não-católicos de criar crianças católicas.
O longa fez sua estreia na mostra competitiva do Festival de Cannes, e foi exibido também nos Festivais de Toronto e Nova York. Bellocchio conta em entrevista que a ideia do filme sempre foi a de centrar em fatos estritamente históricos documentados antes de deixar a imaginação cobrir as lacunas dessa história. “Sabemos muito pouco sobre a vida privada dos personagens, por exemplo. A estrutura do filme é sustentada por vários pilares históricos: o sequestro em 1858, o julgamento em 1860 e a captura de Roma em 1870.”
Embora se situe no passado, o diretor explica que O SEQUESTRO DO PAPA é um filme sobre o poder da Igreja que atravessa séculos e chega até o presente. “Naturalmente, o que Eduardo Mortara viveu nunca poderia acontecer hoje, numa época de diálogo aberto e de um papa de mente extremamente aberta. Naquela época, havia de fato a sensação de que a fé católica não podia ser abalada. Este filme não busca colocar um lado contra o outro. O destino deste homem falou comigo e me inspirou. Sua história me encheu de sentimento e tensão. Essas emoções abriram o caminho para moldar o filme. Minha empatia vai claramente para a criança que sofreu um ato de extrema violência.”
Esteticamente, o diretor explica que se inspirou no Realismo e no Romantismo das pinturas do século XIX, no qual se situa a trama. “Esta foi a época em que a Itália se construiu e produziu muitas pinturas representando cenas militares e familiares. Em termos de cenários, figurinos, cores e contrastes, inspiramo-nos na grande tradição do pré-impressionismo na pintura italiana e francesa, como se vê na obra de Eugène Delacroix”.
Por fim, o diretor também destaca o trabalho do estreante Enea Sala, que interpreta Mortara quando criança. “Ele nem foi batizado, nunca foi à igreja e também não é judeu! O que ele mostra na tela é sua resposta emocional ao personagem, e ele desempenha o papel enquanto consegue evitar o que as crianças costumam fazer – imitar o que viram na televisão. Ele trouxe uma profundidade incrível ao seu papel, o que foi extremamente benéfico para o filme. Eu queria que ele se sentisse livre. O cuidado demonstrado pelos outros atores também foi decisivo.”
Desde sua estreia em Cannes, O SEQUESTRO DO PAPA só recebeu elogios. “Bellocchio mostra-nos uma convulsão brutal de tirania, poder e intolerância com ecos do caso Dreyfus na França e, mais tarde, de acontecimentos horríveis”, escreve Peter Bradshaw no jornal inglês The Guardian. “O longa é uma história verídica evocativa, de ritmo habilidoso, lindamente filmada, sobre fé, família e o poder das pessoas que se unem para corrigir erros profundamente arraigados”, publicou a revista Empire.
O SEQUESTRO DO PAPA será lançado no Brasil pela Pandora.
Comentários do Facebook
Sem comentários