Nicholas – 1:13 AM: Oito horas amanhã. Evite atrasos. Era a mensagem do meu namorado no visor do meu celular que fazia meu coração vibrar de ansiedade. Fazíamos um mês hoje. Um mês que a minha vida tinha mudado definitivamente, apesar dos primeiros passos terem começado meses atrás. Viajaria para São Paulo em algumas horas, eu queria tudo perfeito em mim mesmo. Queria estar impecável, porque ele não merecia menos que isso, jamais.
Ok, eu me atrasei quarenta minutos. Peguei dois ônibus. Porra Gabriel, você não consegue cumprir horários não? Cheguei ao terminal rodoviário e fui à procura dele.
Gabriel – 8:44 AM: Onde você está????? Cheguei.
+ Muito para o meu final feliz
+ Você sabia (e usou isso ao seu favor)
Vi-o vindo ao meu encontro no exato momento em que pressionei enviar. Nick me envolveu naquele seu abraço cheiroso mais uma vez. Feliz um mês. Um mês, cara. Um mês que eu havia contado aos meus pais que estava apaixonado por um garoto. Um mês, que esse mesmo garoto me levou ao cinema e me pediu em namoro. Um mês desde o dia que eu esperei minha vida toda. Um mês que eu era a pessoa mais feliz do mundo.
Vamos comer? Pão de queijo e Toddynho? Eu amava essa combinação mais que qualquer outra. Comemos frente a frente, e, porra, como seus olhos eram perfeitos. Como sua boca era um paraíso. Eu podia observar Nicholas por horas sem nem mesmo pensar em enjoar. Observar cada centímetro da sua pele, cada detalhezinho que eu tanto amava.
Embarcamos, finalmente. Não sei como Nicholas se sentia, mas eu me sentia refugiado da realidade quando estava em seus braços, longe de casa. Sabe aquela sensação de insegurança que sentimos quando começamos a sair sozinhos e que sempre nos acompanha como uma pontada interna? Não existia com ele. Não existiam medos, nada. Seus braços ao redor de mim eram tudo o que eu precisava, ali.
A viagem começou tranquila e levou cerca de duas horas. Duas horas de beijos intermináveis, duas horas de ar rarefeito, duas horas de comemoração. Um mês. VOCÊ CONSEGUE ACREDITAR? Às vezes é difícil até pra mim. Sabe, pensa na pessoa que você mais gosta nesse momento. Pensa agora, na sensação de fazer um mês de namoro com ela. Um mês de promessas cumpridas e felicidades plenas. PENSOU? Isso talvez seja 1% do que eu sinto. Lembra que eu dizia que nosso problema é sentir demais por quem sente de menos? A nossa solução, é sentir demais por quem tem reciprocidade. Preenchimento.
Nick e eu temos gostos parecidíssimos. Chegamos em São Pauo para a nossa comemoração, então. Eu sempre fui aquela criança fascinada por histórias. Talvez seja por isso que tenha começado a criar as minhas. Mas era fato que eu sempre gostei de saber de onde as coisas vieram e pra onde elas foram. Eu tinha aquela curiosidade.
Certa vez, quando tinha sete anos, pesquisei uma apostila de cerca de cem páginas sobre histórias em geral. Imprimi, acabei com a impressora da minha tia. Ela não ficou brava, mas me prometeu me levar ao museu algum dia. Eu nunca havia estado em um, até então. Mas o mundo dá voltas e ela nunca foi capaz de cumprir sua promessa. Eu sendo criança, jamais esqueci. Mas crescemos também, e certas coisas ficam para trás.
Quer ir ao Museu da Língua Portuguesa? Tremi, e sem pestanejar, aceitei. Eu finalmente iria a um museu, então? Assim, sem nem me preparar? UAU. Entrei com meu namorado no elevador, e logo estávamos numa sala escura diante de um corredor enorme ladeado por uma televisão de caralhocentos metros. Nicholas me abraçou por trás enquanto eu apreciava aquela visão e tirava umas fotos. Era minha primeira vez em um museu, eu mal conseguia falar. Sabe, não é o museu em si que te deixa sem palavras. É o ato de ter uma promessa cumprida. Talvez não pela pessoa que a prometeu, mas existe o desejo dentro da gente mesmo quando as promessas não são cumpridas. Porque elas criam expectativas. E agora, com ideia de 1% do meu sentimento de fazer um mês, acrescente a realização de uma promessa, com a melhor pessoa na sua vida.
A entrega saiu melhor que a encomenda, não é como dizem? Esperar dói, mas retribui uma hora.
Apreciar museu é uma arte que poucos têm capacidade de fazer. Não são todos que tem paciência para acompanhar a história de uma coisa. Ainda mais a história da língua que se fala. Você pode pensar, assim como eu, que isso talvez seja meio absurdo, impensável. Mas é normal. Extintos são aqueles que são curiosos. E acrescente mais isso na minha lista de sortes na vida: Nick sabia apreciar museu da maneira que eu gostava de apreciar. Ele tinha aquela paciência de me abraçar enquanto eu via algo, dar suaves beijos no meu pescoço e murmurar coisas ao meu ouvido que me faziam sentir infinito. Assim como era o meu amor por ele.
Nosso primeiro beijo foi caloroso ao som de Hozier. Naquele desespero, eu jamais imaginaria que estaria beijando-o apaixonadamente meses depois dentro de um museu sobre língua e literatura. Sim, eu tinha mania de transformar minha vida em episódios que dariam um livro. E cá estou. Sentindo aquele amor capaz de incinerar o mundo ou ergue-lo em glória.
Andamos de mãos dadas por um bom tempo, despreocupados. É ótimo viver em lugares onde a probabilidade de encontrar alguém conhecido é praticamente nula. Andar de mãos dadas foi uma coisa mágica, porque é um gesto que poucos entendem. Trata-se de manter o contato, falar sem palavras. É algo do tipo “quero você comigo, não vá”.
Saímos de lá quando crianças de escolas surgiram por todos os lugares. Não me entenda mal, mas realmente não tem como apreciar um museu lotado. E já tínhamos visto tudo, então pegamos um metrô rumo à Paulista.
Eu gostava de lá, eu costumava dizer para os meus amigos que era um pedacinho de Nova York no Brasil. Podíamos encontrar tudo lá. Eu amava, apesar de nunca ter andado de verdade por ela da maneira com que queria. Eu sempre via todo mundo caminhando em suas melhores roupas, com tempo de ver cada construção diferente, o ápice de ser hipster, talvez. Mas nunca tinha feito isso. Queria muito.
Nick me levou para lá, então, e ia me contando histórias conforme passávamos por lugares icônicos. Eu amava isso nele. Meu vô foi meu contador de histórias preferido da infância, porque ele foi o único – até então – a compreender minha fascinação sobre como as coisas surgiram. Nicholas fazia o mesmo, contava histórias sobre como as coisas sugiram, citava nomes que eu jamais seria capaz de repetir… Eu gostava de vê-lo empolgado contando isso, e juro que tentava absorver o máximo possível do que ele falava. Claro que ficava hipnotizado inúmeras vezes pelas suas feições, mas quem nunca?
Depois de caminhar um pouquinho, fomos para “A” Livraria Cultura. Sim, aquela que vemos nas televisões e babamos pelo tamanho. Quantas vezes já não pedi para meus pais me levarem lá? No mínimo umas sete. Mas poucas pessoas se importam com o que queremos. Nick se importa, e é isso que o faz tão raro. A maneira singular com a qual ele cuida de mim e consegue tirar meus mais sinceros sorrisos. Ele nem precisava se esforçar pra isso.
Fiquei claramente entorpecido pelo milhão de títulos que meus olhos alcançavam. A livraria era interminável, e o cheiro, maravilhoso. Gostou, amor? Esse garoto existia mesmo? Seu recorde de me deixar sem palavras era cada vez maior. Já não sou uma pessoa de muitas palavras, mas sempre soube o que falar. Não agora.
Eu amei. Eu te amo, amor. Nós temos que chamar as coisas pelos nomes delas. Por isso o chamava de amor.
Sei que perdemos um grande tempo ali, e depois em uma livraria anexa, onde me deixei perder por um livro qualquer no chão. Eu poderia ficar por ali, com Nicholas, pra sempre. Era um escape tão genuíno da rotina, da realidade, que eu não queria que acabasse jamais.
O resto do meu dia, dos brilhos da minha constelação, transcorreu da maneira mais mágica possível. Nick rindo das minhas graças, nossas mãos entrelaçadas em público. Beijos na testa mostrando proteção. Alguns outros no pescoço que fica marquinha. Sabe, o amor nos faz imortal. E o meu amor por Nicholas, que já era infinito, ficou muito maior. Porque citando diretamente Charles Dickens, eu definitivamente o amava, e jamais me cansava de dizer isso. O coração humano é um instrumento de muitas cordas. O perfeito conhecedor dos homens, sabe fazê-las vibrar todas. Será que estava aparente que todas as minhas cordas dançavam em perfeita harmonia entre si, como jamais antes? E aqui, até concordo com Jane Austen, Ninguém jamais poderá amar verdadeiramente mais de uma vez na vida.
Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia. E sim, Nicholas, eu te amo, e te amarei até o dia em que eu morrer, e caso tenha vida após isso, eu te amarei por lá também. Se é que já não te amo de alguma vida anterior porque as tais cordas do Dickens não vibram por acaso, nem por força de destino. Elas vibram porque simplesmente foram feitas para serem tocadas única e exclusivamente pelos seus ágeis dedos. A vida é isso. A eterna busca pela alma gêmea que fará suas cordas vibrarem.
Não é fácil. Não são todos que conseguem. E é isso que torna a sensação tão rara e especial. E, nossa, dentre os meus azares, tive a maior sorte do mundo. A sorte de te (re)encontrar, alma gêmea. Amor das minhas vidas.
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2 comentários
Continho rápido e intenso.
Intenso