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(ESPECIAL) Nascidos ao fim do sétimo mês

Tenho um recado para você que passou horas e horas em uma fila, seja na livraria ou no cinema, sim, um recado direto para você que esperou anos e anos por um final e quando este chegara, chorou, e como chorou, parecia uma criança ao quebrar seu brinquedo predileto. Você não está só, nunca esteve. Aposto que na manhã de hoje, assim que pulou da cama (ou se arrastou) um alarme disparou em sua mente: “Hoje é dia 31, caralho!”. Sim, um baita dia 31. Para seus parentes pode não ser nada demais, seu cachorro nem liga para isso, sua irmã não tira os olhos da televisão enquanto come o cereal, mas você sabe o significado deste dia. Você tem que saber, pois se não souber todos esses anos foram em vão. Mas você conhece o simbolismo, se pudesse tatuaria todas as linhas, todos os parágrafos, de certa forma eles estão fixos em seu corpo, vivem a cada símbolo das Relíquias da Morte que você desenha sem querer nos cadernos por ai.

Vamos recordar um pouco, mas só um pouco, estamos em um dia feliz, se puxarmos mais e mais de nossas mentes acabaremos caindo aos prantos. Há alguns anos aguardávamos com todo esforço do mundo um livro novo, não daremos nomes ou datas por fora assim com os sete, e com os depois desses. Não sabíamos o que ela iria aprontar dessa vez, quem morreria, quem venceria, em que enrascada nossos amigos iriam se meter, mas aguardávamos como se o mundo fosse acabar depois daquele lançamento. Atordoávamos a moça da livraria todo dia perguntando “Já chegou”, mesmo sabendo que existia uma data exata para que eles chegassem, xingávamos aquela mulher todos os dias depois da reposta negativa mesmo tendo consciência de que ela não tinha responsabilidade alguma sobre aquilo. Eis que um dia eles chegavam e nós, com as moedas reunidas durante meses, corríamos até à livraria, sempre alguém tinha chegado antes, sempre era esse inferno, mas lá estavam eles, sorrindo, em posição de duelo, bradando varinhas e lhe convocando para a mais bela e rápida leitura, claro, aquela espera de anos resultaria em poucas horas. Nós devorávamos cada página, cada capítulo, era uma leitura sem cansaço, sem receios. Minto, existia um receio sim em tudo aquilo e ele se encontrava nas folhas finais, estava acabando, ficávamos desolados quando acabava, mas existia uma certeza. “Vai ter mais, eu sei que vai”. Mas um dia a fonte secara, não saía um pingo se quer de Harry, Ron ou Mione, isso foi o que pensamos quando lemos aquele “Tudo estava bem”.

Mas aqui está meu recado: Ela é Joanne Rowling. Ela é a escritora mais influente que o mundo literário já viu. Ela pode começar e terminar histórias quando bem entender e nós, seus pequenos leitores, apenas iremos aplaudir e captar sentimentos singulares, sentimentos esses que nenhum outro escritor pode nos proporcionar. Ela é Joanne, nascida ao fim do sétimo mês, assim como sua criação, capaz de derrotar todos os obstáculos, servir de inspiração até para o mais desacreditado homem. Foram sete anos de luta, sete anos sonhando com um garoto que corria até uma estação de trem e atravessava sua parede, foram sete anos sobre os papéis imaginando, tornando aquele castelo sua realidade, nossa futura realidade, sete pequenos anos quando comparados com os que virão, com os que passaremos lembrando e transformando a magia.

31 de Julho engloba bem mais do que podemos ver, trata-se do nascimento de um sentimento, uma vontade de querer mais e mais,  vimos isso nas páginas e páginas, não falo apenas do menino-que-sobreviveu, refiro-me também à Krystal, aos moradores de uma Pagford traiçoeira e encantadora, dirijo-me à Robin, a Cormoran e sua mania de sempre acertar, Rowling deixou depositou pedaços de sua alma em cada personagem, do Newt que está prestes a ganhar uma forma bem maior do que a que conhecemos até uma coruja que nos fez chorar por horas. Ela tem esse dom, de não temer o que está por vir, de não se importar por aceitação, fazendo seu trabalho da melhor forma possível e transformando vidas, mudando conceitos, inserindo em nosso dia-a-dia surpresas e mais surpresas, vejam só, chegamos ao tão esperado 31 de Julho e nesse encontro de criatura e criador estamos nós, bem no meio, prontos para abraçar quem quer se seja, prontos para nascermos também, neste sétimo mês.

À Joanne e a Harry só temos uma pequena frase a dizer: Obrigado por tudo. Tudo se resume a isso, agradecimento, por ter nos proporcionado experiências únicas (e continuar fazendo-as), por nos oferecer aquela palavra no momento exato mesmo nem estando ao nosso lado. Ela mesmo já dissera, “Nenhuma história vive, se não tiver ninguém para lê-la”, sendo assim garantimos que a magia persistirá, independente das eras, ela estará com sua chama mais que acessa, pois não pegamos chuva e sol atoa, não lemos está história várias e várias vezes (Em línguas diversas em alguns momentos) para desistirmos com o passar do tempo. Isso vai além da literatura ou do cinema, vai muito além de atores ou diretores, existe uma família, uma imensa família que abraça quem quer que seja, que comemora cada data como se fosse a primeira, que renasce a cada fim de julho.

 

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