trilha sonora indicada para leitura deste texto:
//the colection – sing of moon
querido diário,
// no lugar que eu te falei que estaria, no momento certo
sensivelmente lhe escrevo hoje, já me conheces e sabes que não é o meu melhor momento. ainda perdido, acontece que pensara eu estar clareando os meus passos e entendendo o caminho que estou seguindo, mas não. estar na contra mão do mundo não é uma realidade fácil, exige força, exige movimento e já estou tão cansado que procuro um lugar para repousar. por que tenho ideias tão diferentes? e qual o motivo de me custar tanto sustentar essas ideias? os olhares aumentam e, normalmente, o julgamento vem em primeiro lugar. ainda estamos numa sociedade baseada na cultura da imagem, forma é melhor que conteúdo, medidas é melhor que um bom diálogo e os traços da perfeição se comprometem em te rotular no quadro do aceitável ou no rol dos dispensáveis. pego meu moletom azul todas as manhãs e luto, luto para terminar tudo bem. na selva de pedra da cidade grande, são os pássaros que nos observam em nosso habitat natural em um safari metropolitano. estamos submersos em expectativas, estamos naufragados pelas doces e sedutoras expectativas. o que vem depois de descobrir que tudo não passa de uma ilusão? o que vem depois? o que se pode fazer quando a verdade cai em despenhadeiro e no final dos barrancos marginalizados de nossas emoções só restar um sentimento abissal, autodestrutivo, consumidor, mas que não consome por completo. um sentimento que te traga por dentro, uma corrosão extasiante que te anestesia e te tranquiliza enquanto se debate em sua própria cobiça de existir. existir por que todos existem, sobreviver por que todos sobrevivem e viver, pois poucos sabem viver. meu velho e lendário já dizia, alguns sentem a chuva, outros apenas se molham. alguns respiram, outros inalam a coceira da consciência e alojam em seus pulmões num esconderijo imaculado. o que fazer depois de cair a ficha que não há nada a se fazer? cheguei num beco sem saída, não tenho respostas, somente este questionamento: o que fazer agora? sensivelmente me exponho.
o veneno da alma
vês no espelho
a força da palma
medes num conselho
ande a abstrai
corra e esvai
tudo que carregas
não suportas tudo somente, se não deixar ir.
sensivelmente escrevo, não há mais nada a se fazer. se guarde, as rosas murcharam e só restaram os espinhos, não viva a ilusão do belo jardim.
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