Críticas de Cinema

Crítica de Cinema: Boyhood – Da Infância à Juventude (2014)

Boyhood chegou em terras brasileiras já com algumas dezenas de prêmios na bagagem. Com seis indicações ao Oscar deste ano e tendo vencido três das cinco categorias a que foi indicado no Globo de Ouro – incluindo a de melhor filme na lista de vitórias, o longa-metragem levou doze anos para ser filmado, do início ao fim, com o mesmo elenco e com inúmeras modificações no roteiro.

Boyhood – da Infância à Juventude (título no Brasil) segue a história de Mason Evans Jr. (Ellar Coltrane) dos seis aos dezoito anos de idade. Durante esse período, várias mudanças ocorrem em sua vida, que é retratada desde a separação de seus pais, Olivia Evans (Patricia Arquette) e Mason Evans Sr. (Ethan Hawke), até sua entrada na faculdade. O filme tem seu foco no relacionamento entre as personagens à medida em que o tempo passa e as crianças crescem.

O filme já chama a atenção pelo fato de ter sido gravado por doze anos sem alteração no núcleo principal de elenco, porém essa é apenas a cereja do bolo que deve colocar Boyhood na lista de filmes que deixaram uma grande marca na história do cinema mundial. Dirigido por Richard Linklater, o longa possui vários elementos históricos do cotidiano dos americanos num período posterior a 11 de setembro e também acrescenta itens da cultura pop que vão mudando com o passar dos anos.

Para quem tem hoje por volta dos vinte anos de idade, vários momentos do filme irão parecer incrivelmente familiares à memória. Por mais novas que as pessoas fossem na época, sete ou oito anos de idade, não é difícil se lembrar das manchetes nos jornais e reportagens na TV a respeito dos atentados ao World Trade Center, em Nova Iorque nos Estados Unidos. A mídia mundial foi bombardeada no que hoje é conhecido como um dos maiores ataques terroristas da história moderna. A agitação política que se sucedeu aos trágicos eventos também não vai passar despercebida por quem assistir ao filme.

Momentos em que Bush, presidente americano da época, é criticado pela família e cenas que mostram Mason e o pai espalhando placas em prol da campanha política de Barack Obama pela vizinhança mostram como foi dinâmica a trajetória do roteiro na produção do filme.

Linklater comentou em algumas entrevistas que o roteiro nunca foi fechado e durante todo o tempo esteve disponível para que o próprio elenco sugerisse alterações. No decorrer das filmagens a história da família Evans foi mudando de curso, indo de realizações a separações.

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É fácil se inserir no filme, principalmente os mais jovens. A cultura pop é bem presente durante todo o filme, principalmente na questão de trilha sonora. De Beatles a Lady Gaga, Boyhood traz momentos cômicos em que, ainda criança, Samantha – irmã de Mason – canta Britney Spears no auge de sua carreira. Anos depois, numa viagem de carro, Samantha é questionada pela atual esposa de seu pai por estar assistindo ao icônico videoclipe de Lady Gaga, Telephone, em seu smartphone. Situação comum entre os jovens da época.

Boyhood atrai toda a família para o enredo. Em todos os lares temos uma mãe feito Olivia, um pai feito Mason Sr., um irmão ou irmã como Sam e Mason Jr. Assim como também temos elementos negativos como o alcoolismo, que é um problema grave e presente em inúmeras famílias por todo o mundo, como também está na família Evans durante os três casamentos de Olivia.

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É possível crescer outra vez assistindo ao longa. Nos sentimos parte da família, vendo o crescimento físico e psicológico das personagens, vendo-os realizar feitos importantes e concluir etapas marcantes na vida de qualquer pessoa. Quando Mason Jr. se forma e entra para a faculdade é como se acabasse mais um ciclo da própria vida do espectador.

Após cerca de duas horas e quarenta minutos de filme, um único pensamento pode vir à tona: e agora? A sensação depois que o filme termina leva qualquer um a uma autorreflexão sobre aquilo que tem feito até agora, como foram seus últimos doze anos, o que vai ser daqui pra frente. Dúvidas que não são respondidas no filme, mas que, ao serem criadas, consagram Boyhood como uma obra de arte digna de todos os aplausos.

Imagens: filmcaptures.com

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