The Theory of Everything merece toda a expectativa que recebeu durante 2014. Da forma que poderia captar uma história tão densa, a produção de “A Teoria de Tudo” o fez. Rompeu-se a forma de produzir filme biográfico. Geralmente assistimos a diversas camadas divididas na tela, como fizeram com “La Môme” (Filme inspirado na vida de Edith Piaf, cantora francesa, que foi nomeado ao Oscar de 2008). Na produção de James Marsh encontra-se o oposto: o drama não é gradativo, muito menos piramidal, o filme feito nos moldes da Academia (é a primeira vez que isso soa bem) é puramente alucinante. Do primeiro minuto ao último “A Teoria de Tudo” mantém o ritmo predileto de qualquer fã da sétima arte. É pulsante e robusto do Stephen jovem até o cadeirante reconhecido mundialmente.
Organizado sem saudosismo (apenas com o que será empregado nesta crítica, pois é preciso) o enredo transcorre facilmente. Começamos com Hawking universitário, atuante tanto entre as paredes acadêmicas quanto fora delas. Nos primeiros dez minutos nos é apresentada Jane, futura namorada e esposa do cientista. A partir daí um duelo conciliável entre relacionamento e carreira profissional é incluído na trama e só se despede no momento em que as letras do créditos sobem. O filme varia muito bem entre o Stephen namorado, marido, pai e cientista, um dos grandes acertos da produção.
A doença que afetaria o professor futuramente mostra seus sinais iniciais no primeiro quarto do longa, até que sem aviso prévio ela aterrissa, e é aí que você, mesmo que esteja odiando tudo aquilo, é obrigado a pensar. As barreiras impostas a Hawking também são colocadas frente a frente para com o apreciador, com seu balde de pipoca ou seja lá o que esteja ingerindo. É um diálogo fulminante entre seres, os que atuam e os que assistem, “A Teoria de Tudo” proporciona sentimentos nunca estimulados, é a imersão de ideias, de filmes em um filme, de histórias em uma só, que por acaso ganhou a adaptação para as telas.
A tensão colocada no relacionamento de Stephen e Jane é adequada para a situação, quem conhece a história do cientista ficará surpreso com a riqueza de detalhes. O enredo passa do bem-estar ao incômodo causado pelos problemas que emergem em uma constante. Muito se deve também ao fato das atuações brilhantes de Eddie Redmayne, como Stephen (vencedor do Oscar 2015 de melhor ator com esse papel) e Felicity Jones, como Jane Hawking. Eddie conseguiu captar os movimentos e “os não movimentos” do professor britânico. Já era de se esperar uma representação à altura, estamos falando de Felicity e Eddie. O ator apresenta um histórico curto, mas eficiente. Em “Les Miserables” (2012) Redmayne interpretara Marius, revolucionário apaixonado por Cosette (Amanda Sayfred), com uma voz já conhecida na Broadway, Eddie empregou novos ares ao personagem de Victor Hugo. Em “The Theory of Everything” não foi diferente. Cada segundo, cada trecho, cada palavra dita pelo ator transparece o verdadeiro Hawking, Redmayne é parada dura para Benedict Cumberbatch (Favorito na categoria “Melhor Ator” por O Jogo da Imitação, indicado ao Oscar também na categoria”Melhor Filme”), do mesmo modo que deixa para trás o rosto bonito do Oscar 2015, Bradley Cooper (American Sniper), que ao certo sairá da Cerimônia sem uma estatueta.
Felicity Jones faz com que a balança das atuações fique equilibrada. Conhecida por seus papéis na franquia “O Espetacular Homem-Aranha”, a atriz apresenta um desempenho formidável, mas não é garantia certa de Oscar. A indicada recebeu um dos papéis mais pesados de 2014 e o fez da melhor forma, Feliciy conseguiu capturar a alegria, a frustração, o medo e outros sentimentos de Jane, ela foi Jane por duas horas para o público. Entre os coadjuvantes temos nomes famosos: Emily Watson, que em 2013 era Rosa Hubermann em “A Menina que Roubava Livros”, tornou-se Beryl Wilde em “A Teoria de Tudo”. Outros dois quesitos fortes do filme são a fotografia e a trilha sonora. A caracterização das décadas variadas foi feita sob medida, os anos 60 de uma Inglaterra interiorana, a chegada da tecnologia norte-americana, a universidade mundialmente conhecida, tudo isso foi capturado no aspecto mais natural possível que, com a ajuda de uma soundtrack íntima aos bons ouvintes, cria o estado sublime que o filme prometera trazer.
Hawking aprovou, o mundo concordou com o professor e o Beco Literário não poderia discordar, “A Teoria de Tudo” tem o ar devorador de estatuetas.