Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: A Garota Dinamarquesa (2015)

A inquietação é combustível primordial de “A Garota Dinamarquesa”. O longa estrelado por Eddie Redmayne e Alicia Vikander conta a história de Lili Elbe, que por início nos é apresentada como Einar Wegener. Uma cinebiografia que em muito se assemelha às outras, mas deixa sua marca em diversos momentos.  O eixo central da trama é a vida de Lili, primeira pessoa a se submeter à uma cirurgia de mudança de gênero, tendo como presença efetiva de sua esposa, Gerda Wegener. No decorrer do filme vemos os desafios, as fases e faces de Einar até se tornar por completo Lili Elbe. Pensamentos introspectivos são lançados durante o longa por meio de gestos e ações, a mente de Einar Wegener é colocada à exposição, assim como a situação que sua esposa compartilha. “The Danish Girl” provoca as mais submersas sensações, é um representante da classe dos filmes ocultos, daqueles que te jogam na trama e te questionam sobre diversos pontos, isto tudo com uma sutileza fora do normal. O drama vivido por Einar e Gerda é provocador, nem para todos, assim como representa muitos, difícil de se entender para aqueles que não desejam fazer isso.

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O longa é indicado em quatro categorias no Oscar 2016. Para melhor ator temos Eddie Redmayne, para melhor atriz coadjuvante, Alicia Vikander, e em categorias técnicas como Melhor figurino e Design de produção. Indicações estas mais que justas e que iremos falar um pouco mais a frente, por hora foquemos na trama. Einar Wegener consegue visualizar gradualmente que aquele corpo que reside não é o seu, não é o que realmente deseja, e isso provoca mudanças drásticas no comportamento do casal, na rotina de Gerda, na vida dos dois, fazendo com que uma avalanche de riscos decaia sobre esposa e marido. Einar é um famoso pintor na Dinamarca, retrata sua cidade natal em diversas pinturas, aparenta ser o que é e apenas isso. Mas ele e Gerda sabem que por trás da verdade alheia, a sua é totalmente diferente. Einar vive camuflado naquele perfil que o puseram, até que aos poucos, enquanto veste roupas femininas para auxiliar sua mulher como modelo para as pinturas da mesma, Einar entra em contato com seu eu. Com Lili. A partir dai o filme transcorre, com diversas forças conspirando contra Lili, com outras a favor do desaparecimento de Einar, com mudanças pequenas que significam muito para o desenvolvimento da história. O que surpreende em “A Garota Dinamarquesa” é a veracidade, tendo como grande responsável o roteiro e a atuação de Eddie Redmayne. A adaptação do livro biografia sobre Lili Elbe é eficaz, não escapa do que deve ser feito, é algo gigantesco em diversos quesitos, mas principalmente neste. Se fala não só de Lili, mas das várias Lilis que foram auxiliadas graças à pioneira. O longa consegue transmitir isso e vemos que a direção de Tom Hooper continua eficiente e ímpar.

Após “A Teoria de Tudo” todos apostavam que Redmayne não conseguiria realizar tal feito novamente. Não atuaria da mesma forma, pois isso se confirmou em “O Destino de Júpiter”, seria Redmayne apenas mais um a ganhar a tão desejada estatueta e não passaria disso? Só tenho algo a dizer: Não foi dessa vez, DiCaprio. Foi? Paira no ar a dúvida NOVAMENTE, pois depois do que vi em “A Garota Dinamarquesa”, caiu por terra toda a certeza que tinha sobre Leonardo DiCaprio levar o prêmio de melhor ator. Eddie Redmayne consegue ser bem melhor do que si, realiza uma atuação fora do normal. Em uma das cenas, das fantásticas cenas desse filme incrível, vemos Eddie Redmayne totalmente despido, em todos os sentidos, pois ali ele deixa de ser Redmayne, deixa de ser a pessoa que é para se transformar na Lili que deseja representar. A encarnação do ator é estupenda e em certos momentos bestializa aquele que o assiste. Fora do normal, repito, o que Eddie realiza em “The Danish Girl”, e isso deixa a corrida pela estatueta ainda mais imprecisa. Será mesmo que DiCaprio bate na trave novamente este ano? Será que a Academia concederá a segunda estatueta a Redmayne? Fincarei aqui por fim minha opinião sincera: O Oscar de melhor ator deste ano vai para Redmayne, e MAIS UMA VEZ,  DiCaprio sai da premiação de mãos abanando. Falaremos sobre a interpretação de Leonardo na crítica de “O Regresso”, não se preocupem, mas a forma que Redmayne incorporou o personagem, o modo como efetuara esta metamorfose que é “A Garota Dinamarquesa” com êxito… Bem, torço imensamente por DiCaprio, mas fica para Redmayne novamente, com um merecimento imenso assim como sua desenvoltura. Surreal fora o trabalho do ator, desde Einar até Lili. Seus movimentos, sua capacidade de transparecer a imperfeição humana é tremenda e digna de aplausos, milhões destes.

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Ainda sobre atuações, falemos de Alicia Vikander. Um casal de atores perfeito, digamos logo de início. A seleção fora eficiente (mesmo sabendo que Alicia entrou como uma espécie de terceira chamada, e agradecemos aos céus por isso) na escolha de Alicia e Eddie para o protagonismo em seus papéis. O desespero de Gerda, a mansidão, o sentimento a flor da pele, o medo, o amor de Gerda está em cada traço de Alicia, sua voz atinge o tom certo, seu olhar só deixa tudo mais convincente. Vikander concorre com Rooney Mara (Carol),  Rachel McAddams, (Spotlight), Kate Winslet (Steve Jobs) e Jennifer Jason Leigh (Os oito odiados). Esta é uma das categorias mais imprecisas do Oscar, pois ambas indicadas conseguiram atingir um nível invejável, e continuaremos na dúvida até o dia da cerimônia. Se for para arriscar, digo que Jennifer Leigh consegue tomar essa estatueta de Vikander, mas está difícil afirmar com toda certeza quem leva a premiação. O certo é que Alicia conseguiu cumprir com sua missão em “The Danish Girl”, a fez com sobras de acertos. Aguardemos para sabermos quem leva como melhor atriz coadjuvante.

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Como foi dito acima, o longa também é indicado em Melhor figurino e Design de produção. Em figurino os acertos são imensos, todas as roupas se adequam com a época, sabemos que a Academia valoriza até demais essa busca aprofundada para a construção do figurino, o história da premiação acusa isso e não seria uma surpresa que essa fosse a segunda estatueta de “A Garota Dinamarquesa, Paco Delgado chega forte na briga. Agora em Design de produção a história é outra, mas façamos duas observações, por lentes diferentes. A primeira só enxergamos a história de Lili, nesta vemos que todos os quesitos presentes na categoria são fortemente realizados, principalmente a maquiagem e a iluminação são acertos absurdos, assim como os cenários se entrelaçam com todo o enredo, sozinho é o filme é genial neste ponto, agora se comparado com os concorrentes nesta categoria “A Garota Dinamarquesa” recua na corrida pela estatueta. “Mad Max” e “O Regresso” se sobressaem frente ao longa.

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A trilha sonora do filme transmite cada sentimento em seu devido momento, até o silêncio de algumas cenas é revelador. A mixagem de som ganha destaque, desde o farfalhar do pincel ao tocar na tela até os sussurros de Lili. Poucas são as falhas. Os ângulos utilizados no filme são geniais, principalmente nas situações em que Lili aparece no canto da tela, deixando vago todo um cenário a ser observado e avaliado pelo telespectador. Solidão é a palavra-chave no filme e a fotografia conseguiu captar isso muito bem. Mesmo com a companhia de Gerda, Einar permanece só, mesmo com toda a ajuda oferecia pela mulher, ele é ela e ninguém consegue entender o que seja tudo aquilo. É um filme desafiador, que merece todos os elogios, todos os aplausos e as lágrimas de qualquer um que o assista.

 

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