Música

Coluna Especial: Viva Elis Vive

Há 70 nascia, na capital gaúcha, a apelidada futuramente como “pimentinha”. Elis Regina emergira sem perceber, por meio de turbulentos anos adolescentes a garota tornou-se mulher e em seu “Arrastão” carregara milhões e milhões de críticos, admiradores e historiadores da música. Parceira de Jobim, Adoniran e tantos outros, Elis cantara entre a Bossa, os saudosos festivais e a nascente, ou renascente democracia. Há 70 anos o mundo da música ganhava seu maior ícone. Dona de uma voz ensurdecedora, rasgante e provocante, a menina de espírito inabalável desbancara seus adversários e até mesmo seus ídolos. Não houve Ângela que segura-se Regina. Nós parabenizamos Madalena, a Equilibrista, por seu tão bem feito show. Elis vive.

Elis

 Cada bom ouvinte tem uma história singular para com Elis. Hoje, por simples fato de não poder conter o entusiasmo, contarei a minha. Lembro-me, na época tinha meus oito anos de idade, era uma terça-feira (Só lembro do dia pois o programa que recordo agora só passava neste), era hora do “Som Brasil.” Minha mãe, que por sorte, ou destino, leve do modo que melhor lhe parecer, não chutou-me para cama cedo demais naquela noite. Ela estava resolvendo uma papelada e a criança feliz pode ficar mais alguns momentos agarrado com a televisão. Já tinha sido anunciado, o programa a seguir contaria a história de um cantor, Adoniran Barbosa.

      – Quem é esse, mãe? – perguntei curioso.

      – Um cantor ai! – Fala sério. Como se eu já não soubesse. As crianças geralmente não calculam suas falas, mas naquele momento contive-me, “dê uma resposta decente, mulher!”

O programa transcorreu na mais divina paz. Um som agradável, pandeiro, samba e do nada, uma mulher. O corte de seu cabelo, as expressões, a voz. Estava ali fincado o grão de “Elis”, que anos após resolveu brotar, de leve, sem alarde, tornei-me fascinado por tal canto, era um talento inigualável.

menina das laranjas

A criança pôde perceber o quanto Elis Regina significava para um país, para um povo que por meio de suas canções conseguiam representação. De duetos famosos como “Águas de Março” até o revestido de mensagem subliminar “Bêbado e o Equilibrista”, a pimentinha cravo seus pés no cenário nacional, mostrou que nenhuma maior do que ela não existira e nem existirá. E como declamara: “Deixa, deixa quem quiser falar, meu bem.” 

A discografia imensa de Elis transcorre séculos, até hoje novos discos são colocados à venda. Do estouro que foi “Dois na Bossa”, sua parceria com Jair Rodrigues, até os especiais realizados por parentes, emissoras e outras instituições, a mulher vive sem mais nem menos. Para relembramos ainda mais a história constante de Elis, vamos à uma playlist elaborada pelo Beco Literário especialmente para está ocasião. Mais de trina músicas para um breve momento de contemplação da mais pura cultura nacional.

Por fim, só podemos desejar feliz aniversário, Elis, mesmo que o presente fique conosco. Obrigado por contribuir na formação de um identitário socio-cultural . Obrigado por atingir notas nunca alcançáveis, por brincar com suas cordas vocais, por arriscar-se dedicando-se dia após dia sobre os palcos. Por cantar aqui, ali, em todos os lugares. Nós agradecemos à Elis Regina, de corpo e alma, por tudo que nos deixou. O legado persiste, é certo que “o novo sempre vem” , mas convenhamos, não é todo dia que se completa 70 anos. Não é todo dia que sua voz ecoa por entre países e os modifica. A arte de ser sublime, ela sempre dominou.

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