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O Jongo vive: da senzala às grandes comunidades

Durante um estágio na Secretaria de Cultura de Guaratinguetá, no interior do estado de São Paulo, recebi na minha escala de trabalho a missão de cobrir um evento em junho de 2018, a “Festa do Jongo”, no bairro Tamandaré. Nunca sequer tinha ouvido falar sobre isso, mas percebi que a festa ocorria todo ano na região. Fui perguntar para algumas pessoas que conheço, e elas não souberam me explicar, disseram que não era algo do bem. “Como assim existe algo que não é do bem para algumas pessoas, e para outras sim?”, essa foi a pergunta que me fez ficar refletindo por alguns minutos, até que resolvi fazer uma rápida pesquisa do que era o Jongo.

Descobri que o termo se refere a uma dança de origem bantu – região que atualmente abriga grande parte do território da República de Angola – e que chegou ao Brasil no período colonial, quando os negros dessa área eram trazidos como escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, entre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, e também nas de Minas Gerais. Com sentimentos de alegria, partilha e confraternização, os escravos tinham a permissão de seus senhores para dançar o Jongo nos dias dedicados aos santos católicos, gerando um momento único. Mesmo sendo considerada profana, a dança incorporava algumas atitudes religiosas, e, por isso, jovens ficavam de fora da roda, apenas observando, já que eram julgados pelos mais antigos por não usufruírem de respeito e de dedicação suficientes para entender os segredos que o Jongo e os fundamentos dos seus pontos traziam.

Jongo

Os pontos de Jongo nada mais são do que provérbios e crônicas dirigidos de maneira poética e musical entre os jongueiros – como é chamado quem dança o Jongo – comentando a vida cotidiana, o passado e o presente de forma metafórica, muitas vezes sendo uma maneira de planejar fugas no período do Brasil Colônia, sem que os senhores e capatazes os compreendessem. Os jongueiros se desafiavam para saber quem tinha mais sabedoria, e buscavam encantar o outro por meio destes pontos. Quem recebesse um ponto enigmático tinha que decifrá-lo na hora e respondê-lo, ou seja, “desatar o ponto”. Caso contrário, ficava enfeitiçado, “amarrado”, chegava a desmaiar, perder a voz, se perder na mata, ou até mesmo morrer instantaneamente. Hoje em dia, isso não acontece mais.

Várias tradições permeiam até os dias atuais nas comunidades jongueiras. Por ser uma dança ligada aos ancestrais, alguns jongueiros dizem que quem possui “vista forte” consegue enxergar um falecido jongueiro – em muitos casos preto-velhos escravos, pertencendo à “linha das almas” – se aproximando da roda para relembrar a época em que a frequentava. Outros costumam dizer que, à meia-noite, uma muda de bananeira era plantada no terreiro, crescendo e dando frutos, os quais eram distribuídos para os presentes.

Buscando me aprofundar mais sobre o Jongo no Brasil, fui atrás de respostas concretas com minha companheira de trabalho, Aline Damásio, secretária de Cultura de Guaratinguetá. “O Jongo é minha raiz. Me representou na infância, na adolescência e representa na fase adulta”, garante Aline.

“O Jongo é minha raiz. Me representou na infância, na adolescência e representa na fase adulta.”

Participante da comunidade do Jongo da Tamandaré, um dos grupos jongueiros mais tradicionais do território nacional, ela conta que as manifestações culturais que pertencem a determinadas comunidades possuem maior facilidade para criar uma rede amiga e participante dentro do próprio bairro ou região da cidade. “Ter lideranças articuladas também é um diferencial para continuidade e fortalecimento”, completa Aline. Além da Tamandaré, o Jongo da Serrinha, Pinheiral e Valença também são referências no país.

Apesar de não ser de conhecimento por grande parte da população, o Jongo é reconhecido patrimônio imaterial do brasileiro pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Para Aline, o reconhecimento do Jongo por parte de uma instituição que preza pela história e pela arte da nossa cultura é um grande avanço para continuar a jornada nessa difícil estrada. “Divulgação, reconhecimento e espaço na cena cultural certamente são fortes ferramentas para a continuidade da tradição”, acrescenta.

O preconceito e a intolerância que conhecemos também afeta a vida na comunidade, principalmente por ser relacionada às matrizes africanas e por ser confundida com religiões da mesma descendência. “Certamente, muita gente não frequenta por achar que o Jongo é religião. O que acho um erro. O Jongueiro Jefinho costuma dizer uma frase interessante: ‘O Jongo não é religião, mas muitas pessoas que frequentam o Jongo são da religião’. As pessoas não enxergam a diferença”, aponta Aline.

Como atuante nas áreas da educação e da cultura entre os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro e também no Distrito Federal, Aline ressalta que todo órgão público – federal, estadual e municipal – deveria dar apoio à tradição e à cultura da sua região, ajudando a fortalecer cada vez mais nossas raízes.

Por fim, todas as palavras inferidas sobre o Jongo anteriormente foram descontruídas da minha mente na noite em que visitei a comunidade jongueira do Tamandaré. Comidas como cachorro quente e pipoca, e uma bebida feita de cravo, canela, erva doce, noz moscada e cachaça, chamada canelinha eram distribuídos com afeto entre os integrantes. Um sentimento de alegria e de partilha permeava a festa com pessoas dançando em volta de uma fogueira, cantando, sorrindo e confraternizando naquele momento único, representando toda a tradição vinda das senzalas.

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“O terceiro travesseiro” poderá ganhar adaptação audiovisual!

O terceiro travesseiro, romance de Nelson Luiz de Carvalho, poderá ganhar uma adaptação audiovisual nos próximos anos! A notícia foi dada diretamente pelo autor, por meio do seu perfil do Facebook e ainda não há previsões para lançamento, apesar de ainda ter grandes nomes envolvidos na produção.

A obra é uma ficção baseada em relatos reais e teve seu primeiro lançamento em 1998, se tornando um grande marco na literatura LGBTQIAP+ brasileira, com 5 milhões de cópias vendidas apenas em 2005. No enredo, dois adolescentes, Marcus e Renato, passam a compartilhar suas fantasias amorosas e a descobrirem juntos a sua sexualidade. Com uma grande carga de erotismo, descoberta e autoconhecimento com uma linguagem crua e sem muitos rodeios, o livro logo se tornou um best-seller.

Com um final trágico, mas do jeito que a gente gosta, O terceiro travesseiro já foi adaptado para os teatros em 2005, lotando o Teatro Augusta durante seus cinco meses em cartaz. Segundo o autor, a adaptação audiovisual terá elementos tanto do livro, quanto do teatro, que tinha um tom de comédia que não estava alinhado com o livro mas acabou por agradar o público. Além disso, o caminho que deve ser seguido é de uma série, e não de um filme. Veja:

O terceiro travesseiro

Além da possível adaptação audiovisual, “O terceiro travesseiro” deve ganhar uma segunda parte, que contará como foram os anos seguintes ao término do livro. Ainda não há previsão de lançamento.

E aí, todo mundo ansioso ou só eu mesmo?

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Roteiro: O que fazer em Paraty além da FLIP

Hoje, dia 29, era o dia marcado para começar a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, mas devido a pandemia pela COVID-19, os planos tiveram que ser adiados. Visando acalmar um pouco o nosso coração apaixonado pela Flip, escrevi esse roteiro para você aproveitar Paraty em sua totalidade assim que as coisas se normalizarem.

Sem badalação noturna mas muito festiva, Paraty é dona de um dos meus belos conjuntos arquitetônicos do Brasil. Fundada em meados do século XVII (17), em torno da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira, preserva até hoje as construções das épocas do ouro e da cana de açúcar, tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Localizada no litoral sul do Rio de Janeiro e a 237 km da capital, tem como principais características a simpatia, o bom atendimento e a hospitalidade a todos os turistas que por lá passam. Historicamente falando, Paraty tem tudo para ser um destino LGBT-friendly: a cidade já teve um prefeito gay e vemos casais LGBTQ+ andando de mãos dadas livremente pelas ruas com direito a sorriso de aprovação dos moradores.

Visitei Paraty em duas épocas distintas do ano: em Julho, durante a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty -, e em Setembro, durante a festa de Nossa Senhora dos Remédios e nesse roteiro, você vai ver um pouquinho do melhor dos dois mundos e o que você precisa aproveitar na sua ida, não importa quando seja, afinal, tem festa o ano inteiro.

O que você precisa ver no Centro Histórico de Paraty (e próximo dele)

O Centro Histórico de Paraty é o meu lugar preferido. Tem muita coisa pra ver e você pode passar despercebido por várias se não ficar muito atento. Não se entra de carro, é protegido por correntes imensas e você precisa desbravar a pé.

Igreja da Matriz – Nossa Senhora dos Remédios

Localizada na Praça Monsenhor Hélio Pires, também conhecida como Praça da Matriz, o núcleo mais antigo da cidade. A Igreja da Matriz abre para visitação de segunda a sexta das 9h às 12h e das 13h às 17h30. Aos sábados, das 8h às 12h e de 13h às 16h. É cobrada uma taxa no valor de R$3,00 por pessoa. Não é permitida a entrada com trajes de banho, filmar e fotografar.

Museu de Arte Sacra de Paraty

Funciona na Igreja de Santa Rita e possui um acervo de peças de barro, madeira e metal desde o século XVII (17), todas encontradas em Paraty. Muitas das peças expostas no Museu podem ser vistas pelas ruas do Centro Histórico em festas como Semana Santa, Festa do Divino, Corpus Christi e outras. Aberto de terça a domingo, das 9h às 12h e das 14h às 17h. É cobrada uma taxa de R$ 4,00 por pessoa, exceto às terças, que tem entrada gratuita.

Casa da Cultura de Paraty

Localizada próxima à praça da Matriz, tem como objetivo preservar e valorizar o patrimônio cultural de Paraty. Tem exposições que se renovam periodicamente, visando fomentar à criação, produção e difusão de todas as manifestações artísticas da cidade. Aberta de terça a sábado, das 12h às 21h, e aos domingos das 16h às 20h. A entrada é gratuita.

Livraria de Paraty

Local aconchegante, misto de livraria com café, possui um grande acervo de livros sobre Paraty e a cultura brasileira, inclusive em outros idiomas. Funciona todos os dias das 9h às 21h na esquina da Rua Samuel Costa com a Rua Dona Geralda, no Centro Histórico.

Igreja de Nossa Senhora das Dores

Também conhecida como “Capelinha”, é localizada na Rua Fresca, também no Centro Histórico, rodeada por uma pequena praça, onde os adolescentes de Paraty costumam se reunir à noite. Em datas especiais, ganha iluminação diferenciada. Abre aos sábados das 13h30 às 18h e não tem taxa de visitação.

Museu Forte Defensor Perpétuo

Localizado no Pontal, próximo ao Centro Histórico, é o único Forte que ainda existe em Paraty. É possível chegar nele através de uma trilha super agradável, e no alto, consegue-se uma belíssima vista de Paraty e sua Baía. Funciona de terça a domingo, das 9h às 12h e depois das 13h às 17h. Não tem taxa de visitação.

Praias e escunas

Não sou muito fã de praias no geral, mas as de Paraty me deixaram surpreso. Bem conservadas e extremamente limpas, vão te encantar desde a primeira vista.

Cais de Paraty

É aqui que você escolhe e embarca para os passeios de escuna. Tem muitas opções, por isso é importante pesquisar todas antes de fazer sua escolha. Pechinchar e pedir um desconto também é uma ótima opção, principalmente se você estiver em grupo ou próximo ao horário de partida, que geralmente é por volta das 11h. Fui na escuna da Maninha, em setembro de 2018, e paguei R$ 50 para duas pessoas, em um domingo.

Praia do Pontal

Uma das praias mais movimentadas da cidade, por estar praticamente ao lado do Centro Histórico. Tem um calçadão, bares, quiosques… É parada certa. Não é muito bom para entrar na água, mas é ótima para relaxar após o passeio de escuna. É também próxima ao Forte Defensor Perpétuo.

Praia de São Gonçalo

Localizada entre Paraty e Ubatuba, na rodovia Rio-Santos. Muito tranquila, limpa e perfeita para se passar o dia, no entanto, é um pouco longe do Centro Histórico e com acesso complicado sem carro. Há algumas linhas de ônibus específicas para o local e você também pode tentar a sorte pedindo um Uber. Para chegar à praia, é preciso atravessar um pequeno riacho. Se a maré estiver alta, a água chega à altura da cintura, senão fica à altura da canela. Mas alguns moradores oferecem a opção de travessia por canoa, cobrando um pequeno valor.

Ilha da Bexiga

A primeira parada do passeio de escuna. Seu nome vem do século XX (20), quando as vítimas de varíola (chamadas de “bexigas” na época) eram ali mantidas em quarentena. Hoje em dia, sedia o projeto Escola do Mar, do navegador Amyr Klink, que forma crianças carentes da região em velejadores. Por ser uma propriedade privada, não podemos desembarcar na ilha, mas se der sorte, vai poder ver a Paratii 2, embarcação de alumínio com mais de 28m de comprimento de Klink.

Praia de Jurumirim

Também de propriedade de Amyr Klink, foi a segunda parada da escuna, e nessa podemos desembarcar apenas em um pequeno pedaço da orla, já que além desta, tem uma mata densa e algumas ruínas, interditadas por uma cerca. Com águas extremamente limpas, foi dali que o navegador partiu para sua viagem à Antártica.

Praia Vermelha

Essa praia é LINDA! Tem uma vegetação fechada que impressiona tanto quanto suas areias vermelhas. Também foi uma das paradas da escuna, e oferece alguns bares com mesas e cadeiras à beira-mar. De um lado, há a infraestrutura e do outro, apenas natureza. Ideal para ver estrelas do mar e caranguejos. O acesso acontece apenas de barco, mas vale muito a pena.

Lagoa Azul e Ilha do Mantimento

Não é exatamente uma praia, mas é um ponto de parada bem popular entre as escunas de Paraty. O local, cercado por rochas e mata verde, é uma grande piscina natural, repleta de vida marinha. Podemos alimentar os peixes e vê-los bem próximos da superfície. Ainda é possível mergulhar e se der sorte, ver um mico leão-dourado na mata acenando para você.

Para comer e beber bem

Conhecida por suas cachaçarias enormes, Paraty também oferece ótimas opções para quem não abre mão de uma boa comida (como eu).

Bar e Tabacaria Cana da Praça

Localizado bem ao lado da Igreja da Matriz, o Cana da Praça é passagem obrigatória se você gosta de uma boa caipirinha de cachaça. Com sua promoção de dois copos por R$ 15, você ainda consegue dividir com alguém, porque é bem forte, mas igualmente deliciosa.

Paraty 33

Esse é para você que não abre mão de uma boa balada durante a noite. Com música ao vivo, o Paraty 33 tem atrações para os mais variados públicos, dependendo do dia. Também é um restaurante, então há a garantia de se comer e beber bem.

 

Pizzaria Manjerona

Localizada próxima ao Centro Histórico (dá pra ir a pé), a Pizzaria Manjerona tem um cardápio bem variado com pizzas acessíveis que servem até quatro pessoas tranquilamente. Vale a pena dar uma passada se você quer uma noite mais tranquila em Paraty.

Restaurante do Ditinho

Sediado na orla da Praia do Pontal, o Restaurante do Ditinho é uma boa pedida se você quer ficar sentado à beira-mar curtindo a vista enquanto come uma boa comida. Possui opções acessíveis em pratos individuais ou conjuntos.

Dicas extras para você ter uma experiência completa em Paraty

Para você ter uma experiência completa em Paraty, ainda há algumas dicas que você não pode deixar de seguir e que para mim, são de lei.

Flip – Festa Literária Internacional de Paraty

A Flip acontece anualmente em Paraty e é um dos maiores eventos culturais do Brasil. As casas do Centro Histórico se transformam em casas temáticas de editoras, autores e projetos literários e você fica louco querendo ir em todas. É uma época bastante movimentada em Paraty, por isso, é aconselhável se planejar bem antes. Também é possível encontrar várias pessoas famosas andando nas ruas, bem ao seu lado.

Caipifruta

Não importa a época do ano, não deixe de experimentar a tradicional Caipifruta de Paraty, que geralmente é vendida em bancas nas ruas, durante a noite. Você escolhe a fruta, a bebida e a mágica acontece. O valor é um pouco elevado, R$ 15 por um copo de 500 mL, mas o sabor vale cada centavo.

Gabriela e Jorge Amado

Antes de ir embora, visite uma cachaçaria e leve sua garrafa de Gabriela Cravo e Canela pra casa. A cachaça Paraitiana é símbolo da cidade e rende drinks ótimos, como o Jorge Amado, cuja receita você provavelmente receberá em um papelzinho junto com a sua garrafa.

PARA ENTENDER:

– LGBT-Friendly: Termo usado para se referir a lugares ou instituições que criam um ambiente agradável para pessoas LGBTQ+.

After We Collided
Atualizações, Filmes

“After We Collided” ganha trailer e data de estreia americana!

Os fãs de Tessa e Hardin já podem comemorar! Acabou de ser liberado o primeiro trailer de After We Collided, filme que dará sequência a série After, adaptada para os cinemas a partir do romance escrito por Anna Todd.

A sequência traz Hero Fiennes Tiffin e Josephine Langford como Hardin e Tessa e o casal precisa lidar com as consequências do seu término e se querem ou não continuarem juntos. E pode-se dizer que só vendo o trailer, está na cara que eles ainda se gostam e querem apenas dispersar um sentimento que não vai embora.

Sem mais delongas, veja o primeiro trailer de After We Collided:

O filme ganhou uma data de estreia prevista para 2 de outubro nos Estados Unidos e ainda segue sem previsão para lançamento no Brasil. Ainda não se sabe como será a estreia com os cinemas fechados por conta da pandemia pela COVID-19, então presume-se que será por plataformas de filmes sob demanda, como a Netflix.

A sequência ainda ganhou a participação do ator Dylan Sprouse, que causou uma pequena onda de alegria nos fãs da série. Se você quer saber mais sobre After, leia nossa resenha do primeiro livro clicando aqui e conheça outros livros do mesmo gênero, clicando aqui.

assumir lgbt
Atualizações

Como me assumir LGBT para os meus pais?

Para saber como se assumir LGBT, antes é preciso entender que este é um processo delicado, que demanda planejamento, coragem e muita calma. É como renascer para algumas pessoas e é um dia que pode ficar marcado para sempre na memória, tanto para um lado bom, quanto para um lado ruim, afinal, nem todo mundo pode ter e conquistar o apoio de familiares e amigos.

É fácil esbravejar aos cantos da internet que é só sair do armário e se deixar levar, afinal tomar as rédeas da própria vida e fazer o que se bem entende, é um direito do ser humano. Mas a realidade não é essa. Ainda existe muita gente preconceituosa por aí e uma delas pode ser quem você mais ama.

Foi o caso de Jonatas Maia, de 28 anos. “Eu tinha meus 15 para 16 anos”, relembra, “sempre gostei de homens, mas ao mesmo tempo sei que não podia falar. Meu pai é extremamente machista, então eu sempre tive que fingir. Certo dia, eu queria cortar meu cabelo e fui em um cabeleireiro que era gay, porque eu precisava conversar com alguém. Depois, acabei indo na casa dele, a gente ficou e uma vez meu pai me seguiu e viu tudo”, conta.

Jonatas foi expulso de casa pelo pai, sem ter contado que era gay. Ele descobriu. “Acho que foi um dos piores dias da minha vida. Ele chegou e falou assim: ‘tu quer ser viado? tu quer ser gay, tu quer ser frutinha, tu quer ser marica?’, nesses termos, horríveis. ‘Então, já que é essa tua escolha, tu pega, tu tem 10 minutos’, e eu peguei uma sacola, ‘tu vai pegar todas as tuas roupas e tu vai embora da minha casa porque filho meu não é viado, eu projetei em ti ter filho, tu casar e tu é uma mariquinha, tu é um viadinho, então eu não quero nunca mais te ver na minha frente. Quero que tu saia da minha casa’”, se emociona ao relatar o último dia que falou com o responsável após se assumir gay.

Embora a representatividade na televisão e na mídia esteja aumentando a cada dia, ainda sim é preciso avaliar o contexto social em que vivemos. É linda a coragem para ser você mesmo, mas sua segurança deve vir em primeiro lugar.

Por isso, conversei com o psicólogo Caio Moura, de São José dos Campos sobre como podemos nos assumir para as pessoas que nós amamos. Há um jeito certo? Há uma forma de preparar o terreno?

Conheça sua família antes de se assumir LGBT

“Não é de hoje que conhecemos nossos pais e cada família é uma família”, aponta Caio. Com base nisso, conseguimos entender e imaginar as possíveis reações que eles teriam. Por mais que você tenha que lidar com uma situação difícil, essa não é sua situação final.

Fique atento a comentários sobre LGBTs

Veja notícias e o que passa na televisão e como eles se portam diante disso. “Que ideias eles costumam apoiar, qual é o viés político, qual relação eles tem com pessoas LGBT”, completa o psicólogo.

Inclua discussões da temática LGBT na sua casa

Aos poucos, inicie alguns assuntos baseados nas notícias, novelas e coisas que possam se aproximar com o conteúdo que seus pais ou responsáveis consomem. É preciso quebrar esse estigma que a comunidade LGBTQ+ pode ter para algumas pessoas.

Além disso, há uma iniciativa da organização It Gets Better Brasil, que visa empoderar e conectar jovens LGBTQ+ pelo país. Eles também são responsáveis pela atividade “Me percebendo no mundo”, que facilita o diálogo entre pais e filhos. “O jogo traz luz sobre diversas questões como saúde mental, empatia, identidade, orgulho, comportamentos tóxicos… Nós apenas começamos nosso trabalho aqui no Brasil e ainda vem muita coisa boa por aí”, explica Bruno Ferreira, coordenador de conteúdo e redes sociais da iniciativa. Para baixar a atividade, clique aqui.

A observação pode ser muito importante para determinar a hora e maneira certa de contar. Estabelecer um diálogo é muito valioso, já que vários responsáveis podem se sentir traídos ao descobrirem sozinhos. “Eu passei mais ou menos um ano sem falar com eles, foi bem punk, porque eu passava até mesmo pelo meu pai na rua e não me cumprimentava”, lamenta Jonatas, que após a expulsão, teve que iniciar sua vida sem nenhum apoio de familiares próximos.

No entanto, a poeira baixou e hoje, as coisas estão mais calmas para ele. “Sou casado com um rapaz, nós temos união estável, temos dois cachorrinhos”, sorri aliviado e completa, “Fiz faculdade, me graduei, me pós-graduei, trabalho na minha área. Tento ajudar outras pessoas assim também, com a minha história”.

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Autoconhecimento: Qual o sonho de hoje?

Ao olhar para trás, refletiu sobre a maneira como observava o mundo, quando criança queria tê-lo nas mãos e realizar cada um dos sonhos que cultivava. Primeiro, quis virar aeromoça, mesmo não sabendo ao certo o que uma aeromoça fazia, queria enxergar a vida das alturas. Pensou, ponderou e viu que essa ideia não fazia sentido já que tinha medo de altura.

Neste caso, mudou de sonho e resolveu ser estilista. Já desenvolvia experiência com as roupas das suas bonecas. Como uma menina com tamanha experiência não vestiria outras pessoas? Foi o que pensou durante algum tempo até desistir e novamente trocar o sonho, agora seria médica veterinária. Amava e cuidava dos bichinhos de casa e para ela aquilo era mais que suficiente ou pelo menos um dos requisitos necessários.

Algum tempo mais tarde, tornou a refletir sobre o sonho de ser veterinária. Achava que demoraria muitos anos até crescer e ir para a faculdade. Queria um sonho de realização mais rápida, desta vez, seria artista. Não a artista da pintura, dança, palcos de teatro ou novela. Seria artista dos livros ou melhor dizendo, escritora. Escreveu cinco ou seis poemas que caíram por terra.

Teria enterrado mais um sonho ou nascido para outra coisa? Ainda não sabia, porém a vida preparara outros sonhos para ela, seria necessário continuar sonhando ao invés de insistir em sonhos sem sentido. Para tanto, o auto conhecimento foi relevante no entendimento daquilo que realmente se almejava. Foi a auto revolução através do tempo que a fez ver que poderia sonhar em ser várias coisas e seria única por elas. Sem aceitar a projeção de sonhos alheios, como quando os pais projetam seus sonhos nos filhos e esperam que estes o realizem.

Portanto, viva seus sonhos e lute por eles mesmo com dificuldade, medo e vontade de desistir. Se a bagagem de carregá-los for demasiadamente pesada, não faz mal desistir ou trocá-los. Depois de um sonho realizado, continue se dando motivos para sonhar, porque um sonho não vivido vira fracasso. Escolha vivê-los.

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A transfobia no ambiente corporativo

Desde os 8 anos de idade, Alberto* se olhava no espelho e se via menino. Quando não tinha ninguém em casa, se recorda de colocar os ternos, camisas e gravatas do seu pai. Ia na frente do espelho e “fazia a barba”. “Sempre me vi diferente das normas. Cresci e isso se intensificou de tal forma que eu não me encaixava em nada”, relembra. Um homem escondido por trás de uma vivência feminina que não era sua. Aos 20 anos, resolveu pesquisar sobre pessoas travestis e então, se questionou sobre gênero. O cara que vivia escondido gritou. “Foi como um soco no estômago, como se eu abrisse os olhos pela primeira vez em 20 anos. Achei vídeos de pessoas trans no Youtube que me ajudaram a procurar uma orientação profissional sobre o meu caso em particular”, acrescenta. Iniciou a transição hormonal. “Foi uma das coisas mais libertadoras que já vivi. A minha primeira aplicação, os primeiros pelos, a barba, o corpo tomando as medidas mais masculinas, de acordo com o estereótipo… Ainda é surreal quando posso me olhar no espelho e me ver inteiro”, se emociona. Mas depois de toda a adrenalina e expectativa, veio a parte ruim.

Sem retificar seu nome, Alberto* era negado em quase todas as entrevistas de emprego. “Fiquei um ano inteiro sem procurar trabalho, não tinha mais vontade de sair na rua.”, conta. Mas a coragem veio e ele enviou um e-mail. Aquele que mudaria sua vida. E de fato, veio o retorno de um parque temático próximo a São Paulo. Sua solução tinha chego, era o grande dia da entrevista.

“Primeiro tive que explicar para o entrevistador que sou um homem trans. Foi a coisa mais difícil de se falar. Ele respondeu ‘Jura? Nem parece!’ Fiquei chocado tentando entender como uma pessoa trans deveria parecer.”, comenta. Interessado no emprego, ele ignorou e seguiram a entrevista. Os cumprimentos vieram junto com as boas vindas. Alberto* havia assumido para o mundo que era um homem trans e merecia ser respeitado como tal, mesmo que ainda usasse seu nome social. Depois da entrevista, veio o treinamento e a hora de receber os uniformes. Cada pacote, com o nome do respectivo funcionário, menos de Alberto*. No dele, constava seu nome de batismo. “Fiquei muito desconfortável, o suficiente para quase desistir e voltar pra casa.”, pondera.

O uso e respeito ao nome social de pessoas trans é garantido pelo decreto de nº 9.278/18 que regulamenta a lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983. Alberto* tinha o direito de ser tratado pelo seu nome social, mesmo sem retificar seus documentos, e ele teve coragem de se impor.  Uma pesquisa do instituto Center for Talent Inovation descobriu de 61% dos LGBTQ+ brasileiros escondem seu gênero ou sexualidade no trabalho e de acordo com informações da União Nacional LGBT, o tempo médio de vida de um transgênero no Brasil é de apenas 35 anos. Isso coloca o país na posição de nação que mais mata transexuais e travestis no mundo. A inclusão de pessoas LGBTQ+ deve ser feita diariamente no mercado de trabalho, mas não são todos ainda que sabem disso.

Transfobia velada

Alberto* começou a trabalhar no famoso parque de diversões. Um lugar enorme, cheio de pessoas transitando a todo instante. Apenas mulheres no corpo de funcionários e alguns poucos homens. Parecia que o pior já tinha passado, mas o pior ainda estava por vir. “Uma funcionária me fez a seguinte pergunta ‘você é homem?’ E eu com a maior naturalidade do mundo, respondi que sim. Ela disse em seguida que não havia visto nenhum volume nas minhas calças e por isso havia deduzido que não”, recorda Alberto* com o rosto vermelho de vergonha e a voz quase falhando.

Para a psicóloga Denize Silva, as empresas precisam sair do formato conservador de anos atrás. “Os funcionários não são uma máquina, é preciso saber o lado pessoal e profissional. Muitas só visam seu movimento, e por isso existem altos níveis de adoecimento”, aponta.

“Nunca se teve uma reunião com todos os funcionários sobre diversidade de gênero, sobre respeito às diferenças. Nunca houve preparo.”

E ele foi atrás dos seus direitos dentro da organização. Conversou com seu superior e a resposta veio genérica: “Era só uma brincadeira”. Brincadeira que mata 1 LGBTQ+ a cada 23 horas no Brasil, segundo relatórios do Grupo Gay da Bahia (GGB). No entanto, sem saber lidar, a empresa  o indicou para mudança de loja, dentro do parque. “Lá, eu vivia dizendo que estava no céu. Enganado mais uma vez, claro”, contesta.

Na primeira semana, vários funcionários foram até seu posto perguntar se Alberto* era um homem trans. Quando não eram funcionários, eram visitantes do parque. “‘Moça, quero esse combo aqui.’ E eu com toda a educação do mundo corrigia e informava meu nome. Logo, bolei um plano de colocar um adesivo no lado esquerdo da camiseta me identificando, já que o crachá da empresa não tinha meu nome, nem foto”, revela. Deu certo e mesmo com a quantidade de transfobia no seu cotidiano, Alberto* estava se adaptando ao novo ambiente de trabalho.

PARA ENTENDER:

– Nome Social: É o nome pelo qual pessoas trans e intersexuais se autodenominam e escolhem ser identificadas em seu meio social. É reconhecido como meio legítimo de identificação de um indivíduo pelo Governo Federal;

– Transfobia: Atitudes, sentimentos ou ações negativas contra pessoas trans. Assim como a homofobia são atitudes, sentimentos ou ações negativas contra pessoas homossexuais;

– Cisgênero: Indivíduo que se identifica em todos os aspectos com seu gênero de nascença. Uma pessoa transgênero não se identifica com o gênero que nasceu;

– Heterocisnormativo: Termo usado para descrever situações que degradam ou marginalizam pessoas que estejam fora do padrão heterossexual e cisgênero. Também há a variação heteronormativo e cisnormativo.

Transfobia escancarada

Uma nova mudança de setor chegou na vida de Alberto*. “Fui fazer limpeza de pratos e utensílios de cozinha. Lá, virei pesquisa de campo das funcionárias. Me olhavam torto, outra deu em cima de mim várias vezes.”, confessa envergonhado e acrescenta, “Ela me chamou para ir numa parte de trás da cozinha, onde batíamos o ponto. Lá ela me beijou, sem eu pedir. Fiquei paralisado, eu tinha acabado de sofrer um abuso”. E era isso mesmo. O assédio sexual, por definição, ofende a dignidade, honra, o direito de preservação da intimidade e da liberdade sexual da vítima. O Direito do Trabalho admite dois tipos de assédio no ambiente laboral: por chantagem ou por intimidação. O primeiro quando alguém de hierarquia superior promete vantagens em troca de favores sexuais ao suposto favorecido. Se ele não cumpre, pode perder o emprego. O segundo, não há a presença de hierarquia superior, mas importunações vindas de incitações sexuais, físicas ou verbais. O caso de Alberto*.

E as coisas chegaram a piorar. “Chegava no vestiário masculino e em vez de me trocar na frente de todos, entrava em uma cabine que fedia a mijo. Nunca me senti seguro para usar o chuveiro. Vivia com constante medo de alguém”, denuncia o jovem.

A vítima de assédio pode pedir rescisão indireta do contrato de trabalho, com os mesmos direitos de uma demissão sem justa causa: recebe todas as indenizações previstas em lei, como multa de 40% sobre o FGTS, projeção de aviso prévio, 13º salário e férias.

O despreparo do departamento pessoal com pessoas trans

“A gota d’água foi na triagem da cesta básica”, se esgota Alberto* ao relembrar se sua jornada pelo parque. Um dia, ao buscar sua cesta, como é de direito em várias empresas, seu nome não constava na lista. Nem nome social, nem nome de batismo. “A funcionária procurou e nada. Sem sutileza, ela gritou em alto e bom tom para no mínimo 20 pessoas atrás de mim ‘ou é fulana ou é Alberto*, os dois não podem’“, suspira e questiona, “Como uma empresa que divulga ser a favor dos direitos LGBTQ+ não tem orientação com seus próprios funcionários?”

E de fato, ainda há muito despreparo por falta das empresas no âmbito de inclusão de LGBTQ+ no mercado. “O RH cobra requisitos heterocisnormativos e de difícil alcance especialmente para a população trans, como idiomas, informática, experiências prévias e afins. E por fim, quando contratados, no que diz respeito ao uso de uniformes binários e reforçadores de esteriótipos de gênero, desrespeito ao nome social, boicotes, discriminações e afins, são outras dificuldades”, aponta Felipe Daier, advogado do Núcleo de Prática Jurídico, Social e Apoio Psicológico da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo.

Mas se o parque que Alberto* trabalhava não era preparado, ele era. No seu terceiro mês, foi até São Paulo e retificou seu nome e gênero no cartório. Depois de uma semana, com sua nova certidão em mãos, mostrou par a sua supervisora. Todos deram os parabéns, inclusive o setor de Recursos Humanos (RH), que alterou sua folha de ponto. Tudo parecia bom demais para ser verdade.

Dias antes de um evento específico que celebra a diversidade, Alberto* teve uma luxação no joelho. Foi até o pronto atendimento da empresa, tomou remédio na veia. Com muita dor, pediu para ser dispensado. Pedido negado. “Nesse dia, fui até o RH e pedi minha demissão. Justifiquei que estava insatisfeito com a empresa. No fundo, eu deveria ter dito. Eu deveria ter exposto o caso de abuso, as transfobias, o medo, os olhos constantes que me observavam, o descaso com o meu corpo, com as minhas dores. Mas eu só queria sair dali correndo. Dois dias depois, me dispensaram”, queixa-se cabisbaixo. “Nunca relatei nada disso até hoje. Só cheguei a comentar sobre o beijo. Acharam engraçado”, lamenta.

Como mudar o cenário

Alberto* não é o primeiro nem o último a não ter coragem de contar. Sua história dói na alma e a necessidade de ter um emprego muitas vezes fala mais alto. Ele diz que nunca erraram seu nome na sua frente, mas todos os funcionários sabiam seu nome de batismo. Não adianta ter uma inclusão que não sai das portas da diretoria. “Nunca se teve uma reunião com todos os funcionários sobre diversidade de gênero, sobre respeito às diferenças. Nunca houve preparo.”, ressalta Alberto*.

E se você se pergunta se é preciso ter, a história dele te responde. Sim. Ele é um personagem entre milhares de outras pessoas trans que procuram seu lugar ao sol.

É preciso ter cabines fechadas nos banheiros, principalmente se os funcionários tomam banho ou trocam de roupa na organização. Palestras sobre diversidade, inclusão de pessoas não-binárias, trans e travestis também é uma realidade, além é claro, de aplicar o respeito e passar a todas as escalas.

Érica Souza, analista de Recursos Humanos de uma grande multinacional do ramo alimentício defende a ideia de que é preciso fortalecer as diretrizes de inclusão e diversidade. “Acredito que através de feedbacks quando se vê algo que não condiz com a postura de inclusão e diversidade é muito possível”, demonstra.

Além disso, é preciso estar na cultura da empresa os princípios e valores com todas as pessoas. É preciso ter qualidade no relacionamento entre os pares de trabalho e acompanhar, mesmo pós-feedback para garantir que casos como o de Alberto* não venham a se repetir.

* O nome foi trocado para manter a identidade do entrevistado preservada.

Atualizações

O Fake News está relacionado ao desrespeito pelo legado da filosofia e a educação

Muitas vezes ouvimos falar de nossos pais e avós que os tempos mudaram e que hoje já não há mais respeito, que os jovens são irreverentes e que a consideração pela opinião do outro deixou de existir. Será isso tudo verdade? Será que estamos vivendo dias em que há julgamentos mediante ao que se acredita, sem abertura para questionamento, observação ou estudo? É possível.

O neurofilósofo e estudioso de padrões comportamentais da sociedade Fabiano de Abreu demonstra preocupação com a irreverência da geração atual e o descaso com o conhecimento ancestral: “Me preocupa a nova filosofia cultural que se irradia a ofender todo o ideal filosófico de grandes nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles. Eles eram pensadores precursores no que hoje chamamos de educação. A filosofia é a primeira matéria que originou todas as outras que nos alimentam não só de conhecimento, mas nos ajudam na sobrevivência. Vivemos a realidade abstrata da deturpação onde estudiosos interpretam a mensagem da maneira que melhor convém a necessidade própria em relação a personalidade esquecendo que a filosofia nasceu do questionamento e do argumento sem uma razão que não seja a final, racional, estatística, livre de qualquer entorno plural interpretativo. “

Mídias sociais como ferramentas da desinformação

Segundo Abreu, apesar de ser positivo que a mídia social tenha dado autoridade, autonomia e liberdade de expressar aos que não tinham voz, por outro lado nem todos estão aptos a exercer essa liberdade: “Acredito que a liberdade advém da consciência do que é certo e errado. Pois a liberdade não é estar solto, não é estar livre, é ter a consciência limpa, é não ser perseguido nem julgado. A liberdade nada mais é do que a falta de pendência. Nós sabemos o que é certo e errado subjetivo ao indivíduo e sua personalidade perante a cultura regional em relação a sua ética e a sua moral. É livre quem tem autoconhecimento, que sabe seus limites e que glorifica suas conquistas de forma humilde já que a própria capacidade o revela como um organismo cabível de falhas que se transformam em experiência. “

Para o neurofilósofo, posts maldosos e as chamadas fake news, que são noticias falsas em busca de destruir reputações e instituições, são armas de pessoas mau intencionadas que visam beneficio próprio através de artimanhas de manipulação: “Para muitos, a escrita é uma arma daqueles que sabem manipular, assim como um dispositivo que destrói a imagem de alguém que não a sabe usar. Mas não é de todo mau. A internet não é a vilã em si, é apenas o mecanismo de transparência que revelou o que sempre soubemos. Que precisamos de educação, precisamos de conhecimento e que somos limitados. O ser humano pensa ter um poder diante de uma consciência racional mais desenvolvida que a dos demais animais quando que, se fazemos o mal para os outros e para nós mesmos, melhor a inteligência do cão que sabe agradar e se posicionar em seu lugar. “

Respeito é fundamental

O especialista também aponta o papel do respeito na manutenção da ordem social: “O respeito é uma personalidade do curioso, do observador, que com inteligência respeita para que possa receber respeito e porque procura entender a posição do outro. Respeitar a opinião é refletir sobre ela e tentar entender, e melhor, conseguir entender, desvendar, interpretar o sentido e o motivo para, mesmo que reprovar, não ter tempo nem a vontade de retrucar já que o resultado nunca é satisfatório.”

Abreu salienta que somente pessoas que dão lugar à ignorância se acham no direito de julgar o outro com base nas suas certezas: “O julgamento sem análise e o argumento sem base é a resposta do ignorante à sua certeza abstrata a uma própria realidade. É a não aceitação do eu que é descontado no outro. A rede social não é de todo mau. Ela apenas revelou um eu que antes guardado, toma coragem de se expressar pois através de uma tela ninguém pode atravessar. “

Conhecimento é a resposta

O neurofilósofo não tem dúvidas que a única solução para os nossos dias e para trazer uma melhora na nossa sociedade e na postura que assumimos diante do outro é o conhecimento: “Não podemos mais desprezar a ciência e o conhecimento ancestral, os estudos que foram feitos por notáveis que vieram antes de nós. Quando temos conhecimento, abrimos a mente e sabemos que ele é infinito, que nunca estamos fartos. Mas quando não temos conhecimento, não vemos além, encontramos um teto, um limite, pois pensamos que sabemos tudo já que sabemos pouco. Quanto mais se sabe, mais sabemos que temos que aprender, quanto menos se sabe, mais achamos que não há muito a recorrer. “

Atualizações, Filmes, Livros

Anne with an “E” continua em Anne de Avonlea

Com o cancelamento de Anne with an “E” na Netflix, o público se manifestou nas redes sociais  indicando ter muito conteúdo interessante a ser explorado na história, assim desejando uma nova temporada para a série. Em meio a tantos desejos, o Grupo Editorial Coerência anunciou o lançamento de “Anne de Avonlea”, o segundo livro sobre a Anne Shirley.

Produzida mediante uma parceria entre a CBC e a Netflix, Anne with an “E” tomou grandes proporções quando o contrato de renovação para sua quarta temporada não foi assinado. A série é uma adaptação de oito livros escritos por L. M. Montgomery, mas devido ao cancelamento não conseguiu abordar toda trajetória da garotinha ruiva.

Após diversas pessoas se mobilizarem em redes sociais demonstrando interesse e motivos para a história ganhar uma sequência pela plataforma de streaming, o Grupo Editorial Coerência se propôs lançar uma nova edição dos livros em território brasileiro. Publicado pela primeira vez em 1909, “Anne de Avonlea” é o mais recente lançamento da editora.

Na obra, Anne Shirley está com dezesseis anos e meio, e começa a lidar com as responsabilidades da vida adulta e continua conquistando todos ao seu redor com atitudes admiráveis. Os exemplares já estão sendo vendidos, e comprado no site da editora o leitor ganha brindes.

Sinopse
Anne Shirley agora tem “dezesseis anos e meio”. Após desistir de cursar a faculdade para ficar em Green Gables, está prestes a iniciar suas atividades como a professora da escola de Avonlea. Guiada por seus ideais românticos, planeja atuar com métodos de ensino inovadores, mas, com o tempo, acaba percebendo que muitas vezes a teoria é bem diferente da prática. Nada, porém, é capaz de desanimar Anne, que, com o apoio de Gilbert Blythe e de outros jovens de Avonlea, conquista a confiança da comunidade e efetua diversas melhorias no distrito. Embora cheia de responsabilidades, a jovem continua conquistando todos ao seu redor com seu espírito livre e cativante. Ao lado de sua fiel amiga, Diana Barry, encontra novos espíritos irmãos conforme vai se aproximando cada vez mais da vida adulta, sem deixar para trás suas manias imaginativas e sua facilidade para se envolver em confusões.

Em seu segundo romance, L. M. Montgomery continua conquistando seu público com palavras encantadoras e um enredo bem-humorado. Como não poderia ser diferente em uma história protagonizada por Anne Shirley, a autora segue conduzindo leitores de todas as idades a refletir acerca dos valores que regem nossa sociedade.

Sobre a autora
Lucy Maud Montgomery nasceu na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, em 1874. Criada pelos rigorosos avós maternos, encontrou em sua imaginação uma forma de lidar com a solidão de sua infância. Apesar de se dedicar à escrita desde jovem, formou-se professora e atuou na área por alguns anos. Em 1908, estreou como romancista com a publicação de “Anne of Green Gables”, sucesso instantâneo que deu origem a outros livros protagonizados por Anne Shirley. Ao longo de sua carreira, publicou 20 romances, mais de 500 contos e diversas poesias. Faleceu em 1942, aos 68 anos, deixando a Ilha do Príncipe Eduardo imortalizada por meio de suas descrições sensíveis acerca da natureza e do estilo de vida de seus habitantes na época.

Atualizações, Livros

Site organiza “comunidade de leitores” durante pandemia

O Beco Literário, plataforma jovem do Vale do Paraíba, expandiu sua comunidade de leitores para incentivar leituras durante a pandemia

O baixo índice de livros lidos no ano pelo povo brasileiro é uma das nossas maiores mazelas históricas. De acordo com a última pesquisa Retratos da Literatura, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro em 2016, o brasileiro lê uma média de 2,43 livros por ano, e boa parte dessas leituras não chegam perto de ser eficientes para bons debates, já que é o repertório de leituras que contribui para o amadurecimento do pensamento crítico.

Pensando nessa realidade, o Beco Literário, site criado por Gabu Camacho, de São José dos Campos, organizou uma comunidade fechada para incentivo à literatura e ao debate. “Nós chamamos de Beco ‘VIPs’. Os leitores que se inscrevem no site tem acesso a nossa plataforma e podem participar de leituras coletivas, debates engajados e ainda concorrer a prêmios, sem pagar nada por isso”, conta Gabu, que criou o site em 2013.

E o incentivo a literatura com certeza rende bons frutos. Durante a quarentena as pessoas passaram a ter mais tempo livre e muitas não souberam o que fazer com esse tempo. “Tivemos um volume muito alto de inscrições desde o início da pandemia e temos aceitado todas as pessoas. Acreditamos que a leitura precisa ser engajada. O leitor precisa ler o livro, criar conexões e entender além do que está nas páginas”, completa Camacho, que também comemora os mais de 900 membros inscritos na iniciativa Beco VIPs.

Para participar da comunidade, o leitor interessado precisa acessar o www.becoliterario.com e se cadastrar no formulário da página inicial. Todas as outras recomendações são enviadas por e-mail em seguida.

Sobre o Beco Literário

O Beco Literário é uma plataforma de conteúdo jovem criada em 2013 pelo jornalista Gabu Camacho e hoje alcança mais de 3 milhões de leitores em todo o país. O site tem como principal objetivo encurtar distâncias sociais com a literatura, abordando temáticas como autoconhecimento, consumo consciente e a literatura engajada.