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Resenha: Depois Daquela Viagem, de Valéria Piassa Polizzi

Antes de qualquer coisa, preciso dizer que li Depois Daquela Viagem pela primeira vez com 15 anos, em 2004. Acredito que ele me tornou um adolescente melhor ao fim da jornada que foi acompanhar a vida da autora, Valéria. O encontrei na biblioteca da escola, li, devolvi e ficou por isso mesmo. Depois de uns meses, fui à busca dele novamente. Nunca mais o encontrei. As memórias foram indo embora e eu havia esquecido seu nome. Sua história porém, ficou. Sempre tive a esperança de encontra-lo em alguma livraria. Muito que bem, começo deste mês de agosto, estava de bobeira na Saraiva quando finalmente o vi: a Editora Ática o reeditou e relançou em todo o Brasil e meus olhos brilharam ao vê-lo na estante. Agora, com 22 anos, o li novamente com toda a calma do mundo e com muita felicidade escrevo esta resenha para vocês. Enjoy it! =’)

 

Depois Daquela Viagem é um livro que se passa entre os anos 80 e 90, narrado em 1ª pessoa, contado por sua personagem principal: a autora Valéria Piassa Polizzi. Morena, branca, com longos cabelos pretos e de classe média alta, a história começa com uma viagem de Val com os pais em um cruzeiro, aos seus 16 anos. Neste cruzeiro, conhece um homem de 25 anos que meses mais tarde, viria a se tornar seu namorado. Sim, mesmo com quase 10 anos de diferença de idade, ele engrenam um relacionamento. Passado a fase de conto de fadas, Valéria se vê num relacionamento abusivo, na qual apanha do rapaz, é diminuída e é tratada como inferior. Apesar disso tudo, a morena acha que é culpada por tudo isso. A série de mal tratos só termina quando a família flagra uma cena de agressão e interfere pelo fim do relacionamento.

Após dois anos, Valéria descobre ser portadora do vírus da AIDS, o HIV. Como só havia transado com o namorado que a espancava, a equação é óbvia: ele a contaminou. E já era difícil falar sobre isso em uma época em que a internet não era acessível. Não havia tantos tratamentos e a doença já era diretamente associada a morte. Imagine isso para uma garota que mal havia chegado aos 18 anos. Até então, a AIDS era associada apenas aos gays e praticantes do sexo anal, o que não era o caso de Valéria. O preconceito com portadores do vírus no Brasil era absurdo e a falta de tato dos hospitais e planos de saúde não ajudava a atrair uma perspectiva melhor para os infectados. A única palavra era: morte.

Val se nega a iniciar os tratamentos oferecidos na época. O medo das reações e complicações que poderia ter, e também pela falta de humanidade nos especialistas pelos quais passou. Aquela imposição de “você tem que fazer isso, tem que fazer aquilo” sem nem ao menos explicar o que está acontecendo e dar alguma perspectiva de melhoria é realmente complicado. Após trabalhar algum tempo com o pai, Valéria, que já havia desistido de faculdade e da realização de diversos sonhos por conta de “não ter tempo para aproveitar nada disso”.

A expectativa de sua morte era para dali “5 ou no máximo 10 anos”, e então ela resolve que o melhor seria fazer um curso de inglês nos Estados Unidos e aproveitar um tempo sozinha. Longe de toda negatividade em torno de sua família e dos médicos brasileiros. É aí que tudo muda.

Nos Estados Unidos ela faz amigos, conhecem pessoas de culturas diferentes e aprende coisas que a fazem querer continuar viva. Talvez seja bem clichê, mas a meditação, a calmaria que um rapaz sueco traz para ela faz toda a diferença. Seu nome é Lucas, e ele se torna o grande companheiro de Valéria. Sempre fazendo caminhadas e trilhas, mostrando o lado mais calmo da vida, longe de tudo e de todos. A serenidade vem com tudo, trazendo uma calmaria interior que foi muito decisivo para clarear as idéias.

Também em terras americanas, se é apresentado uma novo lado dos pacientes com AIDS: o lado da vida. É demonstrado que sim, dá pra viver com o vírus. Dá pra se viver muito tempo com ele, de forma saudável. De forma comum. Apesar dessa ponta de esperança ser apresentada, Val não está convencida de iniciar os tratamentos com medicação pesada a qual deveria estar tomando. Porém, após contrair uma febre que não abaixa e um mal estar frequente, ela volta ao Brasil e logo após sua chegada, é internada. Após quase morrer, percebe o quanto vale a pena lutar e conseguir forças para continuar aqui e decide iniciar o tratamento ao qual tanto se negou.

Obviamente, o começo não é fácil. As reações a põe de frente para tênue linha entre a vida e a morte. É bonito acompanhar a força e a garra que a gente consegue ter nas horas que achamos que vamos desmoronar. E toda a história faz sentido neste ponto. E é lindo, é emocionante chegar ao final, em que temos uma prova de que tudo é possível.

Fora da história do livro, Valéria Piassa Polizzi tem hoje, em 2016, 41 anos, é super adepta da meditação.

Hoje já cuida dos pais, logo ela, que achou que nunca chegaria a este ponto. Ainda aguardo uma continuação de sua história, e espero que em breve ela se anime em nos contar, afinal, são quase 20 anos de espaço para serem preenchidos e muitas mudanças, não só tecnológicas, mas de cabeças, de pensamentos. Depois Daquela Viagem ao seu fim, nos coloca de frente ao preconceito, dentro da cabeça de quem o enfrenta. Simplesmente sensacional.

Abaixo um booktrailler feito por fãs do livro disponibilizado no Youtube que resume bem tudo que eu disse:

 

Para finalizar, segue o blog de Valéria, caso você se interesse em continuar acompanhando sua jornada: http://valeriapiassapolizzi.blogspot.com.br/.

 

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Resenha: Coração Perverso, Leisa Rayven

Elissa Holt tem uma regra quando se trata de relacionamentos: ela não namora atores. Sua bem-sucedida carreira de diretora de palco em Nova York a ensinou que eles não são confiáveis, e isso se comprova quando ela conhece Liam Quinn.Eles tiveram um breve porém intenso romance há seis anos, pouco tempo antes de Liam se mudar para Hollywood, fazer sucesso em grandes produções de cinema e quebrar o coração de Elissa ao começar a namorar Angel Bell, a atriz queridinha da América.Agora o casal do momento está em Nova York para estrelar a peça A megera domada, de Shakespeare, da qual Elissa será, coincidentemente, a diretora de palco. Apesar de o cenário ser completamente diferente, tudo o que aconteceu entre eles – e o que poderia ter acontecido – vem à tona.Mesmo Elissa sabendo que se entregar a Liam de novo poderia gerar uma tragédia, fica claro que o amor e o desejo nem sempre seguem o script…

Antes de começar essa resenha, leia a resenha de Meu Romeu e Minha Julieta.

“Anos atrás, vi um artigo de revista que dizia que todo mundo deveria ter o coração partido ao menos uma vez para se transformar em uma pessoa melhor. Dizia que a dor de perder alguém que se ama faz você aprender sobre si mesma. Desenvolve força e resiliência.”

Coração Perverso é o terceiro livro da série Starcrossed. Nele adentramos de cabeça – e coração – na vida de Elissa Holt, irmã do maravilhoso Ethan Holt. Diferente do irmão, Lissa é diretora de palco e tem uma regra sobre namorar atores, onde a base é NÃO namorar atores. Depois de todos os péssimos relacionamentos dela envolvendo gente que sabe contracenar, nossa queridinha protagonista resolve colocar essa regra em prática na vida e até que ela vai bem, até chegar na sua vida: Liam Fucking Quinn. Que ferra não só com na época, seu presente, mas também com o seu futuro.

Eles se conhecem em uma noite despretensiosa, enquanto ela é empurrada para os braços do garanhão pelo melhor amigo, Josh. E a partir de então, seus dias não são mais os mesmo.

O casal fica em um ”vai, não vai”, devido a insegurança de Elissa. Que é quebrado na última noite de uma peça na qual estão juntos. Só que nessa mesma noite, Lissa descobre que o grande amor da sua vida vai embora para Los Angeles, pois conseguiu um emprego incrível e dos seus sonhos. E seu coração se despedaça.

Mesmo com distância, eles continuam amigos e trocando recados na caixa postal, já que os horários quase nunca batem devido aos seus horários. Até que um dia, bêbado, Liam deixa um recado na caixa postal de Liss se declarando e dizendo que a ama. E preenche o coração da nossa moça do mais puro sentimento e de uma certeza: ela também o ama. Só que quando resolve se declarar, já é tarde demais. Nosso mocinho está comprometido.

“Ele me encara por alguns segundos e, que merda, não acredito que depois de todos esses anos o efeito dele sobre mim não diminuiu. O tempo deveria curar tudo, certo? Bom, ele não ensinou meu coração a parar de desejar um homem que não me quer.”

O livro segue com a mesma técnica de flashback dos dois primeiros, então durante a trama voltamos ao passado de Liss e ao mesmo instante, presenciamos seu presente, que acidentalmente dá um jeito de uni-la com o grande amor de sua vida – isso lembra algo para vocês, como Cassie? – em uma peça, onde ele irá atuar ao lado de ninguém mais, ninguém menos, que sua noiva, Angel. Tendo como diretora de palco, Elissa Holt.

Em meio a esse grande ”acaso” do destino, adentramos em um mundo de intrigas, mentiras, segredos, mas com um toque de amor e acontecimentos de parar nossos corações, dignos de Leisa Reyven.

“ – Eu senti sua falta, Liss. Dói não te ver por todos esses anos, mas isso? Você estar bem aqui e eu não poder ter você? Dói muito mais.”

Mesmo com toda minha resistência, acabei abrindo o coração para Coração Perverso e me encantei tanto quanto com a história do meu otp favorito(Ethan e Cassie). É incrível a forma como a escritora tem um jeito todo dela de contar a história e de me inserir, de uma forma estranha, dentro deste universo dos palcos e do mundo da Broadway.

Coração Perverso foi uma grande surpresa, porque além da história ser sem explicação. Ainda pude estar em contato, mesmo que por poucos momentos, com o meu casal favorito. Nada explica o misto de sentimentos em que meu coração se encontrou ao longo dessas 360 páginas.

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Resenha: Uma Escuridão Bonita, Ondjaki

O medo do escuro talvez seja o primeiro grande desafio da infância. Alguns cientistas afirmam inclusive que esse medo está em nosso DNA desde o início dos tempos. Nós humanos, na ausência de luz, podemos imaginar as coisas mais terríveis quando enganados pelos outros sentidos: sombras que tomam formas de monstros e barulhos estranhos que não nos deixam dormir à noite.
Mas basta crescermos um pouco para a imaginação colocar a escuridão do nosso lado. As sombras que antes assustavam se transformam em brincadeira na parede mais próxima – o que na juventude pode servir para alimentar boas conversas, inventar histórias e realizar encontros mágicos.
Uma escuridão bonita fala da beleza desses encontros. Um casal de jovens aproveita a falta de luz em sua cidade para trocar algumas palavras sobre suas vidas e, assim, se descobrem aos poucos. Uma história escrita pelo premiado escritor angolano Ondjaki sobre as coisas não ditas, mas que acabam por preencher os jovens corações sem medo da ausência de luz.

Semana passada, iniciou-se na minha escola uma longa jornada de Oficinas de Literatura Africana, que durará até esta sexta(19). Como boa apreciadora da literatura e com uma curiosidade sem fim que me domina, é claro que estive presente em todos os encontros até o dia de hoje. Logo no início da oficina, lemos o livro ”Uma Escuridão Bonita” do Ondjaki e a partir deste dia, eu me encantei.

No livro, passamos apenas uma noite de falta de luz ao lado de dois jovens corações, apaixonados, que nos levam aos pensamentos mais lindos e reflexivos. Durante esta noite, narrada pelo menino, ele a dona de seu coração, estão na varanda da casa de sua avó, em um breu graças a falta de luz. E para passar o tempo, conversam sobre vários assuntos, como o motivo pelo qual sua avó é chamada de ”Dezanove”. Ao mesmo tempo em que ele anseia mostrar coisas novas para ela, que para ele preenchem o coração. E entre histórias, contos e declarações de amor, o livro nos leva a grandes reflexões sobre o amor, a vida e o escuro.

”Eu precisava de nuvens cinzentas para me esconder num labirinto de desilusão.”

Além de super reflexivo, o livro traz umas frases lindas e que fazem nossos corações parar por algum segundos. Seja para pensar a respeito, ou simplesmente chorar com tamanho aperto que é causado graças ao impacto das mesmas. Sem contar as ilustrações que são lindas e nos fazem adentrar ainda mais no momento da história.

Este é um livro que por mais pequeno que seja, não tem como ser lido em algumas horinhas, afinal, precisa de tempo para deixar que as belas palavras de Ondjaki adentre seu coração e perfure as pedras que há nele, ou simplesmente deixe que jorre uma correnteza dos seus olhos.

Há coisas que entram pelos nossos olhos e chegam aos nossos corações sem palavras de explicação.”

Você pode encontrar o livro na Livraria Cultura.

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Resenha: Eternos, Neil Gaiman & John Romita Jr.

“Criados pelos seres conhecidos como Celestiais, os Eternos são imortais, dotados de poderes incalculáveis. Eles existem há milhares de anos. Já observaram civilizações surgirem e desaparecerem. Como é possível ninguém se recordar deles? Para um homem em particular, contudo – o estudante de medicina Mark Curry –, a resposta dessa pergunta mudará seu mundo de formas que ele jamais poderia imaginar.”

Quando Jack Kirby retornou a Marvel em 1975, a comunidade dos quadrinhos ficara bastante empolgada. Ele retornava trazendo de volta seu estilo clássico e inconfundível a tipos como Capitão América e Pantera Negra. Além de trabalhar com personagens que ajudara a criar 15 anos antes. Acima disso tudo ele anunciou um título novo, algo diferente de tudo que a Marvel estava fazendo na época: Os Eternos.

O grande interesse por “antigos astronautas” foi o que deu origem a premissa de Os Eternos. Uma teoria de que seres interestelares podem ter visitado a terra há milhares de anos e terem sido confundidos pelo homem primitivo com “deuses”, talvez até mesmo interferindo de algum modo na evolução humana.

Trinta anos após o lançamento de Os Eternos, o editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, abordou Neil Gaiman para revitalizar os personagens e integrá-los ao novo Universo Marvel. Gaiman, que já era um grande fã da série original, aceitou a proposta sem pensar duas vezes. Ao lado de John Romita Jr., Gaiman reinventou de forma majestosa Os Eternos, os traços de Romita não deixam nada a desejar, sua interpretação de objetos místicos e tecnologicamente avançados são certeiros, trazendo a mesma pegada usada em “Thor: Em Busca dos Deuses”.

Em uma cama de hospital, o estudante de medicina Mark Curry tira um cochilo de seu dia a dia frenético. Mas tem tido sonhos intrigantes, criaturas estranhas o carregam, mas ele é sempre salvo por alguém misterioso e poderoso. O estudante acorda, lava o rosto e é surpreendido por um homem, ele pergunta para Mark o que ele diria caso soubesse que perdeu a memória, e que na verdade tem cerca de meio milhão de anos e poderes com os quais jamais sonhou. Curry o ignora, como qualquer pessoa sã o faria, mas fica com a sensação de já conhecer o homem que o abordara.

Eternals01page03_04Mark retorna para casa, mas é seguido pelo homem misterioso, que tenta mais uma vez fazê-lo lembrar de quem era. Não obtêm sucesso, mas deixa Curry com a pulga atrás da orelha. O homem misterioso parte, e para a surpresa de Mark, pulando de prédio em prédio. O homem sabe que deve recobrar as memórias de Curry, e precisa conversar ainda mais com o estudante. Assim ele se retira, sobe no topo de um prédio e contata uma aliada, Thena, de repente é surpreendido por dois agentes misteriosos que o interrompem. Uma luta frenética se desenrola, querem capturá-lo, em meio a luta uma granada cai e por conta de sua explosão o homem é derrotado pelos agentes.

A explosão é tratada como um ato terrorista, e dela existe apenas um sobrevivente, o homem misterioso. Ele é levado para o hospital onde Mark Curry trabalha, o estudando logo fica surpreso ao perceber que ele sobrevivera. De certa forma, está agora disposto a ouvir ao que o homem tem a dizer, se Mark vai acreditar ou não, depende do que ouvirá, mas uma coisa é certa, um novo mundo se abrirá diante de Mark Curry.

Os Eternos foi revigorado graças a Gaiman e Romita Jr., e integrado de forma espetacular ao novo Universo Marvel. A renovação de uma história que se diferenciava de tudo feito na época, não foi um trabalho fácil, mas definitivamente se superaram. O roteiro cria um clima de suspense desde a primeira página, que se estende até as grandes revelações, com cenas de ação bem executadas e incríveis, sem deixar de lado heróis conhecidos, como o Homem de Ferro, Vespa e Jaqueta Amarela. Recomendado a todos, principalmente para aqueles que desejam conhecer um lado mais Sci-fiMarvel.

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Resenha: A mais pura verdade, Dan Gemeinhart

Esperança – ou a falta dela – é o ponto principal desse livro instigante do Dan Gemeinhart. A mais pura verdade nos conta a história de Mark e seu cão Beau, que partem de casa em busca de escalar a montanha Rainier, onde Mark pretende morrer.

No decorrer do livro somos apresentados a cativante história de Mark e sua luta, diagnosticado desde muito novo com a câncer, tendo a esperança lhe sendo dada e tomada a cada nova etapa do tratamento, e no decorrer do tratamento como esse todos podemos nos sentir sozinhos e desamparados.

Mas muito além desse tema denso, A mais pura verdade é um livro divertido e cativante, e por se tratar de um livro narrado em primeira pessoa, sabemos tudo o que se passa com Mark. De várias maneiras Mark é um personagem divertido, sarcástico e espirituoso, e mesmo nos seus momentos mais tenebrosos ele pode contar com Beau para lhe acalmar.

Os capítulos de Mark são intercalados com os capítulos narrados pela sua melhor amiga Jessie, o que é um contraponto interessante as aventuras de Mark, pois mostra como as coisas estão em sua casa e como todos estão reagindo e em busca de encontra-lo.

Com relação a narrativa, é um livre bem simples, sem grandes técnicas, porém coerente com seus personagens. Acaba sendo um livro leve, cativante e com uma interessante mensagem. Amor, esperança redenção e amizade são temas tocados nesse livro e no fim você acaba percebendo que Mark, com todos os seus problemas, nada mais é que uma criança normal.

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Resenha: A Realidade Devia Ser Proibida, de Maria Clara Drummond

A Realidade Devia Ser Proibida, de Maria Clara Drummond conta a história de Eva, uma ruiva que tenta se enquadrar nos padrões de beleza por pressão da mãe, que é fanática por aparências e que insiste para a filha esconder suas imperfeições.  Quando sua mãe viaja, ela passa a morar com o pai, que se casou com outra mulher após uma separação complicada, e assim, é como se uma porta de liberdade se abrisse para a moça.

Um dos melhores momentos da história é quando somos apresentados ao melhor amigo de Eva, Manoel. Melhor amigo gay, é preciso enfatizar. Ele a leva para o centro da cidade e para festas de música eletrônicas, e Eva se encanta por um jovem cineasta chamado David, que já tem prêmios internacionais e é bem conhecido no ciclo social. Por conhecerem os mesmos autores e ter uma conversa muito agradável, a química fica instaurada e está claro que um romance nasceria dali. Mas não. E é aí que começa as aventuras na vida tão desinteressante da ruivinha. Decepções amorosas, bebedeiras, uso de drogas e arrependimentos. Muitos arrependimentos.

E é mágico. É real. É como nos apaixonamos pelo que imaginamos. O inexistente. Sabe aquela música da Sandy, que diz “eu me apaixonei pelo que eu inventei de você“? Então. É a partir daí que Eva ganha profundidade. Daí pra frente, ela se torna interessante. Ao menos, me vi completamente nela. A moça ganha atitude, ganha vida. Faltava um baque para que ela viesse á vida.

Leitura rápida, são cerca de 100 páginas apenas, e acredite, a leitura se alonga se você para parar refletir sobre sua vida ao longo dos trancos e barrancos da história de Eva. Num grande geral, parece que a autora Maria Clara Drummond juntou alguns elementos essenciais de Gossip Girl, The OC e Rebelde (!), bateu no liquidificador e adicionou uma essência de “pobre menina rica” e chegamos ao resultado final, que é muito bom para se ler numa tacada só. Reflexivo, mas não chocante. A capa chama muito a atenção, talvez pelas cores escolhidas e pelo efeito que ela causa pessoalmente. Perfeito para incluí-lo em alguma maratona de leitura.

 

 

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Resenha: Bonsai, Alejandro Zambra

“NO FINAL ELA MORRE E ELE FICA SOZINHO”. É desta forma que Bonsai de Alejandro Zambra se inicia, e marca uma das mais interessantes características desse livro, a intensidade de sua narrativa.

Alejandro Zambra é um poeta e escritor chileno, nascido em 1975 e Bonsai, seu primeiro romance, foi traduzido na França, Itália, Holanda, China, Israel, entre outros. Zambra também foi eleito pela revista Granta como um dos vinte e dois melhores jovens escritores hispano-americanos. Curiosamente Zambra em seu tempo livre cultiva bonsais.

O Livro narra fins e começos, histórias paralelas e intercaladas sobre dois amantes, Júlio e Emília. Essa narrativa se faz através de um narrador onisciente que entende seus personagens e desde o início já sabe o destino de todos. O amor, o sexo, as amizades e os caminhos que vida nos leva a tomar são marcas nesse livro que nos faz a cada momento pensar se não nos encontramos em alguma daquelas etapas da vida.

Apesar de ser uma narrativa bastante direta – trata-se de um livro curto –, ela de modo algum é parca de personalidade ou repleta de clichês, muito pelo contrário o narrador se mostra bastante sarcástico e repleto de referências a outros autores, contemporâneos ou clássicos. Não obstante talvez esse seja o maior trunfo de Bonsai, ele se desenrola como se a história nos fosse contada em uma mesa de bar, a história de algum conhecido nosso de juventude que por acaso se torna o assunto da mesa.

Ao fim, chegamos à conclusão de que Júlio e Emília partilham as nossas histórias pessoais bem como a de nossos amigos, personagens ordinários e cotidianos e no fim talvez todos sejamos algum personagem secundário ou principal da história de alguém.

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Resenha: Thor – Contos de Asgard, Stan Lee & Jack Kirby

“Contemple, corajoso aventureiro, o fabuloso reino de Asgard, lar de milhares de mitos e lendas que inspiraram e arrebataram a humanidade por séculos. Agora você pode descobrir esses incríveis contos por si mesmo, recontados à inconfundível e magnipotente moda Marvel pelos superastros dos quadrinhos Stan Lee e Jack Kirby.”

Apesar de uma grande parcela das primeiras aventuras de Thor se passarem na Terra, as origens dos mitos nórdicos sempre estiveram presente, especialmente na forma dos esquemas maquiavélicos de seu irmão, Loki. Mas a partir de Journey Into Mystery 97, Lee e Kirby realmente começam a explorar o potencial narrativo da mítica história de Thor numa tira secundária de cinco páginas, chamada apenas de Contos de Asgard.

No decorrer das 49 edições a dupla trabalhou para dar vida a antiga mitologia nórdica. Das origens dos Nove Reinos ao apocalipse inevitável chamado Ragnarok. Uma grande parte das lendas foram apresentadas pela Marvel de uma maneira magnífica. Em uma época em que Hollywood levava a grandeza épica para as telas do cinema, com Ben-Hur e Cleópatra, Lee e Kirby fizeram o mesmo com os quadrinhos.

Contos de Asgard se dá início com o surgimento do primeiro dos Aesir, Bori, aquele que viria a ser o avô de Odin, filho de Borr. A história retrata como Odin e seus dois irmãos criaram um anel em torno da Terra, possibilitando que a árvore mágica Yggdrasill crescesse e espalhasse seus ramos pelo mundo, protegendo-o enquanto aguardava a vinda do homem.

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Enquanto os humanos ainda estavam por vir, Odin liderou as forças asgardianas contra os gigantes de Gelo, que ameaçavam Asgard dia e noite. Ele enfrentou batalhas duras ao lado de seus irmãos, e eventualmente encontrou a chance de enfrentar Ymir, o rei dos gigantes de gelo. Em um duelo impressionante, que chegava a partir montanhas e a rasgar os chãos, Odin derrota o gigante de gelo, aprisionando-o nas cáusticas flamas das profundezas. A história segue, contando como Odin derrota o demônio de fogo, Surtur. E também é apresentado a infância de Thor até sua fase adulta, terminando em uma grande batalha no Ragnarok.

O jeito único de escrever de Stan Lee, faz com que Contos de Asgard se tornasse um grande clássico, os diálogos épicos e as intrigas entre Thor e Loki ficam ainda mais evidente, inclusive a origem dessa inveja milenar entre irmãos. Vemos um jovem Deus do Trovão enfrentando vários desafios, com a intenção de um dia ser digno o suficiente para erguer o martelo Mjolnir. Conhecemos também muitas figuras do universo de Thor, que compõem seu círculo de amizades em Asgard. Uma leitura agradável e épica que certamente agradará fãs e afins.

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RESENHA: CORDILHEIRA, DANIEL GALERA

Moderno e contemporâneo, Cordilheira, de Daniel Galera, nos pega por ser um livro extremamente atual, mas deixando algumas particularidades modernas de lado, nos envolvendo como num romance que se passa há 20 ou 30 anos – e não me refiro apenas a ausência de telefones e celulares nos pontos chaves da trama, mas ao fato dos envolvidos estarem muito bem sem eles.

Conta-se a história de Anita, uma escritora de um único sucesso que renega o seu livro e prefere se manter longe da literatura. Em São Paulo, duas de suas melhores amigas tentam se matar – e uma delas consegue – e querendo se manter longe dessa negatividade e querendo dar uma mudança na sua vida, ela aproveita o lançamento tardio de seu livro na Argentina e decide largar tudo, ficando de vez em Buenos Aires. Antes de partir, a moça termina com o namoro de dois anos porque o namorado não tem intenção de ter filhos tão cedo, e essa passa a ser uma necessidade de vida ou morte para a jovem, que sente que se tornar mãe vai dar uma guinada e sentido para sua vida.

Precisamos ser sinceros em certo ponto: não tem como se morrer de amores por Anita enquanto ela está em São Paulo: ela nos é apresentada como fútil, arrogante, mesquinha e até egoísta. Do momento em que ela põe os pés em Buenos Aires, parece que somos apresentados a uma nova mulher: segura, sombria e determinada. Quando conhece o jovem José Holden, um grande fã de seu trabalho, a ex-autora começa a viver a grande aventura pela qual sua vida pedia, e fascinada, passam a morar juntos. O grande foco do livro é que tanto Holden quanto seus amigos estão interessados em Magnólia, personagem principal do romance da autora paulista, e não nela própria, e é neste ponto que este romance bem peculiar começa.

Cordilheira explora o limite da realidade e ficção e nos convida a pensar o que leva um escritor a falar sobre os assuntos que estão em seus livros, onde está o limite da arte com a vida. Terceiro lugar no prêmio Jabuti foi o penúltimo livro de Daniel Galera, anterior a Barba Ensopada de Sangue, e mantém as suas peculiaridades de detalhar bem o cenário em que se contam os fatos narrados, fazendo uma introdução muito bem feita não apenas do ambiente, como dos personagens. Breve, sombrio e bastante envolvente.

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Resenha: Felicidade Clandestina, Clarice Lispector

Felicidade Clandestina é um compilado de 25 contos (maravilhosos, diga-se de passagem) da Clarice Lispector. Com estorias carregadas de subjetividade a autora insere o leitor sutilmente em discussões sobre a existência humana, amadurecimento e família a partir de conceitos simples como um ovo.

Contando com alguns contos simples e tocantes e outros extremamente densos, o livro é recheado de felizes surpresas e fará com que você pare e reflita. Clarice, como de costume em suas obras, se utiliza de uma profunda descrição psicológica de suas personagens o que contribui para o desenvolvimento perfeito do enredo.

No conto homônimo ao titulo do livro nos é apresentada uma garotinha apaixonada por literatura, que ao decorrer da narrativa se vê numa situação de humilhação por parte da filha do livreiro que lhe prometera emprestar uma obra de Machado de Assis. Sabendo que a garotinha faria de tudo para ter esse livro em mãos ela inicia, nas palavras da autora, uma tortura chinesa. É nesse ponto em que vemos o lado reflexivo da autora, como o livro em mãos a garota conclui.

[…]Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. […] Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

E assim ao decorrer do livro é perceptível a noção de clandestino, de não pertencer  e muita das vezes retratar uma felicidade que não aconteceu para a personagem ou uma felicidade passageira e por mais curta que seja, ainda assim clandestina. Livro extremamente curto e ainda assim de uma profundidade digna de Clarice, ótima pedida para marinheiros de primeira viagem nesse mar de emoções que são suas obras.