Meu grito de revolta é este. Esse pequeno texto que o faço sem mais nem menos, sem programação mental ou roteiro pré-estabelecido. É apenas isso que me vem, resultado de dias com falta de ar, produto de toda uma vida sem alegria ou motivação. Minha revolta pensada por eras, tenho medo de quase tudo. De ter, de perder, de conquistar, de fazer, lutar, ir contra a maré, esperar, tenho medo disto tudo e muito mais. Ah, mas não se sabe o tamanho do medo, ninguém conhece seus medos, fingimos conhecer, mas é pura hipocrisia, só se sabe o medo no momento em que ele é exigido. A vida para e fala: E agora, José? E você tem que correr para provar o contrário, dizer que é forte e inabalável, manter as aparências. É mentira. É falsidade. É uma enxurrada de desastres nesta tentativa de ser dono de si. Certo dia escutei uma bela canção, de Caetano, da Bahia, bela como o dia chegando ao fim entre São Lourenço da Mata e o comecinho do Recife. Um Índio, é o título da canção. E nela Caetano, filho de Canô e irmão de Bethânia, fala: “Virá que eu vi, apaixonadamente como Peri”. Ele fala isto do índio, mas fico me perguntando, que Peri? Que infeliz música é essa Caetano, que fala de aberração, plenitude e fim do mundo. VIRÁ, O Índio virá. E fico nesta, sem saber o que a música fala, mesmo tendo em mente o significado de cada verso, mas a mente acusa e diz: Não, você não sabe dizer o que está escrito ali. É coisa grande. Gonzaguinha falara “Coisa mais maior que grande”. Belo álbum por sinal. Esse texto é inútil, é uma mensagem subliminar para pessoas, para bichos e lugares, mas com toda a certeza não chegará até eles. Minha revolta aumenta a partir daí. Que vontade de descontar nas paredes, nas janelas, explodir e amaldiçoar o mundo inteiro com palavras fortes e nutridas de ódio. Mas não podemos, certo? O que será de mim, ser temente e fiel a um Deus soberano. Pois bem, Deus, vamos conversar. O que faço em momentos como este? Como lido com colapsos e vontades sanguinárias de vingança? Me diga, Deus, pois nem tão cedo terei essa resposta facilmente. Ah, esqueci que o senhor não gosta das coisas fáceis. Vai trabalhar, vagabundo. O Índio virá. Tudo me causa ânsia de vômito. Erro de português (principalmente os meus), pessoa que fala demais, homofobia, calor, zunido de lâmpada, cantor que não desafina, criança sem curiosidade, filme sem fim, série boa cancelada, guerra mundial. Tudo isso me é a gota d’água. Ah, traição. A pior de todas, ai está, é a traição, independente da forma. Tudo isso me incomoda e me deixa a ponto de se transformar em dois, apenas para a cópia dizer: Te cala. Mas é algo fora, algo bem longe do que sou e do que somos, é algo que vem de cima, desse Deus que admira as dificuldades. Porque? Pra que? Vem de lá do alto essa história de conhecer a si mesmo e conhecer a verdade. Eventos sobrenaturais. Mesas que giram, já observara Kardec. Quanto trabalho, não foi, Kardec. Quantas tarefas Deus te deu e você venceu, Allan, meus parabéns, pela codificação, pelo pseudônimo e pela paciência. Gigantesca paciência. Me revolto só de pensar em como as coisas são difíceis, isso causa uma preguiça tão imensa que me causa raiva. Raiva e ódio. Palavras que combinam perfeitamente com amor e solidão. Pausa. Peço uma pausa se quer. Consegui descobrir o motivo disso tudo e ele está incrustado em cada frase. Mil desculpas, Deus, pela blasfêmia e pela incredulidade, são motivos que não devem lhe incomodar. Chulos, desnecessários, idiotas e inúteis para o progresso. Consegui oferecer uma resposta temporária para a minha pergunta, mas ate quando ficarei satisfeito com ela? Ouço lá no fundo um piano, Nina Simone o comanda, ela canta Sinnerman, não canta, derrama sobre toda a plateia. A plateia sou eu, Miss Simone, apenas eu e ninguém mais. Essa é a resposta, por hora, eu e ninguém mais.
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