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Letícia Prochnow

Colunas

Como lidar com a tal da bolha social?

Essa semana decidi ir à revistaria. Não sei exatamente o porquê dessa decisão repentina. Umas semanas atrás, vários textos e artigos sobre a tal da bolha social explodiram e eu não pude deixar de pensar o quanto isso me pegou de jeito, desprevenida mesmo, sem aviso. Eu estava lá, navegando no Facebook, compartilhando meus memes sobre nosso bom presidente Temer, lendo algumas pautas feministas e comentando no posts dos meus colegas de rede social. Até que de repente “BANG!”, aparece a manchete, ironicamente me questionando enquanto eu a questionava: você está dentro de uma bolha social? E a resposta sempre será sim. Não tem como você negar, o ser humano é, no final das contas, imperfeito e seletivo.

Se você não sabe do que eu estou falando, clica aqui ou tenta entender a explicação de uma leiga sobre o assunto (que inclusive é objeto importante de estudo da psicologia e computação cognitiva): nós estamos, na maior parte inconscientemente, homogeneizando intelectualmente nosso meio social. A verdade é que isso não é de todo ruim e com certeza se intensificou dentro das relações humanas com o advento da tecnologia, que possibilitou a entrada dos softwares de Inteligência Artificial no nosso dia-a-dia. O Google prevê os tipos de pesquisas que faremos a partir de dados coletados de cookies, sites, mensagens de e-mail e vídeos no youtube. O Facebook programa o nosso feed de notícias para que apareçam apenas postagens que podem nos interessar e amigos com quem você tem mais contato dentro da rede. O Waze consegue definir nossas rotas para o começo do dia sem nem mesmo termos tocado no telefone e colocado o endereço. Até mesmo os meus artigos do Medium são escolhidos de acordo com meus interesses específicos e desse modo eu fico num loop de informação que não contrasta nem se contesta.  É padronização.

Mas como disse Carlos Drummond de Andrade no seu poema “Igual-Desigual”:

“todas as histórias em quadrinho são iguais.

Todos os filmes norte-americanos são iguais.

Todos os filmes de todos os países são iguais.

Todos os best-sellers são iguais.

Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são

iguais.

Todos os partidos políticos

são iguais.

Todas as mulheres que andam na moda

são iguais.

[…]

Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.

Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou

coisa.

Não é igual a nada.

Todo ser humano é um estranho

ímpar.”

Todo ser humano é um estranho, ímpar, diferente. Nenhum é igual a outro homem. Ele é coletivo, heterogêneo e diverso. Só falta estourar a bolha e procurar por algo além das próprias convicções. Isso é muito difícil, a gente sabe. Provavelmente a tecnologia nunca vai estar a seu favor. Mas você sempre pode ir em uma revistaria e comprar um jornal ou uma revista sobre política e cultura. Você vai ser confrontado por opiniões distintas sobre assuntos diversos e encontrar uma disparidade de pensamento dentro de você mesmo. E é por isso que somos estranhos ímpares, porque não nos entendemos completamente.

Cheguei na banca e pedi para o moço me ver o que tinha de bom para esse mês. E um quadrinho, porque ninguém é de ferro.

Colunas

21/03/1960: O massacre de Shaperville

Dia 21 de Março de 1960. Joanesburgo, capital da África do Sul. O apartheid reinava no território africano e veladamente por toda a extensão do globo. As leis repressivas eram criadas pela minoria branca a fim de segregar negros e brancos. Uma delas era a Lei do Passe, citada pela primeira vez em 1945 e obrigava negros a portarem uma caderneta onde estavam escritos os lugares que estes podiam frequentar. E assim seguiam, não entravam em bairros brancos, nem em cafeterias de brancos, nem em ônibus de gente branca, nem em nada, porque o mundo era de gente branca, governado por gente branca e ditado por brancos. Mas aí, no bairro de Shaperville, 20 mil negros resolveram protestar para mudar a situação. Foi um massacre, matou e feriu centenas de manifestantes. E hoje, 57 anos depois do episódio, não mudou muita coisa.

Jovens negros inocentes baleados pela polícia esquecidos por todo mundo. É tão comum que chega um momento que você toma aquilo por normal. Só acontece. Que tal pensar sobre os seus privilégios hoje? Por eles, os que foram escravizados, segregados e humilhados por tanto tempo, e ainda são. Nós, brancos, não somos culpados pela escravidão ou por tudo aquilo que começou bem pequenininho durante o neocolonialismo do século XIX, mas carregamos todas as consequências desses acontecimentos. No Brasil, somos minoria populacional e ainda assim somos maioria em universidades, escolas particulares e no meio científico. Já parou para pensar que talvez o mundo seja assim por falta de oportunidade? Tudo isso dentro de um sistema estruturalmente racista, que continuamente perpetua essa situação perversa.

Não por coincidência, vários filmes e documentários abordam o tema de maneiras diferentes e perspectivas diversas. Em 2016, a Netflix lançou o longa “13th”, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2017. Com um roteiro e direção sensacionais, o filme argumenta que a escravidão continua viva dentro do sistema carcerário americano, o maior do mundo, que afeta desproporcionalmente a população negra nos EUA.

Mesmo sendo abolida em 1865 através da 13ª emenda da constituição, a escravidão ainda teve espaço legal dentro do sistema prisional americano. Essa cláusula, que permite o uso de força involuntária como punição para crimes, vem sendo utilizada em campanhas políticas nacionais, como é o caso da guerra contra as drogas de Richard Nixon, que pesava muito mais sobre a comunidade minoritária negra das cidades estadunidenses. A conclusão chega a ser óbvia: o complexo carcerário se tornou uma indústria lucrativa e é um grande aliado do sistema discriminatório dos Estados Unidos.

Ainda, o vencedor do Oscar 2017 de melhor filme, “Moonlight” é atual e ousado, tratando sobre homofobia dentro da comunidade negra. O longa é contado em três partes e narra a busca de um jovem por sua identidade no meio social intolerante no qual vive. É, sobretudo, uma história de libertação e quebra muitos tabus modernos. A visão paradigmática de que o jovem negro é da rua, do futebol e da heterossexualidade, conceitos propagados também pelo próprio grupo étnico. Os três momentos da narrativa, “Little”; “Chiron” e “Black” são progressivos e abordam de maneira envolvente os estágios de aceitação pelas quais o personagem principal precisa passar.

Um queridinho do público, “Histórias Cruzadas”, aborda a história de empregadas domésticas que conseguem a ajuda de uma jornalista para escrever um livro e denunciar o racismo que sofriam em suas jornadas de trabalho. O filme foi baseado no livro “The Help” e vai além da biografia dessas mulheres marcantes, contextualizando toda uma época de terror dentro da comunidade negra no Mississipi.

A narrativa começa em 1963, ano em que Medgar Evers, ativista do movimento dos Direitos Civis foi morto por supremacistas brancos da Klu Klux Klan. Os depoimentos das empregadas revelam a humilhação e o descaso com o qual eram tratadas, mesmo cuidando dos filhos de mulheres brancas por anos e ganhando um quinto do salário mínimo da época. Ademais, o filme tem uma preocupação em mostrar, também, a imensa desigualdade de gênero existente na década de 60.

Além destas, várias outras obras merecem ser citadas.

  •  “I am not your negro”: Documentário narrado por Samuel L. Jackson que explora a história do racismo nos Estados Unidos por meio das figuras de liderança do movimento dos direitos civis Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King Jr. 
  • “Menino 23: Infâncias perdidas no Brasil”: Documentário do brasileiro Belisário Franca, acompanha a pesquisa do historiador Sidney Aguilar, que descobriu que, durante os anos 1930, 50 meninos negros foram levados de um orfanato no Rio de Janeiro para uma fazenda no interior de São Paulo, onde foram submetidos a trabalho escravo e identificados por números.
  • “O.J.: Made in America”: O documentário, produzido pela ESPN e dividido em episódios, conta a história da tensão racial dentro dos EUA  através de uma das figuras mais polêmicas do país, Orenthal James Simpson, astro de futebol americano. Ganhador do Oscar de melhor documentário em 2017.
  • “A boneca e o silêncio”: Curta-metragem de Carol Rodrigues que acompanha a jornada penosa de uma menina de 14 anos depois de ter decidido interromper a gravidez. Segundo a diretora, o objetivo era mostrar uma visão diferente do aborto no Brasil, que atinge significativamente a população negra e pobre no Brasil.
  • “12 anos de escravidão”: O filme narra a história real de Solomon Northup, negro livre que em 1841 foi sequestrado e vendido como escravo, condição na qual permaneceu por 12 anos. É baseado no livro de mesmo nome.

Depois dessa lista de filmes, não tem como reclamar da falta de conteúdo para entender a abrangência e importância do assunto. Por isso, vamos deixar o orgulho de lado e observar o quão importante são, por exemplo, as ações afirmativas que encontramos pelo Brasil, o dia nacional da consciência negra e as leis que protegem uma minoria há tempos prejudicada.

 

Colunas

5 livros e filmes sobre a luta contra o câncer

No dia mundial da luta contra o câncer (04/02), o Beco decidiu fazer uma matéria para homenagear e lembrar de todas as vítimas da doença que enfrentam essa batalha diariamente. Para isso, escolhemos 5 filmes e livros que nos dão um gostinho do que é estar na pele deles e revelam o mais íntimo de uma pessoa que se encontra nessa situação, desde o modo como ela lida com seus sonhos, com a esquisitice da adolescência e como as pessoas ao seu redor reagem.

50%

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“50/50” foi escrito por Will Reiser, que foi diagnosticado com um tumor espinhal quando tinha 24 anos. Seth Rogen, que interpreta o melhor amigo de Adam, Kyle, é um amigo próximo de Reiser na vida real, e o filme é baseado no que aconteceu com sua amizade após o diagnóstico. A história segue a vida de Adam, um escritor de rádio que no auge de sua juventude que é diagnosticado com câncer. O filme nos ajuda a entender todos os passos de uma vítima da doença, como seus relacionamentos são afetados por elas e o mais importante, como ajudam na recuperação do otimismo frente a possibilidade de morrer.

Eu, você e a garota que vai morrer

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Tudo isso pode soar horrendamente clichê, mas o filme é atencioso e repleto de humor mordaz e de câmeras enérgicas, com uma inteligência peculiar ao retratar a vida de uma adolescente com leuemia. O filme é, principalmente, sobre a relação entre um adolescente obcecado por filmes clássicos chamado Greg e sua vizinha Rachel, que foi diagnosticada com câncer estágio IV. A mãe de Greg obriga o garoto a fazer visitas regulares a amiga de infância como forma de consolar a menina. Com o tempo, o que antes era um fardo, se torna uma bela amizade. Este é um filme divertido e comovente sobre amizade e superação.

Cartas para Deus

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Tyler Doherty é um garoto extraordinário de oito anos. Cercado por uma família e por uma comunidade cheias de amor, ele encara uma batalha diária contra o câncer. Para Tyler, Deus é um companheiro, um professor e um grande amigo por correspondência – as orações de Tyler são feitas em forma de cartas que ele escreve e envia diariamente. As cartas chegam às mãos de Brady McDaniels, um carteiro que decide responder as cartas do menino. Esse filme é baseado em uma história real e ensina o poder da família em horas como essa.

Uma prova de amor

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Ana é uma garotinha que já nasceu com o propósito de salvar a vida de sua irmã Kate, que tem um tipo de câncer muito grave desde que nasceu. Portanto, Ana é uma doadora compatível e desde que nasceu seus pais a usaram para prover o necessário para sua irmã.  Agora Kate precisará de um transplante de rim e Ana sabe que, se o fizer, sua vida será limitada.  E se não o fizer, sua irmã morrerá. Esse filme traz uma reflexão importante não apenas sobre como a família reage a doença, mas também trata de uma maneira sutil a relação vital entre as duas irmãs.

Garota das nove perucas

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Câncer não é usualmente relacionado ao humor. Mas nesse filme o cômico é parte predominante do roteiro. Contado de maneira leve e em tom de comédia suave, o filme aborda a reação de Sophie Ritter e de sua família e amigos com a notícia de que ela tem uma forma rara de tumor cancerígeno no pulmão. A partir de então, ela começa um tratamento pesado de quimioterapia. O tom cômico com o qual é contado a história faz a experiência de Sophie parecer muito mais leve e interessante. Quando seu cabelo começa a cair, a garota compra perucas diferentes e utiliza um nome diferente para cada dia que irá usar elas. Mais que uma maneira de se livrar da dor desse processo, transforma a vida em um palco de surpresas e permite que ela sinta cada vez mais vontade de existir.

A culpa é das estrelas

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Com esse livro, você pode esperar rir, chorar e se divertir de maneiras diferentes. Escrito por John Green, a história segue a vida de Hazel Grace, uma adolescente que foi diagnosticada com câncer de pulmão e atende a um grupo de apoio. Lá ela conhece um garoto chamado Augustus Waters, um menino charmoso que já teve osteosarcoma, uma forma rara de câncer de osso, mas recentemente tinha se recuperado. A partir de então, o relacionamento entre os dois deslancha e os dois vivenciam uma montanha-russa de emoções e experiências incríveis. Se você gosta de livros para jovens adultos cheios de humor e eventos espetaculares, este livro é perfeito para você.

Um amor para recordar

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Nesse livro, Landon Carter narra a história de seu último ano no final dos anos 1950 em Beaufort High, Carolina do Norte, quando ele se apaixona pela primeira vez. Uma garota tranqüila que sempre carregava uma Bíblia com seus livros escolares, Jamie parecia satisfeita vivendo em um mundo à parte dos outros adolescentes. Enquanto isso, Landon era um adolescente popular que nunca sonhara em pedir a menina para sair. No entanto, o destino faz com que os dois deslanchem em um relacionamento comovente e apaixonado, que continua forte mesmo após Landon descobrir que Jamie foi diagnosticada com um câncer terminal.

A mais pura verdade

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Em todos os sentidos que interessam, Mark é uma criança normal. Ele tem um cachorro chamado Beau e uma grande amiga, Jessie. Ele gosta de fotografar e de escrever haicais em seu caderno. Seu sonho é um dia escalar uma montanha. Mark está doente. O tipo de doença da qual algumas pessoas nunca melhoram. Então, Mark foge. Ele sai de casa com sua máquina fotográfica, seu caderno, seu cachorro e um plano. Um plano para alcançar o topo do Monte Rainier. Nem que seja a última coisa que ele faça. Durante toda a história acompanhamos a jornada do pequeno Mark rumo à montanha. Presenciamos todas as dificuldades em que ele passa, e nosso coração aperta, dói, acelera e as vezes quase para.

Como viver eternamente

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Sam vai morrer e decide escrever um livro a respeito de sua situação. O livro, que é também um scrapbook, uma coleção de listas e recortes. No entanto, o livro não fala da morte, mas da vida. Não fala do fim, mas da eternidade. Fala sobre a alegria de viver e do sentido da vida enquanto ela dura. Como viver eternamente termina com o testamento de Sam e pode ser lido também como um livro de auto-ajuda. A escrita da autora é simples como a de um menino e, exatamente por esse motivo, o livro pode ser lido de maneira muito ágil. Em suma, ele transforma os que estão ao redor, tanto dentro quanto fora do livro, e não pela pena gerada por sua condição mas pela naturalidade com a qual ele lida com a situação.

A Estrela Que Nunca Vai Se Apagar

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A estrela que nunca vai se apagar é uma biografia única, que reúne trechos de diários, textos de ficção, cartas e desenhos de Esther. Fotografias e relatos da família e de amigos ajudam a contar a história dessa menina inteligente, astuta e encantadora cujo carisma e força inspiraram o aclamado autor John Green a dedicar a ela sua obra best-seller A culpa é das estrelas. Lembrando que a história da Esther é bem diferente, muito mais complicada, dolorida e com muito menos romance.

Atualizações

Primeira imagem do filme “Oito mulheres e um segredo” é divulgada

A Warner Bros divulgou online a primeira imagem do esperado filme “Oito mulheres e um segredo”, faltando 18 meses para sua estreia nos cinemas. Como visto na imagem, o Spin-off da franquia Ocean’s Eleven traz um elenco totalmente feminino repleto de atrizes premiadas.

Os looks despojados das personagens no metrô têm um proposito, como explica a sinopse publicada juntamente com a foto. A gangue planeja e executa um assalto em Nova York durante a celebração do Met Gala, evento que acontece no Museu Metropolitano de Arte. A ganhadora do Oscar Sandra Bullock ocupa o papel principal como Debbie Ocean – o que alimenta a teoria de que ela estará interpretando a irmã de Danny ocean, personagem principal da trilogia interpretado por George Clooney. Com ela, estão as ganhadoras do Oscar Cate Blanchett e Anne Hathaway, Mindy Kaling, Sarah Paulson, Awkwafina, com Rihanna e a atriz indicada ao Oscar Helena Bonham Carter. A direção fica por conta de Gary Ross (Jogos Vorazes), com fotografia de Eigil Bryld (In bruges) e trilha sonora composta por Nicholas Pritell (A Grande Aposta).

A data de estreia do longa está marcado para 8 de Junho de 2018, verão concorrido em que também será lançado Transformers 6. O filme é uma grande aposta para o próximo ano e diferentemente de Ghostbusters, tem uma fanbase que parece abraçar a versão feminina da franquia, que representa, também, uma importante diversidade de gênero dentro do cinema hollywoodiano.

 

Livros, Resenhas

Resenha: Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, J.K. Rowling

O universo de Harry Potter é tão grande quanto você imagina. Além da saga do famoso bruxo ser retratada em sete livros muito queridos, temos ainda diversas histórias extras publicadas no Pottermore, uma linha temporal alternativa em ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ e agora os fãs foram presenteados também com o roteiro de uma peça teatral dentro do mesmo universo: ‘Harry Potter e a Criança Amaldiçoada’. O novo livro, porém, não é um romance e sim um roteiro escrito por Jack Thorne, que se baseou na história original de J. K. Rowling para reviver o mundo da magia. 

Rowling concluiu a série Harry Potter mostrando Harry e sua esposa, Gina, dizendo adeus a seu segundo filho, Albus Severus, na plataforma de King’s Cross em seu primeiro ano em Hogwarts. Parecia um final definitivo e duradouro, mas é nesse exato momento que essa nova história toma partido. O roteiro segue Albus Severus Potter e Scorpius Malfoy, dois jovens que tentam encontrar o seu lugar em Hogwarts e o mundo a maneira como seus pais, Harry e Draco, fizeram antes deles. Albus já sabe que não é engenhoso como seu pai. Primeiramente, o chapéu seletor o manda para a Sonserina, diferentemente da queridinha de Hogwarts, Grifinória. Ele não é bom em quadribol, nem tão sagaz nas aulas de feitiço e ainda, seu melhor amigo é filho de um Malfoy, o que torna tudo mais irônico.

O enredo tem uma trama que inclui um novo vilão, a volta do dispositivo mágico vira-tempo (erradicados do universo mágico de Rowling desde o Prisioneiro de Azkaban) e várias escolhas que levam os meninos de volta para o passado de Harry, permitindo Rowling reescrever suas próprias histórias, coisa que ela parecia tão interessada em fazer desde o sétimo livro, Relíquias da Morte. A história, porém, é menos sobre reescrever o passado e mais focada em como os acontecimentos do passado podem alterar o futuro.

Por ser escrito na forma de roteiro, demora um pouco mais para a história chamar a atenção do leitor. Os elementos teatrais de palco, apesar de divertidos e distrativos, são vagos demais e deixam muito a desejar na descrição do cenário e personagens. Sem os atores performando, algumas personagens nunca antes estabelecidas dentro do universo parecem incompletas.

Embora Thorne tente recriar o cenário dos antigos livros, as 352 páginas parecem ser uma tentativa desesperada de vender bilhetes por meio de reviravoltas que tornam a trama fraca e pouco original. No entanto, esse fan-service que Rowling inclui de maneira exacerbada no enredo força a narrativa a tomar um curso inesperado. Assim como você, ela se pergunta o que teria acontecido se Voldemort tivesse vencido ou se um personagem tivesse sobrevivido no lugar de algum outro. Muito rapidamente você se lembra que ela adora esses contos e personagens tanto quanto você, e torna-se muito mais gostoso aproveitar o ar nostálgico que a história proporciona. O ar completamente saudosista presente em boa parte do roteiro parece ser a melhor maneira de introduzir essa nova geração de bruxos.

Apesar de seus defeitos, é muito provável que ‘Harry Potter e a Criança Amaldiçoada‘ encante os fãs da saga de maneira carismática. Revisitar os personagens e conhecer a geração de bruxos que – provavelmente – protagonizarão as próximas histórias é um ótimo jeito de matar as saudades dessa história tão emblemática e fascinante que é Harry Potter.

Filmes

Saiu o trailer da 3ª temporada de Black Mirror!

A aclamada série Black Mirror teve seu primeiro trailer da 3ª temporada divulgado hoje. Originalmente, o seriado pertencia a emissora de TV britânica Channel 4, mas um acordo feito entre a Netflix e o criador Charlie Brooker transferiu os direitos para o serviço de demanda.

Conhecida por abordar situações distópicas que relacionam temas contemporâneos ao comportamento humano, a série ganhará seis episódios inéditos produzidos pela plataforma de straming no dia 21 de outubro. Segue abaixo a lista de episódios já divulgados:

1. “San Junipero”, com Gugu Mbatha-Raw e Mackenzie Davis. Direção: Owen Harris.

2. “Shut Up and Dance”, com Jerome Flynn e Alex Lawther. Direção: James Watkins.

3. “Nosedive”, com Bryce Dallas Howard, Alice Eve e James Norton. Direção: Joe Wright.

4. “Men Against Fire”, com Michael Kelly, Malachi Kirby e Madeline Brewer. Direção: Jakob Verbruggen.

5. “Hated in the Nation”, com Kelly MacDonald. Direção: James Hawes.

6. “Playtest”, com Wyatt Russel e Hannah John-Kamen. Direção: Dan Trachtenberg.

Imagem de divulgação

       Imagem de divulgação

Filmes

Crítica de cinema: Bruxa de Blair (2016)

A temática do terror juntamente da técnica de found footage, que consiste na gravação de um filme passando-se por documentário com uma câmera menos sofisticada, traz diversas possibilidades de inovação e uso de recursos alternativos. Desde seu auge nos anos 90, tem sido utilizado em diversos filmes de sucesso, como Atividade Paranormal e REC. Isso nos leva a 2016, com o lançamento de Bruxa de Blair, continuação do primeiro filme lançado em 1999.

A Bruxa de Blair é um dos marcos do cinema. Além de inovar o gênero de found footage, a estratégia brilhante de produção e marketing o tornou um dos filmes mais importantes do cinema dos anos 90 e o longa independente lucrou milhões mundo afora. Seguindo praticamente a mesma premissa de seu antecessor, um grupo de jovens decide retornar à floresta de Black Hills para descobrir a verdade sobre o mito que cerca a cidade de Burkittsville.

A diferença está no fato disso ser consequência direta dos acontecimentos do primeiro filme, onde acompanhamos James (James Allen McCune), irmão da protagonista do original, organizar essa expedição para descobrir a verdade sobre o que aconteceu na noite do desaparecimento de sua irmã. A partir daí, observamos uma estrutura narrativa quase que inalterada, com algumas atualizações tecnológicas e novos rostos.

O roteiro está bem amarrado, mas peca nas viradas previsíveis e momentos de tensão quase inexistentes. Ademais, a aposta nos arquétipos de personagens já batidos torna a construção de alguns muito superficiais e não é possível se apegar a nenhum deles, o que impossibilita a conexão do espectador com o medo e o desconforto das personagens em cena. As únicas figuras que provocaram algum tipo de mistério e curiosidade foram Lane e Talia, cidadãos locais de Burkittsville que guiavam a expedição pela floresta.

Apesar da ótima direção de Adam Winagrd, que utilizou todo o potencial das novas câmeras para fazer cenas de ação mais concretas, o filme se prende aos tradicionais jump scares e sustos fáceis que geralmente não têm nenhuma conexão com algo sobrenatural, vide portas batendo e janelas rangendo. Ainda assim, a criação de uma atmosfera de horror, com a câmera apontando para o desconhecido e os sons da floresta amplificados salva alguns momentos.

No fim das contas, o longa não provoca no espectador aquilo que esperava e mostra o quão desgastado o gênero se tornou ao longo dos anos. O impacto definitivamente não se equipara e o torna puramente comercial e pouco ousado.

https://www.youtube.com/watch?v=IHZ_WyVCSCc

Resenhas

Resenha: Contra a perfeição, Michael Sandel

Vivemos na era das modificações e melhoramentos genéticos. Novos avanços e descobertas permitiram que a área da Bioengenharia se desenvolvesse ao ponto de pais e mães decidirem todas as características de seus filhos mesmo antes de nascerem e atletas melhorarem seus corpos para organismos super humanos. Mas como isso altera os conceitos éticos e morais dos indivíduos? É sobre isso que Michael J. Sandel discute em seu livro “Contra a perfeição: ética na era engenharia genética” (160 pgs., R$39,90, Grupo Editorial Record). Em que ponto as promessas da engenharia genética se transformam em dilemas morais?  

Michael J. Sandel é um escritor, filósofo e professor que em suas obras procura debater questões polêmicas e contestar conceitos contemporâneos como Justiça e Moral. Nesse livro os argumentos são usados em questões éticas pautadas na relação do ser humano com os dilemas morais consequentes da busca pelo aperfeiçoamento da espécie. Dividido em cinco capítulos, a obra é fruto de estudos e principalmente da participação do autor no Conselho de Bioética criado por George W. Bush em 2001.

Somos apresentados a vários casos de escolhas genéticas controversas que nos levam a pensar se a decisão de modificar um feto para que ele nasça de acordo com as características desejadas pelos pais ou até o que há exatamente de errado em clonar um ente querido já falecido. O que está em discussão é, de fato, o que nos leva a ter essa sensação de desconforto com a ideia de predeterminar características físicas e mentais de uma criança que ainda não nasceu.

Segundo o autor, a biotecnologia está se desenvolvendo a ponto do melhoramento muscular, de memória, a escolha do sexo, altura e cor dos olhos serem opções de consumo rotineiro. Apesar das melhorias genéticas começarem como uma maneira de prevenir ou abolir um determinado distúrbio genético ou doença, está sendo usado como maneira de melhorar a espécie. Dessa maneira, a humanidade vai acabar por articular seus conceitos morais a fim de se adaptar a esse mundo de evoluções precoces proporcionado pela bioengenharia.

Com uma linguagem simples e questões complexas, o autor consegue nos prender em suas ideias e refletir acerca do assunto de maneira instigante. É essencial a todos aqueles que se interessam pelas questões sociais e desafios da ciência nos dias atuais.

Filmes

5 curtas-metragens brasileiros disponíveis no Vimeo

Rua das Túlipas (2008)

O curta de apenas 10 minutos foi produzido pela Escola de Cinema OZI em 2007 e dirigido por Alê Camargo. A trama acompanha Paulino, um cientista e professor que procura encontrar soluções para todos os moradores da Rua das Túlipas, onde também reside. A animação tem qualidade técnica impecável, com uma sonoplastia mágica e um roteiro encantador e comovente, ressaltando a importância de perseguir os seus sonhos.

Vídeo: https://vimeo.com/38788397

 

O que lembro, tenho (2012)

Um dos destaque do Festival Internacional de Curta-Metragens de São Paulo, o filme de 20 minutos dirigido por Rafhael Barbosa retrata os sintomas da demência em uma idosa de forma melancólica e naturalmente espontânea. Maria vive em um apartamento aos cuidados da filha Joana, cenário sóbrio e de grande carga emocional. Os cortes e imagens cuidadosamente escolhidas pelo diretor fazem dessa obra uma emocionante experiência audiovisual.

Vídeo: https://vimeo.com/83916899

 

Sonhando passarinhos (2011)

Esse curta de 10 minutos dirigido pela Bruna Carolli pode colocar um sorriso no seu rosto. Com uma direção linda e sensível, passamos a ver o mundo através dos olhos de uma menininha que sonha em ter seus próprios passarinhos. Tramando com seu bicho de pelúcia Splash, ela busca entender qual o segredo desses pequenos animais e como conquistá-los. Os detalhes poéticos e pequenos recortes animados fazem dessa uma obra espetacular em seus pequenos ensinamentos.

Vídeo: https://vimeo.com/50707716

 

Rua das árvores (2013)

O documentários dirigido por Alice Jardim salva Maceió do esquecimento e da banalidade. A narrativa poética desenvolvida a partir de memórias de uma moradora da região revive a casa abandonada da Rua Ladislau Neto, mais conhecida como Rua das Árvores. Utilizando diversos enquadramentos, a idosa narra sua experiência de vida na casa como forma de manter a memória social e arquitetônica da cidade.

Vídeo: https://vimeo.com/81931962

 

A valsa do pódio (2013)

O documentário, dirigido por Bruno Cameiro e Daniel Hanai, retrata a dupla Terezinha Guilhermina e Guilherme Santana. Terezinha tem um problema de visão chamado retinose pigmentar, e praticamente não enxerga. Ela e Guilherme são velocistas e correm atados por um velcro nos pulsos, de forma que Guilherme pode guiá-la enquanto ela usa uma venda nos olhos. Em 2012, nos jogos paraolímpicos de Londres, confirmou sua posição de corredora com deficiência visual mais rápida do mundo e conquistou duas medalhas de ouro para o atletismo no Brasil. Querendo trazer para essa história uma visão mais poética e mostrar essa história para o mundo, o curta vem como uma forma de demonstrar a garra e perseverança que ainda corre nas veias dos atletas paraolímpicos brasileiros.

Vídeo: https://vimeo.com/92857047

 

Resenhas

Resenha: Os Assassinos do Cartão-Postal, James Patterson

Para quem é apaixonado por histórias com muita ação e suspense, presta atenção nessa resenha de Os Assassinos do Cartão-Postal. Esse é o terceiro livro do autor James Patterson, que também deu origem a Bruxos e Bruxas e O beijo da Morte. A obra, lançada em 2014, foi escrita junto da autora sueca Liza Marklund e consegue facilmente fisgar os amantes de romance policial. 

A obra tem três núcleos narrativos distintos. Primeiramente somos apresentados ao casal Sylvia e Mac Rudolph, dois estudantes de arte provocativos e tremendamente atraentes. Eles viajam por toda a Europa assassinando jovens apaixonados. A marca dos criminosos é o envio de cartões-postais para jornais da cidade antes e após os assassinatos, sendo, portanto, denominados de Assassinos do Cartão-Postal.

Depois dos serial killers, acompanhamos a trajetória do policial Jacob Kanon, da divisão de homicídios do Departamento de Polícia de Nova York. O detetive está em Berlim à procura do mesmo casal que, anos antes, assassinara sua filha Kimmy. Desde então, ele está em uma busca obsessiva pelos dois.

E finalmente, conhecemos a jornalista  Dessie Larsson. Em Estocolmo, ela recebe um estranho cartão-postal com uma frase de Shakespeare. Esse incidente faz a personagem ingressar em uma investigação policial alucinante para encontrar os mesmos assassinos. Jacob e ela se cruzam em um momento da história e acabam por unir forças na caça aos criminosos.

Com uma sinopse dessa é impossível não se interessar. Apesar de bem construída, o autor deixou algumas pontas soltas que parecem propositais e instigam o leitor a pensar um pouco mais sobre o que realmente aconteceu. O leitor será levado a tirar suas próprias conclusões ao decorrer da historia, as provas são convincentes, mas os álibis também.

Essa alternância entre os personagens nos proporciona uma intimidade maior com cada um deles e deixa a leitura bem mais dinâmica e menos cansativa. Desde a relação entre o casal até o desespero de Jacob por justiça durante cada descoberta. Fora que o toque de nos mostrar a visão dos assassinos torna tudo muito mais interessante e sangrento, inovando totalmente ao descrever a mente doente dos dois assassinos e na descrição das cenas de crime.

Com capítulos curtíssimos, as páginas voam pelos dedos e a trama não deixa de ser clara desde o início, sendo possível terminar a leitura tranquilamente em alguns dias. Salvo o final, apreciei muito os sentimentos que a obra conseguiu despertar em mim, uma mistura de pânico e adrenalina. Com todos esses elementos, Os Assassinos do Cartão-Postal se torna definitivamente um dos livros