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Mariana Mendes

Atualizações, Livros, Resenhas

Resenha: O Cavaleiro dos Sete Reinos, George R.R. Martin

Os livros das Crônicas de Gelo e Fogo, que deram vida a Game of Thrones, são histórias incríveis, mas o enredo da série não honra toda complexidade criada por George R.R. Martin. As aventuras de Dunk e Egg são histórias abordadas nos livros mais conhecidos, mas Martin escreveu contos previamente sobre os personagens no livro O Cavaleiro dos Sete Reinos.

Os contos O Cavaleiro Andante, A Espada Juramentada e o O Cavaleiro Misterioso acontecem 90 anos antes de Ned Stark, Daenerys Targaryen e Jon Snow. O cavaleiro andante Sor Duncan, o Alto vai a um torneio de justas alguns anos após uma das maiores rebeliões contra o reinado já vista, a Primeira Rebelião Blackfyre. No caminho, Dunk encontra o que seria o futuro Rei Aegon V ainda criança e sem saber sua identidade, o adota como escudeiro.

O Cavaleiro Andante é o começo de Dunk como um cavaleiro com responsabilidades. No torneio de Vaufreixo, onde os príncipes reais se encontram com a plebe mais simples, o cavaleiro tenta sobreviver não só nas justas, mas em muitas outras confusões que ele se mete.

Em A Espada Juramentada, a relação dos personagens está claramente mais forte, quando Dunk está servindo Lorde Osgrey. Quando ele entra em conflito com sua vizinha, a Senhora Viúva Vermelha, muitas questões sobre a Rebelião Blackfyre vem à tona.

No último conto, O Cavaleiro Misterioso, Dunk e Egg estão planejando ir para Norte, porém encontram misteriosos cavaleiros e lordes que estão indo para o torneio de Alvasparedes. Aceitando a proposta dos homens, Dunk e Egg só vão perceber que eles entraram em um ninho de traidores tarde demais.

Além da linguagem menos complexa dos contos, os personagens principais e sua relação é parte mais apaixonante da história. Há inocência em Dunk e Egg no começo, e de acordo com a seriedade dos acontecimentos em que eles estão envolvidos, os personagens evoluem muito ao longo da história.

A amizade de Dunk e Egg – que perdura a vida inteira, com Dunk se tornando cavaleiro da Guarda Real – é adorável e traz muitos momentos de risos na leitura.

O interessante do Cavaleiro dos Sete Reinos são as pessoas quase insignificantes no contexto de Westeros, mas que trazem muitas informações sobre os bastidores dos Sete Reinos. É contado sobre estrutura medieval de vassalagem principalmente no conto A Espada Juramentada, a normalidade dos torneios de justas no primeiro e no último conto, a realidade de pessoas com pequenas opções para ganhar a vida naquele universo.

Se você é fã da série e não tem tempo para toda a saga das Crônicas de Gelo e Fogo, esta é uma boa opção para conhecer mais sobre o mundo de Westeros.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Aniquilação – Complexo e Belo (2018)

Aniquilação conta a história da bióloga Lane (Natalie Portman). Seu marido, Kane (Oscar Isaac), é o único a voltar vivo após um ano ter embarcado em uma missão secreta do governo americano. A expedição envolvia uma dimensão alienígena chamada Área X. Para salvar o marido, Lane se junta a mais quatro cientistas para adentrar “O Brilho” e descobrir seus mistérios.

O filme estreou 12 de março na Netflix Brasil, escrito e dirigido por Alex Garland, com a obra baseada no livro de mesmo nome, do escritor Jeff VanderMeer. Aniquilação mistura ficção científica, ação e filosofia na mesma produção, resultando em uma obra surpreendente.

A parte de ficção científica é muito bem elaborada pelo diretor Alex Garland, do aclamado Ex Machina. Este outro mundo é composto de misteriosa atmosfera capaz de misturar DNAs e transformar a vida que conhecemos em algo extraordinário. Além de colorido e fascinante, os conflitos enfrentados pelas personagens são de caráter psicológicos, o que encaixa o filme em uma categoria de suspense/ terror também.

As atuações são ótimas, mas com personagens unidimensionais, as acompanhantes de Lane, interpretadas por Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Jennifer Jason Leigh e Tuva Novotny não são perfeitamente aproveitadas. Natalie Portman, entretanto, entrega uma performance incrível para o projeto apresentado. O último ato do filme é complexo, cheio de minúcias referentes a profundidade do roteiro, com cenas filosóficas e difíceis, e Portman consegue carregar a lentidão filosófica das cenas com destreza.

Visualmente o filme seria perfeito para o cinema e foi até cogitado para ser lançado nas telonas. Entretanto, o projeto foi vendido para a Netflix, com um dos maiores porquês o fato do filme ser muito intelectual e complicado de entender.

Contando a história de forma propositalmente lenta, Garland inclui com alguns flashes forwards reveladores, mas que podem confundir o espectador. Mesmo assim, a proposta do filme é labiríntica e Garland traduz esse mundo e a história muito bem.

Como outros trabalhos do diretor, é nas entrelinhas em que o tema existencial humano norteia. A história sem uma resposta concreta é a intenção de Garland, e torna o filme memoravelmente perturbador quando acaba.

Fenômenos internacionais na Netflix
Fenômenos internacionais na Netflix
Colunas, Filmes

Fenômenos internacionais na Netflix

Podemos atribuir à Netflix uma das maiores causas do nosso tempo “perdido” assistindo séries e filmes. Depois da chegada do streaming, a facilidade para consumir produções audiovisuais aumentou demasiadamente. Com o sucesso, a empresa começou a investir em obras originais. Isso se tornou um proveito não apenas lucrativo para a Netflix, mas como espaço de representatividade que Hollywood e seus canais tradicionais não permitiam.

O fácil acesso junto o investimento fez com que mais séries internacionais entrassem para o nosso catálogo. Apresentando outras realidades, diferentes linguagens e novos talentos, algumas séries se destacaram neste último ano. Três sucessos incríveis que assisti recentemente foram Dark, La Casa de Papel e As Telefonistas.

Provavelmente a mais famosa das três, La Casa de Papel é um suspense original da Espanha criada por Álex Pina para um canal televisivo do país e foi lançada na Netflix em 25 de dezembro de 2017. Quase imediato a sua estreia na plataforma, o sucesso veio alavancando séries famosas. Nada se falava além de La Casa de Papel.

Curiosamente, a série foi inicialmente lançada em 15 episódios de 70 minutos, porém a Netflix decidiu separá-los em duas temporadas com episódios de menor duração, a primeira com 13 capítulos, com a chegada dos seis restantes prevista para 06/04.

Fica claro com essas séries as impressionantes narrativas e direções que apenas acreditamos existir em produções hollywoodianas. Assim como as outras duas séries citadas aqui, temos enredos fechados e bem escritos e atuações de tirar o folego de atores desconhecidos que marcam muito mais a universo audiovisual do que qualquer outra série americana.

Além disso, saber que existem séries com pessoas que falam a mesma língua que a sua, diretores de sua terra natal, cria um sentimento de identificação muito maior dentro das narrativas.

Dark, minha favorita das três, é um suspense de ficção científica distribuída pela Netflix, de origem alemã, com 10 episódios de aproximadamente uma hora. Ela se destaca por ter um tema conhecido, porém é tratado de um modo como nada visto na televisão. Ademais, a fotografia e as atuações dos jovens atores superam suas comparações como Stranger Things.

Outro fenômeno da Netflix vai ter sua continuação em 2018. As Telefonistas (do original Las Chicas del Cable) se passa nos anos 1920, e traz a histórias de quatro mulheres lutando pela liberdade que este novo trabalho – de telefonista – pode trazer como forma de revolução na vida social delas. As temáticas apresentadas de maneira moderna, nos faz refletir sobre como a luta feminina é de muitos anos, com aspectos que ainda não foram mudados.

Com essa leva de investimentos internacionais, só podemos esperar cada vez mais séries de alta qualidade e representatividade. Assim, aspiramos que as produções brasileiras futuras sejam inclusas e dadas o valor merecido tanto quanto outras séries.

Atualizações, Críticas de Cinema

Crítica: Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017)

A premissa de Três Anúncios para um Crime já é incômodo e indigesto. Ao saber o que está escrito nos outdoors colocados pela protagonista Mildred Hayes (Frances McDormand), o filme embrulha o estômago desde o começo. E assim prossegue suas duas horas de produção.

A obra conta a história de Mildred que teve sua filha estuprada e assassinada, quando sete meses passados não há nenhum indício de evolução do caso pela polícia, liderado pelo xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson), da pequena cidade conservadora de Ebbing, Missouri. A raiva e a dor de uma mãe frustrada, que também é uma mulher forte, sem piegas, executada com maestria por McDormand, é o que faz o filme apaixonante e obscuro.

Completando o elenco incrível com o sem escrúpulos e racista policial Jason Dixon (Sam Rocwell), o filme trata todo o drama com um humor negro, te fazendo rir em momentos inadequados. Assim, o diretor Martin McDonagh se destaca por contar uma história onde o ódio não é a solução, muito menos uma explicação para os preconceitos apresentados no filme. Assim, ódio, ressentimento e redenção são as três palavras para definir a obra.

E McDonagh conta a história de um modo diferente já visto, apresentando a loucura, mas também momentos de vulnerabilidade em todos os personagens. Um grande exemplo disso é o tratamento de Mildred com os animais, quando em uma das primeiras cenas, ela ajuda um besouro ao reorientá-lo. Isso torna a jornada do espectador muito mais interessante, pois ao mesmo tempo, o filme te leva a odiar e amar os protagonistas.

Entretanto, a redenção de Dixon sem nenhum tipo de justiça incomoda. Além disso, com a atual situação política nos Estados Unidos, contra o porte de armas e a violência, tornam o final questionável. Ainda assim, McDonagh completa a obra sem focar especificamente no crime e sim, nas conseqüências dele e todo o sofrimento que o persegue, revelando uma essência original e digna de Oscar.