J.K. Rowling repete sua fórmula em mundos diferentes, isso é ótimo. Para aqueles que conseguiram ler cada página da série “Cormoran Strike” e no momento da leitura compararam o detetive ao bruxo Alastor Moody de Harry Potter, eis a The Epic Battle desta semana. Um duelo incansável entre Alastor’s e Cormoran’s. Uma ligação entre dois mundos.
Seria muita ousadia minha afirmar que Alastor Moody nasceu em Londres e lá foi criado, sendo assim irei ser ousado a tal ponto. Digamos que o pequeno Moody correu sobre as ruas de pedra de Londres do século XX, que sentiu a brisa do Tâmisa tocar seu rosto infantil, que em algum dia ensolarado fez referência a Rainha que por acaso seguira um trajeto igual ao seu. Ou poderia ser Alastor uma criança nascida na Cornualha. Sim, ele seria o ideal cidadão cornualês. Eles poderiam ser primos. Ou até mesmo melhores amigos, Alastor e Cormoran, o pequeno Cormoran. Maior que qualquer outro menino de sua turma, calado e robusto. No fim, Moody e Strike poderiam ser irmãos, ou filhos de pais diferentes, mas da mesma mãe.
Criemos uma ponte, entre o mundo da magia e o mundo trouxa movido a mistérios e mortes. Nessa ponte andariam “Moodies” e “Strikes”, e não notaríamos a diferença entre tais se não fosse o cabelo loiro de um e o crespo e negro do outro. J.K. Rowling escreveu dois personagens semelhantes em diversos aspectos. A personalidade do auror abarca a maioria das atitudes tomadas pelo detetive particular. A forma rancorosa, fechada e com sérios problemas a serem resolvidos em sua psique faz de Alastor Moody e Cormoran Strike primos distantes, ou nem tanto assim.
As semelhanças começam quando ambos apresentam uma prótese ao invés da perna. Cormoran perdera a perna na guerra, assim como Moody perdera a sua em um conflito com Comensais da Morte. Ambos carregam cicatrizes por todo o corpo (e na mente). O perfil forte é marca dos dois. Moody e Strike vivem em um mundo restrito, ninguém entra e quem entrou não consegue sair. Definitivamente os dois não esquecem amores, adversários, intrigas.
A motivação para combater os problemas é idêntica nos dois. Em “O Bicho-da-Seda”, Cormoran só aceita o caso de Leonora Quine por que foi com sua cara, por seu perfil sofrido e sua forma de falar. Moody, mesmo com uma pele de leão, apresenta uma ovelha em seu interior. Os dois, trouxa e bruxo, são movidos pela emoção que não demonstram possuir. É típico dos “caras valentes” tentar combater qualquer traço emotivo e sempre usar métodos práticos frente as dificuldades. Vigilância constante, falara Alastor, e assim seguirá Strike. Vigilância constante em ambos os mundos. Vigilância constante, diz o detetive, diz o auror. Joanne brinca com seus personagens, e em sua brincadeira deixa qualquer leitor confuso e satisfeito. Satisfeito por ser confuso e no fim desvendar enigmas. As palavras da fundadora de Hogwarts transpassam Pagford, Londres, Hogsmead, todos os mundos que um dia ousar usar como plano de fundo.
Se por acaso você der uma passada em Londres, uma casual passada, poderá ver um Moody, ou um Strike andando ao seu lado. Com um charuto na mão ou uma dose de whisky. Com uma varinha ou uma bengala para se apoiar, pois naquele momento o seu lado amputado sente falta da fatídica perna. Londres reserva milhares de personagens parecidos e singulares ao mesmo tempo. Londres nos presenteia a cada esquina com um mistério, com uma casa onde não deveria existir lar algum, com passagens para outro mundo, com as melhores histórias que qualquer leitor deseja um dia poder fitar.