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The Epic Battle: Eu não sou daqui

Eu não sou daqui
Eu não tenho amor
Eu sou da Bahia
De são salvador

Marinheiro Só – Caetano Veloso

Vou lhe dar muitas justificativas para essa frase. “Eu não sou daqui”. Garanto, você, que vive nos livros, já desatinou diversas vezes, perdeu o controle do tempo e espaço e se viu em outro mundo, em outro ambiente, em uma sociedade muito diferente desta. Meu feed vive atormentado por essa febre, de querer viver em algo que há muito passara. Vídeos dos anos 60, 70, 80, textos de escritores que nem sonhavam em avistar o século XXI, tudo isso compartilhado por adolescentes, em uma faixa de dezessete, dezoito anos, afirmo com toda convicção sobre os dados pois faço parte deles. Olhamos para o passado saudosamente, avistamos os grandes festivais que esse país já proporcionou boquiabertos, vemos Charles Aznavour fazer o que nenhum cantor faz nos dias de hoje sobre um palco. Será mesmo, que com todos esses costumes que nos rodeiam de décadas passadas, será que com nosso ideal já difundido e muitas vezes batido, ainda permanecemos nesse trecho de tempo? Será que não somos diferentes? Melhores? Piores?

Vou tentar pegar um recorte de tempo. 1967, 1968, por ai, surgia o Tropicalismo, uma junção de tudo que era passado para ser modelo de um futuro que pessoas e mais pessoas idealizavam ser perfeito. Mas que curioso, esses somos nós neste exato momento, nos perdemos imaginando como seria se ainda tivéssemos uma Elis ou se fossemos os primeiros da fila para assistir “The Sound of Music” enquanto tentamos transformar esse presente em passado e o passado, junto ao presente, em futuro. Brincamos de modificar a cronologia, nossa cronologia mental, transformando tradicional e clássico em atual, moderno em desnecessário, antigo em novo e novo em mais um. Certo, existem as exceções, ainda toleramos algo aqui ou ali, mas eu digo, não somos daqui. Não somos dessa parte do tempo que vê Elsa, nós ainda assistimos Mulan, não, não escutamos sertanejo universitário, ou funk, acordamos todos os dias ouvindo Novos Baianos ou Beatles. Acabou chorare, ficou tudo lindo, cantarolamos horas e horas. Não lemos Meyer, imagina, nós somos discípulos assíduos de Hugo, o Victor de France. Somos o diferente, o novo, o diferencial no meio da multidão.

Nos achamos melhores que eles, não nos achamos? Claro que sim. Deixa eu contar outra história.

Eu não curto essa coisa toda de ficar ouvindo cantor que já morreu bem antes que eu nascesse, não, aquele ritmo de Elvis misturado com Nina seja lá quem for não me agrada, como alguém consegue ouvir aquilo? Me diz! Prefiro ler meu feed horas e horas do que me enfurnar nesses livros rebuscados. Um Jogos Vorazes aqui, um Divergente ali, esses são bons, tem ação, romance, sangue. Nada desse lenga lenga de oitocentas páginas. Faça-me o favor, eu tenho mais o que fazer. Coisa de velho, sério, coisa de antiquado metido a sabichão. Nós é que vivemos, que temos olhos para o futuro. Não me sinto parte desse grupo fanáticos por poeira e preto/branco, eles que morram junto com seus artistas. De overdose, pois me parece bem comum. Não, não sou daqui, sou de muito além. Sou melhor? Pior?

Uma crônica melhor que essa. Vem comigo.

Conheço um cara, amigo meu, lê de tudo, porque como ele sempre diz: “Tudo é literatura”. Mas ele também já me disse, nem tudo que é literatura realmente é bom, mas se é ruim não deixa necessarimente de ser literatura. Alguém trabalhou naquilo, muito ou pouco, não se sabe, mas ali está, pronto para ser avaliado. O mesmo ele fala da música, antiga, nova, tanta coisa boa já foi feita, mas também cada absurdo já fomos obrigados a ouvir. E os filmes, ah, os filmes, ele tem dia que se perde na netflix, não sabe se termina aquele de 40 ou se vê um lançamento. Ser acrônico, ele dizia, seria tão mais fácil. Mas ele não gostava de tudo isso, de ter que gostar de tal coisa ou não gostar, ele queria ver de tudo, ouvir de tudo, no final, concluiu que nunca se encaixaria nesses polos, não, ele mesmo me disse: “Eu não sou daqui”.

Você, é de onde? Aposto que não seria de onde estou, pois você não sabe, ou sabe? Não, você olha para o chão e não se encontra, tate-a as paredes, mas paredes não existem. Procura uma reta, um segmento, uma lasca de passado ou futuro, pois tem que se prender a algo, tem que ser por ser, ter porque todos tem, se você não tiver, quem serás no meio de tantos e tantos. Tu procura ser uma parcela de cada, preencher as lacunas, para no final, ser melhor que todos, pois possuis as qualidades de cada, um leviatã intelectual, uma remontagem das divisões, mas te garanto, quando chegar no fim do túnel e achar que uma longa estrada te espera, veras, é um beco sem saída. E no momento de deixar que o grito de touchdown corra desenfreado, você irá parar, pensar e dizer: “Porra, eu não sou daqui.”

 

 

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