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The Epic Battle: E foi como, Ariano? Me conta!

Em julho, que tarda, mas chega, o escritor que marcara não só a história do Nordeste, mas de todo o continente, completa um ano de sua morte. Ariano Suassuna, com alma pernambucana, nascença paraibana e tomado por inspirações e raízes seculares, escrevera peças diversas, ensaios perdeu-se o número, mas a “The Epic Battle” de hoje não destacará as obras de Suassuna, muito menos seu histórico. Exploraremos a ideologia Armorial. O país, abarcado de problemas, bem antes de 64, vivia naquele instante uma Ditadura Militar. Fora em 1970 que Ariano Suassuna, junto a Universidade Federal de Pernambuco, dera início a um movimento que rasgara época e ainda hoje persiste nas mãos dos mais conservadores, ou até mesmo liberais no sentido cultural. Nas palavras do líder:

 

A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo romanceiro relacionados.

 

Acredito que se estivesse vivo e se o acaso levasse esta coluna até o dramaturgo, o mesmo faria uma de suas caretas típicas, olharia para seu assistente e resmungaria: “suma com isso”. Só o título já espantaria Suassuna, seu bloqueio a todo material estrangeiro era notável. A língua, os costumes, para o mestre não se misturava Brasil com nenhuma outra nacionalidade. O Nordeste puro ganhava mais força, ascenderia como sonhara Antônio com sua Canudos. Até o fim da “The Epic Battle” desta semana você decidirá: “Ser ufanista ou derrubar as fronteiras?”.

O baque do Maracatu, o toque da rabeca, o zunido do pífano, a pancada do ganzá, cada um junto a sua singularidade. A voz rouca de um astro pop, sua performance em palco, a soltura de conceitos. Pergunto-me, ou pergunto-lhe, e se existisse meio termo? Se pudéssemos apreciar uma ciranda e minutos após cantar Beatles?. Se não fosse pecado aderir à moda folk e ao mesmo tempo ler o empoeirado livro nacional? Quem se aventura neste espaço é Renata, a escritora carioca que já nos presenteara com “A Arma Escarlate” e “A Comissão Chapeleira”, ambos ambientados em território brasileiro mas com traços britânicos, uma mistura que deu certo, pois culturas existem para isso, para compartilharem pontos de vistas.

Só imaginemos uma redoma caindo em toda extensão territorial do Brasil, mentalize que estamos isolados de todo o globo, ignore as condições alimentícias e sociais, só pense no cultural. Que belo seria ouvir os sinos tocando em Olinda ao amanhecer, o soar das igrejas forradas do mais antigo ouro. Captar o ecoar da música vinda de Parintins, ser Garantido ou Caprichoso uma vez na vida. Descer até os tambores baianos, pisar o solo que senhores e escravos pisaram. Visitar as Minas que movimentaram o Império e a Primeira República, virar a noite em rodas de samba, o contagiante samba de raiz, escutar, como se fosse ao seu lado, o toque brando de um violão vindo de Goiânia, beber, ou melhor, apreciar, o falado chimarrão. Em toda sua extensão, o Brasil abarca tantos povos, tantas falas, então também imagine que por motivos superiores esta redoma partiu do modo que veio, sem aviso prévio e levou com ela toda a inibição que o brasileiro tem em conhecer sua cultura. Resgatou o prazer das congadas, das festas juninas, do carnaval de rua, da música popular feita para o seu povo que por não incentivo a despreza. A redoma partiria e aprenderíamos a conviver com o externo, sem precisar desvalorizar o cotidiano, vice-versa.  Observando o firmamento, ainda vivo, escutando o sacode de um tocador conterrâneo junto a uma guitarra afiada, Ariano cochilaria sem tirar nem pôr, e você curioso para saber de tudo e mais um pouco perguntaria: “E foi como, Ariano? Me conta!”. O mestre, acordando do sono leve, responderia com o sorriso brando que sempre preservara: “Rapaz, só sei que foi assim.”

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