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Resenha: Feitiço, Sarah Pinborough

Você se lembra da história da Cinderela, com sua linda fada madrinha, suas irmãs feias e um príncipe encantado? Então esqueça essa história, pois nesta releitura de Sarah Pinborough ninguém é o que parece. Em um reino próximo, a realeza anuncia um baile que encontrará uma noiva para o príncipe e parece que o desejo de Cinderela irá ganhar aliados peculiares para ser realizado. Contudo, não será fácil: ela não é a aposta de sua família para esse casamento real, e sua fada madrinha precisa de um favorzinho em troca de transformar essa pobre coitada em uma diva real. Enquanto isso, parece que Lilith não está muito contente com os últimos acontecimentos e, ao mesmo tempo em que seu reino parece sucumbir ao frio, ela resolve usar sua magia para satisfazer suas vontades.Feitiço é o segundo volume da trilogia iniciada com Veneno, um best-seller inglês clássico e moderno ao mesmo tempo em que recria as personagens mais famosas dos irmãos Grimm com personalidade forte, uma queda por aventuras e, eventualmente, uma sina por encrencas. Princesas, rainhas, reis, caçadores e criaturas da floresta: não acredite na inocência de nenhum deles!

A Saga Encantadas é uma trilogia, o primeiro volume, Veneno, está centrado na história de Branca de Neve e sua madrasta e já foi publicado aqui no Beco. Já Feitiço, conta a história de Cinderela e retoma a trama onde o livro anterior parou, porém em outro reino, com outro foco, mas trazendo personagens de Veneno, vou falar melhor sobre isso mais tarde.

No começo, aparentemente a história segue como a conhecemos, Cinderela é uma jovem simples, de família humilde, excluída e maltratada. Ela mora com seu pai, que costumava ser editor de um jornal, mas desde que este fechou, passa a maior parte do tempo isolado escrevendo livros e tentando sustentar a família como pode. Com sua madrasta, uma mulher que antes fora casada com um nobre que não amava, por isso o largou para ficar com o pai de Cinderela, mesmo sofrendo com sua nova condição financeira e fazendo de tudo para conseguir voltar a fazer parte da nobreza.

Vive também com sua meia-irmã Rose, uma jovem educada, gentil, bondosa e muito pressionada pela mãe para que case com algum nobre e melhore as condições de vida da família, sua irmã mais velha, Ivy, casou-se recentemente com um visconde e desde então mora com ele, mas isso não foi o suficiente, pois continuam vivendo na miséria.

Cinderela logo se mostra diferente do que eu pensava e do que estava acostumada. Nos filmes da Disney, a personagem, embora seja muito maltratada pela família, continua sendo boa, humilde e até meio bobinha. Essa Cinderela não, ela é egoísta, se faz de vítima sempre, odeia Rose e a madrasta, quer mais do que tudo largar sua família e casar com o príncipe e está disposta a fazer qualquer coisa para que seu sonho se realize.

Você vai se surpreender, porque não é a madrasta ou a meia-irmã que vão te causar raiva, é a própria Cinderela! Ela consegue ser bem chatinha, pelo menos no começo.

Surge então, a oportunidade que Cinderela estava esperando, o príncipe decide realizar um baile no castelo, e convidar todas as moças do reino para que ele escolha uma e se case. Esme, a madrasta, ficou tão contente quanto Cinderela, era a grande chance dela fazer Rose entrar para a realeza e ter sua boa vida de volta.

Mas Cinderela não poderia ir, todos os esforços e gastos estavam sendo feitos para Rose, eles não tinham dinheiro suficiente para as duas e na realidade, nem passou pela cabela de Esme que a enteada queria ir, até poque ela não disse nada, só se fez de coitadinha como sempre.

Porém, estamos em um conto de fadas, não é mesmo? Então, eis que surge a fada madrinha para ajudar Cinderela a realizar seu grande sonho. Mas como tudo nessa história, nem sempre as coisas são como parecem. A fada madrinha é a Rainha do Gelo, Lilith, que ajuda Cinderela, desde que ela faça algo em troca, vasculhe o castelo do príncipe todos os dias até achar o que ela precisa, e só descobrimos o que é, no final, e te garanto, você vai ficar de queixo caído.

Cinderela confronta com a realidade, e vê que nada do que ela imaginava e fantasiava aconteceu, a vida no palácio não é tão boa assim, tudo o que ela fez para chegar ali, todas as mentiras que contou, prejudicaram e muito sua família.

A construção dos personagens foi maravilhosa, Sarah sabe fazer isso muito bem. Não tem como odiar a madrasta, que sim, não trata Cinderela como deveria, mas ela largou tudo o que tinha por amor, e chega a dar uma peninha dela. Minha personagem preferida é Rose, você vai se apaixonar por ela, é super fofa, inteligente, se preocupa com as causas sociais e com o bem-estar do reino, não se importa com casamento, achar um marido e ser feliz para sempre, ela quer fazer o bem e melhorar a vida das pessoas.

O caçador do livro anterior também está presente na história, embora ele tenha feito umas coisinhas que eu não gostei, é difícil não gostar dele e tenho quase certeza de que você vai shippar ele e Cinderela, como eu fiz. Temos ainda o príncipe, que é um mimado, chato demais, e Buttons, amigo de Cinderela, que ajuda a sustentar sua família e abastecer sua casa com carvão durante o frio inverno, e que revela ser um personagem bastante conhecido nosso, mas você terá que descobrir por conta própria.

Eu, particularmente, adorei esse livro, gostei mais do que o primeiro. Li apenas em dois dias, a leitura é muito rápida e te prende com facilidade. Novamente percebi uma erotização excessiva, realmente não tinha necessidade, talvez a autora tenha feito isso para atrair ainda mais o público adulto, mas isso não me agrada. O final é surpreendente, totalmente fora do esperado, ele se encaixa com o que ficou pendente em “Veneno” e é impossível não ficar com vontade de ler o próximo e último (infelizmente) volume, que em breve estará aqui no Beco. Não perca.

Resenhas

Resenha: Veneno, Sarah Pinborough

Você já pensou que uma rainha má tem seus motivos para agir como tal? E que princesas podem ser extremamente mimadas? E que príncipes não são encantados e reinos distantes também têm problemas reais? Então este livro é para você! Em Veneno, a autora Sarah Pinborough reconta a história de Branca de Neve de maneira sarcástica madura e sem rodeios. Todos os personagens que nos cativaram por anos estão lá, mas seriam eles tão tolos quanto aparentam? Acompanhe a história de Branca de Neve e seu embate com a Rainha, sua madrasta. Você vai entender por que nem todos são só bons ou maus e que talvez o que seria um ”final feliz” pode se tornar o pior dos pesadelos! Veneno é o primeiro livro da trilogia Encantadas, e já é um best-seller inglês. Sarah Pinborough coloca os contos de fada de ponta-cabeça e narra histórias surpreendentes que a Disney jamais ousaria contar. Com um realismo cínico e cenas fortes, o leitor será levado a questionar, finalmente, quem são os mocinhos e quem são os vilões dos livros de fantasia!

Sempre gostei muito de contos de fadas, desse universo medieval e encantado, até hoje gosto de assistir aos filmes da Disney, adoro a série Once Upon a Time e as diversas maneiras encontradas pelos autores em modificar e atualizar as tradicionais histórias.

Foi conversando com uma amiga, que descobri o livro Veneno, da trilogia Encantadas. Mas você deve estar pensando: “Mais uma adaptação de contos de fadas? Não aguento mais!”. Calma, leitor, sim, é mais uma adaptação dos velhos clássicos conhecidos, mas Veneno é bem diferente do que estamos acostumados a ler e extremamente criativo.

Veneno é um conto de fadas adulto, escrito pela autora britânica Sarah Pinborough. Logo de cara, já me surpreendi pela belíssima capa, repleta de detalhes, o interior do livro é cheio de lindos diagramas, emoldurando o começo de cada capítulo, a edição foi muito bem feita pela Única Editora.

Mas, enfim, vamos ao que interessa, o enredo. Nesse primeiro livro da série Encantadas, a história é centrada em Branca de Neve e sua madrasta. Porém, de um jeito um tanto quanto diferente.

Comecemos pela Rainha Má, Lilith. Ela é uma mulher de origem mágica, é fria, calculista, impiedosa, refinada e tão bela quanto Branca de Neve, é apenas quatro anos mais velha que ela, sua bisavó é a bruxa que conhecemos em João e Maria (aquela que gosta de comer criancinhas). Tinha uma grande amargura e inveja de Branca de Neve, não por sua beleza, mas pela forma em que era querida por todos. O mais interessante é que é possível perceber que Lilith não e má, simplesmente por ser assim, ela foi educada para ser dessa forma, a guardar seus sentimentos e parecer forte o tempo todo.

Branca de Neve é uma garota amada por todos, espontânea, um tanto impulsiva, sem pudor e até mesmo selvagem. Ela não gosta de agir como uma princesa, recatada, “feminina” e discreta. Gosta mesmo é de andar por aí, usando calças masculinas, galopando melhor que ninguém, tomando uma amarga cerveja no bar e passando tempo com seus amigos anões, que trabalham nas minas e são explorados pelo reino.

O rei, pai de Branca de Neve e marido de Lilith, precisa abandonar o reino e lutar em uma guerra contra os reinos vizinhos. Enquanto isso, a rainha assumiria o comando do reino, e ela usou dessa oportunidade para ferir a enteada como pudesse e achar uma maneira de se livrar dela. De uma forma bem Maquiavélica, no sentido literal da palavra, desejava ser temida em vez de ser amada pelo povo, para isso tinha olhos por toda parte e uma reputação que a seguia, a de Rainha do Gelo.

Até aí, a velha história que conhecemos não é muito diferente, temos maças envenenadas, espelhos mágicos, o príncipe encantado, os anões e o caçador. Mas o que muda é a maneira como é contada e como os personagens são construídos. Não há aquele maniqueísmo marcante dos contos de fadas, “vilões vs. mocinhos”, como podemos ver na própria capa “Repense seus vilões”. Cada um deles possui um passado, que os influenciaram e os moldaram para serem o que são.

Branca de Neve não é boa e angelical o tempo todo, Lilith não foi sempre má, e por certos momentos, ela mostra sua fragilidade e insegurança. Porém, o personagem que mais surpreendeu é o Príncipe Encantado, ele é totalmente diferente daquilo que imaginamos, não quero adiantar muita coisa, para não tirar a graça da sua leitura, mas esqueça tudo o que você pensa sobre como um príncipe deve ser, para quem ainda acredita em um príncipe montado em um cavalo branco, nem no conto de fadas ele é assim mais, supere.

O que eu também gostei bastante foi o fato do livro envolver personagens de outros contos de fadas, como já citei anteriormente, a bruxa de João e Maria e uma versão bem negativa de Alladin. Além de objetos mágicos de outros contos, como a lâmpada do gênio e o sapatinho de cristal, que estranhamente foi encontrado pelo misterioso caçador.

As personagens femininas são muito fortes e empoderadas. Lilith tem poderes absolutos no reino, Branca de Neve busca sua liberdade, rompe com o papel ideal das mulheres da época, é dona de si e prova que as mulheres podem fazer o que quiserem, mesmo com algumas pressões para que seja mais discreta e contida (ou seja, submissa), e isso ela não aceita de jeito nenhum. Neste livro não há donzelas em perigo, que precisam ser salvas e protegidas pelo príncipe.

O livro tem uma linguagem simples, talvez simples demais. É uma leitura rápida, acessível e quando você menos percebe, já acabou. É escrito em 3ª pessoa, através do ponto de vista de diferentes personagens, mas a rainha rouba a cena, embora Branca de Neve seja a protagonista, o ponto de vista de Lilith é o mais interessante de se ler (mas deixo claro que tenho uma leve tendência a gostar mais dos vilões do que dos protagonistas).

Embora pensemos que contos de fadas são infantis, não o indico para crianças, é um conto adulto. Há cenas fortes e eróticas. E essa é a minha única crítica, há uma erotização excessiva e extremamente desnecessária, até nos momentos em que a autora descreve os personagens, ela os hiperssexualiza, em alguns momentos faz sentido, em outros é exagerado.

Veneno se mostrou uma ótima obra, a autora Sarah Pinborough arriscou bastante, mas teve sucesso com isso, o livro rapidamente se tornou um best-seller no Reino Unido. Ela explorou o tema de forma bastante realista e sarcástica, tendo como base a complexidade da natureza humana. Todos temos o bem e o mal dentro de nós, e em um conto de fadas escrito no século XXI, isso não seria diferente.